Shin me olhou e olhou, sem nem sequer saber o que falar. Não dava pra dizer que eu não entendia, todos da minha família ficaram exatamente desse jeito quando descobriram o que tinha rolado comigo. É, no final das contas, morar nos Estados Unidos e viver o "sonho americano" não tinha sido exatamente muito bom pra mim. De qualquer forma, aquele fato de que eu não ia durar até o ano que vem era algo que eu já tinha aceitado. O que mais eu podia fazer, afinal? Se nem mesmo a individualidade de Eri tinha funcionado, então não restava muitos lados para onde correr.

-Foi o efeito de uma individualidade de um vilão que Dylan e eu lutamos. - esclareci, mesmo que Shin não tenha perguntado. Ele continuava olhando fixamente para a marca deixada pela individualidade no meu peito, que crescia a medida que ela se alastrava dentro de mim. O que os médicos disseram é que quando aquilo chegasse no meu coração, iria o parar e eu iria morrer. Era simplesmente tão patético; eu tinha fingido minha morte e agora ia morrer de verdade. Valeu, universo! O karma é real. -Não sabemos como reverter já que a única pessoa que sabia tá morta. No caso, o próprio vilão. A única coisa que ele disse antes de, sabe, ir de arrasta pra cima, é que o único jeito de acabar com o efeito é "aquilo que heróis nunca vão ter", seja lá o que isso significa. - eu dei de ombros, como se não fosse nada demais, mesmo que eu soubesse que era uma puta de uma informação e um baque pra Shin. Eu só realmente queria que aquilo fosse tão irrelevante quanto eu fazia parecer.

Os dedos gelados de Shin tocaram minha pele, me fazendo estremecer. Ele contornou de leve aquelas marcas, seu olhar não revelando nada do que estava sentindo naquele momento.

-Machuca? - ele perguntou, baixinho. Eu apenas neguei. Shin ergueu os olhos até os fixar nos meus, me olhando seriamente. -Mas que porra, Fuyuki.

Eu dei risada, o que só fez Shin me olhar feio. Aquilo me divertiu um pouco mais.

-Não é engraçado, seu babaca. Isso é muito sério, na real! - ele reclamou e eu dei um sorrisinho para Shin.

-Eu sei, mas não tem muito o que possa ser feito. Quer dizer, claro, a gente tá tentando descobrir o que caralhos pode parar o efeito dessa individualidade. Mas acho que eu meio que sempre soube que algo assim podia acontecer pra valer. - falei, dando de ombros. Shin suspirou, afundando os dedos no cabelo e o deixando ainda mais bagunçado. -É por isso que não dá pra gente ficar junto de novo. Não posso te arrastar para o problema que eu sou mais uma vez.

O olhar que ele me lançou fez parecer que eu tinha acabado de matar a mãe dele ma sua frente. Shin me olhou incrédulo, completamente perplexo, como se nunca tivesse escutado tanta merda quanto naquele momento, o que me fez torcer o nariz em uma careta.

-Você tem algum problema? - ele disse, dando um puxão no meu cabelo que me fez chiar de dor. Eu torci o nariz e Shin revirou os olhos. -Fuyuki, eu falei sério. Você tá louco se acha que eu vou mudar de ideia.

-Você vai sofrer de novo, idiota. - eu reclamei, apontando para cara dele. Shin deu um tapa doloroso na minha mão. -Por que você é tão teimoso, porra?

-Fuyuki, a decisão é de quem? Minha. Você realmente acha que vou deixar você, ainda mais sabendo dessa bosta que sua vida se tornou? - ele disse e eu fiz uma careta. -Bom, eu não vou voltar atrás. Eu continuo amando você, mesmo que você seja um completo idiota.

Eu suspirei. Conhecia Shin muito bem, principalmente aquela determinação idiota dele. Ele não ia abrir mão do que queria, mesmo que eu claramente estivesse morrendo! Por que caralhos eu fui falar? Teria sido mais fácil mentir e dizer que não queria ele de volta. Mas no final das contas, eu era sim muito egoista. E não conseguiria abrir mão de Shin fácil assim, mesmo sabendo que era a coisa certa a fazer, porque a chance de acharem uma forma de me fazer sobreviver a aquela merda de individualidade era mínima. Eu sabia muito bem disso.

-Você sabe que a gente não deveria fazer isso. - eu avisei, olhando Shin seriamente. -Eu não quero que você sofra de novo por mim, Shin.

-Sinceramente, Fuyuki, eu vou sofrer bem mais se você morrer e eu tiver passado o tempo que podíamos ter juntos sem ficar do seu lado. - ele disse, afundando mais os dedos no meu cabelo. Eu apenas suspirei, derrotado, fechando os olhos e me inclinando para apoiar a testa na dele. -Eu não vou desistir tão fácil assim de você, Fuyu. E se acha que vou te ver morrer sem fazer absolutamente nada, está enganado.

Eu dei um sorrisinho, balançando a cabeça.

-Senti falta do quão cabeça dura você é. - eu disse, apenas para receber um beliscão em resposta. Aquilo não me abalou em nada, apenas me fez rir um pouco mais.

