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[19] Flores e Espinhos

Boa leitura:

Foram tantos empórios que os ômegas visitaram, mesmo vivendo em Busan há muitos anos Jisung nunca tinha visto uma quantidade tão diversificada de plantas. Flores coloridas e de todas as fragrâncias, as rosas estavam lindas, e ele não soube ao certo qual escolher, então comprou certa quantidade e um pouco de cada.

Dentre todas, havia uma flor que o chamou mais a atenção pela sua cor marcante e também pelo seu significado. Era uma pena que seu preço fosse tão exorbitante.

— Cem moedas de ouro cada bulbo? — Jisung perguntou novamente, só para confirmar. — A senhora não acha que é um exagero?

— Acredite, na Índia eles vendem dez vezes mais — A comerciante explicou. — A tendência é aumentar. Se não comprar agora, futuramente ficará mais caro.

Jisung olhou para o caçador em busca de uma opinião, mas ele não pareceu dar muita importância ao seu dilema, mas disse com a voz cheia de tédio:

— Acho melhor você levar as rosas vermelhas no lugar dessas tulipas roxas. Vai sair ganhando pela quantidade. 

— Mas as tulipas significam paz e tranquilidade — Jisung articulou.

— Então leve-as, ora.

— Vou levar apenas três — Jisung solicitou a comerciante e ela sorriu assentindo. — E coloque um pouco mais daquelas rosas vermelhas.

— Por que não leva um pouco mais de lavanda? — Baekhyun sugeriu. — Uma quantidade que seja suficiente para colocar em toda a casa. 

— É o aroma do meu lobo.

— Exatamente. Jackson vai ficar encantado sentindo seu cheiro por toda a parte.

— Mas ele já sente, eu moro lá.

— Foi apenas uma sugestão... — O caçador ergueu as mãos e voltou a mexer nas folhas das plantas em exposição.

Jisung encarou as lavandas, elas estavam com uma ótima aparência. O preço em relação às outras era mais baixo, e quando juntas, elas formavam um arranjo lindo com qualquer outra planta.

— Por favor, coloque mais algumas dessas aqui. — ele pediu, apontando para elas.

A mulher juntamente com seu ajudante, separaram todas as plantas que o ômega adquiriu e para o espanto dele, a quantidade era absurdamente exagerada. Jisung olhou para trás e viu que as carruagens que alugaram já estavam cheias, não haveria espaço nem para uma pétala a mais. 

— Kevin levará pra você. — A vendedora ofereceu.

O rapaz que estava ajudando nas vendas anuiu e começou a separar as plantas que foram compradas, com a ajuda de Baekhyun eles colocaram em outra carroça, enquanto Jisung desembolsava a quantidade de moedas para pagar pelas compras. Foram-se embora todas as suas moedinhas, mas agora não dava para voltar atrás. As quatro carroças já estavam prontas para levar a mercadoria até a casa. 

Kevin foi gentil em ajudar a colocar todas as plantas no quintal e também dentro de casa. Eram tantas que mal se tinha lugar para colocar os pés no chão. 

— Onde eu vou colocar tudo isso? — Jisung perguntou-se, olhando para Baekhyun.

— Vai plantando algumas no jardim. Vou conseguir alguns vasos maiores para a decoração no interior.

Pelo restante do dia, Baekhyun o ajudou a organizar vários arranjos e os colocaram espalhados pela casa. Agora que tudo estava organizado, Jisung acreditou que valeu a pena cada moeda gasta com as plantas. 

Antes, a frente da casa dava a impressão de que ela foi abandonada, mas agora, estava com um belo jardim muito colorido e cheio de vida. As pessoas que passavam pela rua até paravam um instante para admirar:

“Essa casa sempre existiu?” — Alguns questionam.

“Eu nunca a vi antes.”

“Que jardim belíssimo.”

Jisung enrubesceu a cada comentário que ouvia. Após toda a arrumação, convidou Baekhyun para tomar um pouco de chá e o caçador aceitou, e ficou sentado no sofá enquanto o outro foi à cozinha.


⚔️

Se tem uma coisa que Jackson não gosta de fazer é pedir favores.  Ele é independente demais para solicitar a ajuda de outrem, mas nesse caso teve que abrir uma exceção especial, pois a demanda envolve Jisung, e ele não pode deixar que nada lhe aconteça. Nem que ele tenha que matar toda a Marinha, a côrte e quem mais ousar se colocar no seu caminho e do seu ômega.

Foi cansativo aguentar todos os questionamentos inquisitoriais de Lee Seungho, quando a maior vontade do alfa era mandá-lo se foder e dar as costas para sua curiosidade indiscreta. Na opinião do líder, Jackson já não era mais o que era antes desde que o ômega entregou em sua vida. Bom, ele poderia afirmar o mesmo quanto a Lee. O caçador não enxerga Seungho do mesmo jeito que sempre o viu, depois que conheceu Jisung. 

