5- Desafio.
Steve não encontrou com Emma em nenhuma momento da semana seguinte, tampouco da outra. Claro que, as vezes, bem cedo, quando saía para trabalhar, escutava a voz dela gritando por Chloe. Mas ver, não tinha mais visto a garota.
Chloe passou, praticamente, todos os dias do fim de semana no apartamento dele, o que permitiu que Steve fizesse algumas perguntas sobre Emma, apenas por curiosidade, que não faria na frente de Eva.
Descobriu que, por enquanto, Emma ainda não tinha arranjado um emprego fixo mas que tinha " descolado um trampo" em um bar no centro da cidade. Claro que Steve não pode deixar de reparar que, então, eles estavam mais próximos do que ele imaginava.
Agosto chegou e intensificou o calor anormal que estava fazendo naquele ano. Steve passava o dia se revezando entre carregar os materiais da obra, que já estava pela metade, e tirar o suor da testa.
Desde a última visita de Sam e Natasha, eles continuavam incomunicáveis e, embora estivesse nervoso e apreensivo, Steve tinha que esperar. Não adiantaria nada entrar em crise, afinal, os dois chegaram a ficar três meses sem dar notícias.
Pensando nos dois, Steve tirava a mistura do cimento do chão com uma pá e colocava dentro do carrinho que George, o Escocês, ia empurrar.
-Não sei como você não demonstra o menor cansaço, Erick!
Steve estava tão distraído que esqueceu que tinha dado seu nome como Erick. Mas se lembrou em seguida e tirou, mais uma vez, o suor da testa.
-Já viu meu estado, George?
-Estar suado é uma coisa. Estar cansado? É outra totalmente diferente!
Steve deu de ombros.
-Sei lá…
Eles voltaram a ficar em silêncio, enquanto Steve voltava a jogar aa mistura no carrinho. Olhou para o relógio no pulso e constatou que ainda faltava duas horas para sair do trabalho.
Se George os passasse calado, Steve achava que o tempo passaria mais rápido. Mas George parecia ter nascido para falar.
-Oh, Erick…
Steve ouviu George chamando, depois que ele descarregou o carrinho e voltou para pegar mais do pó cinzento.
-Hm?
-Qual é a da garota?
Steve franziu a testa e até perdeu o movimento que fazia com a pá. Fincou ela na mistura e apoiou a mão na cintura, franzindo a testa.
-Que garota?
-Aquela, ué. - George indicou com a cabeça a direção da grade da obra.
Steve acompanhou o olhar dele e se surpreendeu de perceber Emma o encarando. Acenou um tchau. Emma estremeceu e deu um tchau também, aproveitando que o sinal da esquina abriu e se misturando à população de Liverpool.
-Conhece?
-Minha vizinha.
Steve explicou, voltando ao trabalho e tornando a torcer para George calar a boca.
Sem sucesso, claro.
-Achei que sua vizinha era idosa.
-Essa é a sobrinha neta dela.
-Uau! É a maior gatinha… Tá ficando?
Steve não se deu ao trabalho de responder, apenas liberou para que George levasse o carrinho dos materiais para longe.
Finalmente, duas horas depois, Steve foi liberado e colocou o boné e os óculos escuros que ganhou de aniversário. Foi caminhando para o apartamento mesmo, dando algumas voltas pelo caminho para se certificar de que não havia ninguém o seguindo.
Assim que chegou na calçada, percebeu Emma na janela da sala da Tia Avó, mas fingiu não ver.
Só que assim que pôs os pés no andar de seu próprio apartamento, Emma estava parada na porta do apartamento da tia e não o deixou dizer nada.
-Eu não estou seguindo você, eu juro!
Steve franziu a testa, enquanto Emma continuava falando, aparentemente, nervosa.
-Eu sei que aquele cara deve ter dito que eu passo todo dia alí, e eu passo, mas é porquê eu trabalho na rua de trás e o ponto de ônibus é na rua da frente. Então eu meio que sou obrigada a passar pelo seu trabalho todo dia, okay?
Steve deu um sorriso de lado e cruzou os braços.
-Okay, mas… Qual a necessidade de me explicar isso?
-Eu não quero que você pense que sou Stalker ou sei lá… Interprete errado.
Steve assentiu e virou para a própria porta.
-Tudo bem, Sunshine, eu nem pensei nisso.
Steve fechou os olhos e respirou fundo, controlando o impulso de se trancar correndo dentro do apartamento. Tinha mesmo chamado Emma de Sunshine?!
Quem ele estava pensando que era?! O Bucky?!
-Ah, que bom! Bem, era isso. Uma ótima semana! Boa noite! Tchau!
Steve ouviu a porta bater com força e soltou o ar, se estapeando de leve na cara.
