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01 | VOCÊ PRECISA DO SOL COMO EU PRECISO DA LUA

CAPÍTULO UM | HOT PINK ICE CUBE
❝VOCÊ PRECISA DO SOL COMO EU PRECISO DA LUA❞

eu aceito tudo o que você quiser, de certa forma você é minha vitamina. todas as manhãs eu acordo para ver. de vez em quando você liga e levanta minha mente⸺ VITAMINS; cassia

MISHA ESTAVA SENTADA EM SUA MESA, OLHANDO PARA A TELA BEM ILUMINADA DO COMPUTADOR, MAS SEM REALMENTE VER NADA. Seus dedos pairavam sobre o teclado, esperando que seu cérebro tomasse algum tipo de decisão sobre o e-mail que ela estava tentando digitar por quase vinte minutos. Mas nada aconteceu. Ela respirou pesadamente e esfregou a testa. Do outro lado da sala, Rani estava curvada sobre uma pilha de artigos de pesquisa, uma tampa de caneta entre os dentes enquanto folheava as páginas. Misha limpou a garganta.

— Rani, posso te perguntar uma coisa? — ela disse, e sua voz soou mais hesitante que o pretendido.

Rani não olhou para cima, mas a tampa da caneta fez um clique audível quando ela a deixou cair na mesa.

— Claro — disse a garota, tirando a tampa e fechando a caneta, seus olhos ainda varrendo a página até que ela colocou a caneta na mesa.

Rani havia nascido em East London, logo depois que seus pais chegaram do Zimbábue, e era uma surpresa que ela e Misha não tivessem se encontrado pela cidade ainda na infância. Misha a conhecia há quase sete anos, depois que se conheceram no King's College, onde ambas passaram um ano juntas - Misha depois de deixar Oxford, e Rani logo após terminar seu curso no próprio King's College. Elas foram para o Imperial College juntas e estavam trabalhando juntas pelos últimos cinco anos. Então, de um jeito, era muito o pouco o que não sabiam uma sobre a outra. 

Misha se recostou na cadeira, cruzando os braços.

— É sobre o Son — Os olhos de Rani se ergueram dos papéis, imediatamente mais interessados.

— Oh, isso parece uma ótima desculpa para eu fingir que não tenho nada para fazer — ela girou a cadeira para encarar a amiga — O que está acontecendo? — Rani se recostou na cadeira, claramente pronta para ouvir o que quer que Misha tivesse para dizer.

— Bem... — Misha começou — Eu concordei em sair com ele, de verdade. Tipo, em um encontro de verdade. Mas eu não sei... Eu não sei se fiz a coisa certa.

— Você não disse que ele estava tentando tornar as coisas mais sérias da última vez que falamos sobre isso?

— É exatamente isso — Misha disse, um pouco ansiosa demais — Esse é o problema. Ele é... bem, ele é ótimo, sabe? Mas é só que... não tenho certeza se estou pronta para algo sério agora. Ou talvez eu esteja. Mas... não com ele...? Isso faz sentido?

— Ok, entendi — Rani assentiu — Mas você disse "sim" em primeiro lugar. Por quê?

— Não sei — Misha deu de ombros — Talvez eu não quisesse vê-lo triste. Ele tem sido muito legal, e-

— E ele é engraçado, fofo, é amigo do seu irmão, que por sinal apresentou vocês, e agora há toda essa pressão estranha — Rani terminou por ela, e Misha soltou uma risada, embora a situação não fosse nada engraçada.

— Você pensaria que eu seria melhor em lidar com isso — ela murmurou.

Misha só havia tido um relacionamento sério na vida, e mesmo isso parecia tão distante que ela mal conseguia se lembrar de como era estar em um relacionamento, com um rótulo. A maioria de seus relacionamentos era mais como... bem, não relacionamentos, exatamente. Eram esses casos curtos, às vezes intensos, que terminavam tão rápido quanto começavam. Alguns meses aqui, algumas semanas ali - nada disso realmente durava. Não que ela se importasse, não realmente. Ela gostava de sua independência, gostava de poder cuidar de sua própria vida sem ninguém esperando por ela. Era apenas como ela funcionava.

Ela sabia, em algum lugar lá no fundo, que provavelmente tinha algo a ver com seus pais. A coisa toda do divórcio. Não era como se isso a tivesse arruinado ou algo assim; não era uma cena dramática. Claro, eles brigaram muito a ponto de não parecer que havia alguma verdade naquela relação, mas Misha sabia que não era bem assim. Os dois se separaram quando ela tinha onze anos, e sua mãe voltou para os Estados Unidos logo em seguida. Seu pai ficou na Inglaterra. Foi confuso, para dizer o mínimo, mas Misha lidou com isso. Ela não se ressentia quando pensava naqueles dias. No entanto, de alguma forma, a ideia de estar em algo de longo prazo sempre a deixava nervosa, porque ela pensava na maneira como os pais tinham ido de se amarem a não se suportarem em um espaço tão curto de tempo. Não que ela admitisse. Se alguém perguntasse, ela apenas daria de ombros e diria que relacionamentos sérios eram superestimados. Era mais fácil assim. Menos bagunça e muito menos drama.

