-Você tá começando a fazer eu me arrepender de ter vindo. - Dylan disse de forma irritada, torcendo o nariz para um bando de crianças que passaram por nós correndo e gritando. Eu apenas dei risada da cara que ele fez, o que fez Dylan se virar e me encarar. -Eu não aguento mais te escutar falar sobre o mesmo maldito tópico, Fuyuki. Já tá chatão, cara. Você me obrigou a tirar férias, vir para o Japão com você e não para de ser irritante. Dá um tempo, por favor, eu te imploro. - eu revirei os olhos. Ele estava fazendo drama, eu não estava sendo tão irritante assim. Pelo menos eu achava que não. Mas não era exatamente minha culpa estar tendo um mini surto.

-Eu não tô sendo irritante, caralho! - retruquei de forma irritada. Dylan apenas arqueou a sobrancelha pra mim e cruzou os braços, como se já estivesse prevendo meu discurso. Isso me fez bufar. -Eu tenho todo o direito do universo de surtar. Faz um ano que eu sequer vejo Shin. E literalmente do nada, um convite pra formatura dele aparece. Eu nem mesmo sei como meu relacionamento com ele tá! O que eu deveria esperar! Da última vez que eu vi ele, Shin só faltou me dar um chute no saco de tão puto que tava comigo.

-Isso é meio que culpa sua. - Dylan disse tranquilamente, continuando a andar pela rua como se eu não tivesse dito nada. Eu bufei e fui atrás, até porque, ele era um péssimo turista e tinha péssimo senso de direção. -E outra, você podia ter vindo antes e conversado com ele. Mas você preferiu deixar pra chegar no Japão no dia da formatura, porque você é tão inteligente. - eu preferi ignorar o tom repleto de sarcasmo de Dylan e seu sorrisinho ácido. -Sua mãe já disse e eu vou repetir: para de ser burro, Fuyuki.

-Sabe, você é a pior coisa que já aconteceu na minha vida, sabia disso? - eu resmunguei enquanto torcia o nariz para o sol. Até mesmo a porra do sol estava me irritando naquele dia catastrófico; será que não teria sido melhor só fingir que nunca recebi o convite de Shin? Definitivamente não. Desde o dia que o recebi, não existia outra coisa dentro de mim que não fosse ansiedade. Eu não sabia o que aquilo significava, porque passamos um ano sem nos falarmos. Agora eu estava profundamente confuso e ansioso, sem saber o que esperar daquilo tudo.

-Até parece, eu sou um dos seus melhores amigos. Bom, talvez seu único amigo já que ninguém te suporta. - Dylan retrucou e eu apenas dei um sorriso debochado enquanto erguia o dedo do meio para ele. Ele afastou os óculos escuros do rosto para arquear a sobrancelha pra mim. -Escuta aqui, você precisa parar de achar que o mundo gira ao seu redor. Seu ex namorado, que coincidentemente faz parte da porra da sua família e é seu melhor amigo de infância, te chamou pra formatura dele na faculdade. E dai? Isso é muito mais sobre ele estar em um momento bom e querer você junto do que sobre vocês dois. Então para de ser um idiota narcisista e achar que isso significa algo.

Eu apenas pisquei, olhei Dylan com a mais pura indignação.

-Caralho, Dylan, você sabe mesmo como ser um grandíssimo filha da puta. - falei de forma revoltada, mas isso só o fez dar uma gargalhada. -Eu te trouxe comigo pra ter apoio emocional, não pra você cagar ainda mais com o que já tá cagado, seu merda! - eu cruzei os braços e olhei para ele com irritação. Dylan teve a cara de pau de se inclinar na minha direção e beijar minha bochecha.

-Ah, para com essa cara. Eu tô sendo sincero com você, Fuyuki. - Dylan retrucou e eu bufei. -Você é muito dramático. Só para com isso, pelo amor de Deus. Tudo pra você é uma situação de vida ou morte e muitas vezes você complica coisas fáceis.

-Não é exatamente assim. - me defendi, porque tudo o que eu menos precisava naquele momento, era Dylan esfregando minhas imperfeições na minha cara. Mas ele estava simplesmente cagando, e não importava o que eu falasse, Dylan não ia mudar de opinião. Eu revirei os olhos. -Tá, tanto faz. Vamos logo, você já fez o que queria, e daqui algumas horas vamos sair.

