Terapia. Quem diria que tentar entender os problemas dos outros seria tão... problemático? Aqui estou eu, Charlie, sentada na minha pequena sala improvisada de terapia no Hotel Hazbin, tentando ser a terapeuta que todos precisam. Só que ninguém me avisou que seria tão complicado.

— Então, Mephisto. — começo, tentando manter um tom profissional enquanto olho para o demônio de três cabeças na minha frente. — Como você se sente hoje?

As três cabeças falam ao mesmo tempo, cada uma com um problema diferente. Uma está preocupada com a sua autoestima, a outra com o relacionamento com os seus tentáculos, e a terceira só quer saber onde está o café da manhã. Meu bloco de notas já está cheio de rabiscos incompreensíveis, e estou começando a achar que falar com três bocas ao mesmo tempo é um talento que eu definitivamente não tenho.

— Ok, ok, um de cada vez. — tento acalmar, mas as cabeças continuam discutindo entre si. Sinto uma gota de suor frio escorrer pela minha têmpora. Será que algum curso rápido de terapia online poderia ter me preparado para isso? Duvido.

Finalmente, a sessão termina, e Mephisto sai da sala parecendo mais confuso do que quando entrou. Suspiro profundamente, sentindo uma onda de desânimo. Será que estou realmente ajudando alguém?

As próximas sessões não são melhores. Husk aparece, e tudo que faz é reclamar sobre os preços das bebidas e o barulho dos novos hóspedes. Angel entra só para se recostar na cadeira, mexer no celular e murmurar sobre como ele prefere seus dramas de TV do que as minhas tentativas de terapia. Até Alastor aparece, e passa a maior parte do tempo me explicando porque a psicologia moderna está errada, e como ele poderia fazer muito melhor.

Depois de algumas horas disso, sinto que estou à beira de um colapso nervoso. Minha cabeça está latejando, meu bloco de notas está um caos de palavras desconexas, e, pior de tudo, sinto que não ajudei ninguém. Em um momento de puro desespero, começo a chorar.

É nesse momento que minha mãe, Lilith, entra na sala.

— Charlie, querida, o que houve?

— Eu... eu só queria ajudar. — soluço, enxugando as lágrimas com as mangas da minha blusa. — Mas acho que não sou boa nisso. Todo mundo sai daqui mais confuso do que quando entrou.

Lilith se aproxima e me puxa para um abraço reconfortante.

— Ah, minha doce Charlie. Você tem um coração enorme, e isso é o que importa. Às vezes, não podemos resolver todos os problemas dos outros sozinhos. E está tudo bem.

Sinto o calor e o conforto do abraço dela, e começo a me acalmar.

— Mas eu queria tanto fazer a diferença, mãe.

— E você está fazendo. — ela diz, segurando meu rosto entre as mãos e sorrindo. — Só o fato de você se importar já faz uma grande diferença. E, olha, talvez eu possa ajudar. Tenho meus truques também.

Juntas, decidimos que talvez a terapia em grupo seja uma abordagem melhor. Afinal, nada une mais os pecadores do que compartilhar suas histórias de sofrimento e risadas em conjunto.

Lilith, com seu toque experiente, consegue transformar minhas sessões desastrosas em algo mais leve e divertido. Os hóspedes começam a se abrir mais, e eu percebo que a terapia pode ser feita de várias formas – e que a risada também pode ser uma ótima cura.

À noite, ao nos prepararmos para dormir, Lilith me dá um último abraço e sussurra:

— Lembre-se, querida, às vezes a melhor terapia é apenas estar lá para ouvir. E nisso, você é maravilhosa.

Com um sorriso renovado e o coração aquecido, adormeço, sabendo que amanhã é um novo dia para tentar novamente, com um pouco de ajuda e muito amor.

A terapia em grupo com minha a mãe ajudou um pouco, mas ainda me sinto exausta e cheia de dúvidas. Deito na cama, olhando para o teto e pensando se realmente estou fazendo alguma diferença. É então que ouço uma batida suave na porta.

— Pode entrar. — digo, meio sem ânimo, esperando que não seja mais um problema para resolver.

Para minha surpresa, a porta se abre e vejo meu pai, Lúcifer, entrando. Ele tem um sorriso caloroso no rosto, algo que raramente vejo. Ele se aproxima e, sem dizer nada, me puxa para um abraço apertado. Fico um pouco surpresa, mas logo me derreto no abraço dele, me sentindo segura e amada.

— Charlie. — ele começa, com a voz profunda e reconfortante. — Eu tenho muito orgulho de você. Não se cobre tanto, querida. Você já está fazendo um trabalho incrível tentando ajudar todos aqui.

Meus olhos começam a marejar, mas antes que eu possa responder, ele estende a mão e me entrega um pequeno objeto. Olho para a minha mão e vejo um patinho de borracha, igual a mim, com as mesas cores e aparência.

— Este patinho. — ele diz, com um sorriso nos lábios. — Vai ser o seu amuleto de sorte. Não importa onde você esteja, ele estará com você, assim como eu. E saiba que eu e sua mãe não vamos embora. Vamos ficar no hotel para apoiar você em tudo que precisar.

Não consigo conter as lágrimas que começam a escorrer pelo meu rosto. Sinto uma onda de emoção me inundar.

— Pai... eu nem sei o que dizer.

Lúcifer limpa minhas lágrimas com um gesto gentil e segura meu rosto entre as mãos, assim como minha mãe fez mais cedo.

— Não precisa dizer nada, Charlie. Apenas saiba que estamos aqui para você, sempre.

Eu abraço meu pai com força, sentindo o calor e o conforto que só a presença dele pode proporcionar.

— Obrigada, pai. Isso significa muito para mim.

Ele me dá um beijo na testa e sorri.

— Agora, descanse. Amanhã é um novo dia, e você vai continuar fazendo o que faz de melhor: trazer luz para este lugar.

Enquanto ele sai do meu quarto, fico olhando para o patinho de borracha em minhas mãos. Sinto uma renovada sensação de esperança e coragem. Sei que, com meus pais ao meu lado, posso enfrentar qualquer desafio que venha pela frente.

Deito na cama, abraçando o patinho contra o peito, e deixo as lágrimas de gratidão e amor fluírem. Meu coração está aquecido e, pela primeira vez em muito tempo, sinto que tudo vai ficar bem. Fecho os olhos, finalmente encontrando a paz para dormir, sabendo que amanhã é um novo dia para fazer a diferença.