[4] Estratégia
Boa leitura:
O macarrão virou uma gosma nojenta, o molho evaporou quase completamente e o que sobrou, estava queimado no fundo da panela. Já fazia algum tempo desde que Chanyeol havia saído com a ômega.
Jisung estava arrumando a cozinha. Jackson disse que ele deveria deixar para que Charlie mesmo a limpasse, mas a mente dele estava acelerada, o ômega queria se distrair com alguma coisa. O que não adiantou muita coisa. Só conseguia pensar no que aconteceu com Louise e imaginar que poderia ter sido ele.
Jisung estudou o ambiente através da porta e encontrou Jackson sentado no sofá, enquanto lia tranquilamente, próximo a uma lareira. A inseparável katana que todo caçador usa estava presa na bainha de seu cinto. O ômega se aproximou devagar, não queria atrapalhar sua leitura, ele parecia estar concentrado e alheio ao mundo ao seu redor.
A bagagem com todos seus pertences estava no chão, ao lado dele. Jisung removeu a própria katana e saiu, para treinar sozinho lá fora. Ele a desembainhou com cuidado, o brilho da lâmina chamou sua atenção por alguns segundos, ela era muito afiada e extremamente mortal. Um arrepio percorreu seu corpo ao imaginar quantas vidas essa arma havia ceifado, nas mãos de seu antigo dono.
Fantasiou por algum tempo com o que ele poderia ser capaz de fazer com ela agora que estava em sua posse, depois, buscou ao seu redor e viu algumas árvores ao redor da casa. Caminhou até estar diante da primeira e segurando o cabo com firmeza, acertou-lhe um golpe lateral. Repetiu o processo novamente, dessa vez do lado contrário, depois de frente e, por conseguinte, ele estava atacando a árvore como se ela fosse o seu pior inimigo.
A cada golpe que dava, não parecia surtir efeito algum e isso estava deixando-o irritado. Colocando mais força nas investidas, Jisung atacou novamente, cheio de fúria e sem intervalos.
— Mas o que essa pobre árvore fez pra você? — Ouviu a voz de Jackson vindo da janela. Ele estava parado enquanto observava.
— Estou treinando. — Parou com os ataques e apoiou-se na árvore, aproveitando para descansar.
Jackson ficou pensativo por um tempo, depois sorriu e pulou a janela, caminhando na direção do ômega.
Sua intenção era ajudá-lo de uma forma que fosse mais real, treinar com um alvo parado era muito mais fácil. Ao chegar onde ele estava, apoiou a mão no tronco da árvore onde Jean estava, examinando-o de cima a baixo.
— Quero que você tente me atingir.
— Está ficando louco? Mesmo que eu não seja experiente em batalha, você não é um alfa de ferro. Um acidente pode acontecer.
— Não vai acontecer.
— E se a katana escorregar da minha mão e amputar... — Jisung argumentou, apontando com a arma na direção da intimidade dele.
Os olhos do alfa arregalaram-se.
— Tem razão. Melhor usar outra coisa. — Ele disse imediatamente, e o ômega segurou-se para não rir.
Jisung guardou a katana na bainha novamente e a deixou apoiada na parede, enquanto Jackson entrava na casa. O alfa buscou entre as coisas de Charlie e depois voltou, trazendo consigo dois bastões de madeira.
— Aqui está. — Exibiu, entregando um e ficando com o outro. — Pode me atacar como você quiser.
— E você?
— Não vou atacá-lo, por hora.
O ômega assentiu e posicionou-se para atacá-lo, mas Jackson interrompeu o ataque antes mesmo dele começar:
— Separe mais os pés. — ele instruiu.
Jisung olhou para baixo e anuiu, fazendo como foi indicado. Quando voltou sua atenção para ele, Jackson estava com a ponta do bastão apontada para ele.
— Não deixe seu inimigo te distrair.
— Mas você disse que não ia me atacar.
— Tudo bem... está pronto?
“Não”. — Jisung pensou consigo mesmo, em seguida, tentou soar o mais convincente possível:
— Estou.
Avaliou seu oponente tomando nota de que é um alfa lúpus, quase duas vezes maior do que ele. Evidentemente aquela desvantagem física o deixou um pouco intimidado, mesmo que ele não fosse lhe machucar.