Para Misha, também era mais sobre controle. Ela gostava das coisas em seus termos. Os encontros casuais eram fáceis; não havia nenhuma expectativa pairando sobre sua cabeça, ninguém a pressionando para resolver as coisas ou fazer planos para o futuro. E futuro era uma palavra grande, afinal. Além disso, o compromisso sempre parecia uma armadilha, como algo que exigia muito dela. Ela não estava fechada à experiência, mas não tinha expectativa também, e ela não pensava sobre isso - era apenas como era. Relacionamentos, os reais, os pesados, os que consumiam tudo, eram para outras pessoas. Pessoas que não pensavam muito sobre o quão rápido as coisas poderiam desmoronar.

— Você gosta dele?

— Eu gosto. Quero dizer, é fácil conversar com ele, e nos divertimos juntos, e ele sempre faz esses pequenos gestos para dizer que se importa.

— Como as flores outro dia — Rani disse, assentindo.

— E a Leica Q.

— Mas isso não foi realmente um "pequeno gesto" — a garota apontou — Foi um "grande", não foi? Ele gastou seis mil libras em uma câmera só porque você disse que tinha se apaixonado quando viu uma parecida no set do último trabalho de Claudia.

— Eu sei, eu sei... Ele prestou atenção nisso, Deus... — Misha balançou a cabeça — Para ele, isso meio que está começando a ficar sério, e eu só não acho que consigo retribuir cem por cento do que ele espera. Meu ponto é esse.

— O problema é ele ou o momento?

— Talvez as duas coisas — Misha disse, franzindo a testa.

— Ou... — Rani estreitou os olhos, recostando-se na cadeira novamente, e Misha imaginou logo que ela diria algo sem rodeios — Talvez o problema seja a zagueira do Arsenal. Como é o nome dela mesmo...?

— Não estamos falando da Leah — Misha girou sua cadeira, voltando a ficar de frente para o computador, com o e-mail escrito pela metade e uma nova notificação de atualização piscando ao lado.

— Não? — Rani riu — Bem, aí está sua resposta então, não é? Se você está sentada aqui, pensando em Leah enquanto deveria estar decidindo se deve ou não levar o que tem com Son para frente, parece que você já sabe o que quer. Seu receio não é sobre entrar em um relacionamento, mas entrar em um relacionamento com ele. Se fosse Leah-

— Nada aconteceria — Misha disse interrompendo a amiga — E nem é tão simples assim. Leah também não quer nada sério. Ela deixou isso bem claro desde o começo. Foi por isso que começamos... isso. Seja lá o que for isso.

— Sim, mas ela disse isso recentemente ou você está apenas assumindo que nada mudou desde então?

Misha não estava assumindo nada. Leah tinha dito aquilo, e o acordo delas sempre foi entendido. Casual, sem pressão. E então Leah foi para Tóquio para as Olimpíadas, e as coisas simplesmente... pararam. Mas isso não queria dizer que Leah estivesse pensando nisso de uma forma diferente agora, porque ela não estava. Pelo menos, ela tinha falado sobre. Foi ela a incentivar Misha a sair com Son. E ela parecia muito bem com isso.

— Nada mudou desde então — a garota reiterou.

— Vocês conversaram?

— Ela comentou que eu deveria sair com o Son.

— Oh... — Rani deixou a informação se assentar por um momento, realmente surpresa em ouvir aquilo — Então... Bem, veja, eu acho que você tem que entender o que espera e o que quer, caso contrário... Você vai acabar sentindo que está enrolando Son, e pior, que não está sendo honesta consigo mesmo.

Misha afundou um pouco mais na cadeira, deixando o peso da conversa se assentar. Ela levou uma das mãos até o teclado e clicou em uma letra aleatória, não escrevendo realmente nada.

— Ei — Rani voltou a chamar a atenção da amiga — Só lembrando que você não tem que se colocar para nada também, ou forçar algo que não parece certo. Só... tente seguir seu ritmo.

A garota concordou, mas não disse nada. Ela olhou para o rascunho do e-mail na tela, os dedos emparelhando sobre o teclado, mas nada aconteceu. Ela apagou a única letra que tinha digitado no último minuto, e o cursor piscou para ela impacientemente, como se pudesse ver dentro de sua cabeça e saber que ela não estava realmente tão preocupada na tarefa em questão. Ela deveria ter clicado em "enviar" há cinco minutos, ou mais do que isso, mas algo sobre o texto parecia estranho, ou ela só não estava realmente focada o bastante. Ela não tinha certeza da razão para se importar tanto em um e-mail bobo sobre equipamento de laboratório, mas lá estava ela, reescrevendo a mesma frase pela terceira vez.

Ela olhou para Rani, que tinha voltado a girar sua cadeira e estava inclinada sobre sua mesa, profundamente concentrada. Rani estava trabalhando em algo sobre o que não parava de falar desde o almoço, murmurando para si mesma sobre algo que Misha não tinha realmente prestado atenção. Mas aquele era um dia mais parado. As duas estavam fazendo tudo com menos pressa, só esperando o momento de ir embora - ou pelo menos, Misha estava fazendo isso.

Com um suspiro, Misha retornou ao e-mail. Ela digitou uma conclusão rápida e sem entusiasmo, algo como "Me avise se tiver alguma dúvida", que deveria soar mais como "Espero que essa seja a última vez que eu tenha que lidar com isso, obrigada!". Finalmente, ela clicou em "Enviar" e recostou-se na cadeira.