-Acho bom você tomar seu calmante antes de sair. Tudo o que eu menos preciso presenciar, é você tendo um colapso por causa do seu ex. Vai ser simplesmente vergonhoso. - Dylan zombou, abrindo um sorriso tão grande que me fez ter vontade de fazer ele engolir todos os dentes. -Adoro que esse seu tópico sensível te deixa fora da casinha. Sério, essa sua personalidade de merda, como você ainda consegue esconder ela da sociedade inteira? Você é muito ardiloso, Fuyuki.

-Cala a boca, seu merda. - eu grunhi, puxando ele pela gola da camiseta para atravessarmos a rua. -Minha personalidade não te incomoda tanto assim já que você ama dar pra mim.

-Amo mais ainda quando você tá de boca fechada. - ele retrucou, dando um beliscão no meu braço que me fez chiar e o soltar. Olhei para Dylan com irritação e ele me retribuiu um sorriso sarcástico. -Eu tô sentindo que você vai estragar com tudo hoje, porque tô com essa sensação? Vamos lá, Fuyuki. Seja uma pessoa melhor, ou vai acabar na merda de novo.

-Eu não vou estragar porra nenhuma, ssu merda! Meu Deus! Eu tô muito arrependido de ter trazido você comigo, sério. Você é tão chato, porra. - reclamei e Dylan deu risada.

-Você ama minha companhia. Vou deixar você ficar se iludindo ai achando que não. - ele riu. Eu apenas revirei os olhos.

Mas no fim das contas, ele tinha razão. Aquele dia seria bem, bem longo. E eu apenas rezava para que não fosse totalmente catastrófico. Eu não via e nem falava com Shin fazia um ano e a última vez não foi lá muito agradável. Eu só podia torcer pra não acabar fodendo minhas chances de ter meu melhor amigo de volta. Que eu sabia já serem mínimas.

Acho que Dylan e eu fomos as últimas pessoas da minha família a chegarmos na festa de formatura de Shin. Minha mãe tinha enchido meu saco quando saiu de casa, me falando pra parar de enrolar, mas eu precisava de tempo. E sim, eu realmente fiquei enrolando, até Dylan se irritar comigo e me puxar para fora de casa, me forçando a enfrentar algo que eu estava tentando evitar. Bom, o lado positivo é que o lugar da festa era realmente bem grande e estava cheio de gente. Talvez Shin nem mesmo notasse minha presença!

-Dylan. - falei, agarrando o braço dele quando ele fez menção de se aproximar da mesa onde Miwa estava acenando na nossa direção. Dylan franziu o cenho e se virou para mim. -E se ele me chamou só por educação? Meu Deus, isso vai ser mega constrangedor! Vamos embora, pelo amor de Deus! - sim, eu estava surtando. Eu estava começando a surtar muito, e já estava arrependido de, sei lá, ter saído do útero da minha mãe.

-Ah, Fuyuki, cala a boca. - Dylan disse, agarrando minha mão e me puxando com ele. -Você tem um incrível desejo de foder com as coisas boas na sua vida, né. Eu não conheço Shin Bakugo, mas eu duvido que ele te chamaria por educação.

-Bom, ele é a pessoa mais gentil que eu já conheci, talvez tenha sido por educação sim! - eu retruquei. Dylan revirou os olhos.

-Cala a boca. Sua voz é muito irritante. - ele resmungou, me puxando na direção da mesa. Eu queria morrer.

-Que cara de cú é essa? - Miwa reclamou, me dando um soco no ombro ao invés de um abraço. Ótima melhor amiga. Fazia dois meses que ela não me via, e era assim que me tratava! Uma bela maldita. -Sorri, desgraçado.

-Ele já tá surtando e eu tô sem paciência. Ele é todo seu. - Dylan disse, me largando e me empurrando na direção de Miwa. Eu o fuzilei com o olhar, principalmente quando ele se aproximou da minha irmã e abriu um sorrisinho pra ela. -E ai, Yu. Tá sozinha?

Era impressionante o como esse filha da puta nem escondia suas intenções de merda. Meu Deus, como eu o odiava. Yumi apenas deu um sorriso maldoso para Dylan.

-Pra você eu vou sempre estar acompanhada. - Yumi disse com uma falsa inocência, piscando os olhos. Dylan riu.

-Cadê os velhos? - perguntei pra minha irmã. Ela revirou os olhos.

