𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐎
CAOS E DESESPERO
Faziam exatos quinze dias que eu não conseguia dormir mais do que cinco horas e meia por dia, pois Fuyuki nunca dormia uma noite inteira. Nunca achei que fosse ser tão difícil cuidar de um bebê, mas percebi que estava profundamente enganada. Eu estava ficando maluca. E não só por toda a situação com Atsuko e o estado de Shoto que estava me deixando bem preocupada, mas também por Fuyuki, que era o maior pestinha que a sociedade já conheceu. Claro que eu o amava com todo meu coração e ele era o único motivo para eu ainda sorrir naqueles dias, mas não significava que Fuyuki não me dava o maior trabalhão.
Gostava quando estavamos deitado juntos assistindo desenho, porque ele ficava quieto nesses momentos. Fuyuki deitava a cabeça contra meu peito e sempre acabava pegando no sono cinco minutos depois, e eu amava esses momentos. Eu só ficava ali com ele, escutando o barulho da televisão e o vendo dormir tranquilamente abraçado em mim, me perguntando como ele seria quando crescesse. Qual individualidade ele teria? Seria uma vinda de Atsuko ou de Shoto? Ele puxaria a personalidade de qual dos dois? Se bem que estava mais inclinanda a achar que seria a de Atsuko. Fuyuki se tornaria herói que nem os pais ou seguiria um caminho completamente diferente? Eu aguardava ansiosamente para ver ele crescer e conquistar o mundo todinho.
Cuidar de Fuyuki era distração o suficiente para minha mente. Eu passava o dia inteiro fazendo isso, então não tinha tempo para pensar em Atsuko e seu estado crítico. Ela tinha de fato sobrevivido a cirurgia, como Natsuo disse que aconteceria. Mas a verdade é que o estado dela ainda era grave. Atsuko foi induzida a um coma, e ninguém sabia ao certo quando e se ela chegaria a acordar, e essa era a pior parte. Ver Shoto se perder dentro de si mesmo era o que mais machucava. Ele ficava manhã, tarde e noite ao lado dela, mesmo sabendo que isso não ia mudar nada. Claro, ele também ficava com Fuyuki em vários momentos do dia, mas Shoto não queria que o filho visse por muito tempo seu estado. Segundo Shoto, Fuyuki era sim capaz de sentir o clima pesado, e eu estava começando a concordar com ele, porque Fuyuki sempre ficava um pouco mais triste quando íamos ao hospital.
Shoto tinha me perguntado várias vezes se eu não queria deixar Fuyuki com Rei ou Mahina que tinham vindo pra cá por causa de Atsuko, mas recusei. Sabia que elas estavam muito preocupadas e também estavam sofrendo demais. Cuidar de Fuyuki era o menor dos meus problemas, e eu tinha me comprometido a ficar com ele o tempo que fosse necessário, aquilo não mudaria até que tudo voltasse ao seu devido lugar.
Eu estava até que conseguindo me manter forte na frente deles. Quer dizer, na primeira noite tive que me trancar no banheiro e fingir estar tomando um longo banho só pra chorar tudo o que eu tinha pra chorar sem Katsuki ver. Tudo o que eu menos precisava era o deixar pra baixo mais uma vez, e ele estava totalmente pra baixo. Agora ele estava aceitando todo e qualquer trabalho porque não conseguia ficar parado. Faziam pelo menos nove dias que eu sequer o via. Não posso dizer que não o entendo, porque cada um tem sua forma de lidar com a dor, mas às vezes era sim um pouco frustrante. Queria que ele estivesse aqui comigo e, acima disso, queria que desse suporte pra Shoto e Fuyuki, e não que ficasse fugindo deles, como se fossem uma maldita lembrança cruel de Atsuko e seu estado! Eu entendia. Mas também era egoísta da parte dele. Fuyuki era afilhado de Katsuki também! Não importa que Fuyuki fosse pequeno demais pra entender!
