𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐄𝐋𝐕𝐄
Não me lembro quando foi a última vez que senti uma raiva tão grande crescendo dentro de mim, me deixando completamente e totalmente cega. Acho que foi na época em que Ichiro tentou destruir tudo o que era mais precioso pra mim, e graças a ele eu consegui acordar uma parte da minha individualidade que sequer sabia que existia. Naquele momento, vendo Shin sair tão em choque, magoado e perdido, eu senti mais raiva do que nunca antes. E mesmo que um dia eu já tenha estado na mesma posição de Fuyuki, isso não anulava o fato de que foi um ano perdido. Um ano achando que meu filho estava morto, um ano sofrendo por isso, um ano me perguntando se eu poderia ter feito algo para mudar isso se eu estivesse lá naquela hora, naquele momento. Um ano fingindo para mim mesma que estava tudo bem, quando claramente nunca esteve. Apenas para, no final, descobrir que meu melhor amigo e minha própria filha passaram um ano me vendo sofrer e não me contaram absolutamente nada.
É. Eu estava cheia de raiva. A força que eu estava tendo que fazer para manter minha individualidade quieta no lugar era absurda, porque tudo o que ela queria era sair de dentro de mim em uma explosão psíquica. Shoto tinha plena consciência disso, e por esse motivo seus braços ao meu redor me apertavam com força em uma tentativa falha de me acalmar. Nada iria me deixar mais calma naquele momento; quando a raiva crescia e transbordava, eu ficava completamente cega. Faziam tanto anos que isso não acontecia que eu julguei ser um problema o qual eu havia superado. Mas eu estava errada.
Azami foi a primeira pessoa a se mexer depois que Shin saiu, sendo seguido pela namorada. O olhar de morte que ela lançou para Fuyuki e Katsuki dizia o suficiente sobre o quão facilmente ela os perdoaria. A mágoa dentro dela mesma era imensa, e não só por ter sofrido com a suposta morte do meu filho, mas sim por ver o filho dela perder todo o rumo da própria vida sem poder fazer absolutamente nada a respeito.
-Azami... - Katsuki começou, mas ela ergueu a mão, o calando. Ela deu um passo para trás, se esquivando dele, as lágrimas do mais puro e mais verdadeiro ódio escorrendo pelas suas bochechas. Ela estava tão, tão desapontada que seus sentimentos me incomodavam. Ela era como um tsunami prestes a destruir tudo na sua frente.
-Não. Eu não quero olhar para você, Katsuki. Não quero escutar o som da sua voz. - ela disse, sem erguer o tom de voz, seus olhos vermelhos cravando em Katsuki como flechas. -Durante praticamente quatorze meses, Shin sofreu como o inferno. Ele entrou em depressão, não tinha absolutamente nada ao que se agarrar. A gente quase perdeu o nosso filho dentro dessa tristeza, você sabia disso? E durante todo esse tempo, você fez parte dessa merda toda. Eu não consigo perdoar você. Eu não quero perdoar você. Chame do que quiser isso que fizeram, de plano, heroísmo, altruísmo, eu não dou a mínima. Vocês quase mataram meu filho no processo e eu nunca, nunca vou perdoar vocês por isso. Fuyuki, se chegar perto do Shin de novo, juro que eu te dou uma surra.
E sem dizer mais nada, sem esperar por uma resposta, Azami simplesmente deu as costas e foi atrás de Shin. Por um tempo, eu apenas observei minha melhor amiga ir embora, percebendo que nossa família tinha acabado de ser destruída no processo. Apesar de toda a tristeza que as palavras de Azami traziam, era a raiva que estava me movendo. E foi a raiva que me fez jogar Katsuki contra a parede quando ele fez menção de ir atrás dela.
-A gente não terminou. - eu falei com um sorriso cheio de ódio, me livrando de Shoto e empurrando Izuku para que saísse da porra do meu caminho. Katsuki teve coragem de rir, me olhando com aquela expressão cheia de deboche que só me dava vontade de esfregar a cara dele no asfalto.
-Você quer lutar, número um? - ele zombou, explosões começando em suas mãos. Eu apertei o punho com ódio; durante anos, o ranking de herói sempre havia oscilado. Mesmo que Izuku claramente fosse o símbolo da paz, não eram todos os anos que ele ficava em primeiro lugar. Às vezes era Katsuki. Às vezes era Shoto. E às vezes era eu. Como naquele ano, graças a tudo o que eu fiz, as montanhas que eu movi em busca de me vingar por uma morte que nunca sequer chegou a acontecer.