Ela olhou para o relógio - 15h07. Tecnicamente, ela poderia sair às 15h30, mas ninguém se importaria se ela saísse mais cedo. Afinal, era sexta-feira. Ninguém se importava muito com nada em uma sexta-feira. Misha bateu suavemente as pontas dos dedos na mesa, considerando aquilo. Afinal, ela ainda tinha planos para aquela noite. Um encontro com Son. Não tinha cancelado nada, e depois da conversa com Rani, tinha decidido seguir com aquilo - a resolução errada... muito provavelmente, mas Misha não tinha realmente tanto a perder.

Quando o relógio marcou 15h20, Misha arrumou suas coisas com calma, ainda que não houvesse tanto para organizar. Sua mesa era sempre organizada, desordem mínima, mas com personalidade suficiente para indicar que era dela que estavam falando quando olhavam para o espaço. Ela jogou a bolsa por cima do ombro, dando uma última olhada em sua mesa de trabalho antes de ir em direção à porta. Rani não se mexeu, e não parecia mesmo que ela sairia dali pela próxima meia hora.

— Vejo você segunda-feira, Rani — ela murmurou.

Rani afastou os olhos do computador, dando a Misha um meio sorriso.

— Sim, sim... Hm, talvez você realmente vá almoçar comigo no George na segunda — Misha disse, lembrando que tinha comentado que fariam aquilo na semana que passou, mas os almoços de Misha tinham se passado na mesa de trabalho. Não que ela estivesse reclamando. Ela adorava o silêncio na hora do almoço, ainda que gostasse de barulho em todos os outros momentos — Você ainda tem planos hoje?

— É, eu não cancelei nada, então... Vou sair com o Son — ela respondeu, e Rani a encarou assentindo, entendendo que depois da conversa que tiveram, Misha tinha se decidido. Ela quis falar algo sobre aquilo, mas optou por não o fazer.

— Bem, se nada sair como o esperado, eu vou estar na Fabric — Rani disse, se referindo a uma das casas noturnas mais conhecidas de Londres. Uns quatro anos antes a Fabric tinha sido obrigada a fechar permanentemente após sua licença ter sido revogada devido a duas mortes relacionadas a drogas. O lugar poderia parecer pesado, mas todo o mundo caía para lá no fim da noite antes disso. O espaço tinha reaberto no fim de julho, e era apenas o segundo mês tentando trazer de volta o mesmo público de antes. Parecia estar funcionando. Misha tinha dado um olhar no Instagram deles um dia antes, e sabia que naquela sexta-feira era Jeff Mills quem estava se apresentando.

— Eu vou me lembrar disso.

Misha acenou uma última vez antes de sair. Quando ela colocou os pés lá fora, o tempo frio a recebeu. Era setembro, e não estava tão frio quanto ficaria em alguns meses, quando o inverno chegava, mas frio o bastante para que você mantivesse um casaco por perto. Misha desceu a rua até o café que costumava frequentar, o Caffe Nero, que estava sempre a uma caminhada curta do trabalho e de casa e era um daqueles espaços sem realmente nada de tão diferente, mas com um café e um espaço bom o bastante para se aproveitar. Havia azul por todos os lados e o espaço aberto da frente. Normalmente, os estudantes se enfiavam lá por alguns minutos de silêncio ou de conversas mais baixas, e as pessoas realmente se sentavam para beber seu café em vez de sair correndo com um copo de papel, como acontecia quando se falava sobre franquias de café maiores e sempre mais cheias. Misha aparecia por lá há meses, desde que Rani tinha recomendado o lugar, que ficava perto da casa de Misha e ela mal sabia. Rani tinha dito que era seu café preferido e que não costumava falar tanto sobre, mas Misha teve a sensação de que Rani também o havia recomendado para cerca de dez outras pessoas. Não era nenhum segredo também. O Caffe Nero estava por todos os cantos da cidade.

Ela caminhou até o balcão, olhando para o menu do quadro-negro, ainda que não precisasse já que não pediria nada fora do costume. A garota atrás do balcão ofereceu um sorriso, e ela acenou suavemente. Mesmo conhecendo a garota, e sabendo que naquele ponto ela já tinha decorado seu pedido de sempre, Misha ainda passou pelo ritual de murmurar o que queria.

— Ei, vou querer um café gelado com caramelo salgado.

— Com leite de aveia?

— Sim — respondeu Misha, puxando o celular no bolso do lado do casaco que estava usando. Ela se encostou no balcão, encarando o espaço do café por um momento, vendo que o movimento parecia menor, mas ainda não era quatro da tarde. Logo aquilo se encheria, sem muita dúvida.

O celular de Misha vibrou antes que ela pudesse o desbloquear, mas ela não expandiu a notificação além do ícone quando viu pela tela de bloqueio que era uma mensagem de Son. Ela esperou para que seu café gelado fosse apoiado na bancada, e então o pagou e saiu caminhando para fora, tomou um gole e finalmente passou o dedo pela tela do celular.

Na mensagem de Son, ele estava verificando seus planos para mais tarde. Misha suspirou, respondendo com um rápido "Sim, vejo você mais tarde", depois deixou a janela de mensagem com o jogador e partiu para a última mensagem que havia sido enviada a Leah naquela manhã - apenas um rápido "Ei, bom dia!". E a mensagem ainda estava lá, sem ler. O que era incomum. Leah não era do tipo que ignorava suas mensagens, mesmo em um dia agitado. E elas sempre desejavam "bom dia" uma para outra. Normalmente, Misha recebia algo em troca, se não recebesse uma mensagem primeiro antes de enviar qualquer coisa.

