[37] Entre Amigos
Boa leitura:
Ainda sentado na cama, Jisung não sabia ao certo como expressar o que estava sentindo nesse momento. Seu lobo interior está um pouco retraído, mas ainda assim ele se sente um pouco selvagem. Seu coração está acelerado e ele sente que só vai se acalmar quando rasgar a garganta de qualquer um, com as suas próprias unhas.
Assim que a ômega se foi, Jackson fechou a porta e permaneceu parado junto a ela. Jisung encarava suas mãos no colo, sem coragem de olhar para ele, mas sabia que o alfa estava olhando para si. Percebeu quando o caçador se abaixou devagar e pegou a faca caída no chão, mas permaneceu com os pés no mesmo lugar.
Jisung não tinha ideia do porquê estava se sentindo assim, tudo era muito confuso. Ele nunca quis machucar ninguém inocente, e nem ao menos sabia se aquele mercador era realmente um caçador. Estava sentindo que sua cabeça poderia explodir a qualquer momento, conforme milhares de perguntas foram se formando uma atrás da outra, e todas sem respostas.
Respirou fundo, tomando coragem para encarar o alfa e quando ergueu o rosto para ele, não conseguiu conter as lágrimas.
- O que está acontecendo comigo? - Perguntou, e as lágrimas o cegaram momentaneamente.
Jackson se aproximou e sentou ao seu lado. Ele o abraçou de lado, e o ômega permaneceu um pouco hesitante, seu lobo ainda estava com um pouco de medo. Mas então o aroma de menta tão intenso e ao mesmo tempo leve, chegou até ele e foi como um manto abrasador. Ele fechou os olhos e o abraçou de volta.
- Jack... - chamou por ele, mas só conseguia chorar. O alfa continuou em silêncio, abraçando-o com mais força.
Quando se sentiu mais calmo, Jisung passou os dedos pelas minhas bochechas, secando as lágrimas. Nos olhos de Jackson ele podia ver compreensão e suavidade.
- O que está acontecendo com você, é o mesmo que aconteceu com Hendrik, e outros caçadores. Até mesmo piratas como Barba-Ruiva ou Alma Negra.
- Então você tá querendo dizer que eu estou virando um monstro?
- Não. O lobo é um animal selvagem, logo age com seus instintos. Alfas e ômegas possuem um lobo interior. O que aconteceria se esse lobo assumisse o controle?
- Ficaríamos mais selvagens? - Jisung supôs, o outro assentiu balançando a cabeça. - Yoongi também é assim? Quer dizer, ele é um pouco... seus olhos meio que brilham quando está em combate.
- Absolutamente não. A sede dele em cortar gargantas é completamente humana.
- Então se o lobo dele assumisse o controle...
- Nem queira imaginar.
- Você pode me controlar, não é? Foi o que acabou de fazer.
- Atualmente sim. Você está apenas no começo. Mas eu não sei se pode chegar a um ponto em que fique incontrolável. Além do mais, quando nos conhecemos, você me disse que queria ser livre. Se eu passasse a controlar você, seria como uma prisão.
Jackson não conseguiu conter algumas lágrimas que começaram a inundar seus olhos novamente. Ele escolheria morrer do que virar um monstro como Alma Negra. Mas ele ainda tinha um sobrinho para conhecer, não poderia simplesmente se entregar a esse fim, então juntou as mãos na frente do seu corpo e pediu para o alfa:
- Prenda-me. Não me importo se vou perder a minha liberdade, ou se você usar sua voz comigo. Eu nunca me perdoaria se eu machucasse as pessoas que eu amo.
Jackson olhou para as mãos e depois dele e depois para o ômega. Jisung fechou os olhos quando tomou suas mãos entre as dele, e respirei fundo engolindo o choro. Mas para a sua surpresa, o alfa só o puxou para um outro abraço.
- Onde está aquele teimoso que voltou pro meu camarote, mesmo quando eu o expulsei? - Ele perguntou. - Não se entregue assim. Você sabe que pode lutar contra isso, é teimoso o suficiente.
- Eu não sou tão teimoso assim...
- Ah, você é. Do contrário não estaríamos aqui. Você não desistiu de mim, mesmo quando eu insistia que não podíamos ficar juntos
- Viu como eu estava certo!? - Separou o abraço e o encarou, com uma sobrancelha erguida. O alfa sorriu. - Acho que posso fazer isso, Jackson. Posso tentar.
- Não, você não vai só tentar. Você é um caçador. Não há margem para erro. Tome isso como uma missão. Uma missão que estou dando a você.
Jisung sorriu, sentando em seu colo e de frente para ele. Suas mãos subiram pelos braços dele, curvaram os ombros até serem encaixadas no arco de sua mandíbula.
- E o que eu ganho se concluir a missão?
Duas grandes mãos deslizaram pelos quadris do ômega e ele sorriu.
- Posso entregar sua recompensa agora mesmo.
