[16] Perda
Boa leitura:
Após mais uma semana de treinos intensos, Jisung deixou as práticas com as armas de lado, e focou em aprimorar suas habilidades de combate corpo a corpo. Yuri disse que desse modo, ele vai aprender bem mais rápido a manusear uma katana e até mesmo o arco.
— Seu corpo precisa se acostumar a velocidade do seu ataque — Yuri explicou, conforme se esquivava dos socos do ômega. — É por isso que Baekhyun te desarma tão fácil.
— E também porque eu sou muito péssimo e ele é muito bom.
— Yuri — o caçador arqueiro chamou de longe — dá um socão nas costelas desse menino, por mim.
— Não! — Jisung gritou tropeçando para trás. — Está bem! Está bem! Retiro o que eu disse.
— É com essa confiança toda que você quer reencontrar o seu alfa? — Baekhyun perguntou.
— Você tem razão. E só falta uma semana para ele voltar.
— Mas você falou que ele disse que só voltaria em dois meses. — Yuri afirmou.
— Ele disse um ou dois meses. — Jisung o lembrou. — Mas estou torcendo para que seja apenas um.
— Eu sou muito sortudo mesmo... — Yuri refletiu — sempre que conheço um bom Ômega, ele já está marcado.
— Você vai encontrar o ômega da sua vida, e terá duas filhas muito lindas — Jisung tentou confortá-lo —, mas enquanto isso, vamos treinar!
O aprendiz avançou contra o alfa na tentativa de pegá-lo de surpresa, mas Yuri foi rápido quando girou o corpo e o derrubou com cuidado no chão.
Baekhyun e Yuri ficaram revezando, cada um tendo a sua vez de lutar com o ômega.
O alfa teve bastante cuidado para não lhe machucar, mas Baekhyun o atacou com força algumas vezes, o suficiente para deixar marcas. Esse treino estava sendo mais pesado do que imaginava, mas quando sentia seu corpo esquentando no meio da luta, era como se ele fosse uma outra pessoa. Um ômega que é capaz de fazer e ser o que quiser.
— Acho que já chega de treino por hoje, não acham? — Baekhyun sugeriu, ofegante.
— Logo agora que eu estava quase pegando o jeito. — Jisung lamentou, bebendo um pouco de água.
— Jeito de quê? — O ruivo brincou: — Apanhar mais de mim?
O caçador sorri, todo convencido. Jisung lançou uma bota nele.
— Um dia eu te mostro...
— Um dia, sim... Agora quem vai te mostrar uma coisa sou eu — Baekhyun afirmou. — Tenho uma surpresa para você.
— Meu arco? .
— Aaaaargh!! Você estragou a surpresa, Jisung!
— Desculpa... É que eu estou bastante ansioso para isso.
— Eu queria ver sua reação quando descobrisse na hora.
— De qualquer jeito ele ia descobrir antes, Baek. — Yuri articulou — Quando vocês fossem pelo caminho do escultor.
— Ninguém te perguntou. — Baekhyun disse rápido, balançando a mão enquanto mirava sua atenção para o loiro: — Vamos?
Jisung assentiu.
— Tchau, Yuri. Até amanhã.
— Até amanhã, Ji.
Nessas próximas três semanas em que passou a treinar na Ordem, Jisung foi conhecendo mais caçadores e eles foram se acostumando à presença de um ômega loirinho, curioso e cheio de entusiasmo, passando por eles todas as manhãs e fins de tarde. Alguns outros mais reservados nem mesmo olhavam para ele, mas pelo menos podiam sentir o seu cheiro e determinar que não era uma ameaça para eles, mas sim, um aprendiz.
Baekhyun e ele estavam andando juntos a caminho do escultor, com o ruivo falando sobre todos os benefícios que um arco poderia atribuir, principalmente assassinatos a longa distância. Como já estavam passando pelo mercado, Jisung resolveu comprar algumas frutas e grãos para abastecer a despensa de sua casa. Entregou um saco com algumas moedas de bronze, e concluiu a sua compra. Baekhyun comprou apenas uma pêra, para ir saboreando pelo caminho.
Era divertido e ao mesmo tempo motivador ouvir o arqueiro contando como foi na vez que ele iniciou seu treinamento. Seus pensamentos estavam voltados a imaginar um Baekhyun inexperiente e ansioso para se tornar forte. Assim como Jisung estava se sentindo.
No momento em que estavam passando pela praça onde ômegas, alfas e betas passeavam com seus filhotes e animais de estimação, do outro lado, Jisung viu quatro piratas sendo obrigados a entrar em uma diligência. Eles eram Billy, Sven, Yoongi e o Capitão Jeon.
