𖤍𖡼↷ 𝐄𝐒𝐏𝐄𝐂𝐈𝐀𝐋
Meus ouvidos estavam doendo de uma forma absurda naquela tarde. Estavam tão sensíveis que qualquer mínimo barulho já era o suficiente para me deixar incomodada, o que também estava acarretando no meu mau humor. Apesar de já ter tomado meus remédios, a dor não tinha diminuído, e tudo só parecia piorar gradativamente. Eu sabia que em algum ponto da minha vida, ficaria surda; sempre soube disso e já tinha aceitado aquele fato faziam anos. Mas aquela dor que às vezes tomava conta de mim não era algo com o qual eu me acostumaria, jamais. Era como se tivessem colocando um prego bem no meu tímpano, e nem mesmo quando eu pressionava o travesseiro contra meus ouvidos parecia servir para aliviar minha dor.
Meu estresse com isso tinha sido tanto que cheguei até mesmo a chorar um pouco. Eu deveria estar aproveitando aquela viagem e as férias, não sofrendo por uma dor que eu odiava e não podia controlar! Faziam anos que nós não viajávamos todos juntos, com Atsuko, Shoto, Ochako e Izuku. Ter que ficar trancada no quarto de hóspedes da casa de Izuku e Ochako enquanto todos eles iam para praia ou para a piscina era simplesmente triste. Eu sabia que até tinha conseguido convencer eles de que só estava com dores na barriga, mas o olhar que meu filho me deu me deixava muito óbvio sua preocupação e do quão pouco ele tinha acreditado nisso.
Para um adolescente de dezessete anos, Shin era inteligente demais para o meu gosto. O lado bom é que meu filho jamais iria me pressionar para dizer algo que eu não queria, totalmente diferente do pai dele. Mas enquanto todos estivessem ocupados demais se divertindo para perceberem o quão infeliz eu estava, tudo ficaria bem. O que eu menos queria eram preocupações desnecessárias comigo. Eu já tinha aceitado que sentir dor por causa da minha individualidade de vez em quando era algo inevitável e que eu não poderia fugir. Mesmo que eu odiasse, não tinha muito o que eu pudesse fazer a respeito nos momentos de crise.
Ainda assim, me deixava um tanto desesperada. Eu odiava mais do que qualquer outra coisa no universo me sentir daquela forma, sentir aquela dor incomoda. Saber que meu filho não tinha minha individualidade foi um alívio para mim, mesmo que Shin também tivesse certa sensibilidade auditiva. Pelo menos ele jamais teria que sofrer esse tanto que eu sofro por conta de uma individualidade que eu raramente uso.
A primeira coisa que escutei quando a porta do quarto abriu om força, foi um palavrão seguido por um xingamento. Eu não sabia o que tinha deixado Katsuki puto, mas ele sempre falava alto demais quando estava desse jeito. E no momento, meus ouvidos estavam doendo demais para conseguir aguentar a voz estridente de Katsuki. Quando eu estava assim e ele gritava, mesmo que fosse sem querer, só servia para piorar mil vezes a minha dor. Motivo pelo qual eu nem mesmo pensei duas vezes antes de levar as mãos aos meus ouvidos, os tampando com força para impedir que o som da voz irritada do meu marido idiota chegasse até mim.
Katsuki ficou estático assim que seus olhos caíram em mim, parando de falar assim que percebeu minhas mãos nos ouvidos. Ele me conhecia há anos; me conhecia muito, muito bem mesmo. Ele sabia melhor do que ninguém quando as coisas estavam erradas e fora do lugar, assim como sabia perceber quando minha audição estava me incomodando horrores. Por isso, ele apenas se virou, fechou a porta, e caminhou até mim, se sentando ao meu lado e delicadamente puxando minhas mãos para as suas sem dizer nada.
Seus olhos vermelhos intensos se fixaram nos meus enquanto ele me analisava, tentando descobrir qual era o nível da minha dor. Se deveria falar algo ou não. Por fim, ele deu um suspiro baixinho e soltou minhas mãos.
Tá doendo de novo? Katsuki usou língua de sinais para se comunicar, o que fez eu suspirar aliviada. Qualquer som estava sendo demais para suportar, mesmo que um sussurrar bem, bem baixinho. Eu apenas o fitei antes de assentir, me sentindo totalmente desanimada. Katsuki deve ter percebido isso, pois afagou de leve minha bochecha por um instante.