Mas Jisung não pretendia iniciar seu treinamento chorando como um principezinho medroso. Ele estudou a árvore onde estava treinando sozinho minutos atrás, as marcas no tronco causadas pela katana o lembraram sobre o motivo de estar alí. Já estava na hora de acreditar um pouco mais em si mesmo. Jimin também é um ômega. Se Jimin consegue, então ele também pode.
Jisung ergueu o bastão e iniciou seu ataque avançando contra Jackson, pretendia ser tão rápido que não lhe daria tempo para se defender. Contudo, mesmo que o alfa tenha assegurado que Jisung poderia atacar, ele hesitou com medo de machucá-lo.
— Desculpe... — sussurrou, abaixando a cabeça.
Jackson se aproximou e ergueu o rosto dele com suavidade.
— Não precisa ter medo. Não vai conseguir me machucar, mesmo que tente. — Sua intenção era deixá-lo tranquilo. Jisung entendia a importância daquele treinamento e que ele poderia se defender, mas ainda assim não era uma posição agradável, para ele, atacar seu alfa. Diante da hesitação do ômega, Jackson sugeriu:— Vamos fazer o seguinte: se conseguir encostar o bastão em qualquer parte do meu corpo, vou responder todas as perguntas que você me fizer. Sobre qualquer coisa.
— Até mesmo sobre a Ordem?
— Sim.
Com uma proposta tentadora dessa, pensando melhor, Jisung considerou que o alfa não estava correndo o risco de ser seriamente ferido por ele.
— Nesse caso... — disse ele, posicionando-se outra vez. — Prepare-se.
Jackson sorriu satisfeito, afastou-se até estar a cerca de vinte passos e ficou parado, esperando pelo ataque contra ele novamente. Jisung moveu-se ligeiro mais uma vez, dessa vez, com verdadeira intenção de conseguir encostar o bastão nele.
Para o caçador, era como se o ataque ocorresse em câmera lenta, e facilmente interceptou o ataque, utilizando seu bastão para bloquear o dele. Jisung não desistiu, ele girou tentando pegá-lo de surpresa, mas o alfa conseguiu se esquivar mais uma vez, fazendo seu oponente quase cair de cara na árvore.
Era como se ele estivesse sempre a um passo à frente do ômega, ou soubesse de todos os seus movimentos antes mesmo de mover-se. Jean respirou devagar, estudando-o conforme arquitetava um plano mentalmente.
Jackson conseguia evitar seus golpes sem nenhum esforço. Seu bastão bastão só encostava no dele quando o caçador precisava se defender, aquilo tornava-se cada vez mais frustrante a cada investida. Se a rapidez não estava sendo suficiente, o ômega tentou uma abordagem mais agressiva.
Se Jackson quer que ele o ataque com toda a sua força, então era isso que ele teria.
Jisung segurou o bastão com mais firmeza e correu em direção a ele. Dessa vez, optou por começar o ataque lateralmente, tentando acertar suas costelas. Mas Jackson facilmente posicionou a arma dele antes e o resultado foi um choque forte entre os bastões. Jisung trocou a arma de mão, segurando o bastão agora com a esquerda, tentou acertar um golpe em seu braço, mas ele girou o cabo e afastou sua arma.
O caçador fazia tudo isso, sem ao menos sair do lugar. O ômega fechou os olhos e respirou profundamente, concentrando-se para engolir a irritação consigo mesmo.
— Está cansado, meu bem? — Jackson exibia um pequeno sorriso.
— Não me provoque, alfa. — Respondeu, e o sorriso do caçador aumentou.
Com um gesto de mão, Jackson indicou para que ele seguisse com seus ataques, chamando-o mais uma vez para enfrentá-lo. Jisung avançou contra ele com seus golpes inúteis e desajeitados outra vez. Ele permanecia esquivando-se como antes, só que dessa vez mantinha o mesmo sorriso irritante. Quanto mais ele bloqueava, mais força o ômega colocava em seus ataques. Seu objetivo não era machucá-lo, mas quebrar o maldito bastão dele, que sempre ficava em seu caminho.
No momento que segurou no bastão com as duas mãos, com a intenção de trocar a posição, Jackson colocou o dele entre os braços do ômega e girou, fazendo a arma dele rodopiar, sendo lançada para longe. Jisung nem teve tempo de ver onde o bastão caiu, quando o caçador avançou fazendo-o recuar alguns passos até sentir suas costas contra algo sólido.