O Almirante Zhang e outros alfas da Marinha chinesa estavam participando da prisão. Quando o Tenente Jo olhou na direção em que os ômegas estavam, Jisung puxou Baekhyun pelo cotovelo e entrou por um beco, quase correndo, com medo de que ele os tivesse visto.
— O que foi isso?! — Baekhyun indagou confuso.
— A Marinha está com o Capitão Jeon e mais três piratas do Black Swan.
— Tem certeza?
— Sim! Eu os vi! Precisamos salvá-los!
Colocou o saco com as compras que fez no chão e tentou voltar pelo mesmo caminho, mas foi impedido por Baekhyun, quando ele o puxou e disse:
— Você quer ir lá assim? Eles vão te pegar também.
— Não sou um criminoso, eles não podem me prender.
— Seu pai tem autoridade para isso, pelo menos ele consegue até que seus amigos sejam executados.
— Eu tenho que fazer alguma coisa. Como funcionam as execuções?
— Teu pai te criou dentro de um mundinho colorido mesmo, não? Bom, quando alguém é capturado, ele fica preso em um calabouço podendo receber visitas, até que seja marcado o dia do julgamento e se considerado culpado, no mesmo dia se dá a execução.
— Oh, céus... será que vai demorar muito? Será que o Black Swan está ancorado na baía, escondido? O Jimin…
— Calma, vamos levar essas coisas pra sua casa primeiro. Depois a gente vem investigar isso.
Jisung assentiu, concordando. No momento, não tinha nada que ele pudesse fazer para ajudar e agiu com a cabeça quente, impulsivo, só iria piorar a situação dos piratas. Se não fosse por Baekhyun, ele estaria sendo levado pelo Tenente Jo até o governador, na melhor das hipóteses.
Assim que deixaram as compras em casa, o caçador e ele seguiram apenas com suas armas, a caminho de onde todos os capturados eram colocados, no calabouço. Ficaram ocultos em uma distância razoavelmente segura.
— Como vamos conseguir passar por todos eles? — Jisung perguntou.
A entrada da prisão mais parecia uma concentração para a guerra, de tantos oficiais que estavam espalhados por alí.
— Foram espertos. — Baekhyun afirmou — Estão esperando que a tripulação venha salvá-los.
— Mas é claro que eles virão. O meu irmão virá salvar o alfa dele.
— Espere aqui. — Baekhyun disse. Ele se levantou e se enfiou no meio dos guardas. Conversou com um, ponderou com outro, e algum tempo depois, o ômega retornou disfarçadamente para perto do loiro. — Temos pouco mais de uma semana.
— E se a gente colocar fogo em tudo?
— Você quer mesmo arriscar matar seus amigos incinerados?
— Não. Mas não tem outro jeito.
— Sempre tem. Não seja tão afobado. Precisa agir com calma, Jisung.
— A forca não vai esperar que eu os salve. Preciso agir logo.
— Ai, que ômega burro! — O caçador rosnou, sem paciência. — Então vai lá. Se entrega de bandeja pra aquele Tenente imundo, pra que ele termine o que começou e o Jackson sinta tudo pela marca.
— Não precisa falar assim comigo.
— Não... eu preciso te dar uns tapas pra ver se aprende. Presta atenção, eles estão presos lá embaixo, você nem ao menos sabe onde estão as chaves.
— Queria que o Jackson estivesse aqui. — Jisung lamentou, sentindo seus olhos lacrimejarem. — E o meu irmão também.
— Mas eles não estão. Então seca essas lágrimas e pensa como um caçador.
O ômega fez como Baekhyun aconselhou, respirou fundo e pensou enquanto passava o dorso das mãos nos olhos.
— No dia da execução, eles são expostos em praça pública, não é? — Perguntou, tentando manter o foco e não chorar. O outro assentiu. — E se eu causar uma distração?
— Teria de ser uma confusão bem grande.
— Sim. Desse modo, no meio da anarquia teríamos mais chance de salvá-los.
— Falando assim parece ser bem fácil...
— Você vai me ajudar?
— É claro que vou. — O caçador respondeu, e Jisung sentiu grande alívio — Não vou te deixar sozinho nessa.
⚔️
Com o passar da última semana, Jisung não conseguia treinar nem fazer outra coisa que não fosse observar sorrateiro ao redor do calabouço, ou procurar pelo cais, na espera de ver o Black Swan se aproximando, com seus canhões prontos para destruir qualquer um que se colocasse em seu caminho. Mas isso não aconteceu, e na manhã do dia do julgamento, ele dispensou Celina para que ela não fosse exposta caso tudo desse errado.