Ela tocou na mensagem novamente, como se olhar para ela fosse fazer com que a notificação de "lida" aparecesse, mas nada mudou. Outra mensagem apareceu em sua tela, mas outra mensagem de Son.

"Eu estive pensando em te levar no Hithe + Seek. O que você acha? Não queria fazer isso uma surpresa porque eu sei como você odeia isso."

Era verdade, Misha odiava surpresas, ou a mera possibilidade de não ter controle sobre o próximo passo que estava dando. Mas Son a conhecia bem, e o Hithe + Seek parecia um ótimo lugar para passar a noite. Misha já tinha ido ao restaurante, uma única vez. O lugar tinha uma vista incrível do Tâmisa e da cidade ao redor, e era um restaurante luxuoso à beira do rio. Tinha um bar de vinhos e coquetéis e um cardápio de comida que mudava toda noite.

A garota respondeu a mensagem do jogador, concordando que o Hithe parecia um bom plano, e parou por um segundo na tela, encarando a mensagem, antes de bloquear o celular novamente. Ela tomou um gole de seu café, deixando o frio se espalhar ela enquanto caminhava. A rua estava movimentada, como sempre. Não havia sol de fim de tarde porque o céu estava nublado, mas nada que não fosse o comum. Misha tirou seus fones da bolsa, enfiando no celular e levou um dos lados até o ouvido.

Ela suspirou, voltou a desbloquear o celular e passou o dedo por seus contatos, passando ele para cima até achar o nome de Gisèle. Ele clicou, e do outro lado tocou duas vezes antes da chamada ser atendida.

— Ei, Bear — disse Gisèle, ao fundo, com o som fraco de conversa e o barulho de TV do outro lado.

Gisèle estava em Barcelona, ​​e o horário da cidade estava uma hora à frente de Londres. Lá já eram cinco horas, e ainda parecia cedo demais, mas Gisèle estava com a voz mais baixa. Misha não sabia se era porque estava tentando não acordar a filha ou porque ela estava apenas cansada. Qualquer que fosse a razão, parecia fazer sentido.

— Como você está?

— Bem — a mais nova suspirou — Aconteceu alguma coisa?

— Por quê?

— Porque nos falamos hoje e você nunca liga tanto assim para as pessoas.

— Uau, a imagem que você tem minha é mesmo péssima.

— Nada inventado — Gisèle brincou e Misha riu.

— Escute... — ela suspirou — Você falou com seu pai hoje?

— Sim, conversei com ele, mas não conversamos muito. Eu fique um pouco, hm... Ocupada — houve uma pausa, e Misha imaginou Gisèle se inclinando para dar uma olhada na filha. O que não era longe da realidade. A pequena estava em um DockATot, dormindo, e Gisèle estava sentada no carpete, logo ao lado, a observando — O que houve?

— Você poderia ligar para ele de novo? Eu... — Misha ponderou, sentindo-se um pouco estranha com o que pediria. Não que Duncan fosse um estranho, mas da mesma forma que Gisèle não tinha uma relação tão próxima com Anton, ela não tinha uma relação tão próxima com Duncan, ainda que sempre se vissem — Eu só queria saber se a Leah foi treinar hoje. Ela não me respondeu... Eu imaginei... Imaginei que ele saberia.

— Eu posso ligar para ele.

— Mesmo?

— É — a garota assentiu — Você está preocupada com ela?

— Não sei, é só que... Ela não é de ignorar mensagens. Mas talvez seja só besteira.

— Bem, não custa tentar saber — houve um breve arrastar de pés, e Misha pôde ouvir algo, ou alguém se mexendo do outro lado. Ela se perguntou se Alexia já estava em casa — Ele provavelmente ainda está no trabalho, então vou ver o que ele diz e te mando uma mensagem daqui a pouco.

— Obrigada — Misha murmurou, e disse um "tchau" antes que sua irmã pudesse desligar a chamada.

Ela continuou descendo a rua em direção a sua casa, tomando o café, tentando não analisar demais a falta de resposta de Leah. Ela sabia o quão ridícula estava sendo, porque talvez estivesse pensando demais, e criando um problema onde não existia nada.

Mas dez minutos depois, seu celular vibrou. Ela estava virando na rua de casa quando isso aconteceu, e voltou a desbloquear o aparelho apenas para ver uma mensagem de Gisèle.

"Meu pai disse disse que Leah não foi ao treino hoje. Pediu alguns dias longe. Disse que não estava se sentindo bem ou algo assim."

"Acho que você deveria ir ver ela."

*

Misha não planejava ir para a casa de Leah. Na verdade, ela tinha toda a intenção de chegar em casa, tirar os sapatos, trocar a roupa, guardar sua bolsa e talvez tentar esquecer aquela sensação estranha que tinha sentido o caminho todo, pensando no que poderia ter acontecido para o sumiço da garota. Mas depois de ler a mensagem de Gisèle pela décima quinta vez, logo que saiu do banho, ela decidiu que talvez não fosse a pior decisão do mundo apenas ir se certificar de que tudo estava bem. Leah nem mesmo morava longe - um trajeto de dez minutos caminhando que se tornava ainda mais curto se ela chamasse um táxi.