E mesmo que eu estivesse fingindo muito bem, não significa que não tenha e não esteja sendo muito difícil pra mim. Atsuko foi a primera amiga que me permiti ter após perder Liz. Era minha melhor amiga, estávamos sempre enfiadas nas mais diversas merdas juntas. Atsuko me ajudava com tudo. E agora, parecia que tinham tirado mais uma vez uma parte muito importante de mim. Sim, eu estava sofrendo, mas também conhecia Atsuko o suficiente pra saber que ela iria querer que eu colocasse o filho dela em primeiro lugar. Cuidar de Fuyuki, era isso que Atsuko ia querer que eu fizesse, e não ficar chorando por causa dela! Quase conseguia escutar a heroína gritando no meu ouvido e me mandando parar de ser idiota, pois tudo ficaria bem.
E também tinha a dificuldade de cuidar de um bebê. Quer dizer, Katsuki e eu já ficamos com Fuyuki várias e várias vezes, mas era totalmente diferente passar algumas horas com ele e passar dias. Foi extremamente difícil até eu entender como você deve cuidar de um serzinho tão pequeno daqueles. O que ele pode comer? O que não pode comer? Como trocar a fralda? Como dar banho? Que desenhos ele gosta de assistir? Onde posso levar ele pra passear? Que tipo de brinquedo ele gosta? Que tipo de brinquedo não pode ter de jeito nenhum?
Era uma confusão desgraçada! Comecei a me questionar seriamente de um dia queria mesmo ser mãe, porque se eu já estava surtando com apenas quinze dias, imagina fazer isso, cuidar de alguém dessa forma, para o resto da vida! Parecia realmente impossível.
Com um suspiro, levei meus dedos até os cabelos loirinhos de Fuyuki e fiz carinho. Era tão macio e tão fininho, e ele estava dormindo tão quietinho no meu colo que foi irresistível. Apesar da dificuldade, eu tinha um amor muito grande por essa criança. Fuyuki era tão fofo que me dava vontade de o morder! Queria poder o proteger de tudo o que estava acontecendo e o manter o mais longe possível de todo aquele caos. Não deixaria nada daquilo respingar nele de jeito nenhum! Era uma promessa, e essa eu iria definitivamente cumprir para sempre. O que pudesse fazer para garantir a felicidade dele, eu faria.
Tomei um susto quando escutei a porta se abrir, pois estava perdida demais observando Fuyuki dormir tranquilamente. Katsuki entrou em casa parecendo um furacão, sem nem mesmo me perceber sentada no chão da sala com Fuyuki no colo. Tive vontade de o esganar por fazer tanto barulho assim sendo que Fuyuki estava dormindo, mas acho que o mundo podia desabar que Fuyuki não notaria. Com um suspiro pesado, me levantei e deixei Fuyuki no bercinho da sala, e ele apenas se espreguiçou lá dentro, ainda ferrado de sono. Aquilo me fez sorrir um pouco. Até eu me lembrar do motivo pra eu ter levantado em primeiro lugar.
Fui atrás de Katsuki e o encontrei na cozinha, procurando alguma coisa na geladeira. Apenas cruzei os braços. Nove dias! Nove dias. Minha vontade era de bater nele, ainda mais pois Kirishima tinha sim me dito que esses nove dias podiam facilmente ter sido cinco, mas Katsuki apenas não quis. Porque ele não queria voltar pra casa! Então por que estava aqui agora, hein? Era isso que eu queria perguntar, e queria brigar com ele e falar que estava sendo um babaca egoísta do caralho. Mas também não queria brigar, pois sabia que ele estava triste, apesar de sua tristeza não ser justificativa nenhuma para suas ações.
Quando ele se virou, tomou o mair susto ao me ver parada ali. Depois de tantos anos namorando com ele, aprendi a como chegar de fininho e o pegar de surpresa, que é o que fiz agora. Katsuki quase deixou a garrafa de água cair no chão e seus olhos se arregalaram pelo susto. E depois, ele começou a ficar puto da vida, me olhando irritado. Claro que eu sabia que a irritação era a forma estúpida dele de tentar esconder o quanto estava triste, mas aquela porra não ia funcionar comigo.
-Cala a boca. - falei, erguendo a mão assim que ele fez menção de começar a gritar algum palavrão. -Fuyuki tá dormindo e tudo o que eu menos preciso vindo de você, é que o acorde e o deixe agitado, está bem? Então fique quieto.
-Ah, puta que pariu, Azami! - ele reclamou, parecendo ficar mais puto a cada segundo. Percebi que Katsuki estava com muita vontade de brigar. Ele tendia a ficar insuportável assim quando estava frustrado, mas se ele queria uma discussão, não ia ser comigo que ia ter.