A casa estava silenciosa e Jisung quase sentiu vontade de se esconder embaixo das cobertas e chorar. Por mais que tentasse se manter otimista, conforme os dias se passavam, ele conseguia pensar com mais clareza, e durante esse tempo, várias situações terríveis se passaram em sua mente.
Sentado na cama, ele tomou algumas respirações tentando acalmar um pouco da ansiedade que estava sentindo. Quando abriu os olhos, viu as armas que ele mesmo havia separado em cima da cama.
— Eu sei que eu consigo... — segurou firme o cabo da katana, aproximou a lâmina até que pudesse ver seu próprio rosto no reflexo do metal afiado, e afirmou para si mesmo: — Não me decepcione.
A pistola estava completamente carregada com pólvora. Com tudo o que estava acontecendo ele ainda não teve a chance de pegar o arco, mas isso poderia ficar para depois. Um punhal foi posicionado em seu cinto e, por fim, o ômega estava pronto.
Jisung sabia que tinha adiado o encontro com o seu pai por tempo demais. Sabia que este encontro iria acontecer, uma hora ou outra, só não imaginou que seria em tais circunstâncias. Precisava agir encoberto, agora ele era um aprendiz de caçador, não poderia comprometer a Ordem antes mesmo de fazer parte dela.
Assim como ele imaginava, a praça estava lotada de pessoas, todas esperando o momento em que a corda fosse posta no pescoço de cada um dos piratas. E eles estavam lá, Yoongi, Sven, Billy e o próprio Capitão. De todas as alternativas que o ômega tinha naquele momento, a mais possível era um assassinato, mas a pergunta era: quem?
O Tenente Jo estava no topo da sua lista, mas o alfa estava sentado próximo ao governador, e o arco não estava consigo. Aparecer simplesmente, revelar a sua identidade e ser testemunha a favor dos piratas não era uma opção, todos sabem que a palavra de um ômega não vale de nada.
Enquanto pensava em formas de impedir a execução, Baekhyun apareceu sorrateiro ao seu lado. Assim como ele, o caçador estava observando os arredores à procura de uma pequena abertura.
— Tem muita gente aqui, isso não vai ser fácil. — o ômega ruivo afirmou — Já escolheu o seu alvo?
Neste momento, o governador começou a discursar e Jisung se distraiu por alguns segundos, prestando atenção em suas palavras.
— Ji? — Baekhyun o sacudiu pelo ombro.
— Senhor — ambos ouviram a voz do Tenente Jo e voltaram a atenção para o palanque —, comece pelo Capitão deles.
Jisung buscou na multidão com a expectativa de ver o rosto de seu alfa entre eles, na esperança de que ele tivesse retornado, mas só viu rostos desconhecidos, todos ávidos para ver a morte dos piratas. O governador fez como o Tenente sugeriu e levou a corda até o pescoço do Capitão Jeon.
Jisung colocou a mão no cabo da pistola e engoliu em seco, pensando na possibilidade de que o seu pai seria o melhor alvo dentre todas aquelas pessoas. Ele poderia atirar em um ponto que não fosse tão vital, mas no último segundo seu pai hesitou. Jisung buscou seguir o mesmo olhar que ele, e foi quando viu Jimin parado atrás da multidão. O ômega lúpus mantinha a mira da pistola apontada diretamente para o palanque onde acontecia a aplicação do julgamento.
“Ele vai matar o nosso pai?” — Jisung perguntou-se a si mesmo.
Sem mais tempo para indagações, no momento em que viu o governador correr para ativar a alavanca da forca, Jisung puxou a pistola apontando para ele, mas um disparo foi ouvido e o ômega viu quando o Capitão Jeon caiu no chão. Ao invés de ser enforcado, a corda partiu um pouco acima de sua cabeça. As pessoas começaram a gritar, Baekhyun se levantou puxando o seu arco e começou a disparar contra os oficiais que atacavam os piratas, que chegavam por todos os lados.
Assustou-se quando ouviu um barulho de vinte disparos de canhão, e no momento seguinte, a parte superior de uma construção foi atingida, assim como outros prédios que foram destruídos consecutivamente. Os destroços foram caindo no chão um atrás do outro enquanto as pessoas corriam tentando escapar da batalha. Outros disparos foram feitos, iniciando alguns incêndios em certas partes da cidade.
Com o canto dos olhos, Jisung percebeu que um dos quatro condenados foi chutado para fora do tablado. Yoongi estava no chão quando o Tenente Jo avançou covardemente contra ele, apontando uma pistola em sua direção.