Mas não estava tarde, e Misha decidiu caminhar mesmo e se dar a possibilidade de também pensar no que diria assim que visse Leah. Ser honesta talvez fosse o melhor. Ela deveria apenas assumir que ficou preocupada, e então, assim que estava ali para se certificar de que tudo estava certo com a jogadora. Depois ela voltaria para casa e se arrumaria para o encontro com Son. Era nisso que ela estava pensando, ou pelo menos era nisso que ela deveria estar pensando.

Usando um moletom amarelo e calças de moletom pretas largas, por cima, Misha vestiu uma jaqueta estilo workwear em um tom de areia e, para finalizar o visual, ela adicionou um gorro preto aconchegante, com meias brancas e um chinelo slide preto. Ela saiu de casa se certificando que estava com a carteira no bolso da calça, bem como o celular. Depois, virou à esquerda no final da rua, indo em direção a rua estreita que cortava o caminho. Não foi muito mais rápido, mas foi mais tranquilo. Apenas algumas pessoas passeando com seus cachorros ou correndo naquele fim de tarde. Andando, parecia estranho estar fazendo aquele caminho, naquele horário, daquela maneira, porque era quase como se ela tivesse feito a quebra de uma regra que nem ela nem Leah realmente tinham conversado sobre, mas que estava no ar. Claro, elas se falavam todos os dias, mas sempre havia um aceno antes que elas aparecessem uma na casa da outra.

Mas a questão era que Leah quase nunca ficava doente. Não daquele jeito, ao ponto de sumir. Ela não ficava mal. A não ser que fosse uma concussão, e não era a questão porque se fosse, Duncan teria comentado. Ela tinha um jogo contra o Reading em alguns dias, então seria algo a ser comentado, Misha pensou.

Misha chegou ao prédio de apartamentos de Leah depois de não muito mais do que uns oito minutos de caminhada. O prédio vitoriano alto tinha sido reformado tempos atrás, mas ainda parecia ter saído de um filme antigo. E era muito bonito. O porteiro, um homem mais velho, acenou quando Misha se aproximou, seus olhos se levantaram em um reconhecimento honesto. Ele tinha se habituado a ver a garota pelos últimos meses, observando-a entrar e sair em horários curiosos - às vezes tarde demais, às vezes cedo demais.

— Boa tarde, Sra. Autcher — disse Nigel com um tom gentil, e Misha quase pontou que ele deveria parar de a chamar daquela maneira. Misha bastava. Mas ela não disse nada — Você está aqui para ver a Srta. Williamson?

— Sim... Ela saiu hoje? — Misha perguntou e Nigel balançou a cabeça, ajustando levemente o casaco que estava usando.

— Não que eu tenha visto. Hoje foi tranquilo, na verdade. Ela ainda está lá em cima, até onde eu sei — houve uma pausa. Misha mudou seu peso, sua mente já estava na metade do caminho para a porta de Leah. Nigel deve ter percebido algo porque ele deu um pequeno sorriso e gesticulou em direção ao elevador — Você sabe o que fazer. Ela sempre deixa um aviso de que é para deixar você subir..

— Obrigada, Nigel.

Ela entrou no elevador, se apoiando na parede, e o caminho de poucos segundos pareceu mais longo do que realmente era. Quando as portas finalmente se abriram, Misha saiu para o corredor silencioso. A porta do apartamento não estava fechada, e Misha reparou nisso porque a mão dela acabou indo para maçaneta sem um segundo pensamento. Então ela entrou no apartamento, seus olhos se ajustando à luz fraca do lado de dentro. A sala de estar parecia estranhamente parada. Tudo estava no lugar, mas não havia nada além do silêncio num primeiro momento.

Misha se moveu mais para dentro, aumentando um pouco a voz quando um "Leah?" deixou sua boca e logo o som pareceu alto demais no silêncio. Os olhos de Misha captaram um brilho fraco do banheiro no final do corredor. A luz estava acesa. Provavelmente o único espaço na casa iluminado. Misha não precisou pensar por mais do que um segundo até estar caminhando para lá, e ela abriu a porta com cuidado, a dobradiça rangendo, e ali, nos ladrilhos frios, a coisa primeira que viu foi Leah. Encolhida no chão, meio adormecida, ou talvez exausta demais para se mover, com o rosto pálido. Seu corpo parecia pequeno, mesmo que normalmente a ideia fosse longe disso. Leah tinha 1,70m, a mesma altura que Misha, mas ela estava sempre numa energia acima, ou pelo menos era como Misha a via.

— Leah? — Misha murmurou, de uma maneira que quase parecia que se aumentava a voz ela atrapalharia o momento. Mas ela também não tinha ideia se a garota estava acordada ou não, então ela não queria a assustar.

Num primeiro momento, Leah mal se mexeu, mas um leve gemido escapou de seus lábios. Ela estava claramente com dor, sua mão segurando seu abdômen enquanto estava deitada ali, com uma respiração superficial ainda compassada. Misha se ajoelhou ao lado dela, a frieza do piso do banheiro não a alcançando graças a calça de moletom. Ela estendeu a mão, a sustentando no ar por um segundo antes de tocar suavemente o ombro de Leah.

— O que aconteceu?

— Cólicas — Leah respondeu.

— Ah — Misha fez uma pausa. Ela sabia o quão ruim aquilo poderia ser, mas não ia mentir que já tinha estado em uma situação semelhante. Era apenas um nível diferente, e Leah estava realmente muito mais mal do que Misha se lembrava de estar em algum momento. Por um segundo, ela mal sabia o que fazer — Você tem algum analgésico?

