𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐄𝐋𝐕𝐄
DESABAFO
Não sei em que momento acabei dormindo dentro do carro, mas acordei com Bakugo apertando meu ombro de leve. Tomei um susto, meu coração indo parar na garganta, mas acho que isso era inevitável. Depois de tudo o que tinha acontecido, não era de se admirar que eu estivesse tão desesperada assim. Mas não disse nada antes de abrir a porta do carro e sair, percebendo que estávamos parados em frente a um hotel. Nem mesmo questionei, já estava escuro e eu estava com fome, apesar de saber que provavelmente não iria conseguir comer sem colocar tudo para fora. Bakugo tampouco disse algo antes de caminhar para dentro do hotel, não me deixando escolhas que não o seguir.
Não era um hotel tão chique, mas também não era um lugar péssimo. Era discreto o suficiente, sendo sincera, e eu estava tão exausta psicologicamente que nem tinha forças para me importar com isso. Apenas permaneci em silêncio vendo Bakugo conversar com a recepcionista e decidir por nós que ficaríamos em um quarto, duas camas. Talvez ele não confiasse na minha capacidade de dormir sozinha, e ele estava certo. Ou talvez ele só quisesse estar perto o suficiente caso tudo desse terrivelmente errado. De qualquer forma, eu confiava o suficiente no julgamento de Bakugo para não me importar e apenas aceitar qualquer coisa que ele quisesse fazer.
Percebi que minhas mãos tremiam um pouco com o nervosismo quando me sentei em uma das camas de casal do quarto razoavelmente grande. Maldita crise de ansiedade! Não me deixava em paz por um maldito segundo, e quando acho que a superei, me acontece algo para me arrastar de volta para aquele buraco que eu não tinha descoberto exatamente o como sair e me tampar totalmente. Eu me sentia péssima, mas o que mais eu poderia fazer, afinal?
Afundei meus dedos no cabelo em uma tentativa de fazer minhas mãos pararem de tremer. Sentia minha vida cada vez mais caótica, e eu não sabia mais como fazer tudo voltar ao normal. Se é que um dias as coisas tenham sido normais na minha vida, pois sinto que desde o momento em que perdi Liz, tudo começou a dar terrivelmente errado. Eu podia até mesmo fingir, mas a realidade era uma bem diferente. Eu odiava essa sociedade em que estava inserida com todas as minhas forças e às vezes queria morar em uma ilha onde ninguém além de mim tinha acesso!
Estava tão nervosa que sentia a gola da minha camiseta me sufocando, por isso a tirei e fiquei só de sutiã e calça jeans, sem me importar com o incrível detalhe que Bakugo estava ali. Quer dizer, ele já tinha me visto em situações piores, como quando eu praticamente quase morri nos braços dele. Isso não era nada comparado a tudo o que já tinha acontecido, e, novamente, eu confiava nele o suficiente. Sentia meu coração bater forte dentro do peito, então deixei minhas costas afundarem contra o travesseiro e fitei o teto em busca de focar em algo para me acalmar.
Senti o colchão afundar e soube que Bakugo tinha se sentado ali, mas não fiz menção de o olhar, apenas permaneci da forma que estava, voltando aos poucos a respirar de forma mais tranquila. Eu tinha que acreditar que estávamos longe o suficiente para que algo ruim acontecesse e tinha que confiar que Bakugo era um herói bom o suficiente para me manter viva caso o pior acontecesse. E, bem, se eu pudesse escolher alguém para me proteger, acho que essa pessoa seria ele. Claro, se não tivesse a Psique como opção, obviamente.
-Melhor? - ele perguntou e eu apenas desviei meu olhar para fitar seus olhos vermelhos. Com um suspiro, apenas assenti para ele, percebendo todas as palavras que ele queria me dizer, mas não disse. Sabia o como tinha sido difícil para Bakugo deixar um vilão para trás, ainda mais com a vontade imensa dele de o dar uma surra. Quer dizer, eu sabia que Dynamight era o tipo de herói que priorizava dar uma boa lição no vilão, então sabia como tinha sido um inferno para Bakugo apenas dar as costas para aquilo e fugir apenas porque eu não conseguiria o fazer sozinha. E eu jamais seria capaz de expressar completamente o quanto eu era imensamente grata por ele não ter me deixado, por ter ido até ali comigo.