Jisung umedeceu os lábios e sorriu ainda mais, com a tentadora proposta. Mas na situação atual em que o alfa se encontra, ele diria que é uma péssima ideia. O brilho de Jackson foi sumindo quando o ômega se levantou, saindo do colo dele.
- Você não pode, ainda está se recuperando.
- Você que não pode atiçar o seu alfa assim e jogar um balde de água fria.
Jisung alcançou algumas frutas e voltou para entregar a ele algumas framboesas.
- Posso sim. Coma e depois descanse. Kunta me contatou nesses dias, ele disse que pode nos ajudar a cruzar a fronteira para o Mar Tenebroso.
- Não seria uma boa ideia. A não ser que ele também vá lhe presentear com uma grande embarcação, forte o suficiente para resistir a um mar turbulento.
- E o que você sugere?
Jackson se levantou, caminhou até uma gaveta e recolheu o exemplar que o ômega ganhou sobre navegação.
- Taehyung fez algumas anotações aqui - ele afirmou, folheando as páginas. - Há algumas ilhas completamente remotas próximas ao Triângulo da Morte. Vamos ao porto da Índia e então pegamos uma embarcação mercante até Sri Lanka, de lá, podemos seguir para essas ilhas.
No fundo o ômega sabia que a sua lógica sobre navegar pelo Mar Tenebroso era completamente infundada. Mas quando o medo aperta, as pessoas ficam irracionais. Ele desejou mais do que qualquer outra coisa poder abraçar o seu irmão. Pelo menos enquanto houver alguma humanidade dentro dele.
- Tudo bem. - O ômega aceitou, pois entendia que Jackson tinha mais conhecimento sobre o que é melhor nesse momento. Ele é um caçador muito mais experiente, então se ele acredita que devem trilhar essa rota, Jisung o seguirá.
⚔️
No decorrer de duas semanas, Jackson apresentou bastante melhora em sua cicatrização. Pelo fato de ser um lúpus ele se recupera muito mais rápido do que qualquer outra classe. Assim sendo, decidiram que já era hora de seguir o curso planejado até a o pequeno povoado de Sri Lanka. A partir daí, seguiram alguns dias da viagem com uma carruagem, para que pudessem chegar ao outro lado da extensão e embarcar outra vez em um galeão que fosse mais ao sul.
Jisung sabia que carruagens podem ser tão desconfortáveis quanto os cavalos, mas se comparado a segunda opção, o transporte sobre rodas se torna mais estável. também fez com que o alfa repousasse bastante durante as vezes que montaram acampamento para descansar. Ele teve alguns contratempos durante a viagem, onde o ômega teve alguns desentendimentos com a tripulação do navio mercante, e quase matou o comandante...
- Deixe que eu guie os cavalos. - Jackson retirou sua pistola do coldre e entregou para ele. - Vá descansar na cabine.
- Mas...
- Faça como estou dizendo. - Ele retirou a guia das mãos do ômega, e este rolou os olhos, dando a ele o lugar do cocheiro.
Os bancos acolchoados no interior da cabine foram como um conforto para seu corpo. Jisung esticou as costas sobre ele e imediatamente mudei de ideia sobre continuar guiando os cavalos. Estava tão quentinho e aconchegante na cabine, que ele adormeceu em poucos minutos.
Não soube por quanto tempo conseguiu descansar, mas repentinamente ele foi acordado com seu corpo sendo arremessado contra o teto da carruagem, e logo em seguida foi jogado contra todos os lados até ter as costas jogadas no chão. Sentiu uma dor em seu braço e ombro, e também nos quadris. Quando abriu os olhos devagar viu que a carruagem estava deitada de lado. Ele estava deitado onde deveria ser a janela e a porta estava onde deveria ser o teto.
Sua cabeça estava doendo, e os sentidos um pouco atordoados, mas ele foi capaz de ouvir um barulho de espadas do lado de fora da cabine. Um alfa surgiu abrindo a porta e se lançou contra Jisung. Ele agarrou seu pescoço com suas duas mãos, o ômega se debateu tentando acertá-lo enquanto tentava alcançar sua pistola.
Dedos agarraram os cabelos do alfa e ele teve sua cabeça puxada para trás. O sangue espirrou no meu rosto quando uma lâmina deslizou em sua garganta, e logo depois, seu corpo foi puxado de cima do meu, sendo lançado para fora da cabine. Chanyeol lhe ofereceu a mão para ajudá-lo a levantar, mas o ômega só conseguia ver a necessidade de se defender e também ao seu alfa. Sem o peso em cima dele, Jisung conseguiu puxar o cabo da pistola e apontou contra Chanyeol, mas o tiro atingiu o trinco da porta quando o alfa agarrou suas mãos e desviou a mira.
- Sou eu, Jisung! - Chanyeol, com o cenho franzido e com uma expressão atordoada. - Que merda, larga essa pistola!