Nós dois avançamos, mas, de repente, uma força impediu que continuassemos. Eu sentia uma pressão tão forte no meu corpo que perdi completamente o controle dos meus próprios movimentos, me deixando completamente puta. Eu lancei um olhar cheio de raiva para Fuyuki, que nem mesmo parecia estar fazendo força para nos segurar. Exibido do caralho, era isso o que ele era.
Ataques mentais não funcionavam com Fuyuki. Durante vinte e dois anos, eu o ensinei como se proteger, como cobrir todas as brechas. A mente de Fuyuki era bem mais protegida que a de Shoto, e agora, isso me deixava irritada, porque tudo o que eu queria era fazer com que ele parasse. Tudo o que eu queria era descontar minhas raivas e minhas frustrações em algo, em alguém, mas Fuyuki continuou com a expressão séria, inabalável.
-Já chega disso. - ele disse, baixinho, seus olhos heterocromaticos cheios de mágoa. -A escolha foi minha. Eu obriguei eles a me ajudarem. Como você, uma super heroína, não consegue entender meus sacrifícios? - ele me acusou, me fitando seriamente. -Eu já perdi o suficiente, mãe! Não preciso perder mais. Você teria feito a mesma coisa! Você já fez algo parecido, não foi? Quando entrou na Liga dos Vilões. E meu pai ficou do seu lado, mesmo quando você não tinha contado toda a verdade pra ele! Então por que você não pode ficar do meu?
A pressão da individualidade de Fuyuki diminuiu até sumir, mas eu já não tinha mais vontade de brigar com Katsuki. Eu apenas olhei para meu melhor amigo estúpido, afundando os dedos nos meus cabelos e dando um suspiro.
Desculpa. Falei e Katsuki apenas suspirou, olhando para o céu.
Me desculpa por não ter falado nada, Jean Grey. Não era meu segredo pra contar. Ele retrucou e eu apenas assenti.
-Eu sei. - murmurei. -A Azami, Katsuki...
-Eu sei. - ele falou, torcendo o nariz.
-Ela não vai entender, nem mesmo quando a raiva passar. - eu disse o olhando seriamente. Katsuki deu um suspiro cansado. -Não se esqueça do quanto ela odeia esse nosso mundo. Ela não vai esquecer tão facilmente essa traição, nem o quanto Shin sofreu.
-Tá dizendo que eu perdi ela, Atsuko? - ele disse, me olhando com irritação. Eu fiz uma careta. Bem, sim, eu estava dizendo exatamente isso.
-Bem...
-Não continua. - ele murmurou, me dando um olhar feio. -Eu vou ir atrás dela.
-Não é boa ideia. - eu disse, acompanhada de Shoto e Izuku. Katsuki torceu o nariz.
-Deixa ela se acalmar, Kacchan. Ou você vai tornar as coisas bem piores. - Izuku disse calmamente, mas Katsuki apenas olhou com irritação para ele.
-Então que porra eu deveria fazer? - ele retrucou. Eu apenas balancei a cabeça e puxei uma das únicas cadeiras intactas para me sentar.
-Eu acho que a gente deveria encher a cara. O dia já foi ruim o suficiente, de qualquer forma. - resmunguei.
-Tão lindo o quão felizes vocês estão por eu estar vivo. - Fuyuki disse, cheio de sarcasmo. Eu lancei um olhar para ele que o fez se calar na hora.
Katsuki bufou, mas se sentou do meu lado com uma garrafa de vodka na mão.
É.
Que dia de merda.
Eu não conseguia parar de tremer. Não sei nem como consegui sair da casa da minha madrinha, mas foi só chegar na calçada que estagnei completamente. Meu corpo não queria responder e minha visão estava totalmente embaçada pelas lágrimas que escorriam pelas minhas bochechas. Meu peito doía de um jeito absurdo e eu não conseguia tirar aquele sentimento horrível de dentro de mim. Porque Fuyuki estava vivo, durante todo esse tempo, e eu sofri por nada. Passei noites em claro perguntando pra Deus, pra quem quer que estivesse ouvindo, o motivo de eu estar passando por tudo aquilo. Apenas para descobrir que eu fui feito de palhaço esse tempo inteiro.