-Desculpa, Katsuki. - falei enquanto apertava minhas mão umas nas outras em uma espécie de tique nervoso. Eu estava sendo sincera em minhas palavras, e acho que ele percebeu isso, pois revirou os olhos.
-Eu não ia te deixar, sua idiota. - ele resmungou. -Você estava em choque demais para ser útil. Foi melhor assim.
Apenas nos encaramos por um tempo. Eu sabia que tinha muita coisa não dita entre nós e também podia ver milhares de perguntas e preocupações nos olhos de Bakugo. Ele nem mesmo estava fazendo de esconder isso naquele momento, e eu também não estava fazendo questão de esconder o quanto eu estava quebrada por dentro. Não dava pra fugir pra sempre da verdade cruel.
-Pode perguntar, sabia? - falei arqueando a sobrancelha e cruzando meu braços. -Matar a sua imensa curiosidade que nem preciso de muito pra saber que está aí. Vai, Katsuki, pergunta logo o que quer.
Ele apenas revirou os olhos vermelhos e me lançou um sorriso puramente sarcástico, mas ainda assim, pareceu pensar em como perguntar o que tanto queria saber.
-Essa cicatriz na sua barriga. - ele disse, apontando para a marca grande na minha pele. -Foi ele que fez isso com você?
Fiquei em silêncio por um tempo. Haviam, de fato, marcas que tinham sido causadas naquele tempo que fiquei presa e que estavam sumindo aos poucos do meu corpo. Mas aquela cicatriz a qual Bakugo se referia, era algo totalmente diferente e que de nada tinha relação com o que tinha rolado comigo. Por isso, apenas dei um suspiro e baguncei de leve meu cabelo, me perguntando se seria uma boa ideia contar para ele de onde ela vinha. Mas também não tinha exatamente um porquê manter aquilo em segredo.
-Não. - falei, por mim, apertando minhas mãos umas nas outras. -Isso é de quando tentei me matar.
Silêncio; um silêncio horrível se estendeu entre nós, e Katsuki apenas me fitou com seus olhos vermelhos, quase como se não soubesse o que fazer primeiro, me socar ou perguntar o porquê eu tinha feito isso. Eu torci o nariz, sabendo que tinha muito julgamento dentro dele naquele momento, mas também um certo desespero por saber que minha mente nunca foi lá essas coisas! Era meio que inevitável.
-Foi dois anos atrás, e eu mudei muito desde então. Não se preocupe. - falei, cruzando os braços. Ele apenas deu um sorriso sarcástico, como se fosse meio que impossível não se preocupar depois que eu joguei nele uma informação como essa. -Eu te disse que minha noiva morreu, não foi?
Ele apenas assentiu, como se estivesse começando a entender onde aquilo ia dar. Mas a verdade é que por mais que ele achasse que estava entendendo, a verdade é que não estava não. Porque a história do que aconteceu com Liz e o como isso me levou ao total extremo era muito mais embaixo do que qualquer um poderia imaginar.
-A verdade é que eu nunca tive uma família muito boa. Meus pais sempre quiseram que eu fosse a filha perfeita quando eu claramente nunca fui. Ficou pior quando fiquei noiva de uma mulher e eles perceberam que eu realmente era bissexual e não tinha nada que eles pudessem fazer para mudar isso. O resumo é que meus pais me cortaram de suas vidas, fingindo que nunca tiveram uma filha. Eles passaram a ignorar todas as minhas ligações, mensagens e tentativas de contato, até mesmo fingiam que não estavam em casa quando eu passava para os visitar.
Suspirei; lembrar disso tudo era doloroso demais, mas, de certa forma, colocar pra fora também era bom. A única pessoa que sabia disso tudo era Mit, e isso porque ele tinha vivência tudo comigo. Poder me abrir para outra pessoa, mesmo que essa pessoa fosse Katsuki Bakugo, era bom. Ajudava a, pelo menos, curar uma parte de mim que eu vinha tentando desde sempre dar um jeito. E senti todo aquele peso que estava me esmagando naquele dia sair junto com minhas palavras conforme eu contava para Bakugo o como minha vida virou de ponta cabeça totalmente, e não só pelos motivos que ele conhecia.
E Bakugo me olhava com atenção, uma atenção que não achei que receberia de alguém. Como se ele realmente se importasse com o que eu estava falando e com o que eu tinha passado. E talvez tenha sido por isso que decidi contar tudo, sem esconder nada sobre mim mesma.
-Eles nem mesmo foram no dia do meu casamento, e acho que isso só serviu para piorar tudo. - eu ri, sem nenhum humor. -Quer dizer, era pra ser o dia mais feliz da minha vida e foi o pior. Mesmo fingindo não me importar, ver que meus pais não tinham aparecido machucou muito. E ficou pior quando Liz não apareceu, e eu achei que ela tivesse desistido. Queria que ela só tivesse desistido de casar comigo.
Esfreguei meu rosto com força, me recusando a chorar. Tinham se passado dois anos! Dois anos, e eu ainda assim não consegui esquecer aquele dia, o como todos os convidados começaram a cochichar e dizer o quanto estavam com pena de mim. Ou da forma como a irmã de Liz entrou correndo no salão, lágrimas de puro desespero escorrendo pelos olhos, dizendo em palavras desconexas em sem sentido que a pessoa que eu amava tinha morrido.
-Acho que é por isso que eu odeio nossa sociedade tanto assim. - falei dando de ombros, como se não fosse nada demais, apesar de ser sim. -Quer dizer, os heróis deveriam salvar vidas, não é? Então por que deixaram a Liz morrer no meio do fogo cruzado, no caminho do nosso casamento? Não é justo, entende? Não é nada justo. Se ela tivesse se atrasado para sair de casa só um pouquinho, talvez não tivesse morrido pra um vilão. Ou talvez se os super heróis não tivessem se feito de cegos naquele momento... Sei lá. Podia ter sido diferente.
"O fato é que quando descobri o que tinha acontecido, surtei. Eu já tinha perdido minha família pelo preconceito deles e tinha acabado de perder a única pessoa que me restava, a única coisa boa na minha vida. Nem sei dizer exatamente o como fui parar na ponte onde estava prestes a pular, porque, sinceramente, não lembro. Eu teria morrido se Mit não tivesse salvo minha vida. Quer dizer, mais ou menos já que acabei rasgando a barriga no processo. Não um corte profundo o suficiente pra me matar, mas não superficial demais pra não deixar uma cicatriz e uma marca eterna da merda que quase fiz comigo mesma. Depois disso, eu só... Parei de acreditar que o mundo podia ser bom. Ou na nossa sociedade cheia de heróis. Virei o que você conhece agora."
Quando parei de falar, Bakugo não disse absolutamente nada, fazendo eu me questionar se tinha sido uma boa ideia me abrir dessa forma para ele. Mas eu sentia como se tivesse tirado um peso dentro de mim; falar sobre Liz depois de tanto tempo me fazia perceber que eu apenas tinha tentado apagar a memória dela, e jamais isso me ajudaria a superar. Isso só me tornaria mais e mais amargurada.
Levei a mão até a correntinha no meu pescoço, onde tinha o anel de noivado que Liz me deu. Eu mantinha ele ali desde o dia que a perdi, escondendo por baixo da camiseta. Era claro que eu jamais superaria isso se não tentasse superar isso.
E eu não estava exatamente tentando superar meus traumas, essa era a verdadeira.
Bakugo me pegou totalmente de surpresa, pois ele se sentou bem do meu lado e segurou minha mão na sua com uma delicadeza que eu achava impossível de vir dele.
-Sinto muito por isso, Azami. - ele murmurou antes de fixar seus olhos vermelhos em mim.
E por mais que fossem palavras simples, de uma certa forma, naquele momento, foram o suficiente para acalmar meu coração.
Boa tarde povo bonito! Tudo bem com vocês? Espero que sim!
Cadê o povo que comentava aqui?
Não nego que estou ficando um tanto desanimada com a fic porque o povo só visualiza, mas não vota e nem comenta :') gente, digam o que estão achando, custa nada não, risos
Votem e comentem, isso ajuda demais e me deixa mais inspirada a continuar!
Espero que gostem <3
~Ana
Data: 18/12/22
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