-Estão todos tirando fotos, porque são um bando de velhos irritantes. Mamãe e a tia Azami arrastaram todo mundo pra fazer isso. - Yumi retrucou. E me deu um meio sorriso. -Pode relaxar, o Shin foi arrastado junto.

Eu soltei o ar que nem tinha notado que estava prendendo.

-Você é tão óbvio. - Mika suspirou, dando um tapa no meu ombro. -Jesus amado, sabe o que vai acontecer? Os heróis da nossa família vão ficar a noite inteira tendo que tirar fotos, eu já vi umas cinco garotas da turma do Shin pedindo autógrafos pro meu pai. Que coisa mais ridícula.

-Como vocês dois ainda não foram parados, essa é a grande questão. - Miwa disse, apontando para mim e para Dylan. -Os mais famosinhos dos Estados Unidos! Todo mundo ama herói gringo.

-Você já viu a cara feia do Dylan? Ninguém quer chegar muito perto. - falei, apontando para ele. Dylan deu um tapa na minha mão, me fazendo chiar. -Cara, qual seu problema e por que sou eu?

Dylan deve ter respondido alguma coisa, mas eu não escutei, porque meus olhos se depararam com olhos vermelhos e eu travei. Eu travei completamente, e parecia que o ar tinha sido sugado dos meus pulmões.

Eu nem sabia o que fazer. Porque fazia um ano que eu não via Shin e da última vez que a gente se viu, não tinha sido muito legal. E...

E que Shin abriu um sorriso tão grande e sincero pra mim que quase me fez ter um treco e morrer. Principalmente quando ele praticamente correu na minha direção e me abraçou com força, sem nem hesitar.

Eu fiquei completamente surpreso com sua reação e boa parte dos meus medos foram embora. E eu também não hesitei antes de o abraçar de volta, o apertando com força em meus braços, como se isso fosse fazer aquele um ano de saudades diminuir. Só que não adiantou nada.

-Eu não sabia se você ia vir. - Shin murmurou, me abraçando com um pouco mais de força. Ele se afastou mais rápido do que eu gostaria, me olhando meio sem graça, as bochechas vermelhas. -Mas eu fico feliz que tenha vindo, Fuyuki.

-Eu, hm, er... - eu não conseguia nem falar. Caralho! Por que Shin tinha que ter um efeito tão grande sobre mim, porra?

Dylan começou a rir do meu lado, o que chamou não só minha atenção, mas a de Shin também. Shin piscou os olhos, surpreso, e deu um passo para trás, se afastando de mim. Tive vontade de socar a cara de Dylan por aquilo.

-Ah. Esse é o Dylan. Ele... - comecei, mas Shin apenas deu um sorrisinho.

-Eu sei quem ele é, Fuyuki. Prazer. - Shin disse, estendendo a mão para Dylan, e ele não hesitou em apertar.

-Fuyuki tinha me dito que você era gato, mas nossa, não achei que você fosse tão gato. - Dylan disse de um jeito todo sugestivo, dando um sorrisonho para Shin que o fez ficar ainda mais vermelho. Eu apenas fitei Dylan, me decidindo se deveria usar minha individualidade para o enforcar ou as minhas próprias mãos.

-An... Valeu, eu acho? - Shin disse, olhando de mim para Dylan, completamente confuso.

-Shin! - ele se virou ao mesmo tempo que eu e Dylan só para ver que estava chamando. E eu definitivamente sabia quem era aquela mulher sorrindo pra ele.

-Lily, você demorou. - Shin reclamou, abraçando ela com força demais.

-Disfarça a cara de cú. - Dylan cantarolou, baixinho, no meu ouvido. -Para de ser tão fodidamente óbvio, seu burro.

-Calado. - eu rosnei.

-Não é minha culpa, juro. - ela riu. O jeito que ela olhava com tanto carinho para Shin e o como ele parecia gostar pra caralho dela... Sim, eu estava com ciúmes. Acho que jamais ia deixar de sentir isso por Shin, e sabia que eu não tinha esse direito, porém, foda se.

-Cadê o seu namorado? - Shin disse pra ela, cruzando os braços. Eu pisquei. Como assim?!

-Ai, Shin, para de ser chato! - a garota reclamou, olhando feio pra ele. -Você vai conhecer meu namorado semana que vem. Te prometo! Mas ele foi visitar a mãe dele hoje.