Eu afundei as mãos no meu cabelo e puxei com força, querendo sentir qualquer coisa, mesmo que fosse dor. Eu queria voltar pra dentro e dar o soco que Fuyuki merecia tomar. Eu queria ir embora daquele lugar e nunca mais voltar. Eu queria ir pra casa, chorar até me esquecer que aquele dia tinha acontecido. Eu desejei tanto, tanto para que Fuyuki estivesse vivo. E agora tudo isso parecia tão fodidamente errado. Eu me sentia um tolo, eu sentia que tudo o que eu passei, tudo o que eu lutei para superar, tinha significado nada. Quem quer que estivesse controlando minha vida patética, deveria estar se divertindo muito agora.
E ainda tinha aquela carta. Aquela maldita e infeliz carta que Fuyuki deixou pra mim, que tinha destruído cada parte do meu ser. Ele me pediu para seguir em frente e eu tinha feito exatamente isso. Por que? Por que me pedir algo assim quando ele nunca tinha ido embora? Eu sempre soube que Fuyuki nunca me colocaria em primeiro lugar, mas me deixar acreditar por quatorze meses que ele estava morto, me deixar lutando sozinho pra superar aquela dor... Era simplesmente horrível demais. Não era justo. Nada disso era justo.
Eu senti uma mão no meu ombro e me virei, preparado para uma briga. Mas era apenas Lily, me olhando com uma preocupação que terminou de quebrar o que tinha restado dentro de mim. Quão justo era aquilo comigo? Quão justo era com ela? Eu tinha levado ela pra conhecer minha família, apenas pra fazer ela ver de camarote a volta dos mortos da pessoa que mais amei na minha vida. No meio de toda a mágoa, despero e tristeza que eu sentia, também estava a mais profunda vergonha. Porque o olhar que Lily estava me lançando naquele momento me dizia o suficiente sobre o quanto ela entendia o que eu estava sentindo.
Ela não disse nada e eu agradeci silenciosamente por isso. Lily apenas segurou meu rosto em suas mãos e me fitou, tentando de alguma forma me deixar mais calmo. Mas eu seqier conseguia respirsr direito; era como se um peso tivesse sido colocado contra meu peito e quanto mais eu tentava respirar, mais difícil se tornava.
-Você está tendo um ataque de pânico. - ela disse calmamente, colocando uma mão sobre meu peito e a outra nas minhas costas. -Tá tudo bem, Shin. Tá tudo bem.
Não estava tudo bem. Eu sentia como se meu mundo tivesse desmoronado completamente, como se tudo o que me trouxesse conforto tivesse sumido. Era como estar no completo escuro, perdido, sem saber que caminho tomar, para onde ir, o que fazer. Era como estar caindo dentro de um buraco sem fim. Só ficar caindo, caindo e caindo.
-Shin, você não está sozinho. Tá tudo bem. - Lily repetiu, com uma convicção tão grande que quase me fez acreditar. Quase.
-Me desculpa. - eu murmurei, mas ela apenas passou a mão na minha bochecha, tirando algumas lágrimas que estavam ali.
-Está tudo bem. Eu entendo seus sentimentos e eu respeito eles. - ela disse, sua mão segurando a minha com força. -Você tem todo o direito do mundo de se sentir como quiser, Shin. Estar se sentindo péssimo agora não te torna uma pessoa fraca. Muito pelo contrário.
Eu apenas suspirei, apoiando a testa contra a dela e fechando os olhos. Eu queria ir embora. Eu queria contar pra Lily tudo o que eu estava sentindo. Eu queria me afundar dentro de uma cama e não sair nunca mais.
-Shin. - a voz da minha mãe fez eu me virar para ela. E foi ver a mágoa em seus olhos que fez eu me sentir ainda pior.
Não tenho vergonha de admitir que só chorei ainda mais quando minha mãe me abraçou. Não acho que chorar seja errado, ou deixar claro o quão péssimo eu estava me sentindo. Na verdade, reprimir sentimentos sim era a pior escolha possível.
-Vamos pra casa. - ela murmurou, passando a mão pelo meu cabelo. Então, ela se virou para Lily. -Sinto muito que a gente tenha se conhecido assim. Você quer ir com a gente?
Lily apenas me olhou por um instante e deu um meio sorriso.
-Eu vou voltar para o hotel. Acho que nesse momento, não tem espaço pra mim nessa conversa. - ela disse e eu abri a boca para dizer algo, mas Lily apenas apertou minha mão. -Shin, tá tudo bem. Quando você quiser conversar, sobre o que quer que seja, eu estarei no mesmo lugar de sempre, disposta a escutar você.
-Obrigado. E me desculpa. - eu disse, mas ela apenas balançou a cabeça e beijou minha bochecha com força.