Levou quase duas horas para que alguém batesse na porta dele de novo. Como sempre, o caminho até a porta era silencioso e tenso.
Mas era somente Eva. Steve a deixou entrar, mesmo estranhando o horário. Já eram nove da noite e Eva, nessa hora, já devia estar se preparando para dormir.
-Então… - Steve esfregou uma mão na outra e sentou no sofá, abrindo um pequeno sorriso. - O que a trás no meu humilde apartamento?
Eva deu um longo suspiro e sorriu.
-Você quis dizer nosso apartamento?
-Eu estou alugando! - Steve ergueu as mãos, rindo.
-Pela metade do preço, apenas! - Eva observou, acompanhando a risada do homem. -Bem, nada demais… A Chloe foi dormir mais cedo e todo o tempo livre que Emma tem, ela passa pintando.
Steve assentiu e apontou para a mesinha na frente dele.
-Não posso julgar. Eu também passo meu tempo desenhando.
Steve encarou a mesinha e suspirou, vendo alguns rostos conhecidos, como Bucky, Natasha e Sam, ou desenhos de paisagens…
Enquanto Eva vasculha a mesa com o olhar, interessada, Steve praticamente se jogou do sofá e cantou tudo.
O movimento não passou despercebido por Eva, que já sorria amplamente.
-Você desenhou a Emma?
Steve parou com os papéis no meio do destino deles, que eram a pasta de desenhos. Steve riu, totalmente sem graça, e negou, coçando a testa.
-Não, não desenhei, não… Bem, isso era para ser a Chloe. Mas sei lá… Enfim…
Eva não insistiu no assunto e Steve ficou aliviado. Afinal, não tinha mesmo desenhado Emma. Seria ridículo e irracional se só tinha falado, até então, uma única vez com ela.
Mas quando percebeu, o desenho de Chloe parecia mais a Emma do que a própria menina.
Eva esperou, pacientemente, e recusou todas as ofertas de chás ou águas que Steve fez em segundos. Então, interrompeu o silêncio para falar:
-Na verdade, eu vim aqui para fazer duas perguntas.
-Sou todo ouvidos. - Steve se esticou no sofá e sorriu.
-Primeiro: Eu vim perguntar se amanhã você vai fazer alguma coisa.
Steve franziu a testa e encarou o relógio digital no pulso, constatando que seria sábado. Então, negou.
-Não trabalho e não tenho planos de ficar saindo.
-Ne para encontrar seus amigos?
Steve negou, puxando um fiapo de linha da calça jeans. Suspirou.
-Nem para isso. Na verdade… - Ergueu o olhar e encarou Eva, dando de ombros. - Não sei onde estão. Mas assim que der, tenho certeza que vão entrar em contato comigo.
Eva deu um pequeno sorriso.
-Claro. Entendo… Deve ser uma situação muito chata.
-Tem lá suas vantagens, mas é… É chato, sim. Mas por quê a pergunta?
Eva precisou de alguns segundos para lembrar qual pergunta, então, deu um sorriso e ajeitou o xale sobre os ombros.
-É que eu estou precisando que alguém instale o chuveiro novo e que conserte um pedaço da parede do quarto das meninas.
Steve ergueu as sombrancelhas e se remexeu no sofá, desconfortável e ansioso.
-Olha, Dona Eva… Eu adoraria, mas eu não sou pedreiro nem eletricista…
-Ah, mas é fácil… A Parte elétrica já está lá, só teria que encaixar na parede. E a parede, bem…
Eva começou uma longa conversa sobre não ser tão difícil e Steve ser o único homem disponível naquele prédio e, afinal, "Esses músculos tem que servir para alguma coisa" além de bater em bandidos e salvar senhorinhas indefesas".
No dia seguinte, às quatro e meia da tarde, Steve estava entrando pelo apartamento, sendo recebido por Chloe e sua conversa infinita sobre o novo colégio e os novos amigos.
Obviamente, as aulas só iam começar no mês seguinte, mas Emma já tinha escolhido a escola e levado Chloe para conhecer os futuros amigos em uma reunião "pré-volta às aulas".
Eva apareceu e conseguiu uma brecha no meio do falatório incessante, apontando onde Steve teria que ajudar.
Realmente, era fácil o serviço e não precisaria de muito esforço, ao menos, na instalação do chuveiro novo.
Tanto que em 15 minutos, já poderiam tomar banho em segurança, sem o risco de serem atingidas por um chuveiro assassino.
O mais complicado era no quarto das meninas. Ele teria que raspar um pedaço da parede, colocar uma massa já pronta que Eva comprou em uma loja de construção, esperar meia hora e pintar a parede com uma lata de tinta lilás claro.