Leah balançou a cabeça, sem conseguir realmente abrir a boca para falar qualquer coisa, porque apenas a ideia de abrir a boca e se forçar a responder a colocava num estado ainda pior. Ela só queria se encolher, e então continuar ali, deitada.

Misha se levantou, e Leah tentou se sentar quando a viu saindo do banheiro, mas não fez muitos movimentos. Ela se inclinou para frente e apoiou a testa na lateral da banheira, a porcelana fria quase serviu como uma distração bem-vinda da própria dor. Ela estava usando apenas um top de treino e um short Nike, mesmo com o clima do lado de dentro frio como do lado de fora, e suas pernas estavam arrepiadas no ar, mas ela não estava com frio. Isso porque a dor parecia quente, como se todas as suas entranhas estivessem contraindo em um nó apertado e insuportável.

Os passos retornaram, e a porta do banheiro se abriu por completo. Misha deslizou para dentro, segurando um comprimido de Advil e uma garrafa vermelha de água. Leah se inclinou, pegou com as mãos trêmulas e murmurou um "obrigada" enquanto Misha desaparecia de volta para o corredor. Leah se atrapalhou com o pacote, tirando um comprimido e o engolindo com a ajuda da água. Ela se recostou na banheira, esperando, ou torcendo, para que a dor passasse logo, ainda que soubesse, de algum jeito, que talvez não adiantasse de nada.

Poucos minutos depois, Misha voltou, dessa vez com uma manta enrolada no braço. Ela tinha bagunçado um pouco o armário de roupas de cama e toalha no corredor do apartamento de Leah, mas manteve na mente que iria ajeitar tudo depois.

— O chão está congelando — ela disse enquanto enrolava a manta nos ombros de Leah — O que acha de ir para o sofá?

— Pode ser — Leah concordou fracamente, e Misha ajudou a se levantar.

O braço da mais velha se sustentou em volta da cintura de Leah enquanto elas se arrastavam para a sala de estar. Leah desabou no sofá logo que o viu, afundando nas almofadas, puxando a manta mais apertada em volta de si. Misha desapareceu na cozinha, e Leah pensou em perguntar o que ela estava fazendo, mas fechar os olhos e ficar quieta parecia uma ideia melhor. De qualquer forma, poucos minutos depois, Misha voltou com uma xícara de chá de hortelã e entregou a Leah, apoiando a mão em seu ombro por um momento.

Leah segurou a xícara contra a parte inferior da barriga, logo acima do osso púbico, deixando o calor penetrar pelo tecido do short que cobria sua pele. O calor foi reconfortante, mas depois de um momento, a xícara começou a ficar muito quente, como se pudesse queimá-la, e ela a tirou, apoiando no braço plano do sofá.

Misha tinha se acomodado na poltrona, de frente para Leah, e ela se inclinou, apoiando os cotovelos na própria perna, encarando a garota do outro lado.

— É sempre tão ruim?

— Sim. Às vezes pior.

— E você simplesmente... lida com isso?

— Praticamente — Leah murmurou — Sem escolha, na verdade.

— Você já foi em um médico?

— É só cólica — a mais nova revirou os olhos — Vai passar.

Misha olhou de volta para frente, notando como Leah se mexia desconfortavelmente no sofá, ainda curvada. Até se sentar parecia uma dificuldade para ela. O rosto de Leah estava ainda tenso de dor, e Misha se levantou depois de ponderar a coisa toda, indo se sentar ao lado dela, puxando Leah gentilmente em sua direção. Leah não discutiu nem nada - ela se inclinou no peito de Misha, cedendo completamente, seu corpo afundando como se não tivesse mais energia para estar ali por conta própria. Misha envolveu seus braços ao redor dela, apoiando seu queixo levemente no topo da cabeça de Leah.

— Você poderia ter me ligado, sabia? — Misha disse depois de um momento — Ou, tipo, ligar para qualquer um. Alex, ou então uma das garotas de sua equipe. Sua mãe... Eu ouvi que Keira está na cidade também. Quero dizer, isso... — ela gesticulou vagamente para a garota — Isso não é exatamente algo com o que você deveria lidar sozinha.

— Não me pareceu tão divertido falar com ninguém, na verdade. O que eu iria dizer, 'Ei, Misha, você pode vir aqui, estou enrolada como uma bola no chão do banheiro, querendo morrer, então quer vir aqui?'.

— Me parece um convite tentador — Misha comentou e Leah revirou os olhos, mas riu. Apesar disso, o riso foi o suficiente para incomodar, por conta da dor, e logo a garota estava apertando os braços em volta da cintura de Misha ainda mais — Estou falando sério. Você é tipo... você tem permissão para pedir ajuda, sabia?!

— Eu não pensei que ficaria tão ruim. Normalmente é... administrável. É terrível num primeiro momento. Mas uma hora dessas eu já deveria estar melhor.

— Leah...

— É sério — ela falou.

Elas ficaram em silêncio novamente quando Misha entendeu que não havia muito para discutir. Ela estava ali, naquele momento, e parecia bom o bastante. Era bom o bastante estar ali apenas segurando Leah, com seus braços em volta dela. Misha podia sentir o corpo de Leah relaxando gradualmente, a tensão se esvaindo, embora o estremecimento ocasional ainda lhe dissesse que a dor não tinha passado completamente.

— Você quer um heat pad? — Misha perguntou.