-Me liga quando estiver se sentindo melhor. - ela disse antes de se virar e caminhar até o final da rua, onde seu carro estava. Eu apenas afundei os dedos nos cabelos.
-Vamos pra casa. - minha mãe disse, segurando minha mão com força na sua. E eu apenas a segui.
-Acho que perdi ele pra sempre. - falei deitado ao lado de Yumi e Miwa na grama. O bufo de irritação de Mika foi a única coisa que escutei como resposta. Ah, sim, ela definitivamente estava me odiando naquele momento, e eu sinceramente não podia a julgar. Muita gente estava me odiando, de qualquer forma. Minha madrinha, o amor da minha vida, meus pais. Que vidinha de merda. -Estraguei seu aniversário, Yu.
-Na verdade, não. Ver aqueles velhos bêbados é até que engraçado. - ela disse, apontando para os supostos pro heros perto da piscina, onde não tinha um que não estivesse alcoolizado. Até mesmo tio Izuku e a tia Yaoyorozu, o que seria bem engraçado, se não fosse tão trágico. -Você não deveria ter aparecido desse jeito, Fuyuki, de supetão. Mamãe podia ter tido um ataque cardíaco.
-Bem, foi bem pior, ela tentou matar Dynamight. - Miwa zombou e eu torci o nariz. -Você faz escolhas muito duvidosas, Fuyu.
-Fiz o que tinha que fazer. - eu reclamei. -Mas parece que ninguém entende isso. Caramba, ser super herói é ter que fazer sacrifícios, mesmo quando você odeia a ideia. Você entende isso, Miwa?
-Claro que eu entendo. É só por isso que não estou te odiando por ter mentido por quatorze meses. Sabe, Shin e seus pais não foram os únicos que sofreram com sua "morte", Fuyuki. - ela disse seriamente e eu apenas fiz uma careta. -Você é meu melhor amigo. Quando achei que tinha morrido, uma parte de mim morreu junto.
-Desculpa, Mi. - eu falei com um suspiro, mas ela apenas segurou minha mão com força na sua.
-Tá tudo bem, panaca. De fato, eu entendo seus motivos.
-Eu não. - Mika retrucou, e dava pra sentir a irritação dela de longe. -E sabe o que entendo menos ainda? Você, Yumi. Vendo Shin sofrer da forma que sofreu e ficar sem fazer nada!
-Mika, pelo amor de Deus... - Yumi começou, mas Mika levantou e a cortou.
-Não! Ele é nosso melhor amigo, porra. Shin entrou em depressão! E sabe quem foi a única pessoa que ajudou ele a sair dela? Isso ai, a Lily. - Mika disse, olhando com irritação para nós. Eu fiquei calado. E Yumi apenas a olhou. -Isso é tão fodidamente injusto!
-Ah, você acha que eu tô super feliz, né, Mika. - falei com sarcasmo, me sentando. -Tô super satisfeito de ver o cara que eu amo com outra pessoa. Tô super feliz porque fiz ele sofrer pra caralho!
-Não perguntei seus sentimentos, Fuyuki. - Mika disse, apontando pra minha cara. -Você não é o centro do universo. Isso é sobre Shin e sobre o como ele se sentiu e eu te garanto, ele se sentiu péssimo. Você mandou ele seguir em frente e isso foi fodidamente difícil pra ele. E quando Shin finalmente encontra uma pessoa legal, que entende ele, que é gentil e carismática, você aparece pra virar a vida dele de ponta cabeça de novo, sério mesmo? Isso é fodido, até mesmo pra você. E, sim, sinto em te dizer, mas você perdeu Shin pra sempre. Ele não vai conseguir te perdoar por isso, mesmo que talvez acabe entendendo seus motivos. Você destruiu uma parte dentro dele que jamais vai voltar pro lugar. O relacionamento de vocês nunca mais vai ser o que era antes.
Escutar aquilo era como tomar um soco no estômago, por mais verdade que fosse. Eu apenas suspirei e voltei a me deitar, afundando os dedos nos meus cabelos que agora tinham uma cor de cobre. Eu apenas fechei os olhos, desejando imensamente poder voltar no tempo. E fazer tudo diferente.
Boa tarde povo bonito! Tudo bem com vocês? Espero que sim!
Um capítulozinho mais cheio de cloro pra vocês <3 prometo que em algum momento eu forneço uns refrescos
Votem e comentem, isso ajuda demais e me deixa mais inspirada a continuar!
Espero que gostem <3
~Ana
Data: 22/02/23
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