Bem, Steve estava começando a raspar a tinta da parede, quando ouviu a porta abrir. Não se preocupou em olhar para trás já que minutos antes, Eva tinha dito que ia levar um lanche.
-Mas que bagunça! Espero que você só tenha mudado a cama de lugar…
Steve parou, Estático, deixando a espátula de mão cair no chão. Virou para trás e encarou Emma, tirando a blusa de cima e apoiando a mochila na cama.
-Só mexi na cama. - Steve garantiu e pegou a espátula do chão, dando uma rápida olhada e constando que Emma também tinha se jogado na cama. - Você vai ficar aí? Isso aqui vai levantar poeira…
Emma colocou um travesseiro no rosto, o que fez a voz dela sair abafada.
-Eu tô cansada… Não me importo com alguma poeira.
-Você quem sabe.
Steve voltou a se concentrar em raspar todo o pedaço danificado de parede e, depois, em varrer para a pá e um saco de lixo. Só quando deu um nó no saco, percebeu que Emma estava deitada de lado, o olhando, por cima do celular.
Seus olhos se cruzaram por milésimos de segundo. Steve desviou o olhar para a parede e viu Emma erguer o celular, tampando o rosto dela.
Finalmente, Eva bateu na porta e deixou uma bandeja na cama, entrando e saindo do quarto tão muda e calada quanto aquelas paredes.
-Hmm… Isso tudo é para você?
Emma questionou apontando a bandeja que continha biscoitinhos, alguns bolinhos, cervejas e uns chocolates. Steve deu de ombros, limpando as mãos na calça e indo até a cama da garota, parando em pé, ao lado dela.
-Se quiser, pode pegar também. Eu… - Steve encarou Emma, que o olhava, curiosa, e perdeu a linha do raciocínio.
Alguns segundos de silêncio, até Emma o questionar:
-Você o que?
-Ah… - Steve pigarreou, coçando a nuca e desviando o olhar. - Eu não vou… Hm, comer isso tudo.
Emma assentiu, pegando dois bolinhos e um chocolate. Steve abriu a primeira garrafa de cerveja, de novo, com os dedos. Encarou Emma.
-Quer?
Emma ponderou, mas assentiu.
-Quero, sim. Obrigada!
Steve pegou outra e abriu, bebendo em goles devagar, se certificando que, dessa vez, toda a cerveja ficasse dentro da boca.
-Quer sentar? - Emma ofereceu, chegando a bandeja para o lado.
Steve hesitou.
-Ah, eu tô coberto de poeira…
-Tudo bem. - Emma puxou o lençol da cama e deixou o colchão de fora. - Senta aí. Vai ficar comendo em pé? Eu, hein…
Steve sentou. Enquanto pegava alguns biscoitos, parou para a observar, disfarçadamente.
Emma vestia um vestido cor de vinho com detalhes em marrom, num tecido leve e fresco. Os cabelos estavam presos em uma trança solta e não tinha quase nenhuma maquiagem no rosto.
Olhando ao redor, Steve achou os paletes de pintura de Emma, entre o armário e a parede. Também conseguia distinguir todas as partes do quarto que pertenciam a ela das que pertenciam a Chloe.
-Falta muito para terminar?
Steve a encarou.
-Talvez umas duas horas, porque ainda tem que pintar a parede.
Emma assentiu, depois voltou a encarar ele.
-Quer ajuda para pintar?
-De jeito nenhum! - Steve negou, coçando a nuca. - Sua tia me pediu para pintar, sou eu que…
-Fui eu que comprei a tinta para pintar. - Emma explicou, terminando a cerveja e fazendo careta. - Se não fosse pelo chuveiro e por ela querer consertar a parede, eu já tinha feito. Não custa nada ajudar.
Steve ponderou, sem saber se tinha levado um fora ou não. Na verdade, nem entendia porquê Emma estava puxando assunto com ele, já que, na percepção do homem, ela não tinha ido com a cara dele.
Já era a terceira "Conversa" e Emma não tinha nem mesmo tentado dar um único sorriso.
-Bem… Tudo bem. Se você faz questão, pode me ajudar.
Emma assentiu, esticando outra garrafa de cerveja. Steve deu uma rápida olhada para ela e um leve sorriso.
-Abusada…
-Você é um abridor de garrafas humano. Não tenho culpa.
Steve esperou, mas o sorriso não veio. Entregou a garrafa a ela e se levantou para começar a colocar a massa na parede.
-Você tem namorada?
Steve deixou a espátula cair no chão, e encarou Emma.
-Que?
-Namorada. - Emma repetiu. - Você tem?
Steve reparou, pela voz arrastada, que talvez, Emma estivesse começando a ficar bêbada e negou. Pegou a espátula e voltou a espalhar a massa.
