𖤍𖡼↷ 𝐄𝐋𝐄𝐕𝐄𝐍
Eu não consegui dormir naquela noite. Todas às vezes que fechava os olhos, via aquela terrorista maldita aparecendo na minha frente. E por mais que ela tivesse sido presa e finalmente fosse pagar por ter tirado Fuyuki de mim, isso não fazia eu me sentir nem um pouco melhor. Na verdade, só fazia eu sentir mais e mais raiva. Ela tinha sido a culpada pela morte da pessoa que eu mais amava mo mundo, ela deveria ter sofrido um pouco mais, mas não; ela foi derrotada facilmente por aquele herói misterioso de cabelo cor de cobre e com uma individualidade que me lembrava a de Fuyuki, mesmo que ele fizesse coisas que Fuyuki jamais foi capaz de fazer.
Eu não conseguia tirar aquele momento da minha cabeça. Mesmo com Lily dormindo do meu lado, o peso reconfortante de sua cabeça contra meu ombro, eu não conseguia parar de pensar em Fuyuki. Eu sentia falta dele todos os dias e isso era um fato, porque Fuyuki tinha sido a merda do meu sol e eu havia o perdido. Ver aquela mulher novamente só servia para me fazer lembrar do que eu perdi e que não teria nunca mais de volta, e eu não conseguia suportar.
Mas pelo menos hoje eu precisaria fingir estar tudo bem. Primeiro, porque era aniversário de Yumi, e mais do que qualquer outra pessoa, ela não precisava que eu ficasse lembrando a ela que seu irmão estava morto e não estava lá para comemorar aquela data junto com ela. Segundo, porque eu tinha prometido apresentar Lily para minha família. Quão justo seria com ela a levar para lá, apresentar ela para todo mundo, pensando em Fuyuki? Eu só estaria sendo babaca, e por mais que Lily soubesse exatamente tudo o que eu sentia, eu não podia fazer aquilo com ela. Não quando Lily tinha sido tão boa pra mim em um momento que achei que jamais fosse conseguir superar.
Por isso eu me levantei da cama com um suspiro, tentando não acordar Lily, e fui tomar banho. Não dava pra arrumar uma desculpa para Yumi. Eu até podia dizer que não queria ir pelo que aconteceu na noite anterior, mas não estaria sendo justo com ela. Quer dizer, finalmente tínhamos um motivo para comemorar, certo? A desgraçada que fez Fuyuki morrer estava finalmente presa. Isso certamente trazia um grande alívio para minha madrinha, e quem sabe agora ela decidisse de uma vez por todas deixar a vida como super heroína e só aproveitar os dias que se seguiriam. Mas por que eu não conseguia me sentir aliviado? Por que eu não conseguia me sentir feliz?
Aproveitei o banho pra deixar algumas lágrimas caírem. Não me entenda mal, já tinha se passado um ano e boa parte da dor no meu peito tinha cicatrizado. Mas eu jamais conseguiria preencher o vazio que tinha ficado com a morte de Fuyuki. Isso era impossível e todos tinham consciência disso. Fuyuki foi meu primeiro e meu melhor amigo, eu cresci ao lado dele. Foi meu primeiro namorado, a primeira pessoa com quem transei, a primeira pessoa por quem me apaixonei, a primeira pessoa que eu amei. Era difícil desapegar disso tudo, e mesmo que eu realmente e verdadeiramente gostasse de Lily, nós dois sabíamos que eu jamais poderia amar ela desse jeito. Eu também sabia que Lily também não conseguiria me amar desse jeito. Às vezes sentia que o que tínhamos estava destinado ao fracasso. Mas tentava não pensar muito nisso.
-Você tá melhor? - Lily perguntou assim que terminei de me trocar. Eu observei ela colocar um vestido azul que deixava ela ainda mais bonita do que já era.
