𖤍𖡼↷ 𝐅𝐈𝐕𝐄
Eu conhecia Fuyuki desde que me entendia por gente. Durante vinte anos, a maior parte dos meus melhores momentos foram com ele. E todas às vezes que eu me sentia péssimo, Fuyuki sempre esteve do meu lado para me dizer que tudo ficaria bem. Ele sempre foi o melhor amigo do mundo para mim, acreditando em mim com tanta convicção, de que eu seria alguém incrível, que era impossível ver de outra forma que não a forma de Fuyuki. Eu tinha dezenas, milhares de memórias boas ao lado de Fuyuki. Estivemos juntos desde o dia em que eu saí da barriga da minha mãe, destinados a sermos melhores amigos. Até que nos tornamos bem mais do que isso, e eu sabia que eu sempre o tinha visto de uma forma que ia além de uma amizade.
Eu o amava. Me faltavam palavras para descrever tudo o que eu sentia por Fuyuki, porque não era simples, não era algo que dava para ser colocado em um papel ou medido. Era um sentimento tão complexo que eu não sabia dizer onde começava ou onde acabava. Fuyuki era a porra da luz dentro da minha vida, uma das principais razões para eu ser tão feliz. Mesmo quando éramos adolescentes e eu tentava o evitar por achar ele brilhante demais para estar perto de alguém tímido demais como eu, Fuyu jamais parou de tentar estar ao meu lado. Mesmo quando eu não o queria perto de mim, ele esteve lá. E mesmo quando Fuyuki estava irritado demais comigo, ele continuou do meu lado, porque o amor que ele sentia por mim era maior do que qualquer orgulho idiota que ele pudesse sentir, maior do que qualquer briga ou desentendimento.
Antes de descobrir que Fuyuki sentia algo por mim, eu me sentia de uma forma muito vazia, mesmo que jamais fosse admitir isso para alguém. Eu sempre tive tudo, mas parecia que havia algo faltando, algo fora do lugar. Eu tinha medo também; ver o quão popular Fuyuki era na U.A entre todos me deixava com receio de que ele fosse arranjar pessoas bem mais interessantes do que eu, um nerd introvertido que odiava ter que socializar com as pessoas. Fiquei com medo de que Fuyuki arrumasse um outro melhor amigo e se esquecesse completamente de quem eu era. E mais que isso: senti pavor de que ele começasse a namorar e que eu tivesse que fingir achar isso legal. Mesmo nunca tendo dito para mim mesmo, eu sempre fui profundamente apaixonado por Fuyuki. Mesmo tentando esquecer e o superar, jamais fui capaz de fazer isso.
Começar a namorar com Fuyuki, descobrir que ele também era apaixonado por mim, bem mais do que eu era capaz de imaginar, era como ter a droga de um sonho se realizando. Nunca me senti tão feliz quanto no dia que Yumi me revelou que Fuyuki me via da forma como eu via ele. O como eu criei coragem o suficiente para o beijar, para impedir que ele escapasse antes que eu tivesse a chance de tentar. E quando a gente começou a namorar, eu me senti a pessoa mais sortuda do mundo por poder ter Fuyuki Todoroki do meu lado.
Nunca fui uma pessoa que acredita muito em almas gêmeas. Eu achava esse conceito tão idiota, principalmente quando via as pessoas dizendo que eram almas gêmeas umas das outras e depois terminando um relacionamento, arranjando outro alguém e dizendo a mesma maldita coisa. Eu achava tão patético; mas Fuyuki era exatamente isso para mim. A droga da minha alma gêmea, a pessoa com quem eu estava destinado a me encontrar desde o começo. Eu jamais conseguiria sentir um terço do que sentia por Fuyuki por outra pessoa. Eu não queria que existisse outra pessoa que não ele.
E então, Fuyuki disse que queria casar comigo; me pediu em casamento. Deixou claro o quanto me amava e o como sequer conseguia ver sua vida longe de mim. E eu sentia o mesmo. Eu não estava nem ai que a gente fosse novo demais para firmar um compromisso tão sério. Conhecia Fuyuki desde que eu nasci. Eu não tinha nenhuma dúvida em relação a aquilo. Ao quanto eu queria passar o resto da minha vida junto dele.