-Noiva?
-Sou solteiro. - Steve deu uma rápida olhada por cima do ombro. - Por quê?
-É que eu ia achar estranho uma amizade tão forte com a vizinha de porta. Entende? A Tia Eva podia ser sua Sugar Mama.
-Sugar o que?
-Quem usa garotões como você e dão dinheiro.
Steve largou a espátula, finalizando o trabalho e sentando no chão, rindo. Negou com a cabeça e encarou Emma, sem desviar o olhar.
-É tão estranho assim eu ser amigo da sua tia?
-Não… Ou melhor, sim! - Emma deitou de lado e enfiou o travesseiro debaixo da cabeça, Falando devagar. - É que você é jovem, sabe? Bonito, forte, misterioso… Isso que é estranho! Homens bonitos normalmente, mantém amizade com mulheres bonitas, não senhorinhas de idade e crianças faladeiras.
Steve revirou os olhos, achando graça e sentindo o rosto esquentar quando Emma disse que era bonito.
-Eu não sou tão jovem, Emma…
-Tem quantos anos? Trinta?
-Trinta e quatro.
-Viu? - Emma apontou com um dedo. - Não é muito! Você é só dez anos mais velho que eu…
Steve mordeu a boca, pensando na ironia da mentira. Emma continuou.
-Além disso, como eu disse, você é muito bonito. E até agora eu não vi nenhuma mulher entrando no seu apartamento. - Pausa. - Tudo Bem, você pode ser gay. Por quê não?
Steve começou a rir.
-Mas não vemos ninguém entrando dentro do seu apartamento. - Mais uma pausa.- O que você esconde?
-Se quiser, pode ir lá. - Steve coçou a cabeça, rindo. - Não escondo nada!
-Impossível! - Emma acusou, coçando os olhos. - Você deve esconder algo. Todo mundo esconde!
Steve torceu a boca e ficou quieto. Parecia até mesmo ironia estar tendo essa conversa com Emma, justo no momento em que mais escondia coisas.
-Se bem… Que você tem cara de santinho, sabe? Do tipo que carrega o lixo até achar uma lixeira, ou dar uns trocados pros mendigos…
Steve voltou a rir. E suspirou.
-Todo mundo tem seus pecados e eu não estou isento disso.
-É, mas você não tem cara de quem seria um rebelde.
Steve soltou mais uma risada, mesmo que Emma estivesse séria e compenetrada. Esticou as pernas no chão e se apoiou nas mãos.
-Então, você acha que eu não seria capaz de fazer coisas rebeldes?
-Não mesmo! Duvido!
-E o que seria rebelde para você, Emma Mayers?
Emma estreitou os olhos e sentou na cama, com o primeiro sorriso (diabólico) que Steve viu.
Se arrependeu da pergunta no momento em que Emma questionou:
-Quer ganhar cem euros?
-Eu já vou ganhar quando terminar aqui.
Emma revirou os olhos e voltou a deitar.
-Como eu disse… Santinho. E frouxo.
Steve estreitou os olhos e pegou a chapinha da garrafa do chão, tacando em cima dela. Os dois se encararam.
-Vai! Me desafia!
-Sabe o Rio Mersey?
Steve franziu a testa, sem entender, mas concordou. Emma sentou.
-Sabe que de noite, não navega barco por alí, né?
-Sei…
-Duvido você nadar pelado.
-Que?! Ah, não! Isso eu não faço! Ninguém nada pelado no rio...
Emma deu uma risada. Uma pequena risada. E já foi o suficiente para Steve querer ouvir novamente.
-Eu nado.
Steve deixou o queixo cair e encarou Emma.
-Sério?!
-De vez em quando, eu saio de noite e vou nadar lá. Tem um píer e eu deixo minhas coisas lá, escondidas. Volto para casa antes do amanhecer. - Emma sussurrou e voltou a deitar. - Vamos hoje?
Steve arregalou os olhos e negou.
-Tá doida?!
-Vai amarelar mesmo?!
Steve respirou fundo. Muito fundo. Essa era a coisa mais idiota que já tinha ouvido na vida. Tá, talvez, não. Mas ainda assim…
Antes que tivesse controle, Steve a encarou. E bufou.
-Duas da manhã está bom para você?
Ooie, Meus Xuxus! ❤
Cheguei com mais um Capítulo e que eu amo muito por ser ele quem vai anteceder o Steve peladão nadando em um rio KKKKKKKKKKK
Eu espero que vocês tenham gostado! Eu amei escrever esses dois capítulos e a forma como a amizade do Steve e da Emma está se desenvolvendo 🥺💘
É isso, espero que tenham gostado!
Até o próximo e obrigada as 300 visualizações! 🥺❤
Bjs 💋💋
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