-Tô bem. - era mentira e ela claramente sabia disso pela preocupação em seus olhos. Ainda assim, Lily sabia que eu só precisava de espaço, por isso ela resolveu deixar pra lá. Ela sabia exatamente quem tinha sido a mulher a nos atacar na noite anterior e sabia tudo o que ela tinha tirado de mim. Lily sabia que ver aquela terrorista só fazia eu relembrar de Fuyuki, abrir uma ferida que eu jurava que já tinha sido cicatrizada. Mas cheguei a conclusão que não, não tinha. -Você tá pronta? Já te aviso que minha família é constituída por muitos heróis irritantes.
Lily deu risada, mas assentiu.
-Ah, sim, definitivamente. Se sua mãe, a maior hater dos super heróis, consegue aguentar, acho que eu também consigo. - ela brincou, me fazendo dar risada. Não importava quantos anos se passassem, minha mãe tinha uma reputação que ia ir para o túmulo junto com ela. Todos sabiam quem era Azami Bakugo, e não exatamente por ela ser casada com Dynamight, mas sim por ter proporcionado as melhores e mais cômicas críticas ao mundo dos super heróis. Quando li todas as coisas que ela falou sobre mei pai, me perguntei seriamente o como eles acabaram casando. Porque, honestamente, vendo a opinião dela sobre ele e sabendo que ele tinha lido tudo aquilo, não fazia o menor sentido.
-Se você quiser fugir, prometo que vou te socorrer. - falei, fazendo Lily dar uma risada e assentir. -Vamos?
Ela segurou minha mão estendida na sua enquanto saíamos do quarto do hotel. Não sabia porque, mas estava me sentindo um tanto nervoso. Eu nunca tive que apresentar alguém pra minha família já que, bem, a única pessoa com quem namorei já era muito amada pelos meus pais. Era uma sensação tão estranha, não saber o que eles iam achar sobre Lily. Se bem que eu já sabia que minha mãe e minha madrinha iam amar ela só pelo fato de eu estar seguindo em frente sem ficar o resto da vida sofrendo por Fuyuki.
-Então essa é a casa da família Todoroki? Uau. - Lily disse, os olhos arregalados quando paramos na frente da porta. Eu apenas ri. -Eu me sinto meio desarrumada agora.
-Você tá linda. - falei, dando um beijo carinhoso em sua bochecha, fazendo Lily sorrir. -Não fique tão intimidada, eles parecem meio esnobes, mas são ricos humildes.
-Nossa, como se você fosse super pobre. - ela resmungou, me fazendo rir.
-O dinheiro dos meus pais não é meu dinheiro. - eu retruquei.
-Claro que é, você é herdeiro. - ela falou arqueando a sobrancelha. Eu dei de ombros.
-Eu sou só um fodido estudante de veterinária que não conquistou nada na vida ainda. Vamos com calma ai. - falei, fazendo Lily rir e balançar a cabaça.
Eu entrei sem bater na porta já que aquela casa era basicamente minha também. Quer dizer, eu tinha crescido ali! Atsuko e Shoto Todoroki eram tão meus pais quanto meu pai e minha mãe, sinceramente. E eu sabia que a recíproca era a mesma.
O que me fez franzir o cenho foi escutar uma voz irritada soltando um palavrão. Claro que eu sabia que essa era minha mãe, agora o que me deixou confuso foi o motivo para ela estar gritando. E tinha uma grande diferença entre o ela estar brigando por brincadeira e brigando por algo sério.
Naquele caso, era algo sério.
-Hm, Shin? - Lily disse, segurando meu braço, pois ela claramente estava escutando. Até porque a briga começou a se tornar bem maior, mais alta, mais incomoda. Eu não conseguia entender o motivo da briga, mas devia ser algo sério se até minha madrinha estava gritando. -Acho que eu deveria ir embora.
-Quê? Não, deve ser um motivo de merda. Vem, vamos. - falei, segurando a mão de Lily na minha e a puxando na direção das vozes, do lado de fora onde ficava a piscina.