Mas então, todos os nossos sonhos e desejos tinham sido arrancados de nós com força e violência. E eu tinha me dado conta de que, em alguns casos, as almas gêmeas não ficam juntas para sempre nas histórias.
Eu só nunca imaginei que isso pudesse acontecer comigo. Que isso pudesse acontecer comigo e com Fuyuki.
Ele era a porra de um dos melhores super heróis do Japão. Fuyuki era incrível, invencível! O mundo todo o amava. Todos sabiam o quão forte ele era e o quão forte ficaria com o passar dos anos. Uma verdadeira ameaça para os vilões. Fuyuki era simplesmente perfeito em todos os sentidos. Destinado a ser o número um, a ser tão incrível quanto o tio Izuko era.
Não parecia real. Não era justo.
Como um super herói como Fuyuki é vencido? Como? Como ele foi capaz de morrer e me deixar aqui, com a merda de um buraco dentro do peito que eu sei que jamais nessa vida vai se fechar? Ele não era só o amor da minha vida, era meu melhor amigo, a droga da minha alma gêmea. Ele completava o que faltava dentro de mim, e agora esse vazio vai ficar pra sempre aqui, incapaz de ser preenchido novamente.
Eu nem conseguia acreditar. Era como se fosse um pesadelo terrível, um dos quais eu queria desesperadamente acordar. Sentado no banco de madeira dentro da capela do hospital, rezando para um Deus que tinha me deixado na mão, a única coisa que restava dentro de mim era uma dor que eu não conseguia suportar. Não tinham mais lágrimas para serem derramadas; mas era a minha quietude que alarmava quem quer que olhasse para mim naquele momento.
Morto; aquilo parecia impossível. Para mim, Fuyuki sempre foi imbatível. Era tão absurdo que ele estivesse morto que eu tinha dado uma risada desesperada quando os médicos disseram que ele não tinha aguentado. Não fazia sentido; foi tudo do nada, foi tudo tão rápido, e eu tinha pedido o amor da minha vida.
Lágrimas silenciosas escorreram pelas minhas bochehcas e eu afundei o rosto em minhas mãos, sentindo meu corpo inteiro tremer.
Uma parte de mim tinha morrido com Fuyuki.
Eu senti uma mão no meu ombro e me virei apenas o suficiente para ver os olhos vermelhos iguais aos meus do meu pai. Eu sabia melhor do que ninguém que, apesar de toda aquela calma assustadora em seu rosto, ele estava tão triste e desesperado quanto eu.
E ainda que ele sentisse as exatas mesmas coisas que eu naquele momento, meu pai se sentou ao meu lado e me olhou seriamente por um instante. E, sem dizer uma palavra sequer, ele me abraçou. E me deixou chorar tudo o que eu precisava chorar naquele momento.
Minha mãe uma vez me disse que uma das maiores dores que poderiamos sentir na vida, era perder quem a gente amava de uma forma totalmente inesperada e dolorosa. Ela vivia em constante medo de perder meu pai para essa vida de super herói. Eu jamais senti esse medo em relação a Fuyuki, porque para mim, nada de ruim jamais aconteceria com ele. E agora, eu o tinha perdido para sempre.
-Acho que você iria gostar de saber que o caso da sua mãe é estavel. - meu pai disse, fazendo eu me afastar dele apenas o suficiente para olhar em seus olhos. -Eri conseguiu reverter a situação por pouco. Sua mãe está bem, Shin. Ainda apagada e vai precisar de recuperação, mas está viva.
Eu soltei um suspiro baixinho, sentindo mais lágrimas escorrerem. Aquilo era o que eu precisava para me sentir minimamente melhor e meu pai sabia disso. Ele afagou meu obro com carinho e eu apenas apoiei a testa contra seu ombro, desejando poder desaparecer.
-Não sei como continuar. - disse num sussurro. -Não é justo.