Espera, espera, espera. Eles não estavam mais namorando?! Isso significava que Shin estava solteiro? Ou não? Por que essa ideia me deixou tão satisfeito? Meu Deus, eu era uma pessoa  horrorosa.

-Affe, que desculpinha. - Shin disse com um sorriso cheio de zombaria. -Ah, Fuyuki.

-Hm?

-Minha mãe tá chamando você pra tirar foto lá na frente. Ela disse que não é negociável. - Shin disse com um meio sorriso e eu fiz cara de cú, o que o fez rir. Ele sabia o quanto eu simplesmente odiava fotos, porque tudo na minha vida parecia estar sendo registrado pela porra de uma câmera.

-Se fudeu. - Dylan riu. Eu agarrei o pulso dele e o puxei. -Ei! Mas que porra?!

-Você vem comigo.

-Por que?! - ele protestou, tentando se soltar. Usei minha individualidade para dar um empurrão nele, o que o fez grunhir.

-Porque eu disse que sim. Agora cala a boca e vem.

Eu apenas observei Fuyuki se afastar com o cenho franzido. Tá. Aquilo tinha sido muito, muito estranho mesmo.

-Que cara é essa, Shin? - Miwa me perguntou quando me aproximei da mesa com Lily do meu lado.

-Sei lá. Acho que o namorado do Fuyuki deu encima de mim. - falei, as sobrancelhas franzidas. Mika praticamente cuspiu a coca cola que estava bebendo, começando a dar uma gargalhada, o que só fez Miwa dar uma cotovelada nas costelas dela. Yumi revirou os olhos. -Que porra é tão engraçado assim? Eu quero rir também.

-Você tá doido se acha que Fuyuki e Dylan namoram. - Mika estava rindo de se acabar, mas o que ela disse me fez piscar, surpreso. Quer dizer, era estranho. Os dois pareciam bem íntimos pra mim, e porque outro motivo Fuyuki traria ele se não fosse seu namorado?

-É, nisso ela tem razão. - Miwa disse com uma careta. -Dylan tem aversão a relacionamento sério. Aquilo ali é uma amizade colorida, isso sim.

-Mas então eles tem algo sim. - eu retruquei, me sentindo um pouco amargo. Tá. Eu não tinha direito, eu mandei Fuyuki ir embora. Porém, foda se. Eu estava com ciúme.

-Shin, não. Definitivamente não. - Yumi disse, revirando os olhos. -Os dois se usam, isso sim. É ridículo. Você por acaso acha que Fuyuki te superou? Você olhou pra cara que ele fez quando te viu? Pelo amor de Deus, para de ser burro.

-Ai, para com isso. Fazem dois anos que a gente tá separado. - falei, sentindo meu rosto esquentar. Yumi apenas arqueou a sobrancelha pra mim.

-Vou ter que te mandar a real de novo ou você vai cair em si?

Eu torci o nariz, me lembrando do dia que Yumi me disse, quando tínhamos quinze anos, que Fuyuki era apaixonado por mim. Foi graças a isso que criei coragem o suficiente pra beijar ele, porque Fuyuki jamais o faria. Acho que mais uma vez ia sobrar pra mim. Se eu quisesse conversar com Fuyuki, eu que teria que ir atrás.

-Você não precisa fazer isso hoje, sabe. - Miwa disse, me olhando. Elas sabiam exatamente o que eu queria fazer, porque foram as únicas pessoas a me escutarem enquanto eu estava surtando pensando em como resolver as coisas com ele. -Você pode conversar com Fuyuki depois.

-Eu sei. Eu só não sei se quero deixar pra depois. - falei, vendo que Fuyuki já estava voltando. Porra, ele se livrou da minha mãe mais rápido do que eu estava prevendo. Maldita lábia que ele tinha. -Eu já esperei um ano.

-Shin, você tá, sabe, no meio da sua festa de formatura. - Yumi disse, me fitando. Eu torci o nariz.

-Eu nem ligo pra essa festa, meus pais que encheram meu saco. - retruquei. Aquilo fez Yumi rir.

-Ei. - eu me virei, sentindo a mão de Fuyuki no meu braço. Eu fitei seus olhos heterocromaticos por um instante. Porra. Como eu tinha sentido falta daqueles olhos. -A gente pode conversar?

-Cara... - Dylan suspirou, como se Fuyuki fosse um caso perdido.