Leah ainda tinha a cabeça apoiada no peito de Misha, e fez um barulho que poderia ter sido um sim ou um não, ou talvez apenas um grunhido de desconforto. Ela voltou para o silêncio um momento depois, até que pareceu reparar como sua resposta não tinha sido realmente nada.

— Eu... Sim, acho que eu quero... mas está tudo bem. Eu não quero que você saia só por isso. Eu posso sobreviver sem um heat pad.

— Vai levar literalmente dois minutos. Tem uma farmácia logo ali na rua. Eu poderia ir e voltar antes mesmo que você percebesse que eu fui embora.

— Eu sei, eu sei, mas está frio lá fora, e você já fez o suficiente.

— Veja... — Misha se mexeu com cuidado, se afastando de Leah com calma o suficiente para que ela pudesse se acomodar no sofá, dessa vez deitada — Não tô aceitando "não".

— Eu só não quero que você sinta que tem que fazer tudo para que eu me sinta melhor, quando eu sei que vou ficar bem logo.

— Eu não tenho que fazer tudo — Misha disse — Mas eu posso fazer isso. Sério, não vai demorar muito. Cinco minutos, no máximo.

— Ok... Só não... Não demore muito. Se eu ainda estiver deitada aqui assim quando você voltar, vou me sentir patética.

— Você não é patética, cara. Você é apenas teimosa pra caralho — Misha comentou, ajeitando a própria jaqueta antes de se certificar que tinha sua carteira consigo. Ela caminhou na direção da porta e a abriu, saindo para o corredor, mas parou ali por um minuto, antes de a fechar, e encarou Leah — Me mande uma mensagem se pensar em mais alguma coisa que possa te ajudar.

— Eu faço isso.

O frio atingiu Misha no segundo em que ela passou pelo saguão do prédio, depois que respondeu ao questionamento de Nigel se estava tudo bem com Leah, por ela ter ficado em casa o dia inteiro - o que definitivamente não era nada normal dada a própria rotina agitada. Já tinha anoitecido de vez, e era quase seis horas. Misha pensou que deveria estar em casa, se arrumando para sair com Son, mas honestamente, mal conseguiria se concentrar nisso, sabendo que Leah estava de volta ao apartamento. Misha não sabia que conseguiria impedir Leah de sentir dor, mas ela conseguia pelo menos tentar. Ela podia andar dois minutos pela rua e melhorar um pouco as coisas, e então poderia apenas a fazer companhia e se certificar de que estava tudo bem, na medida do possível.

A farmácia estava exatamente onde sempre esteve, enfiada entre uma loja de café e um beco que levava para outra rua, seguindo de volta para onde era a casa de Misha, num caminho diferente. Misha empurrou a porta, e diferente do clima lá fora, do lado de dentro estava quente. Ela pegou dois pacotes de thermacare, um heat pad grande que vinha com dois pacotes dentro de uma caixa, então adicionou algumas barras de chocolate à cesta por impulso, balas barkleys de menta, que vinham em uma lata retangular de metal e um maço de Dunhill. Misha tinha ainda aquele hábito terrível, e enquanto não andava para canto algum sem seu isqueiro de metal enfiado no bolso da calça, ela tinha esquecido seus cigarros na mesa da sala. A garota não tinha ideia de quanto tempo ficaria por ali, então estava só se certificando. 48 libras a menos na carteira, e ela estava logo voltando para o prédio de Leah, passando por Nigel outra vez e abrindo a porta do apartamento para encontrar a garota ainda encolhida no sofá, mas com a TV ligada em uma reprise de Line Of Duty.

— Eu demorei? — Misha disse, ainda que soubesse que não tinha demorado. Ela mal tinha estado dez minutos fora.

— Mais um pouco e eu ia ligar só para ter certeza de que você estava bem — Leah brincou, com a voz ainda baixa, murmurando contra o encosto do braço do sofá.

Misha deixou a sacola na mesinha de centro e ajudou Leah a se reposicionar, deitada com o rosto para cima. Ela abriu a embalagem de thermacare e colocou a faixa de aquecimento gentilmente sobre seu estômago. Leah suspirou suavemente, com seu corpo relaxando quase instantaneamente e Misha murmurou que estava indo fazer um pouco mais de chá, não apenas para Leah, mas para si mesma.

Ela se encostou no balcão depois que deixou a chaleira no fogo, com os braços cruzados, e olhou fixamente para os armários, contando mentalmente os minutos até o chá ficar pronto. De um modo geral, parecia uma noite longa, e ela mal tinha começado e já estava ficando cada vez mais longa. Misha então lembrou que deveria avisar Son que eles definitivamente não saíriam naquele dia.

Quando a chaleira começou a ferver, e Misha desligou a boca direita da frente do fogão, ela distraidamente também pegou seu celular do bolso da calça e desbloqueou a tela. Ela rolou pelas mensagens, vendo que havia recebido mais algumas de Gisèle, mas sua atenção foi de encontro com a janela de conversa com Son. Ela começou e começou a digitar, parando apenas brevemente enquanto considerava as palavras certas. Não havia sentido em fazer parecer dramático porque não era esse tipo de situação, não realmente, mas parecia estranho cancelar sem dar um motivo, então Misha tentou ser o mais honesta que conseguia ser naquela situação.

"Ei, algo aconteceu com uma amiga. Vou ter que cancelar esta noite. Desculpe! Podemos remarcar?"

