𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐄𝐍𝐓𝐘 𝐓𝐇𝐑𝐄𝐄
MEMÓRIAS
Na manhã seguinte após minha conversa com Atsuko, eu já não estava me sentindo mais como a pior pessoa do universo. Estava me sentindo até que ok, e tinha colocado minha mente de volta no lugar. Acho que era inevitável, pois hoje era aniversário de Atsuko e de Shoto e eu tinha sido basicamente convocada para comemorar com eles em sua casa. E eu não era tola de pensar que Katsuki não estaria lá. Só se eu desse muita sorte e ele estivesse trabalhando, mas como minha sorte ultimamente vinha sendo quase que nula, eu não estava contando com isso.
Sei que Atsuko me disse que Katsuki estava tão chateado quanto eu com essa história, mas eu também não conseguia acreditar muito nisso. Quer dizer, ele nem mesmo tinha me procurado! Podia ter mandado uma mensagem, ou o que fosse, sei lá. Nem que fosse pra mandar eu me fuder ou me chamar de babaca ridícula. Mas tudo o que eu recebi foram vários nada. E acho que era essa indiferença que mais me machucava, mesmo eu sabendo que não deveria. Quer dizer, eu tinha provocado isso, não? Então deveria aceitar que tinha cagado com tudo, certo? Mas até mesmo Katsuki tinha sua parcela de culpa na nossa briga. Não era justo colocar o peso inteiro em mim.
Eu queria toda hora mandar mensagem pra ele, nem que fosse pra falar que era um merdinha do caralho, mas Mit tinha torrado meu saco e me mandado ser superior. Então, pelo menos uma vez na minha vida, estava tentando seguir os conselhos do meu melhor amigo, mesmo que meu dedo ficasse coçando para enviar uma mensagem a Katsuki toda vez que eu via que ele estava online e não me mandava nada! Sentia uma imensa vontade de o agredir e de chorar também. Sei la. Meus sentimentos estavam confusos.
E para deixar tudo ainda mais doloroso, depois de dois anos, eu finalmente criei coragem pra abrir a "caixa da Liz". O lugar onde tinha socado todas as coisas que me lembravam a minha noiva, numa tentativa falha de a superar. Mas agora que eu finalmente tinha virado a página, tudo o que sobrava era uma saudades imensa da minha melhor amiga e do como ela sempre parecia saber o que fazer nas situações onde a "Azami surtada" resolvia dar as caras. Eu sentia falta da tranquilidade de Liz e o como ela sempre parecia ter a resposta correta. Sentia falta de muitas coisas que diziam respeito a ela, mas em principal sentia falta de poder desabafar e deitar em seu colo, receber o conforto que precisava.
Sentada no tapete do chão da sala, eu tinha aberto o nosso álbum de fotos que iam desde nossa adolescência como melhores amigas até as nossas últimas fotos, do ensaio fotográfico que fizemos para o casamento. E pela primeira vez em dois anos, não me senti péssima vendo algo que me lembrava a Liz, mas sim feliz. Dei risada vendo as fotos onde ela estava fazendo careta e sorri vendo o quanto nós duas éramos felizes uma com a outra. Me perguntei o como seria agora se ela estivesse aqui, mas pela primeira vez, sem sentir dor e amargura em meu peito. Só uma curiosidade genuína de saber se nós duas já teríamos adotado um filho, se Liz ainda estaria trabalhando com moda e se já teria conquistado seus sonhos. Ela merecia muito mais do que foi dado a ela, isso é um fato.
-Acho que é hora de você vir pra cá também. - murmurei para mim mesma enquanto tirava a correntinha pendurada no meu pescoço a dois anos. Por um instante, analisei o anel de noivado em minha palma, lembrando do exato momento em que Liz se ajoelhou e disse que não imaginava sua vida sem mim. Que apesar de meus pais jamais aprovarem, ela queria me fazer feliz e queria ficar pra sempre do meu lado. Lembro que foi o dia mais feliz da minha vida e que nem mesmo hesitei antes de aceitar e me jogar em seus braços, fazendo milhares e milhares de planos.
Éramos jovens demais pra entender algumas coisas. Tínhamos vinte anos na cara e um amor que parecia preencher nossa alma por completo. Jamais imaginaria que as coisas fossem acabar da forma como tinham.
Com um sorriso triste, mas ainda assim sincero, coloquei a aliança dentro de uma caixinha de veludo antes de colocar dentro da caixa repleta de coisas que me lembravam a Liz. Jamais conseguiria me desfazer daquelas memórias, mas estava feliz por finalmente poder olhar para elas sem sentir tanto peso no meu coração.