Jackson agarrou seus braços e os prendeu na árvore, segurando-os com uma só mão. Ainda cheio de energia, ele olhou para baixo, tentando mirar no meio de suas pernas, mas o alfa pressionou a ponta do bastão contra o queixo dele, fazendo-o erguer a cabeça e olhar para ele.
— Não se trata apenas de força. — Jackson avisou.
— Está com medo?
É óbvio que ele não estava. Mas Jisung estava com raiva por, além de ter perdido a própria arma, ter sido imobilizado por ele.
— Você é pequeno, bem mais leve que eu. Use isso ao seu favor. — Jackson indicou. — Se seu inimigo for mais forte que você, então seja mais esperto que ele.
Jackson o soltou e caminhou até onde o bastão havia caído, o tirou do meio de um arbusto e o entregou de volta.
— Desculpe... — Jisung estava envergonhado por se deixar levar pela provocação dele e perder o controle.
— Não se desculpe. Ainda está aprendendo. — Ele disse compreensivo, acariciando seu rosto, em seguida ele instruiu: — Não vai conseguir me tocar usando a força bruta. Use sua agilidade e inteligência. São suas melhores armas contra alguém maior.
Agilidade e inteligência. O ômega compreendeu.Talvez ele ainda não seja tão ágil o suficiente, mas com certeza seria capaz de pensar em algo mais engenhoso para conseguir encostar o bastão nele. Jackson era caçador há anos, muito experiente e com um histórico de assassinatos terrivelmente impressionante. Enfrentou diversos inimigos ao longo de sua carreira, mas nenhum deles era seu ômega.
Um plano arriscado e um pouco maluco se materializou na mente do mais novo, que quase não conseguiu conter um pequeno sorriso confiante.
— No que está pensando? — Jackson perguntou, curioso.
— Na primeira pergunta que farei. — Afirmou confiante.
O caçador sorriu mostrando seus dentes, dessa vez não parecia provocação. Seus olhos brilharam, e o ômega sentiu pela marca o quanto ele estava orgulhoso naquele momento. Assim como nos outros golpes, Jisung avançou contra ele, atacando-o mesmo sabendo que não teria sucesso. Jackson parecia um pouco desapontado, mas o que ele não imaginava era que o ômega só estava tentando ver um padrão em sua defesa.
Chegou a conclusão de que o melhor jeito para obter sucesso em seu plano, era atacá-lo de frente, quando o alfa se defende posicionando o bastão levemente inclinado, com a ponta em sua direção.
Jisung o atacou diretamente contra o tórax dele, e assim como previu ele se defendeu do mesmo jeito. Jogou o corpo na frente do bastão de seu oponente, sentindo uma dor atingir a lateral do abdômen. No mesmo instante, seu corpo foi lançado para trás e ele caiu de costas no chão.
Jackson pareceu chocado por um momento, Jisung sentiu o coração dele acelerar as batidas, obviamente preocupado por tê-lo atacado, embora que não fosse a sua intenção. Mas Jackson permaneceu de pé, esperando ele se levantar. Certamente ele sentiu pela marca que o ômega não havia se machucado seriamente. Até então seu plano estava dando certo, só teria que improvisar um pouco.
— Aaii... — Encolheu-se no chão, colocando a mão na costela e fazendo a pior expressão de dor, gemendo com voz de choro: — Hmmm...
Jisung se esforçou grandemente para conter um sorriso de vitória, no momento em que Jackson largou o bastão e correu até ele.
— Deixe-me ver. — Pediu suavemente, com a voz tão preocupada que o outro até sentiu dó.
Jisung aproveitou-se de sua distração e ergueu o braço que estava caído ao lado do corpo. Os olhos do caçador moveram-se da costela dele até o próprio peito, quando sentiu a ponta do bastão do ômega encostar em si.
— Toquei. — Afirmou, agora sorrindo cinicamente. Enquanto ele o encarava com uma expressão de surpresa, Jisung repetiu suas palavras: — Não deixe seu inimigo te distrair.
Jackson ainda pareceu chocado por mais algum tempo, até sorrir de volta e ajudá-lo a se levantar. Embora ele acreditasse no potencial que Jisung tem, talvez o tenha subestimado um pouco. Ainda estava muito surpreso por ele ter conseguido lhe enganar.
Continua…
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