-Cala a boca. - Fuyuki retrucou, o empurrando na direção de Miwa. -Vai lá conversar e não enche meu saco.

Fuyuki me encarou em expectativa. Eu nem sabia exatamente o que dizer. Olhar pra ele fazia eu perder todo o meu fôlego, por isso apenas assenti, o que pareceu o deixar aliviado.

Ele pareceu querer segurar minha mão, mas hesitou no meio do caminho. Isso me fez dar um sorrisinho. Era engraçado ver Fuyuki tão sem jeito como estava. Afinal, ele sempre foi tão cheio de atitude.

Eu estendi a mão e segurei a dele, não esperando para ver sua reação antes de o puxar para um lugar longe da música, longe de pessoas, longe de tudo. Eu levei Fuyuki até o lado de fora, em um lugar afastado e totalmente deserto. E então, finalmente me virei para ele.

Acho que nenhum de nós dois sabia exatamente por onde começar ou o que dizer. Eu olhei para Fuyuki e ele me olhou de volta. Conhecia Fuyuki bem o suficiente para saber o quanto ele estava desesperado por dentro, totalmente perdido. Eu poderia ter achado graça naquilo; mas eu estava tão nervoso quanto ele.

-Eu sei que nem é justo, mas preciso muito te perguntar uma coisa. - ele disse e eu apenas assenti para que ele prosseguisse. Fuyuki suspirou, parecendo estar pensando no como dizer o que queria, no que fazer. -Você ter me chamado aqui hoje... Isso significa que você tá pronto pra ser meu amigo de novo, Shin?

O desespero e a esperança nos olhos de Fuyuki me quebraram completamente. Eu sabia que tinha sido absurdamente duro com ele na última vez que nos vimos; mas não imaginei que aquilo tivesse o marcado tanto assim. Não ao ponto de fazer ele se questionar o óbvio.

Eu suspirei e tombei a cabeça para trás, fitando as estrelas e a lua por um instante. Lua; me fazia lembrar da tatuagem na nuca dele.

-Fuyu, eu nunca vou deixar de ser seu amigo, não importa quantas merdas você faça. - falei, dando um meio sorriso pra ele. Fuyuki até tentou disfarçar suas lágrimas; só que não deu certo. -Eu posso ficar puto e querer te matar. Mas eu amo você.

-Eu também te amo. Muito. - ele disse, baixinho. -E eu realmente senti sua falta.

Eu sabia o quão hesitante Fuyuki estava, então eu tomei a atitude. Agarrei sua camiseta e o puxei para perto de mim, até que meus braços o envolvessem e eu estivesse o abraçando novamente. Fuyuki me apertou com tanta força que doeu, como se ele tivesse medo que eu fosse acabar sumindo a qualquer instante.

-Eu posso te perguntar algo egoísta? - falei, me afastando de Fuyuki para o fitar.

-Você pode me perguntar qualquer coisa. - ele retrucou e eu abri um meio sorriso.

Não sei porque fiz aquilo, mas eu fiz. Apenas estendi minha mão, deixando ela deslizar pelo cabelo comprido de Fuyuki. As pontas ainda tinham aquele tom de cobre; Fuyuki fechou os olhos e suspirou e, meu Deus. Era muita burrice minha achar que um dia ia ser capaz de o superar e esquecer.

-Você já me esqueceu?

-Não. Eu nunca vou. - ele falou, sem nem mesmo hesitar, abrindo os olhos para me encarar. -Eu fodi com tudo. Eu sei disso. E acho que é até uma punição justa passar o resto da vida apaixonado por alguém que nunca mais vou ter.

Escutar aquilo, de certa forma, machucava muito. Fuyuki tinha me feito sofrer como o inferno; mas ele também tinha sofrido muito por minha causa. E vivido até ali com a ideia de que eu já o tinha superado, e que jamais seríamos algo novamente.

-Eu sofri muito por sua causa. - falei e Fuyuki fez uma careta. Ele abriu a boca para dizer algo, mas eu continuei falando. -E depois, eu fiquei tão bravo com você. Mas quando você foi embora, não fez eu me sentir melhor. Na verdade, eu só me senti mais vazio.

-Shin... - ele começou, mas eu o cortei.

-Não consigo viver sem você. E durante esses dois anos separados, eu tentei, de verdade. Mas não consigo. Não consigo sequer me apaixonar por outra pessoa, quem dirá amar alguém que não você.