-Eu sei. - meu pai respondeu, passando a mão de leve pelo meu cabelo. -Nada disso é justo, Shin. Mas você vai dar um jeito, como sempre deu em todas as coisas na sua vida.
-Como você consegue estar tão calmo, pai? Mamãe quase morreu! E o Fuyuki... - minha voz travou na garganta e eu balancei a cabeça. Não precisava completar a frase para ele entender.
-Porque eu preciso estar bem o suficiente por você. - ele disse tranquilamente e me deu um sorriso fraco, triste. -Sua mãe ia me matar se eu surtasse e te deixasse sofrer sozinho.
Eu ri baixinho, as lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas.
-Ia mesmo. - falei, esfregando os olhos. -Queria poder esquecer tudo isso, tirar essa dor de dentro de mim. Nem parece verdade.
-Você não tá sozinho, Shin. E vai ficar tudo bem. - ele disse, mas eu não conseguia acreditar naquilo. Pelo menos, não naquele momento. Não quando tudo parecia um inferno na minha vida.
Nenhuma palavra parecia surtir efeito e meu pai sabia disso. Por isso, ele apenas me abraçou e ficou do meu lado até que eu me sentisse melhor o suficiente para sair dali. E sendo sincero, naquele momento, aquilo era a única coisa que eu precisava.
"Querido Shin,
Se você está lendo isso, significa que alguma coisa saiu do controle. Que nossos planos não chegaram a se concretizar. Se você está lendo isso, significa que não estou mais do seu lado pra te dizer o quão lindo é o seu sorriso e o som da sua risada. Se está lendo isso, significa que não estou mais por perto. E por isso, eu sinto muito.
Deixar você nunca esteve nos meus planos, e saber que talvez eu tenha que o fazer parte meu coração em milhares de pedaços. Tem coisas que não podemos controlar e essa é uma delas. A vida que eu escolhi é totalmente instável e a gente nunca sabe o dia de amanhã. Depois de ouvir a história da sua mãe com a noiva dela, percebi o quão insignificante nós somos para o universo. O como uma vida acaba com tanta facilidade com a qual começa. Saber o como minha madrinha sofreu sem ter nada ao que se apegar nos piores momentos me fez chegar a conclusão de que pelo menos eu precisava te deixar algo caso não estivesse mais ao seu lado para limpar suas lágrimas nos piores momentos e rir com você nos melhores.
Eu te amo. Dizer isso, escrever isso, não importa quantas vezes o sejam, jamais vai transmitir uma fração que seja de tudo o que eu sinto por você.
E eu sei que você sente o mesmo. Sei o como sua mente vai virar um turbilhão e em tudo o que você vai pensar. No quão injusto vai achar o mundo ou no como vai se culpar achando que deveria ter feito mais. Você pensa demais, Shin, demais para seu próprio bem. E dito isso, eu quero te pedir uma última coisa.
Você vai odiar. Conhecendo você bem da forma como conheço, sei que a princípio vai sentir raiva de mim. Eu adoro a cara que você faz quando está irritado. O como suas sobrancelhas se franzem e um biquinho se forma nos seus lábios. Ou no como você sempre se rende completamente quando te encho de beijos.
Mas, por favor, não deixe o que aconteceu derrubar você. Sei que está triste, ou com raiva, ou com um turbilhão de sentimentos que você não é capaz de controlar. Mas você é mais forte do que imagina e eu sei que vai conseguir seguir em frente. Se não por si mesmo, faça por mim.
Siga em frente por mim. Seja feliz por mim. Reconstrua sua vida por mim. Faça aquela viagem que a gente tanto queria fazer juntos, talvez até se apaixone de novo. Não se deixe ficar preso para sempre no passado por minha causa. Saiba que quero que faça o que for preciso para que seu sorriso lindo volte para seu rosto.
Eu te conheço desde sempre e sei como as coisas vão ser difíceis pra você, mas você é incrivelmente forte, Shin. E jamais vai estar sozinho. Eu sempre estarei do seu lado, mesmo quando você não puder me ver ou me sentir. Eu estarei para sempre em seu coração, cuidando de você.
