➤ Pensamentos
NARRADORA
Sophia Carter estava perdida, exatamente como todo mundo imaginava.
Da forma mais ridícula imaginável, ela pensava com desgosto, sentia-se uma criança por sequer pensar que precisava da ajuda de alguém. A garota respira fundo tentando enxergar as coisas com mais clareza. Está frio e escuro em Londres, e a Carter está encolhida, sentada no chão e procurando por descanso, mas ela não consegue dormir. Abraçando as pernas contra o peito, ela cerra os dentes para não batê-los de frio. Os lábios estão ressecados, os cabelos castanhos e cacheados presos em um coque rebelde que aponta todas as direções. Ela sobe a gola de sua camisa de lã verde musgo e espera cobrir pelo menos uma parte da cicatriz em seu rosto. Enquanto tenta dormir encolhida ao lado de uma lata de lixo ela pensa. Era um bom plano mesmo? Porque... assim que fosse executado, ela teria que correr, e não poderia parar mais.
Se sentia dividida, e pelos deuses, como isso é irritante! Ela sente falta de George Weasley e se sente péssima porque espera que ele também sinta a dela.
Pensa como deveria deixar ele seguir sua vida de verdade, só fazem dois dias de separação e nem a fome nem a sede foram capazes de apagar o ruivo de sua memória. Se tivesse sua varinha, daria um jeito de se apagar da mente dos rapazes, e apagar eles da sua. Sente falta dos beijos de George, e de Fred tentando distraí-la a todo custo todos os dias. Tudo neles tão... natural. Caloroso. Ah, como ela sente falta de seu calor.
Ela não faz ideia de para onde correr. Poderia tentar ir ao mundo trouxa, mas simplesmente... o que faria depois? Seria uma moradora de rua para sempre? É muito frio de noite. Ela está com fome, sede. Passou longas horas sem comer, mas seu dinheiro é pouco e ela quer chegar ao seu limite. Ela já passou dele, no fundo sabe disso. Mas irá permanecer em negação. Quer desesperadamente ser mais forte, mas precisa aceitar que ela é apenas humana, e que não vai conseguir sobreviver sozinha. Que merda, ela é uma maldita lufana, precisa viver em bando.
Aguenta mais um pouco, ela pede para si mesma em pensamentos. A ventania ao seu redor é intensa, bem lá, no meio de lugar nenhum. Um beco vazio e uivante, é assombroso. Ela não consegue pregar os olhos e talvez nem precise tanto quanto seu corpo exige.
Aguenta mais um pouco. E a frase se repete. Vai se repetir até ela se convencer de que consegue fazer isso sozinha.
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George fecha a loja e a protege com feitiços murmurados. Está com dor de cabeça, sente-se tão perdido quanto a garota que assombra sua mente e coração. Está tentando ser mais frio com seu julgamento. Pensando em levar em frente a história de deixá-la ir, mas Sophia não quer sair da sua cabeça. Claro que não, ele já tinha aceitado que a ama, para esquecer isso não seria tão fácil.
Amor. Uma coisinha tão simples e tão destrutiva. É, ele ama ela. Porra, ele ainda é apaixonado pela garota mesmo que tenha sentido que a mesma afundou uma estaca no seu peito. Ele sabe dos motivos dela, ele a entende, mas no fundo preferia não entender, preferia não tê-la conhecido, se importado.
Precisa ser sincero consigo mesmo, ele pensa ao se sentir mal de desejar algo assim. Sua vida seria tão mais simples! Se ela não tivesse ficado, se ela não tivesse chorado, chamado por ele, dito que o amava. Ele sabe que é um sentimento real, o que só piora as coisas. Ela o ama e o deixou porque quer a segurança dele e do seu irmão.
Maldita bondade, ele queria mais um pouquinho de egoísmo.
George não é de se apaixonar. Não no sentido babaca da palavra, ele só... não sente a necessidade disso, não vê razão. Perdão, correção: não era, não sentia, não via.
Já esteve com garotas interessantes. Poderia ter se apaixonado por aquela Corvina no quarto ano com cheiro de leite e melancia. Ou pela Grifinória com quem andou desde o primeiro ano, mas Katie simplesmente é... só uma amiga. Ou pela outra Grifinória, que realmente tinha uma pegada desconcertante quando ficava bêbada. Garotas divertidas, com personalidade forte e prontas para se jogar em qualquer aventura com ele. Ele poderia estar namorando com qualquer uma agora.
Mas não, nunca quis nada além de uma noite divertida com nenhuma delas. Nem precisava de sexo. Ele nem sabe exatamente como sua atração por Sophia Carter nasceu. Que piadinha cruel do universo. Ele teve todo tempo do mundo para encontrar a garota perfeitamente imperfeita para ele, mas claro que tinha que ser no pior momento possível da vida dela.
Ele sente falta de fazê-la sorrir, de tocar a mão dela e ficar atoa no sofá, lendo histórias. Queria dormir com ela de novo, é uma sensação um tanto quanto viciante, ele poderia provar mais disso.
Pequenos detalhes fragmentam sua mente, um loop infinito da garota, partes dela. Sua cintura, o jeito como anda com certo rebolado. O jeito como cora, fica vermelha com tão pouca provocação. O jeito como ela acha que o engana, pode até tentar manipular o assunto, ter controle da situação, mas não é tão boa nisso. Ele sente falta dos beijos dela, a forma inocente e sutil como se encaixavam. George volta para casa imerso dentro dele mesmo e se joga no sofá de qualquer jeito. Não entrou no seu quarto desde que Sophia partiu, o que vê como uma tremenda covardia. Não entende e nem gosta de se sentir assustado em como ela tem presença lá. Ela se impregnou nele e na casa toda, mas principalmente no seu quarto. Talvez porque tenha sido ali sua última noite. Talvez porque foi ali onde ele acreditou mais do que nunca nas palavras de outra pessoa fora seu irmão gêmeo. Ele reviveu a conversa sonolenta por horas e horas, isso estava atrapalhando seu sono também.
Ela estava sendo verdadeira, na forma mais genuína, quando disse que o amava especialmente aquela noite. Ele tem certeza disso.
Ele disse que iria atrás dela, mas não sabe tampouco para onde ela poderia ir. Odeia não ter um ponto de partida. Parece que ela está perto, dá para esticar um braço em direção a ela, mas ele nunca vai alcançá-la de verdade. Uma sensação de derrota adiantada invade seu peito. Ele nem é o gêmeo otimista, mas também não é o pessimista, isso não é ele. George encara o teto e esfrega o rosto irritado. Tenta mudar o foco dos seus devaneios para outra pessoa. O primeiro que lhe vem a mente é seu irmão no andar de cima possivelmente dormindo nessa hora da noite.
Está o tratando como uma criança, tentando o fazer esquecer de um brinquedo precioso que se quebrou. Queria que alguém fizesse o mesmo por ele.
Ele sente uma brisa fria vinda da cozinha, a janela esquecida aberta. Mais uma vez Sophia: será que ela está com frio? Como ela está? Onde ela está?
Mas que merda. Parece que ele vai ter que descobrir.
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