Acho que o que realmente doía era perceber que quem tinha me ajudado a superar todo esse trauma e esse medo havia sido Katsuki. No tempo que passamos juntos na casa de férias de Atsuko e de Shoto, com ele passando horas e horas conversando comigo e, mesmo que de forma involuntária, colando de volta cada pedaço quebrado. E mesmo sem eu perceber, Katsuki tinha curado a ferida que Liz tinha deixado em mim ao morrer.
Pensar em tudo isso não ia fazer eu me sentir melhor, eu sabia. Pensar em Katsuki e ficar sem fazer nada não ia resolver absolutamente nada. Mas, ainda assim, eu também não sabia o que deveria fazer a respeito.
-Ai, Liz. - murmurei, observando uma foto ridícula nossa com Mit no dia da nossa formatura do ensino médio. Nós três estavamos claramente felizes, apesar de termos tomado banho de tinta colorida e de Liz ter raspado metade do cabelo, o que na época me fez querer chorar por ela ter feito aquela merda com o cabelo bonito. Mas depois que ela deu um jeito na cagada, ficou mesmo uma grande gostosa. -Queria que você estivesse aqui pra me dizer o que fazer. Você sempre teve as melhores respostas.
Suspirei, decidindo não deixar mais aquela foto enterrada no fundo de uma caixa. Acho que as poucos me sentia confortável o suficiente para parar de fingir que Liz nunca tinha existido, porque ela fez parte de momentos extremamente importantes na minha vida.
Me inclinei e coloquei a foto no rack da televisão, onde eu poderia sempre olhar e me lembrar dos momentos bons com Liz. E esquecer de todos os ruins.
Involuntariamente, eu sorri. Era bem melhor assim do que sentir mágoa toda vez que lembrava dela. Acho que Liz estaria muito orgulhosa de mim agora em saber que pelo menos aquela dor eu tinha finalmente conseguido superar. Mesmo que não merecesse ter todos os créditos por isso, claro. Será que Liz teria se dado bem com Katsuki? Provavelmente, ela conseguiria se dar bem até com os mais asquerosos vilões, porque fazia parte de quem Liz era. Ser a porra de um raio de sol.
Tomei um susto quando escutei batidas na porta, porque não estava esperando por isso. Provavelmente era Mit já que não tinha sido anunciado; eu poderia ficar irritada com ele por estar aparecendo aqui todos os dias pra conferir se eu não tinha morrido, mas estava me sentindo um pouco melhor depois de me dar conta que estava superando meus traumas aos poucos. O próximo passo que eu esperava que chegasse logo, era dormir sem ter pesadelos com aqueles dias infernais em que fui mantida em um cativeiro. Mesmo que eu fingisse que já nem me afetava mais, a verdade é que às vezes, quando estava completamente sozinha, ainda tinha crises de ansiedade com medo de algo do tipo acontecer comigo mais uma vez. Mas decidi não pensar naquilo, pois não ajudaria em nada.
Abri a porta sem pensar duas vezes e tomei um susto quando meus olhos se fixaram em olhos vermelhos. Por um instante, demorei pra entender que Katsuki estava realmente parado na porta da minha casa e achei que fosse, sei lá, uma alucinação.
E nós dois ficamos em silêncio, nos encarando. Parecia que nem ele e nem eu queríamos ser a primeira pessoa a dizer algo, então, ainda sem abrir a boca, dei passagem para ele, que não hesitou antes de entrar. Fechei a porta, o cenho franzido em confusão. Sim, uma situação de merda e bem, bem estranha. Talvez até constrangedora, o que era bem ridículo, por sinal.
Os olhos de Katsuki percorreram a sala bagunçada, todas as coisas que eu tinha colocado pra fora da caixa enquanto revivia meu passado com Liz. Eu vi como ele ficou curioso, e já que Katsuki não tinha vergonha na cara, ele se aproximou e pegou a primeira coisa que apareceu na sua frente pra olhar. Que coincidentemente era a foto com Liz e Mit que eu tinha decidido deixar pra fora da caixa daquela vez.
E Katsuki olhou por um bom, bom tempo para aquela foto. Queria ser Atsuko naquele momento só para saber o que ele estava pensando, já que não demonstrava absolutamente nada.
-Essa é a Liz? - ele perguntou por fim, ainda sem tirar os olhos da foto. Eu apenas suspirei.
-Sim.
-Ela era bonita. - ele falou, colocando a foto de volta no lugar. Eu ri, sem nenhum humor.
-Bonita? Ela era gostosa pra caralho. - falei com um suspiro dramático. Katsuki se virou para me encarar, arqueando a sobrancelha antes de apontar para as coisas no chão da minha sala.
-Tô atrapalhando?
-Não. Eu já tinha acabado. - murmurei, voltando a sentar no chão pra guardar todas aquelas coisas de volta na caixa.