Tem algo que possa fazer por você?
Eu apenas neguei. Quando eu me sentia desse jeito, não tinha vontade de fazer absolutamente nada. Não tinha vontade de sair da cama, de comer, de existir. Só queria ficar quieta até a dor passar. Katsuki sabia disso, mas ele sempre estava constantemente tentando me deixar mais pra cima quando esses momentos aconteciam. Um dos motivos para eu o amar tanto assim.
Você tomou seu remédio, amor?
Eu assenti e Katsuki apenas suspirou. Ele sempre ficava extremamente preocupado comigo quando eu estava assim. Por isso ele apenas se ajeitou melhor na cama e me puxou para perto de si.
De certa forma, aquilo sim era algo que ajudava. Eu deitei a cabeça contra seu peito, fechando os olhos ao sentir os dedos de Katsuki afundando no meu cabelo e fazendo um carinho suave. Quando você estava se sentindo tão péssima assim, receber amor e carinho da pessoa que amava de fato parecia fazer as coisas ficarem melhores. E toda vez que Katsuki estava ali do meu lado nos meus momentos de crise, parecia aliviar muita coisa dentro de mim. Mesmo que a dor ainda estivesse ali, parecia ir aos poucos se dissipando, ou se torna do um pouquinho mais suportável.
-Odeio ver você assim. - Katsuki disse, muito, muito baixinho. Eu me inclinei o suficiente para olhar seus olhos vermelhos, ainda abraçando sua cintura.
Eu sei. Retruquei, sem fazer nenhum som. A mão de Katsuki deslizou pela minha bochecha com calma, me fazendo fechar os olhos por um instante. Deixei ele me puxar para mais perto de si, até que eu estivesse deitada sobre Katsuki, meu peito pressionado contra o dele.
Como posso te distrair? Ele perguntou em língua de sinais e eu apenas dei um meio sorriso pra ele.
Não sei. Me conta como foi hoje. Retruquei. Katsuki apenas riu.
Sem você? Uma merda. Ele respondeu, me fazendo rir e apertar o nariz dele. Mas nosso filho inteligente impediu a burra da Mika de se afogar. Eu me pergunto o como ela pode ser filha do Izuku sendo tão lesada.
Eu ri baixinho, dando um tapa no ombro dele. Bom, Mika não tinha nada de Izuku ou de Ochako, mas não era uma garota ruim. Talvez só um pouquinho... Demais.
Ele é muito gentil, esse nosso filho. Me deixa orgulhoso pra caralho. Ele continuou e eu sorri. Mais uma coisa que só fazia eu o amar ainda mais era ver o quanto Katsuki amava imensamente nosso filho. Para alguém que nunca teve sequer vontade de ser pai, Katsuki se superava em ser um ótimo. Mesmo que tivéssemos tido muito medo de sermos péssimos pais já que tínhamos péssimas personalidades, ver o quão bondoso e carinhoso Shin era só me fazia ter a certeza de que o criamos da maneira correta. E que não havíamos deixado nada faltar.
Eu te amo. Falei em língua de sinais, sem mais nem menos. Katsuki e eu não tínhamos o hábito de dizer isso com frequência um para o outro, porque para nós o que realmente valia a pena, eram as ações. Mas às vezes eu sentia aquela necessidade, como naquele momento, fazendo ele piscar os olhos, surpreso por algo tão inesperado assim.
Eu também te amo, Zaza. Dava para ver toda a verdade daquilo nos olhos de Katsuki enquanto ele deslizava as mãos pelas minhas costas, fazendo uma carícia suave. Eu suspirei, me inclinando para encostar a testa sobre a dele.
-Eu já tô me sentindo melhor. - falei baixinho, segurando o rosto de Katsuki nas minhas mãos e selando os lábios nos dele delicadamente. -Obrigada, amor.
Ele apenas murmurou contra minha boca, me fazendo rir baixo. Era engraçado o como Katsuki sempre ficava desconfigurado quando eu o chamava assim, de um jeito fofo e manhoso, mesmo que já estivéssemos juntos há anos. Praticamente vinte e cinco, pra ser mais exata.
-Quando voltarmos para casa, vou levar você no hospital, tá? - ele retrucou, a voz suave e mansa pra não machucar meus ouvidos. Eu apenas suspirei, porque sabia que não ia dar pra fugir disso, então só assenti pra ele.