Mas isso não importava no momento, Jackson só queria chegar rápido em casa e contar uma novidade que talvez deva alegrar e muito o seu ômega. O estranho era que ele sentia que estava andando em círculos. No lugar onde deveria ser a sua casa agora se parece com a porta de entrada para algum reino de malditas fadas. Tudo muito colorido, chamando atenção do mundo inteiro. É como se a casa estivesse gritando:

“Hey, olhem para mim! Estou bem aqui!”

Por quase três décadas Jackson estava acostumado a viver ali, e essa foi a primeira vez que teve suas dúvidas. Mas realmente, esse lugar de fato era a sua casa. Ele abriu o portão e seguiu caminhando por uma pequena estrada de pedras, olhando ao seu redor onde havia flores de todos os tipos.

“Deve ter sido o Jisung e sua decoração” — Pensou consigo mesmo e sorriu.

Estava um pouco exagerado, mas tudo bem. Era apenas um jardim, nada demais. Assim que o alfa chegou na porta teve uma certa dificuldade para abri-la, mas nada como um empurrão mais eficaz e assim ele pôde finalmente entrar em sua casa, depois de um longo dia... se não fossem pelos ramos de uma samambaia que chicotearam a sua face assim que forçou a porta. Ele afastou a planta do meu rosto e quase caiu para trás assim que viu o estado em que a sala se encontrava. 

Haviam diversas plantas e flores, muito mais do que no jardim. Jisung estava sentado no sofá segurando um bule e servindo uma xícara que Baekhyun tinha em mãos.

Assim que viu o caçador, Baekhyun abriu a boca e um enorme sorriso que Jackson conhecia muito bem, pronto para fazer um de seus comentários brincalhões, mas o ômega desistiu no minuto em que viu seu olhar que dizia claramente: “abra a boca e você morre”.

— Muito obrigado pelo chá, Ji, estava delicioso — Baekhyun afirmou, levantando-se em seguida.

— Não quer um pouco mais? — Jisung perguntou.

O caçador olhou para Jackson com o canto dos olhos e tropeçou dando a volta por trás do sofá.

— Não, já estou satisfeito... — ele passou pelo alfa com a cabeça baixa e rápido como um cavalo de fuga. — Até outro dia!

— Até... — Jisung acenou para o ômega, mas este já havia ido embora.

— O que é isso tudo? — Jackson perguntou.

— Você gostou? Quis alegrar um pouco o ambiente.

— Pensei que o jardim ficasse do lado de fora da casa, não dentro...

— Ué, mas... — Jisung ponderou olhando para a porta. — Você acha que tem poucas flores no jardim? 

O ômega tentou seguir para o jardim, mas Jackson deu um passo para o lado e barrou a porta.

— Não! Está ótimo. Está perfeito.

— É sério que você gostou?

— Sim, eu sempre quis viver dentro de uma floresta. 

É claro que estava sendo sarcástico, mas Jisung não levou a sério e girou para subir as escadas correndo, cheio de empolgação.

— Então espera só pra ver o que eu fiz com o nosso quarto... — Ele afirmou ansioso.

Jackson olhou mais uma vez a extensão da sala e todo matagal que cobria grande parte dos móveis. O sofá era quase o único que dava para enxergar em meio a tantas flores e plantas. Haviam algumas abelhas amontoadas em um ramalhete de lavanda. Enquanto borboletas cruzavam seu campo de visão. 

— Saiam da minha casa seus demônios! — Rugiu, movendo as mãos para espantá-las.

As borboletas se espalharam, mas não deram a mínima importância para o que Jackson exigiu, e voaram para o próximo vaso com algumas margaridas.

— Eu estou esperando! — Jisung gritou do andar de cima.

O que mais esse ômega aprontou? O caçador engoliu em seco e subiu em cada degrau, temendo encontrar uma situação pior do que a sala. Assim que abriu a porta do quarto, foi recebido por um cheiro forte e bastante enjoativo de jasmim. 

— Tcharam! — Jisung sorriu, com os braços esticados para ao lado.

Até mesmo as paredes estavam tomadas por trepadeiras rosas e amarelas.

— Você não acha que exagerou um pouco, meu bem?

— Não... você acha? 

— Sinto que vou encontrar algum animal selvagem por entre esses arbustos.

— Talvez eu tenha exagerado nos jasmins... — Jisung admitiu. — Mas é que lembra o meu irmão, por causa do aroma. 

— Eu sinto muito, mas não podemos viver dentro do jardim. 

— Mas não estamos dentro do jardim.

— Tem razão, estamos dentro de um bosque. 

