➤ Dependência
WEASLEY
Nós jogamos papo furado como nos velhos tempos, dias bons e quentes na comunal, apenas isso. Uma tarde com os amigos.
Eu sei como Sophia fica nervosa com as minhas brincadeiras, então claro que eu não paro, adoro fazer ela ficar vermelha sempre que sugiro coisas aleatórias para o nosso futuro, onde vivemos a toda um romance belíssimo, casamento à beira da praia, uma casa no campo. Sim, Freddie, você ficaria lindo de dama de honra. Claro, Angie, você pode ser a madrinha, Sophia concorda, entrando na brincadeira. Vamos dormir amontoados no chão da sala, comemos e zoamos um ao outro. Minha namorada se encolhe de frio, gosto que ela se aperte contra mim. Ela me disse uma vez como eu sou seu sol. Porra, isso me deixa bobo pra caralho. Também gosto como um pouco do meu ego é massageado. Posso ver o poder que tenho sobre ela e brinco com isso com plena consciência de que ela também tem esse mesmo poder sobre mim.
É muita loucura. Essa história toda. Eu gosto de Sophia, e... não que eu seja difícil de conquistar, mas ela me fisgou rapidinho de um jeito que me deixou até um pouco desamparado. Não posso deixar de ver certo humor nisso. O mundo tem que acabar para eu começar a namorar. Uma garota linda e potencialmente suicida. Obrigado, Merlin, só não me fode quando eu não estiver olhando! É trapaça.
Eu me deito entre Fred e Sophia, meu irmão gasta energia demais correndo de um lado para o outro e não demora muito para começar a roncar no meu ouvido, Angie sempre acorda cedo então, por consequência, vai dormir cedo também.
— Sophia— eu chamo num sussurro, não estava conseguindo dormir. Até que tentei (quase nada), fechei os olhos e fiquei virando de um lado para o outro. Sophia está virada de costas para mim, encarando o fogo da lareira se apagando bem lentamente, crepitando junto do ronco de Fred— Eu não estou com sono— reclamo, a garota vira de barriga para cima e me encara.
— Jura? Nem reparei você me chutando e rolando como porco na lama— ironiza.
— Venenosa, au— sorrio de lado fazendo-me de ofendido— O que está pensando, minha linda? Fala comigo. Gosto de ouvir sua voz— ela sorri.
— Sabe muito bem o que falar para agradar uma garota, usava muito da sua lábia para conquistar as bruxinhas de Hogwarts, Weasley?
— Depende.
— Do que?
— Do quanto elas estavam bêbadas para cair nela.
— Babacão— ela me dá uma cotovelada, eu dou risada.
— Eu nunca fiquei por aí ficando com desconhecidas, moranguinho, me diverti, mas não tanto assim para ser um processo de rotina— me defendo.
— Não está se ajudando, ruivo— ela diz numa voz baixa e sensual, meus olhos descem para a sua boca. A luz debilitada não facilita minha vida.
— Eu sei, só estou testando aquela regra "elas gostam dos mais babacas".
— Me sinto atraída por babacas, mas não gosto deles.
— Quando eu entender essa lógica, a gente pode entrar em um debate.
— Para com isso, George.
— Com o que?— pergunto, confuso.
— De me fazer querer beijar você. É injusto— um sorriso malicioso ganha território no meu rosto.
— Quer me beijar agora, Carter? Olha que eu nem pressionei— debocho.
— Se for para calar essa sua linda boquinha, eu posso te beijar por horas.
— Para com isso, Sophia.
— Com o que?
— De roubar meu coração. Isso que é injusto pra caralho, quem te deu o direito, garota?— ralho, ela dá uma risada baixa e gostosa, se vira para mim e leva a mão para a gola da minha blusa.
— E se eu quiser ficar com ele?— murmura, o fogo da lareira vai sumindo e o escuro me irrita, eu quero ver seu rosto.