Ela enviou antes que tivesse a chance de se questionar, e então se recostou no balcão, observando a tela como se ela pudesse lhe oferecer alguma resposta imediata. Alguns segundos se passaram, e ela viu alguns pontos surgirem, antes que a mensagem completa de resposta fosse vista.

"Claro, sem problemas! Espero que sua amiga esteja bem. Podemos remarcar quando for melhor para você :)"

Misha suspirou e digitou uma resposta rápida, algo simples como um "obrigada, eu te aviso", e então guardou o celular de volta no bolso e voltou eu olhar para a chaleira, se inclinando para despejar a água quente sobre os saquinhos de chá nas xícaras que tinha pegado. Misha mexeu o chá, depois de acrescentar um cubo de açúcar em cada um, e com as xícaras na mão, voltou para a sala de estar, as apoiando na mesa de centro que parecia cada vez mais cheia. Leah ainda estava no sofá, com os olhos fechados, mas parecendo um pouco mais confortável, graças à bolsa térmica. Ela abriu os olhos com o movimento e reparou nas xícaras de chá.

Leah nunca costumava beber chá. Não que ela tivesse algo contra, por si só. Parecia apenas um hábito de entrada, algo que, uma vez que começasse, ela não iria conseguir parar. E havia algo sobre isso que sempre lhe pareceu um pouco aconchegante demais para seu gosto. Chá era para pessoas que tinham tempo para ficar sentadas, para conversar sobre nada num fim de tarde, e Leah sempre estava ocupada com alguma coisa. Ficar sentada a fazia pensar demais também. Ela odiava. Se estava parada, então era porque ela estava dormindo.

Mas então havia Misha, que adorava apenas parar e preparar um chá ou café como se fosse a solução para tudo. Dia ruim, dia bom, uma conversa sem sentindo de manhã. Ela tinha feito aquilo se tornar algo regular para Leah também. Chá e leite, e um único cubo de açúcar. Era ridículo, realmente, mas Leah tinha se acostumado. No final, ela meio que adorava.

— Trouxe mais chá.

— Obrigada — a garota murmurou — Eu bebo depois.

Leah se moveu um pouco para o lado, puxando o cobertor para mais perto dos ombros. Ela soltou um longo suspiro, como se estivesse finalmente começando a relaxar.

— Você não tinha planos para esta noite, tinha?

— Nada importante — Misha deu de ombros.

— Misha... — a garota ralhou.

— É sério.

Leah não insistiu depois disso, mas o olhar de Misha dizia que ela estava escondendo mais do que estava deixando transparecer. Misha não se importava. Havia algumas coisas que não precisavam ser ditas em voz alta. Ainda não, pelo menos.

A sala ficou em silêncio novamente, E Leah se manteve quieta por algum tempo, de olhos fechados, e enquanto o chá continuou intocado na mesa, seu corpo estava aninhado no canto do sofá, enrolado sob a manta que Misha havia trazido para ela antes. Misha estava sentada de volta na poltrona, sem saber ao certo o que fazer além de observar Leah. Até que Leah se mexeu.

— Misha — ela chamou gentilmente.

— Sim?

— Você poderia... — Leah hesitou, mordendo os lábios, tentando criar coragem para continuar sua pergunta — Você poderia sentar aqui?

A garota acenou para o sofá, que ela tinha ocupada por completo. Por um momento Misha tentou entender onde se sentaria, mas logo Leah estava se levantando e acenando para o espaço vago.

— Claro, claro...

— Eu só... Eu posso... — Leah lentamente, quase cautelosamente, pegou a faixa térmica e a segurou, ajustou sobre seu abdômen inferior e então, sem muito aviso, levantou a perna sobre o colo de Misha e se acomodou ali, de frente para ela, seus braços envolvidos na cintura de Misha, sentindo não só o calor da faixa, mas o calor ainda mais aconchegante de sua pele. Misha instintivamente estendeu a mão, puxando a manta do lado sobre as costas de Leah para cobri-la novamente. A sala logo pareceu menor — Tudo bem?

— Aham — Misha murmurou, seus braços encontrando seu lugar ao redor da cintura da garota. Leah se mexeu um pouco, sua cabeça descansando no ombro de Misha, seu rosto enterrado na curva de seu pescoço. A mais velha conseguia sentir os fios do cabelo de Leah contra sua bochecha, e também sentir sua respiração desacelerar um pouco. Ela se inclinou, deixando um pequeno e suave beijo no topo da cabeça de Leah, e a garota também não disse nada. Ela apenas se colocou mais perto, e por um longo momento, as duas ficaram assim — Isso ajuda? — Misha perguntou, depois de alguns minutos em silêncio.

Leah concordou com seu pescoço.

— Um pouco. Você tá quente — ela murmurou — Ei... Obrigada.

— Pelo quê?

— Por estar aqui — Leah disse e murmurou algo contra o pescoço de Misha logo em seguida, baixo demais para que a garota não conseguisse entender.

— O que foi isso?

— Eu disse, só... não conte para ninguém que você me achou assim, porque eu tenho uma reputação para manter — Misha deixou uma risada suave escapar, e Leah terminou rindo junto — Eu estou falando sério. Se você contar para qualquer um que isso aconteceu, acabou para você.

— Ok, falando desse jeito... Sem ameaças. Seu segredo está seguro comigo.

— Ótimo — ela murmurou, parecendo pronta para apenas aproveitar o momento e fechar os olhos de vez.

E foi exatamente o que fez.

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