Batidas na porta fizeram Katsuki e eu nos virarmos um pouco. Logo em seguinda, uma frestinha abriu e Shin colocou a cabeça para dentro, nos olhando com os olhos vermelhos por um instante.
Você tá bem, mãe? Ele dizer aquilo em língua de sinais só deixava claro o quanto meu filho inteligente já tinha percebido. Eu apenas dei um sorriso para ele.
-Eu tô melhor agora, Shin, não se preocupe. - garanti e ele apenas assentiu, apesar da preocupação em seus olhos. Eu definitivamente não sabia o que tinha feito de tão bom nessa vida para ter um filho tão maravilhoso e atencioso quanto Shin era. De fato ele tinha sido a melhor coisa a acontecer na minha vida e eu falava isso tranquilamente.
-Se a senhora precisar de algo, me avisa. Vou sair com Fuyuki e a Yumi, tem problema? - ele perguntou, me fazendo rir baixinho. Ele não precisava me pedir permissão pra isso, mas ele pedia mesmo assim.
-Sair com aquele idiota? Nem pensar. - Katsuki zombou e Shin apenas riu. -Você precisa arranjar um namorado melhor. Você é tão inteligente e bonito, filho. Namorar logo com o Fuyuki, sério?
-Ah, para, pai. Você ama ele, não adianta fingir que não. - Shin disse e Katsuki riu. -Prometo que não vamos demorar pra voltar. Fuyuki cismou que quer tomar sorvete no shopping aqui perto. E ele é bem irritante e chato quando quer algo.
-Igualzinho a mãe mala dele. - Katsuki murmurou. Shin apenas riu e eu revirei os olhos.
Shin veio até nós, deu um beijo na minha bochecha e saiu dizendo que se eu quisesse algo, era só mandar mensagem pra ele. E eu apenas sorri. De fato, a melhor coisa que Katsuki e eu já havíamos feito, tinha sido aquele garoto lindo, carinhoso e gentil. Katsuki deveria estar pensando o mesmo, porque estava sorrindo que nem um idiota e eu sabia que não era pra mim.
-Por que você estava bravo? - perguntei para Katsuki, olhando para seus olhos. Ele apenas franziu o cenho, suas mãos pressionadas contra o meu quadril e me puxando mais para si. Então, ele fez uma careta e revirou os olhos.
-O Deku e o meio a meio estavam enchendo a porra do meu saco. - ele murmurou irritado e eu ri. -Aquela Jean Grey maldita também. São um bando de merdas e eu não sei porque ainda saímos com eles, amor.
-Porque são seus melhores amigos. - retruquei, dando um beijo suave em seus lábios. -E porque são os meus também, sendo sincera. Só faltou...
-O cabelo de merda e o idiota do Mit. - Katsuki completou, me fazendo rir e assentir. -Você tem certeza que tá melhor, Zaza? - o jeito carinhoso de Katsuki só me fazia ter ainda mais certeza de que continuava preocupado comigo. Mas eu apenas assenti, tocando sua bochecha.
-Ainda está me incomodando, mas tá melhor. - falei, deixando ele inverter nossas posições e ficar por cima, seus olhos vermelhos fixos nos meus. Eu dei um sorrisinho para ele. -Mas meu dia foi bem entediante. Você podia me entreter, né, Kats. - falei, roçando a boca na dele de leve, fazendo Katsuki grunhir.
-Esse é um jogo que você não vai ganhar, Azami. - o jeito que ele disse meu nome em um sussurro muito, muito baixo contra meu ouvido fez todos os pelos do meu corpo se arrepiarem enquanto um sorrisinho crescia no meu rosto.
-E quem disse que eu quero ganhar, Katsuki? - retruquei, deixando meus lábios encostarem contra a pele de seu pescoço, os arrastando lentamente e fazendo Katsuki murmurar. Eu apenas dei uma risada baixinha.
Apesar de tudo, Katsuki sempre sabia exatamente o como fazer eu me sentir melhor. E mesmo que tivessem coisas que não pudessem ser arrumadas, como minha audição maldita, para mim, o que bastava, era estar ao lado dele e ter o seu suporte. E nada além disso importava.
Sim, um capítulo especial de Hot Chocolate porque deu muita saudade da Zaza e do Bakugo juntinhos. E sendo bem sincera, eu tenho ideias para uma terceira parte. Será que vocês leriam? Hmmmmm
~Ana
Data: 06/02/23
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