O caçador olhou para ele firme e resoluto, ainda esperando por uma atitude sensata da parte dele. Ele cruzou os braços e ficou aguardando, enquanto o ômega ponderava.

— Você quer que eu jogue elas fora? — Perguntou. 

— Sim. — Jackson respondeu rápido, para não correr o risco de negar.

O olhar chocado e decepcionado do ômega foi como um tiro em seu peito. 

— Você disse que eu poderia fazer o que eu quisesse...

— Meu amor... — O caçador disse, mostrando toda a decoração para que ele entendesse. — Não estou querendo desmerecer sua adorável decoração primaveril, mas isso aqui tá realmente parecendo as brenhas. O único lugar que eu reconheço é o sofá, já que tudo foi dominado por lavandas, jasmins, rosas, lírios entre outras. Falando nisso, onde está a nossa cama? 

— Está bem aqui, Jackson! — ele apontou para um canto atrás das rosas vermelhas e girou, ficando de costas para o alfa.

— Meu bem? — O alfa chamou com receio de ver seus olhos úmidos. Mas ao invés disso, Jisung girou a cabeça e o encarou com o canto dos olhos, com um pequeno sorriso.

— Está tudo bem... 

— Está?

— Sim... — Jisung suspirou exalando tédio. — Eu realmente exagerei um pouco.

— Que bom que percebeu isso.

O sorriso do ômega cresceu um pouco mais. Ele colocou as mãos na cintura e observou ao seu redor, conforme comentava:

— Deu muito trabalho organizar, sabe... vai dar mais trabalho ainda desfazer de tudo isso.

— Posso ajudá-lo.

— Sério? — Jisung se aproximou e, colocando-se na ponta dos pés, deixou um beijo molhado no canto da boca do caçador. — Que alfa prestativo, eu tenho.

Agora quem ficou surpreso foi o alfa, com tal atitude, mas ele não poderia dizer que detestou. Porque ele adorou. E melhorou ainda mais quando Jisung abriu alguns botões da camisa, até deixar parte da clavícula e peito expostos.

— Vamos começar pelas lavandas? — O ômega perguntou, colhendo um pequeno ramo de cor roxa. Ele fechou os olhos e inalou seu aroma. — Acredito que...

Jackson não conseguiu prestar atenção em suas palavras. Quando o ômega abriu os olhos devagar e continuou encarando o  caçador, não parecia um filhotinho de gato, mas sim, um felino predador pronto para devorar a presa.  

Os olhos do alfa desceram para a lavanda, Jisung descia lentamente sobre a pele  macia e convidativa de seu peito. Estava enfeitiçado, não deixou de acompanhar cada movimento que ele fazia.

— Você não acha? — O ômega perguntou e Jackson ergueu os olhos novamente.

— Hã? 

Jisung riu diante da resposta atrapalhada, e se aproximou, ainda mantendo o contato visual. Parado diante do caçador, ele mordeu o lábio e encaixou a lavanda no cinto dele. O cabo da planta tocou no volume diante da calça de Jackson. 

“Mas já estou assim?” — Questionou a si mesmo, sem tempo para buscar uma resposta plausível, pois o ômega foi rápido em sussurrar:

— Me ajuda a levar alguns vasos? Eles são pesados.

— Sim, eu ajudo. — Jackson ficou surpreso em ter articulado a frase sem gaguejar, quando seu cérebro só pensava em uma coisa para fazer com a língua.

Jisung sorriu agradecido e colocou as palmas de ambas as mãos no peito do alfa, avançando e fazendo-o dar passos para trás.

Quando se encontrou no corredor fora do quarto, o caçador pôde ver que todas as flores já estavam em seus devidos vasos, mas antes que ele pudesse contestar, Jisung fechou a porta com força, e o barulho fez Jackson despertar de seu transe.

— Amor? — Ele o chamou, batendo na porta com as costas da mão.

— Fique com o seu sofá! — Jisung ditou do outro lado. 

O caçador fechou os olhos e riu baixinho, por ter sido enganado. Ele abriu os olhos para baixo, ainda mais constrangido ao ver o volume que já havia despertado. 

Bateu na porta novamente, dessa vez com mais impulso.

— Abre essa porta, Jisung Wang!

— Não! 

Jackson fechou os olhos respirando fundo, segurando-se para não arrombar a porta. 

— O que você quer que eu faça?

— Faça o que você quiser. Eu tive o maior trabalho pra deixar tudo pronto antes de você chegar e em troca disso você simplesmente me diz pra jogar tudo fora? 

— Mas amor...

— Não vou abrir. Vá dormir no sofá!

O caçador cerrou os punhos pronto para socar a porta com toda força e destruir cada centímetro da bendita madeira, mas tomou mais algumas respirações e conseguiu manter a calma.

Uma hora o ômega teria de deixar o quarto.

Continua...

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