Sem dizer uma palavra sequer, Katsuki se sentou na minha frente e começou a me ajudar, sem nem olhar nos meus olhos. Ok. Tudo bem. Sem problemas. Ele estava realmente mais ocupado xeretando minhas coisas mesmo! Ficou o que pareceu uma eternidade encarando o meu convite de casamento, o que me fez o arrancar de sua mão e o fitar com irritação.
-Nunca viu um convite de casamento não? Eu hein. - resmunguei, colocando o último item de volta na caixa e a fechando. Apenas a arrastei para o canto e me levantei, encarando de verdade Katsuki agora. -Então...?
-Que foi? - ele disse se levantando e me encarando, me fazendo torcer o nariz.
-Você que veio até aqui. Eu quem deveria te perguntar o que foi. - retruquei. Katsuki revirou os olhos, mas parecia bem inquieto. Ele queria falar, mas era como se tivesse uma pedra entalada na garganta dele o impedindo de fazer isso. E me lembrei do que Atsuko tinha me contado, do quão péssimo ele era em falar sobre seus sentimentos. -Katsuki.
Ele apenas me olhou, arqueando a sobrancelha pra mim. Apesar de estar com toda aquela pose de quem não dava a mínima pra nada e nem ninguém, eu não era burra. Sabia que não era nada disso que ele estava sentindo.
Às vezes, falar sobre o que sente e pedir desculpas é uma merda e é difícil. Liz sofreu pra caralho justamente por eu ser péssima nisso. Eu sofri pra caralho também. Tudo o que eu menos queria, era repetir os mesmos erros. Tudo o que eu menos queria, era ser uma maldita orgulhosa e acabar com tudo. Ele já estava ali. Katsuki tinha ido até ali, e isso já dizia muita coisa, porque se fosse pra acabar com as coisas entre nós, ele sequer teria me procurado. Eu o conhecia bem o suficiente pra saber disso.
Suspirei e, sem esperar que ele reagisse, o abracei com força, afundando meu rosto contra seu peito. Aquilo o pegou totalmente de surpresa, fazendo Katsuki travar por um instante, completamente confuso com minha reação, o que quase me fez rir. Mas quando ele me abraçou de volta, com tanta força como se eu fosse acabar sumindo se não o fizesse, foi como se ele tivesse dito muito mais que mil palavras.
-Eu senti sua falta, seu merda do caralho. - murmurei e ele riu.
-Eu sei, todo mundo sente. - ele disse com deboche e eu revirei os olhos. Katsuki segurou meus ombros e me afastou de si para que eu pudesse o fitar. Eu apenas o encarei por um instante. -Falei merda pra você, Azami.
-Eu também falei merda. A gente pode só esquecer disso, por favor? - falei fazendo uma careta, mas Katsuki negou.
-Não, Azami. É sério. Eu falei merda pra você, e não é o que eu penso. Você não é um erro. - nunca tinha visto Katsuki ser tão sincero assim, por isso meu coração foi parar na garganta. Abri a boca para dizer algo, mas nada saiu. -Mas não é pra você ficar convencida com essa porra!
Eu ri.
-Agora parece bem mais com você, idiota. - falei e ele deu um sorrisinho, afundando os dedos no meu cabelo e me fazendo suspirar e fechar os olhos.
-Sou péssimo nessa merda de namorar. Só tive uma namorada de verdade na vida, e isso foi quando eu tinha quinze anos, porra! Sem contar que a Atsuko não é muita referência. Você vai precisar ter paciência comigo. - abri os olhos na hora, fitando Katsuki. E vendo que ele estava falando bem, bem sério. Sem querer, abri um sorrisinho pra ele.
-Namorada, é? Então eu sou sua namorada? - zombei. Katsuki ergueu o dedo do meio pra mim, sorrindo com deboche.
-Acho bom que seja, sua babaca do caralho! - ele praticamente gritou, me fazendo rir. -Se você fez eu gostar tanto assim de você pra depois me largar, eu te mato, sua escrota!
-Babaca, ridículo, tóxico. - zombei, mas Katsuki segurou meu rosto em suas mãos e me beijou, calando minha boca.
-Agora cala a porra da boca. - ele murmurou. E eu fiz exatamente isso.
Boa tarde povo bonito! Tudo bem com vocês? Espero que sim!
Gostei muito desse capítulo porque ele mostra demais do passado da Azami e do como ela tá aos poucos superando seu trauma e sua dor
Além disso, também mostra que às vezes a Azami consegue sim ter maturidade. Resolver uma briga nem sempre envolve uma puta discussão de horas, às vezes só um abraço já resolve muita coisa, que é o que aconteceu nesse capítulo. Espero que tenham entendido o que quis passar nesse capítulo 🥺
Talvez hoje tenha maratona, então fiquem espertos nas notificações! Quero muitos comentários
Votem e comentem, isso ajuda demais e me deixa mais inspirada a continuar!
Espero que gostem <3
~Ana
Data: 27/12/22
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