O ômega rugiu alto tentando chutá-lo, mas Chanyeol entrou de vez na cabine revirada, deixando para ele pouco espaço para se mover. Jisung não pôde mais dar continuidade às tentativas para atacá-lo com as pernas.
- Eu estou do seu lado! - O alfa tentou argumentar, mas o coração dele batia tão descontroladamente que Jisung só conseguia pensar em uma coisa: matá-lo. - Controle-se!
Chanyeol bateu o dorso das mãos do ômega contra o chão em que ele estava deitado, o impacto fez com que seus dedos afrouxaram no cabo e a pistola escorregou de seu poder. Posteriormente, prendeu suas mãos no suporte da janela com a faixa azul que puxou da roupa que vestia. Quando saiu de cima do ômega, este tentou se libertar imediatamente, mas não conseguiu.
Ainda tentou lançar as pernas contra ele, quando o alfa subiu para sair pela porta. Com o sentimento de que Jackson precisava da sua ajuda, Jisung tentou desfazer os nós com os dentes, mas o tecido era verdadeiramente forte. Tentou quebrar as divisórias da janela, mas apenas serviu para deixá-lo cansado e frustrado. O ômega olhou para cima e a porta permanecia aberta, ele ouviu que o barulho da luta continuava do lado de fora. Sua respiração assim como os batimentos estavam acelerados, e rangeu os dentes com força, buscando em seu interior o controle sobre si mesmo novamente.
Com o tempo, o som das espadas diminuíram até a luta cessar completamente. Jisung ouviu passos ao redor e as vozes de Jackson, conversando com Chanyeol e também Baekhyun. Escutou quando mencionaram o nome de Yuri, Hendrik e Lee Seungho. Ele esperou que Jackson fosse tirá-lo daquela situação, mas isso não aconteceu. Ao invés, a conversa se distanciou e ele sentiu o coração apertar um pouco. Sua posição estava desconfortável e as mãos quase ficando dormentes, mas nada se comparava ao peso que se abateu contra sua consciência, quando se deu conta de que tentou matar o Chanyeol.
Com o canto dos olhos, Jisung viu uma silhueta aparecer na porta, e quando olhou para cima, Baekhyun o encarava desconfiado. Ele o examinou de longe e estreitou os olhos quando avisou:
- Se tentar me chutar eu vou te dar um soco que vai quebrar todos os seus dentes.
- Oi pra você também. Me sinto melhor, obrigado por perguntar.
O ruivo suspirou com alívio e só então, entrou na cabine. Ele puxou uma faca do cinto e Jisung sentiu grande folga quando a faixa que o prendia foi cortada, removendo a pressão em sua pele.
- Vem, eu te ajudo. - Baekhyun ofereceu a mão.
Saíram com cuidado da carruagem virada, devagar, pois Jisung ainda sentia seu corpo dolorido. Jackson se aproximou e tomou seu corpo em um abraço firme, quando explicou:
- Fomos atacados por um grupo de caçadores.
- De Busan?
- Sim.
- Então o Lee já sabe.
- Já. - Chanyeol respondeu, se aproximando. Seu semblante estava tranquilo como sempre, mesmo que Jisung tenha tentado matá-lo. - Lee enviou diversos caçadores atrás de você.
- Quantos?
- Muitos.
- Vocês estavam entre eles? - Jisung perguntou, alternando olhares entre Baekhyun e Chanyeol.
- Não. Lee sabe da minha ligação com o Jackson. Eu fui seu mentor, e o Baek é meu ômega. Ele não permitiu que soubéssemos de nada.
- E como vocês ficaram sabendo?
- Eu perguntei a um caçador. - Chanyeol respondeu simples, e um pequeno sorriso desenhou em seu rosto.
- Meu Deus... - O ômega não quis perguntar como, já imaginando as coisas que o precursor deve ter feito para obter essas informações.
- Relaxe. Não arranquei os dedos de ninguém, infelizmente - Chanyeol suspirou. - Yuri também está do nosso lado. Ele é a nossa fonte de informações.
- Que bom que não matou seu amigo, Ji. - Baekhyun tocou em seu ombro. - O que Seungho fez foi muito cruel.
Jackson segurou as mãos de seu ômega e estudou a área avermelhada que Chanyeol imobilizou. Ele enrugou as sobrancelhas e respirou profundamente irritado, quando olhou para o outro alfa.
- Ele estava fora de si. - Chanyeol explicou, erguendo as mãos.
- Me desculpe por aquilo. - Jisung mordeu o lábio, envergonhado. - Não era eu...
- Hey, sem problemas.
- Onde está seu arco? - Baekhyun perguntou.
- Em uma bastilha.. Eu fui preso...
O queixo de Baekhyun quase caiu no chão. Eles trataram o machucado dos cavalos enquanto erguiam a carruagem. E enquanto seguiram com a viagem, Jisung contou para o outro ômega como exatamente ele foi parar em uma prisão.
Continua...
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