-Tem um corte na sua bochecha, vá dar um jeito nisso pra não infeccionar. - foi tudo o que disse antes de virar as costas pra ele. Katsuki soltou um palavrão e ficou resmungando.
-Você não vai me ajudar?
-Não. Você não tá merecendo absolutamente nada. - retruquei e ele bufou, mas não me importei com isso. Voltei para sala para buscar Fuyuki e subi para o quarto, e ele permaneceu dormindo o tempo inteiro.
Sabia que as coisas não estavam fáceis, mas isso não dava direito a Katsuki de ser um babaca do caralho. A gente tinha se comprometido a cuidar de uma criança! Bem, pelo menos eu tinha. Eu sabia que Katsuki amava Fuyuki, mas não andava demonstrando isso se comportando que nem um adolescente. Sabia que ele não sabia lidar com seus próprios sentimentos, mas era justamente pra isso que a terapia existia!
Coloquei Fuyuki no berço do quarto de hóspedes, onde ele ficava a noite inteira. Sabia que demoraria um bom tempo pra ele acordar de novo, faria isso só de noite quando estivesse com fome. Eu provavelmente não deveria deixar ele dormir de tarde, mas Fuyuki não dormiu nada de madrugada e eu também não. Queria pelo menos uns minutos de paz pra tomar banho, e foi exatamente isso que fui fazer.
Realmente aquela coisa de aproveitar os poucos minutos de silêncio e paz que você tem são muito reais. Nunca fiquei tão feliz na vida quanto fiquei naquele momento só por poder tomar um banho sem ninguém enchendo o saco. A água quente que caia nos meus ombros quase me fez suspirar feliz e eu fechei os olhos com força.
Escutei o barulho da porta do banheiro abrir, mas não precisava me virar para saber que era Katsuki. Eu estava brava demais com ele para me virar e o olhar ou até mesmo ter uma conversa naquele momento. Se ele voltasse a agir como meu namorado e parasse de agir que nem adolescente, ok, a gente podia sim conversar! Mas porra, vinte e oito anos na cara e ficar com comportamento de criança é foda, né.
A porta do box abriu e, no segundo seguinte, as mãos de Katsuki estavam na minha cintura enquanto ele me abraçava e me fazia soltar um palavrão por ter roubado a maior parte da água pra si. Eu abri os olhos, o olhando feio. Mas percebi que boa parte da irritação de Katsuki já tinha sumido.
-Fui um idiota, desculpa. - ele murmurou torcendo o nariz e eu só suspirei, deixando que ele deslizasse as mãos pelas minhas costas em uma carícia suave.
-Sei que tá triste, mas isso não justifica. Pensa no Fuyuki um pouco, Katsuki. - murmurei, afundando os dedos no cabelo dele e ele suspirou.
-Eu tô pensando, Azami. Não quero que ele me veja na minha pior versão. - ele disse e aquilo doeu um pouco. Eu sabia que ninguém estava bem. Queria que as coisas fossem diferentes.
Fechei os olhos e apenas encostei a testa na dele. Não disse mais nada, então ficamos em silêncio e tomamos banho juntos em silêncio. Fuyuki ainda estava dormindo quando Katsuki e eu nos jogamos na cama e ficamos encarando o teto por um bom tempo.
-Preciso da sua ajuda. - admiti depois de um bom, bom tempo, segurando a mão de Katsuki na minha. -Achei que conseguia fazer tudo sozinha, mas não dá. Então, se você puder, por favor, não fique tanto tempo longe.
Katsuki me olhou seriamente e assentiu antes de me puxar para perto de si. Ele beijou o topo da minha cabeça e eu suspirei.
-Tudo bem. Me desculpa. Não vou mais te deixar na mão.
Apenas fechei os olhos e, sem nem me dar conta, cai no sono. E dormi de verdade, algo que não fazia há muitos, muitos dias.
Boa tarde povo bonito! Tudo bem com vocês? Espero que sim!
Um capítulo menos caótico pra vocês não me odiarem tanto <3
Votem e comentem, isso ajuda demais e me deixa mais inspirada a continuar!
Espero que gostem <3
~Ana
Data: 29/12/22
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