Uma cadeira passou voando bem do meu lado, atingindo a parede atrás de mim e me fazendo arregalar os olhos.
-Quer parar com essa porra?! - o grito de irritação do meu pai me fez perceber que não, não era só uma simples discussão. Porque meu padrinho estava tentando segurar minha madrinha que estava claramente tentando bater no meu pai.
-Solta ela, Shoto! - minha mãe estava dizendo, irritada. -Katsuki merece tomar uma surra do caralho! Atsuko, porque você apenas não faz o cérebro dele parar de funcionar?
-Ótima ideia!
-Mãe, chega! - Yumi gritou. Eu nunca, na vida, tinha escutado Yumi gritar.
-Quieta, Yumi! Você também tem tanta culpa quanto ele! - minha madrinha disse, cheia de mágoa, apontando para a cara do meu pai. -Shoto, me solta, agora!
-Ah, merda. - a voz de Mika chamou minha atenção. Os olhos dela estavam sobre mim e ela parecia estar vendo um fantasma. Seu desespero e agonia eram nítido. -Ai que merda! Você não devia ter chegado agora, Shin.
Não entendi o motivo de ela estar me olhando assim. Mas isso foi até os meus olhos se depararem com alguém ao lado de Miwa, com os olhos arregalados em choque e horror, como se não estivessem nem um pouco prontos para me verem naquele momento. Era o herói da noite anterior, com a cicatriz cruzando diagonalmente o rosto e o cabelo cor de cobre.
E não eram aqueles olhos verdes estranhos da noite anterior que me fitavam.
Mas sim olhos heterocromaticos.
POUCO MAIS QUE
UM ANO ATRÁS
A primeira coisa que eu fiz quando abri meus olhos, foi soltar um gemido de dor. Todos os meus músculos estavam doendo e meu peito, onde eu tinha sofrido o maior ataque, estava ardendo pra caralho. As paredes brancas do hospital nunca pareceram mais brancas quanto pareciam naquele momento e tudo o que eu queria fazer, era tomar uma boa dose de morfina e voltar a dormir.
Mas a cara de cú que meu padrinho estava me olhando me impedia de fazer qualquer outra coisa. Eu não sabia quem estava me olhando mais feio, se era ele ou era Yumi, encostada na parede e com os braços cruzados.
-Nossa, que bela recepção. Eu acabo de tomar a surra do século, ficar com uma nova cicatriz no meu lindo rosto, e vocês vão me olhar assim? Sinceramente. - falei com irritação, tentando me sentar e soltando um gemido de dor no processo.
-Para de se mexer, idiota. - Yumi murmurou com irritação, balançando a cabeça.
-Vamos direto ao ponto aqui, Fuyuki. Tem certeza absoluta do que está fazendo? - meu padrinho disse, balançando papéis na minha frente. Eu sabia exatamente o que estava escrito ali. Fui eu quem pedi pra Nova Comissão fazer eles, afinal.
Meu obituário.
-Se eu não fizer isso, a próxima pessoa a parar em uma cama de hospital, ou pior, morrer, é o seu filho. A ameaça foi clara. Você quer isso? - falei com irritação, o olhando com raiva. Como se estivesse sendo fácil pra porra fazer o que eu estava fazendo. Eu tinha consciência do que estava tendo que sacrificiar pra conseguir destruir aquela maldita organização criminosa. Eu estava ciente de tudo o que eu ia perder no processo. O silêncio de meu padrinho dizia o suficiente sobre o quanto ele entendia. -Foi o que eu pensei. Ninguém mais além de vocês dois pode saber sobre isso, entendem? Todos tem que achar que eu morri.
-Mas a mamãe e o papai, Fuyuki... - Yumi começou, me olhando seriamente. Eu apenas suspirei. -O Shin vai sofrer pra caramba.