Sem pensar nas consequências de falhar, o ômega correu desembainhando a katana, mirou em seu alvo e posteriormente, enfiou toda a lâmina sem nenhuma hesitação, na lateral do corpo do Tenente, puxando-a de volta logo em seguida. Jo virou-se de frente para ele e, ignorando o grave ferimento, rosnou esticando os braços na tentativa de alcançá-lo. Mas Jisung não recuou. Ao contrário disso, ele sentiu o medo pairando entre ambos, quase palpável, mas não vinha do ômega. Ele apontou sua katana para o oficial novamente e ao invés de recuar, ele avançou dois passos decididos e transpassou o abdômen do Tenente, exatamente na altura do umbigo. O alfa caiu no chão, de joelhos. Suas mãos tentavam inútilmente comprimir a perda de sangue que já era considerável.
Jisung olhou diretamente em seus olhos no mesmo momento em que Tenente Jo olhou em sua direção. O Ômega viu o mesmo olhar de quem lhe causou um medo tão descomunal, que ainda tanto tempo depois ele continuava temendo a cruzar seu caminho novamente. Mas dessa vez ele que estava no comando da situação, sem pânico, sem angústia.
“Pra você rasgar a garganta daqueles que tentarem te assustar...” — as palavras de Yoongi ecoaram em seus ouvidos, e ele ergueu a katana uma última vez, atingindo o pescoço do asqueroso Tenente.
Jisung não virou rosto quando viu a cabeça do alfa caindo para o lado e rolando até bater contra a madeira que sustentava o palanque, enquanto o resto do corpo desmoronou para frente. Ignorou o mar de sangue que se formou abaixo dos seus pés e agarrou as chaves do cinto do Tenente, libertando Yoongi logo depois.
— Onde está o Jackson? — O espadachim perguntou, se apoderando das armas do Tenente.
— Está em uma missão. — Jisung respondeu, com medo de ser repreendido — Ele não sabe que estou aqui... vi quando vocês foram levados para o calabouço, tentei libertá-los mas não tive como. Soube que a execução seria hoje então eu vim escondido.
— Jisung?! — Ouviram a voz do governador, e quando olharam para cima, ele já vinha em sua direção.
Sem dar espaço para um encontro conturbado entre pai e filho, Yoongi se levantou e correu atrás do governador, para pôr em prática aquilo que havia prometido quando recebeu a visita dele e do Comodoro Choi no calabouço. Jisung se levantou para segui-los, mas Sven e Billy surgiram em seu caminho para que ele os libertasse.
Jisung buscou entre a confusão tentando encontrar algum rastro de Yoongi e seu pai, mas o que viu foi o Comodoro Choi esforçando-se para matar o Capitão Jeon. O pirata passou as correntes pelo pescoço do oficial e em questão de segundos, as mãos do Comodoro pararam de lutar e seu corpo tornou-se imóvel. Capitão sorriu para Jisung quando este o livrou das correntes, depois tomou a espada do Comodoro e de algum outro alfa que havia morrido entre as lutas. Ele correu na mesma direção em que Jimin lutava entre vários oficiais da Marinha.
Pensou em seguir na mesma direção, para encontrar-se com seu irmão, mas do outro lado, Jisung viu quando Yoongi cercou o governador contra um poste de iluminação pública, então correu na direção deles.
— ...seu pirata imundo! — Park Shinsung exclamou, e logo em seguida, foi golpeado com um punhal contra seu peito.
Yoongi posicionou a arma na garganta dele, mas parou quando ouviu a voz do ômega:
— NÃO!
O governador se aproveitou do pequeno momento de distração e tentou empurrar o alfa, mas Yoongi puxou o braço com força e a lâmina deslizou abrindo a garganta dele, bem diante dos olhos de Jisung. Ele sentiu algo úmido respingar no seu rosto, ao passo que tentava amparar o corpo do alfa que caía gradativamente até atingir o chão da calçada.
— Não, não, não... — sua visão se tornou um enorme borrão conforme as lágrimas se formavam com rapidez.
O governador murmurava algo enquanto o sangue continuava fluindo de sua garganta. Ele tossiu algumas vezes cuspindo mais sangue e ergueu a mão tocando o rosto do filho suavemente, com muita dificuldade.
— Papai... — Jisung segurou a mão dele tentando manter aquele toque ainda firme, mas poucos segundos depois ele sentiu o peso do seu braço, quando a vida o deixou.
O ômega abraçou seu corpo quando uma onda imensa de dor atravessou o seu coração. Não se importou com mais nada que acontecia ao seu redor e apenas se entregou a um intenso choro, com os olhos fechados, implorando para que aquilo não passasse de um pesadelo. Mas o som das espadas, gritos, disparos e tiros de canhão foram voltando aos poucos, à medida que sentiu duas mãos agarrarem seus braços e seu corpo sendo sacudido algumas vezes.
Continua...
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro