𖤍𖡼↷ 𝐓𝐇𝐈𝐑𝐓𝐄𝐄𝐍
Uma semana havia se passado e eu ainda não tinha conversado direito com Fuyuki. Por mais que eu entendesse o motivo para as ações do meu filho, eu também tinha o direito de me sentir magoada. Meu lado de super heroína entrava constantemente em conflito com meu lado mãe. Ninguém deveria fazer uma mãe passar pelo que eu passei achando que meu filho estava morto; e Fuyuki podia facilmente ter me contado seus planos. Eu era a droga de uma telepata, caramba! Poderia facilmente o ajudar no que quer que ele estivesse passando, mas não. Ele preferiu contar com a ajuda de Yumi e de Katsuki, e deixou que eu e o pai dele acreditassemos por quatorze meses que ele estava morto. Mais que isso, Fuyuki deixou o noivo dele achar que tinha o perdido pra sempre, o pediu para seguir em frente, apenas para aparecer do dia pra noite e virar o mundo de Shin de ponta cabeça mais uma vez.
Por mais magoada que eu estivesse com toda aquela história, o que eu sentia mais do que qualquer outra coisa, era alívio. Mesmo que eu tivesse passado por todos os estágios do luto, imaginar que jamais poderia ver o sorriso de Fuyuki novamente sempre servia para me deixar pra baixo. Tinha dias que eu sequer queria levantar da cama, porque meu filho não estava lá. Eu sofri como o inferno, mesmo que fosse ótimo em fingir que estava tudo bem quando claramente não estava. Saber que tudo isso não passou de um plano de herói de Fuyuki me deixava mais em paz. Mesmo que eu soubesse que ainda viriam muitos outros problemas com a volta de Fuyuki. Problemas em nossa família.
E por mais irritação que eu tivesse sentindo pelas mentiras de Fuyuki, por ter passado tanto tempo assim fingindo, eu também sentia toda a tristeza dele. Fuyuki tinha plena consciência de tudo o que tinha perdido, de tudo o que sacrificou. E eu sabia que para ele era muito, muito difícil. Sabia que escolher abrir mão de Shin pra conseguir prender aquele bando de terroristas tinha sido a decisão mais difícil da vida dele. Mas também sabia que Fuyuki teria feito exatamente a mesma coisa, porque, no final das contas, ele era um super herói. E às vezes a gente precisa sacrificar algo que prezamos muito pelo bem da sociedade, o que, sendo sincera, é uma merda. Às vezes eu ainda pensava nas palavras de Toya, mesmo que não devesse. Sobre o quão deturpado era nosso mundo naquela época, e no quão deturpado ele continua.
-Essa cor até que combina com você. - eu falei, afundando os dedos no cabelo cor de cobre de Fuyuki, o pegando totalmente de surpresa. Ele se virou um pouco para me olhar, e percebi que ele estava ocupado demais vendo fotos dele com Shin pra notar minha aproximação. Eu apenas suspirei. -Mesmo que agora você não tenha absolutamente nada de mim.
Fuyuki riu baixinho.
-Até parece, eu sou totalmente uma cópia sua, mãe. - ele murmurou baixinho e eu puxei a cadeira para me sentar ao seu lado. Delicadamente, puxei as fotos de suas mãos e as coloquei de lado. Ficar vendo aquilo e pensando no que tinha perdido não ia ajudar em nada e ele deveria saber disso. Fuyuki apenas suspirou, afundando os dedos nos cabelos. -Você me acha um idiota, né?
-Sim, eu acho. - falei, segurando o rosto dele para que ele me olhasse. Tinha uma nova cicatriz ali; ela cruzava diagonalmente seu rosto bonito, deixando uma marca eterna do que Fuyuki tinha enfrentado. Eu odiava ver as cicatrizes dele; mesmo que eu tivesse as minhas próprias, era totalmente diferente quando era com seu filho. Mesmo que Fuyuki tivesse várias cicatrizes escondidas por baixo da roupa, eram aquelas duas em seu rosto que mais incomodavam. Ver elas frequentemente fazia eu me perguntar se não deveria ter insistido pra ele seguir por outro caminho que não o que eu e o pai dele escolhemos. -Mas eu entendo você e eu te amo. No final das contas, não consigo ficar brava pra sempre com você, Fuyuki.
Ele riu, me dando um meio sorriso.
-Vai ver é por isso que eu faço tanta merda, você sempre me perdoa no final. - ele zombou. Eu revirei os olhos, dando um peteleco em seu nariz.
-Porque eu sou sua mãe, não tem como eu não te perdoar, mesmo com você me fazendo ficar louca. - falei, segurando a mão de Fuyuki. Por um instante, apenas ficamos em silêncio, nos olhando. Eu suspirei. -Quando achei que você tinha morrido, uma parte de mim morreu junto. Posso estar muito brava por você não ter me contado seu plano, mas estou aliviada por estar aqui. Por estar vivo e estar bem.
Fuyuki apenas abaixou a cabeça por um instante, dando um suspiro trêmulo e baixinho.
-Mãe, eu não queria arriscar a vida de mais ninguém. Eu fiquei com medo. - ele admitiu, me pegando totalmente de surpresa. -Não foi uma luta fácil. Muita gente morreu naquele dia, pessoas que eu não consegui salvar. E o que mais me deixou incomodado, é que aquele ataque aconteceu pra me atingir. Ela deixou bem claro que queria machucar quem era importante pra mim. Um ataque daquele nível, com muita gente tentando me atingir, tudo isso porque aquele bando de terroristas queria me atingir. Então, é, eu fiquei com medo. Eu não queria ter contado pra ninguém dos meus planos, mas Yumi foi a primeira a me achar e me viu sangrando no chão. Eu estava desesperado. E ela não ia conseguir fazer o que eu pedi sozinha, então teve que pedir ajuda pro meu padrinho. Não é que eu não quisesse contar pra você e pro papai, mãe. É só que eu não queria arriscar a vida de mais ninguém. E a minha madrinha, ela quase morreu por minha causa, e eu só...
Tinham lágrimas nos olhos de Fuyuki. Eu apenas suspirei e o puxei para perto de mim, dando a ele o abraço que ele tanto precisava naquele momento. Eu o apertei em meus braços e deixei que Fuyuki chorasse tudo o que precisava chorar enquanto eu afundava os dedos em seus cabelos.
-Você é jovem demais pra isso. - eu murmurei. -Não se culpe tanto, Fuyuki.
-Você era mais nova que eu quando teve que se infiltrar na Liga dos Vilões. - ele retrucou. Eu suspirei.
-É, mas não ache que eu saí sem nenhum tipo de trauma. Porque demorou anos pra eu sequer conseguir falar sobre isso nas sessões de terapia. Então, eu entendo, Fuyuki. Seus medos. Suas aflições. Os sacrifícios. Posso até odiar seu plano, mas entendo ele, porque também fiz planos ruins e desesperados. Eu estou nessa vida há mais tempo que você. - falei, passando a mão em seu rosto. Fuyuki apenas me encarou com aqueles olhos heterocromaticos. -Mas pessoas que não estão envolvidas no nosso mundo dessa forma, filho, jamais vão entender.
-Você tá falando do Shin. - ele murmurou. Eu apenas assenti.
-O pai dele pode ser um pro hero, mas Shin e a Zaza nunca gostaram desse mundo. - eu falei e era a mais pura verdade. -Nenhum dos dois entendem esse tipo de sacrifício.
-Ele me chamou de egoísta. - Fuyuki disse com um suspiro. -Sendo que tudo o que eu fiz, foi pensando nele.
-Na visão dele, você foi egoísta. Não dá pra julgar ele, Fuyuki, porque Shin sofreu pra caramba achando que você tinha morrido. Ele te ama mais que tudo no mundo.
-Amava, né, mãe. - Fuyuki respondeu, totalmente amargurado. Eu apenas ri.
-Ele ainda ama você, Fuyu. Jamais vai deixar de te amar. Você sabe disso. - falei, arqueando a sobrancelha para ele. -A gente não pode culpar Shin ou a Azami pelo que estão sentindo. Também não posso culpar você por ter agido como um herói. Mas por mais que seu coração estivesse no lugar certo, não significa que pessoas não tenham saído feridas nessa história. E isso é algo que precisamos respeitar. Então você precisa, mais do que tudo, respeitar os sentimentos de Shin. E o espaço dele também.
-É, mas e se ele nunca me perdoar? E se nunca mais quiser olhar na minha cara? Falar comigo? Machuca dizer isso, mas acho que conseguiria conviver com a ideia de ver Shin com outra pessoa. Mas não consigo viver sem ter a amizade dele comigo, mãe. Não consigo mesmo. - Fuyuki estava tão alarmado que era difícil de ver. Eu apenas suspirei, fazendo carinho em sua bochecha.
-Dá tempo para as coisas, Fuyuki. Essa é a única coisa que pode fazer agora. Dar tempo ao tempo.
Eu odiava super heróis com todas as minhas forças. Odiava aquela necessidade imbeci de colocar a vida deles em risco toda maldita hora para salvar tudo e todos. Odiava as escolhas imbecis que tomavam em prol da sociedade. E mais do que isso, odiava o como eles nunca colocavam quem amavam em primeiro lugar, simplesmente porque tinham que ser heroicos e toda essa merda! E odiava, mais do que qualquer coisa, que Fuyuki e Katsuki não tivessem pensado em Shin antes de criar toda aquela palhaçada.
Eu podia tentar entender aquela história. Talvez eu até tivesse entendido os motivos de Fuyuki ou o fato de Katsuki ter escondido isso de mim por tanto tempo. Claro, se meu filho não tivesse ficado depressivo durante todo esse tempo, se ele não tivesse sofrido tanto quanto sofreu e se não estivesse sofrendo agora. Mas como nada é como a gente gostaria que fosse, eu estava puta da vida. Principalmente com Katsuki, por sequer ter pensado na saúde psicológica do próprio filho antes de apoiar aquela ideia ridícula de Fuyuki.
Eu podia perdoar Fuyuki. Eu vi esse garoto crescer e ele era meu afilhado. Por mais irritada que eu estivesse com ele, eu o amava com todo meu coração, e entendia que Fuyuki, querendo ou não, ainda era muito jovem. Cometeria milhares de erros pensando ser a coisa certa a se fazer, afinal, ele tinha um espírito heroico ridículo ainda maior que o de Izuku.
Mas eu não conseguia perdoar Katsuki. Todas às vezes que sentava e tentava pensar com racionalidade, que tentava esquecer e superar, não conseguia. Porque só conseguia pensar no como Katsuki preferiu agir como um pro hero de merda a colocar nosso filho como prioridade. E isso me deixava cheia de raiva.
Shin tinha voltado para faculdade, o que era bom. Ficar longe de todo aquele caos e drama seria bom para ele. E tudo o que ele menos precisava, era ver o casamento dos pais dele indo para o buraco. Enquanto estivesse longe de tudo aquilo, Shin ficaria bem. Pelo menos era o que eu rezava para que acontecesse, mesmo que no fundo eu soubesse que não importava onde estivesse, Shin continuaria sofrendo. O que só fazia eu me sentir pior ainda.
-Por quanto tempo você planeja me ignorar? - eu me recusei a tirar os olhos do meu celular quando Katsuki chegou. Simplesmente tirei o aparelho auditivo, porque estava de saco cheio e tudo o que menos queria era outra briga que não levaria a lugar nenhum. Eu não queria falar com ele.
Fiquei puta quando Katsuki arrancou o celular das minhas mãos, me forçando a fitar seus olhos vermelhos. Por mais que ele claramente quisesse resolver as coisas, eu não queria. Eu não queria ter aquela conversa mais uma vez. Katsuki jamais se colocaria no meu lugar, ele jamais seria capaz de compreender o como eu me sentia, o como Shin se sentia. Porque ele era um herói de merda.
Se não me deixar em paz, Katsuki, juro que vou sair dessa casa e você nunca mais nessa vida vai me ver. Eu gesticulei de forma irritada, me levantando do sofá para sair de perto dele. Ignorei a mágoa em seu olhar. Ignorei o como ele estava se sentindo, do mesmo jeito que ele fez com Shin durante todos aqueles meses, sabendo que Fuyuki estava vivo sem fazer absolutamente nada.
E eu podia até estar agindo da forma errada com ele. Mas não importava. Porque Katsuki tinha feito exatamente a mesma coisa comigo.
Boa tarde povo bonito! Tudo bem com vocês? Espero que sim!
Nada a comentar sobre o capítulo, apenas dor e depressão, risooos
Votem e comentem, isso ajuda demais e me deixa mais inspirada a continuar!
Espero que gostem <3
~Ana
Data: 23/02/23
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