-Eu não sou bom pra você. - ele disse, baixinho. Eu apenas neguei.

-Você é sim, Fuyuki. Você é, e essa é a questão. Durante nossos cinco anos de namoro, você foi o melhor namorado do mundo. Você cometeu um erro. E por mais que tenha me destruído pensar que você estava morto, me destruiu ainda mais saber que estava vivo e que não estávamos juntos. Dois meses depois que você foi para os Estados Unidos, eu percebi que nunca ia conseguir ficar sem você. Mas eu esperei esse tempo todo porque eu precisava saber quem era eu sem você. E acho que você precisava disso também.

"Mas agora, pra mim, já deu. Eu sei quem eu sou. E eu sei que amo você e não quero mais ficar sem você na minha vida. Não sei se tô vindo tarde demais com isso, mas eu queria muito ter você de volta".

Eu parei de falar e fitei Fuyuki. Eu não fazia ideia do que ele estava pensando. Até ele começar a chorar.

-Você é louco. Eu só vou te arrastar para o buraco de novo. - ele disse, atordoado. Eu me aproximei, segurando o rosto de Fuyuki com força nas minhas mãos.

-Eu sei quem você é e eu sei das suas obrigações como super herói. Eu tô aqui de novo porque eu finalmente entendi isso. Eu não quero que você abra a mão de nada por mim. Mas eu fiz minha escolha e minha escolha é você. Fuyuki, acorda pra vida. Não consigo te esquecer. Não consigo te superar. Não quero fazer nada disso. Eu te quero de volta, e eu quero saber se você me quer de volta também! É isso.

Fuyuki piscou. Ele começou a gaguejar e eu nunca tinha visto ele tão perdido, com medo e inseguro. Meu Deus, aquilo era culpa minha?! Talvez fosse.

-Ai meu Deus, Fuyuki. - eu murmurei. E sem esperar uma resposta, já que ela claramente não ia vir, eu o beijei.

Eu realmente travei por um instante quando senti a boca de Shin contra a minha. Aquilo me pegou totalmente de surpresa, assim como as palavras dele. Shin estava dizendo aquilo que eu mais desejei escutar. Mas ao mesmo tempo, não parecia certo arrastar ele para o problema que eu era. Eu não queria que ele sofresse mais uma vez por minha causa. E se ele ficasse comigo, aquilo seria inevitável.

Ainda assim, eu fui egoísta. Eu agarrei Shin com força, o prendendo contra a parede atrás de si, o beijando como se minha vida dependesse daquilo. Naquele momento, era tudo o que realmente importava.

Eu tinha sentido tanta a falta de Shin que chegava a doer. De sua risada, do seu toque, do seu beijo. De absolutamente tudo. E agora, parecia que eu jamais teria o suficiente. Parecia que aquele beijo não bastava. Sinceramente, nem parecia verdade ele me querer de volta; eu tinha fodido com tudo. Mas ele ainda me amava. Ele ainda me amava. E claramente não deveria.

-Shin, espera. - falei, me afastando dele, mesmo que muito a contra gosto. Ele piscou os olhos e franziu as sobrancelhas, confuso. Eu suspirei, ofegante. -Não posso fazer isso.

Eu vi a expressão dele mudando e me xinguei mentalmente por isso.

-Quer dizer, eu também amo você, tudo o que eu mais quero é te ter de volta, mas preciso te falar uma coisa. - respirei fundo, afudando as mãos nos cabelos. -Sem mais mentiras, né?

-Por favor. - ele disse com deboche. Eu torci o nariz.

-Eu vou morrer. - soltei, sem tentar deixar a coisa menos dolorosa. Só falei de uma vez, levantando a camiseta para que Shin pudesse ver a mancha negra que crescia no meu peito a caminho do meu coração em várias ramificações. Aquilo o fez arregalar os olhos, perplexo. Eu ri, sem nenhum humor. -É. Eu tenho no máximo seis meses de vida.

E ele disse a coisa mais sensata a se dizer naquele momento:

-Porra.

Boa noite povo bonito! Tudo bem com vocês? Espero que sim!

Um capítulo lindinho e feliz pra vocês, trazendo refrescos beijinhos
Postei esse belo capítulo e agora estarei indo dormir bem plena, bjsss

Votem e comentem, isso ajuda demais e me deixa mais inspirada a continuar!

Espero que gostem <3
~Ana

Data: 26/02/23