— Se eu puder ficar com o seu— pego sua mão esquerda, e nós entrelaçamos nossos dedos— eu penso no seu caso— murmuro e me aproximo mais para a beijar, me apoio no meu cotovelo para ficar por cima enquanto nossos lábios se moldam numa dança lenta e gostosa. Quente. Ela usa a mão livre para arranhar minha nuca, me causando arrepios loucos. A sua língua me provoca, eu quero cada vez mais dela. Nos descolamos para buscar por fôlego, a roubo mais um selinho. Dois. Sua respiração ofegante está me deixando excitado. Beijo seu rosto com a boca molhada.
— O que estamos fazendo, Georgie?— ela pergunta com a mão no meu peito.
— Preliminares?— brinco e passo a língua na sua bochecha, ela me empurra, sei que está sorrindo por mais que mal consiga lhe enxergar. Volte a me beijar, querida, peço mentalmente.
— Fugir da realidade é bonito, mas eu preciso encarar a minha— ela fala voltando ao tom sério. Ah, droga. Eu bem que poderia alongar o teatro está-tudo-bem por mais um tempo.
— Já não encaramos bastante por enquanto? A gente poderia...
— Não, George, eu digo somente eu.— ela me interrompe, começo a ver como essa conversa vai se desenvolver— Eu preciso fazer alguma coisa sozinha porque não quero ficar dependente de você para sempre.
— Você não está dependente de mim, Soph— eu digo.
— Eu estou, George. Estou na sua casa, sob seus cuidados, te rondando vinte e quatro horas por dia. E não é só no material, no sentimental também!
— Não.— eu me sento e ela me acompanha, o casal do nosso lado não reage, os roncos do meu gêmeo se seguem— A gente está te escondendo porque lá fora é perigoso para você. Já era, eu sei, mas agora está muito mais. Podem estar atrás de você, Sophia.
— O risco que eu preciso encarar. Não posso ficar para sempre aqui, ruivo, isso vai me fazer perder a cabeça!
— O que você precisa?— pergunto irritando-me— Quer dizer, você não vai embora, vai? Para onde você iria? Eu sequer veria você de novo se te deixasse sair por aquela porta sozinha?
— Eu...— ela se interrompe e bufa se levantando com dificuldade, dá um puxão na minha blusa e me arrasta em direção a escada. Vamos para o seu quarto para ter mais privacidade, ambos emburrados o caminho todo— Eu não vou fugir de você, George— ela volta a falar quando fecha a porta e acende a luz, eu cruzo os braços.
— Por que eu tenho a leve sensação de que você está mentindo, minha linda?— uso do sarcasmo— Eu sei o que está acontecendo, Sophia, além do fato que eu ouvi quando você disse o que queria naquela outra noite.
Ela fica mais séria ainda e seu olhar se torna arisco.
— Sei que você quer ir atrás de Bellatrix— balanço a cabeça— Sei que está louca para se matar.
— Não é isso...— ela começa ríspida, mas eu a interrompo.
— Ela é uma perturbada muito próxima de você-sabe-quem! Acha que vai conseguir chegar perto dela? É suicídio!
— Eu só quero...
— Eu sei o que você quer, Sophia, eu não sou burro!— a corto de novo— Quer começar uma discussão, quer dizer para mim que precisa de mais espaço, de ar! Quer me afastar para que quando eu menos esperar, você possa desaparecer de novo!
Ela cruza os braços, se fechando. Sophia é um grande livro aberto e convenhamos que eu tive tempo para ler.
— Me diz que eu estou errado.
— Eu não quero te magoar!
— Meio tarde para isso, eu já me importo demais com você!— a respiração dela se desregula.
— Não devia— ela me diz. Uma raiva enche meu peito. Qual a porra do seu direito? Respiro fundo para não falar merda— Não... Espera, deixa eu corrigir isso. Eu não devia. Alonguei isso, me deixei levar pelo bem que você me faz, mas isso tem que parar.