-Eu sei! Acha que não machuca em mim, caramba? Mas é isso ou vão usar todas as minhas fraquezas contra mim. E a maior de todas é ele. Você sabe disso, Yumi. - falei olhando seriamente pra minha irmã. -Contei pra vocês dois a verdade porque preciso de ajuda! Não que fiquem falando o quanto os outros vão ficar chateados, porra. Eu tenho noção disso. Mas vai ser temporário e vai acabar logo. Eu espero.
-Por que mentir? Você pode falar pra eles. Pra sua mãe. - meu padrinho disse arqueando a sobrancelha, mas eu neguei.
-Não dá. O sentimento de sofrimento precisa ser verdadeiro, porque eles tem gente que pode notar que é mentira e vai ser pior. Por favor, confiem em mim. Eu posso ser um idiota, mas eu sou um ótimo profissional. Se tivesse outra solução, eu já teria pensado nela. - falei com um suspiro. -Acredite, eu teria mesmo.
Os dois ficaram em silêncio, porque aabiam que era a realidade. Não tinha nada mais que eu pudesse fazer. E por mais que eu achasse aquilo tudo uma merda, apenas podia rezar para acabar de uma vez por todas com aquilo. O mais rápido possível.
Porque quanto mais cedo as ameaças fossem eliminadas, mais rápido eu poderia voltar para os braços de Shin. E ficar junto com ele, como deveríamos.
AGORA
Shin estava claramente em choque, mas eu não podia o julgar. Olhar pra ele depois de mais de um ano fazia meu coração doer pra caralho. Eu tinha sentido tanta a sua falta que parecia que tinha um buraco dentro do meu peito. E olhando bem no fundo de seus olhos vermelhos, eu percebi que ele jamais ia me perdoar pelo que eu tinha feito. Pelo que fiz ele sofrer durante todo esse tempo.
Foram milhares de vezes em que pensei em desistir de tudo aquilo e contar a verdade. Que pensei em aparecer de novo em sua vida e dizer que eu sentia muito. Quanto mais tempo passava e mais falta dele eu sentia, mais difícil se tornava acabar logo com aquela organização maldita, mais difícil se tornava agir como um herói e colocar a sociedade em primeiro lugar.
E agora que tudo tinha acabado, eu sentia o peso de tudo o que eu tinha perdido. Porque ali, bem do lado de Shin, estava claramente alguém que não era eu, mas sim a sua nova namorada. É. Ele realmente fez o que pedi pra fazer, seguiu em frente. E eu podia o julgar? Definitivamente não.
O silêncio que se estendeu quando todos perceberam Shin foi assustador. Acho que ninguém estava respirando e eu mais do que qualquer um senti vontade de realmente estar morto com o olhar que ele estava me lançando. Minha mãe tinha até parado de brigar.
Foi a risada de puro desespero de Shin que me fez estremecer. Ele afundou os dedos no cabelo escuro e puxou com força, e eu nunca o tinha visto daquele jeito. Seus olhos estavam cheio de lágrimas e seu sorriso estava cheio de ódio.
-Seu idiota egoísta. - ele riu, balançando a cabeça. E, sem dizer mais nada, Shin jogou o presente de aniversário de Yumi na grama, virou e foi embora.
A namorada dele ficou totalmente perdida por um instante. O jeito que ela me olhou era como se ela até me entendesse. Me encheu de irritação, mas eu não tinha esse direito. E então, ela o seguiu.
Então apenas fiquei ali, parado, vendo a pessoa que eu mais amava ir embora. E percebendo que, por mais que eu tivesse conseguido acabar com criminosos procurados internacionalmente, a que custo foi?
É.
Heróis tem que fazer sacrifícios. Colocar o bem da sociedade acima de sua própria felicidade.
Às vezes eu queria nunca ter me tornado um super herói.
Vocês são loucos se realmente acharam que eu ia matar o Fuyuki, meu personagem favorito KKKKK eu jamais faria isso com meu filho, ele é lindo demais pra morrer de forma patética, tá?
Mas claro que agora vem mais briga, caos e depressão, beeijoos
~Ana
Data: 21/02/23
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