Então, isso é um adeus, eu acho. Obrigado por ser uma alma gêmea incrível em todos os sentidos possíveis da palavra. Você fez cada segundo da minha vida valer a pena e ser especial.
Eu amo você.
Para sempre seu,
Fuyuki"
Eu estava tremendo quando terminei de ler a carta que Yumi me entregou. Meu peito doía mais do que nunca. Ela me disse que Fuyuki tinha escrito e guardado aquilo com ela no dia que me pediu em casamento. Quase como se ele soubesse que jamais ficaríamos juntos para sempre. Como se soubesse qual seria seu futuro.
Senti vontade de rasgar aquela carta, senti raiva. Mais do que isso, senti dor e tristeza. Ele estava certo; eu jamais conseguiria seguir em frente por mim mesmo. Eu jamais conseguiria viver sem ele.
E ele também estava certo sobre eu precisar de algo para me apegar. Mesmo que fosse em uma carta de despedida deixada pelo amor da minha vida.
Quando abri meus olhos, sentia minha cabeça doer como inferno. Soltei um gemido de infelicidade, piscando os olhos algumas vezes para me acostumar com a claridade. A primeira coisa que vi, foram as paredes brancas de um quarto de hospital. Arranquei o equipamento no meu rosto para me auxiliar a respirar e torci o nariz. Por que diabos eu estava na bosta do hospital? Eu não conseguia me lembrar. Não conseguia me lembrar de nada, mas queria desesperadamente sair.
-Ei, ei, ei! Não pode fazer isso. Você acabou de acordar. - torci o nariz sentindo mãos firmes nos meus ombros, me fazendo voltar a deitar na cama. -Passou por uma cirurgia que durou horas. Não se esforce.
Arqueei uma sobrancelha e dei uma risada incrédula ao ver olhos vermelhos bem ali na minha frente. Mas que merda estava acontecendo ali, afinal?
-O que caralhos você tá fazendo? - perguntei torcendo o nariz. -Alguém pode me dizer o que tá rolando?
-Se acalma, mulher. Você acabou de acordar depois de três dias apagada, pelo amor de Deus. - eu pisquei, totalmente confusa, vendo os olhos escuros de Mit me fitarem com preocupação. Ele parecia bem mais velho e acabado do que eu me lembrava.
-E dai?! Me diz porque caralhos Dynamight está na porra do meu quarto. - falei, apontando para o herói profissional que não tirava as mãos de mim. Os dois piscaram, totalmente confusos e chocados. Eu revirei os olhos. -Pelo amor de Deus, Mit, você sabe que odeio pro heros. Cadê a Liz?
-Ai meu Deus. Você tá zoando com nossa cara? - meu melhor amigo quase gritou, seus olhos arregalando no mais puro pavor. Dynamight parecia a beira de ter um treco enquanto me fitava com aqueles olhos em um vermelho escarlate. Eu bufei irritada. Por que caralhos eu estaria brincando?! -Azami, quantos anos você tem?
-Você bateu com a cabeça, seu idiota? Eu tenho vinte. Não tô entendendo onde você quer chegar. Tira esse pro hero daqui e me responde onde está minha noiva?
Eu vi Katsuki Bakugo afundar os dedos nos cabelos e os puxar com força. E então, ele e Mit trocaram um olhar, como se já se conhecessem há anos. Aquilo me fez ficar irritada.
-Puta que pariu. - o loiro disse. E Mit completou, totalmente assombrado:
-Você acabou de esquecer trinta anos da sua vida.
Simplesmente amo o quanto de derrota e caos a gente tem nesse capítulo hm hm hmmmm
Eu jamais ia matar a Azami, mas isso não significa que eu não ia fazer vocês sofrerem de outras formas. E não vamos tocar no assunto delicado que é a morte do Fuyuki porque ela dói profundamente em mim :')
Não me odeiem
Votem e comentem, isso ajuda demais e me deixa mais inspirada a continuar!
Espero que gostem <3
~Ana
Data: 18/02/23
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