— Não! Não tem!— bato o pé como uma criança mimada— Não é fácil superar essa sua dor, eu sei! Mas por que você quer ir logo pelo pior caminho!? Que porra você acha que vai ganhar com isso, Carter? Está cavando por ouro mas só vai achar mais pedras, é assim que a vingança funciona!
— Eu não quero ganhar nada, está bem?— ela eleva o tom de voz mais um pouco, tremendo— Eu quero matá-la!-— ela rosna, seus olhos brilham— Bellatrix Lestrange e todos os envolvidos, porque eles mataram as pessoas mais importantes do mundo para mim, porque eles me mataram!
— Você não está morta!
— EU QUERIA ESTAR!— ela grita, mas logo se recompõe. Fico quieto enquanto espero porque simplesmente não sei o que responder— Eu não estou criando desculpas, George, e eu não quero depender de você, então talvez seja melhor a gente encarar a verdade— ela estufa o peito e ergue o queixo. Está criando coragem.
— Não.— balanço a cabeça e recuo um passo. Sei o que ela vai dizer, não quero nem pensar nisso!— Não faz isso!
— Talvez seja dependência mútua, sei lá.
— Babaquice.
— Vai ser melhor se a gente cortar isso pela raíz!
— Para, para, não venha dizer que o que sentimos é carência! Porra, eu gosto de você! Você gosta de mim! Ponto final, não destrói isso!
— Eu preciso, George! Eu não quero me importar com você!
Uau. Só uau. Olho para o teto.
— Me desculpa! Eu sei! Eu fiz merda em te dar esperança, mas eu não sou boa para você em mais de um jeito! Se os comensais estiverem me caçando mesmo, vocês vão morrer também e eu não vou aguentar isso nem por um minuto que seja!
— A gente fica melhor junto! Se você sabe que eu te faço bem, que eu posso te ajudar, por que quer abrir mão de uma segunda chance!?
— Eu não quero misericórdia.
— Você também não quer morrer! Estar aqui até agora é uma prova disso!
Sophia fica quieta bufando, sabe que eu estou certo, só não sou escroto o suficiente para falar com todas as palavras que ela quer tanto viver que fugiu de casa para se salvar. Ignorando o pânico e a adrenalina, ela queria viver, sabia lá no fundo que não teria chance e agiu por seu primeiro impulso. Eu que sou o grifinório, mas ela que fica com toda a teimosia. A noite tinha tudo para ser ótima. Maravilha de reviravolta. Eu estou amando!
Sophia desiste, se senta no chão abraçando as pernas e encara meus pés. Sabe que está errada, eu falaria, mas não quero deixar nosso clima mais instável ainda. Ando até a garota.
— Não quero que você vá embora— resmungo e me ajoelho na sua frente, ela me encara com seus profundos olhos castanhos e recolhe os lábios— Eu me importo com você, Sophia, eu gosto de você pra caralho.
— Eu também gosto de você, George— ela sussurra.
— Então me faz o favor... Não parte meu coração— peço.
— Eu poderia te pedir a mesma coisa, mas acho que nenhum dos dois poderia cumprir essa promessa.
— Só se admite a derrota quando não quer nem tentar.
— Eu gostaria...
— Não— a corto. A última vez essa noite, prometo— Se você gostasse mesmo de mim, você tentaria. Não gostaria.
Seguro seu rosto com cuidado e passo o polegar na sua cicatriz.
— Fica comigo, Sophia. Eu não vou implorar para sempre, mas fica comigo só mais um pouco. Deixa eu te fazer feliz.
Sophia fecha os olhos e aperta a bochecha contra minha palma.
— O que você realmente sente por mim, Sophia? Não distorce nada. Só me fala a verdade.
— Puta merda, George. Eu sou apaixonada por você.
Eu não acredito nela. Acho que ela sabe disso e agarra meu pulso.
— George, eu amo você, por isso eu tenho que te deixar.
Meu corpo congela de dentro para fora.
— O que?
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