-Por favor, para com seu altruísmo de herói pelo menos uma vez. - Shin murmurou, segurando meu rosto com força e me obrigando a olhar no fundo dos seus olhos. -Não preciso que você tente me poupar e me salvar da dor, Fuyuki. Eu só quero que você fique do meu lado. Então me deixa ficar com você até quando der.

Eu assenti, piscando os olhos para afastar as lágrimas que surgiram nos meus olhos. Shin estendeu a mão e tocou meu rosto, fazendo um carinho suave que me fez suspirar e fechar os olhos.

Eu tinha sentido muita falta de Shin. Muita falta mesmo. Eu jamais ia ser capaz de o esquecer ou de cogitar a ideia de ficar ao lado de alguém que não fosse ele. O que acontecia era passatempo; a única pessoa que me fez sentir algo de verdade, durante praticamente vinte e cinco anos da minha vida, foi ele. Não tinha sentido em ficar fugindo da pessoa que eu mais amava no mundo. Eu estava cansado de colocar tudo acima da minha própria felicidade. Não faria mais isso.

-Tá bom. - eu disse por fim, olhando para os olhos vermelhos de Shin. Ele abriu um sorriso pra mim e, porra, eu amava o ver sorrindo. Era uma das coisas mais bonitas do mundo, e eu facilmente poderia ficar o admirando para o resto da noite.

-Obrigado. - ele disse, me fazendo rir. Shin apenas agarrou minha cintura, me puxando para perto de si. E sua boca grudou na minha sem hesitação.

Eu poderia ficar beijando Shin pelo restante da noite que não acabaria com toda a saudades que eu vinha sentindo dele. Eu sabia que nunca ia conseguir recuperar todo o tempo que tínhamos perdido, mas eu estava feliz por ter ele de volta nos meus braços. Meu coração batia tão forte dentro do peito que fazia eu me sentir como um adolescente idiota de novo. Shin tinha esse incrível efeito sobre mim, de deixar as coisas mil vezes mais leves e definitivamente bem, bem mais fáceis. Eu sabia que minha vida estava uma bela merda naquele momento já que eu estava staba, né, morrendo, mas eu não estava exatamente me importando com isso, porque tudo o que eu mais precisava eu tinha acabado de conseguir de volta.

-A gente podia ir embora daqui. - Shin murmurou contra minha boca, deslizando as mãos para dentro da minha camiseta me fazendo estremecer com seu toque e soltar um suspiro baixinho.

-Você tá doido? - falei, fechando os olhos com força ao sentir a boca dele contra meu maxilar, descendo lentamente até o meu pescoço. -É sua festa de formatura. Se você for embora antes de acabar, seus pais definitivamente vão matar você.

-Eu nem ligo pra essa festa, Fuyuki. Só foi útil porque foi uma ótima desculpa pra te ter de volta. - ele retrucou e, puta que pariu, o jeito que ele disse isso fez todos os meus pelos se arrepiarem. Eu odiava o efeito desgraçado que Shin tinha sobre mim, mas não era como se eu fosse capaz de evitar. No fim das contas, eu era um grande idiota completamente e totalmente apaixonado por ele.

-Você acaba comigo, sabia disso? - eu resmunguei, afundando os dedos no cabelo dele e o puxando de leve até que os olhos vermelhos de Shin encontrassem com os meus. Ele me deu um sorrisinho.

-Eu tô bem ciente disso. - ele riu, me fazendo torcer o nariz com sua imensa audácia.

Eu voltei a beijar Shin porque no fim das contas, eu também estava cagando para aquela festa. O único motivo para eu ter ido nela para começo de conversa estava bem ali na minha frente, dizendo que queria ir embora comigo. Então, é, eu não estava nem aí e não estava interessado em voltar para dentro. Ainda mais quando sabia que nossa família cheia de curiosos ia querer saber o porque demoramos um século pra voltar. Não que estivéssemos tentando esconder o óbvio, de qualquer jeito.

-Olha só, que divertido. - meu Deus, eu odiava aquela voz. Senti vontade de usar minha individualidade para matar Dylan, principalmente ao notar o tom cheio de malícia dele. Com minha maior cara de cú, me afastei o suficiente de Shin para o fitar, vendo um sorriso pervertido no rosto daquele desgraçado do caralho. -Posso participar?

-Não. - eu retruquei, sem nem mesmo hesitar.

-Pode. - Shin disse ao mesmo tempo, me fazendo piscar os olhos e o encarar, totalmente perplexo. Shin deu de ombros e eu tive vontade de dar um tapa em sua testa, principalmente quando Dylan deu uma risada e fez menção de se aproximar.

-Nem mesmo ouse. - ameacei, olhando com minha melhor cara feia para Dylan. -Fica bem longr daqui, seu merdinha.

-Ah, para de ser ciumento. - ele retrucou, cruzando os braços e dando um sorrisinho. -Você precisa aprender a dividir, Fuyuki.

-Vai tomar no meio do seu cú. - eu respondi, mostrando o dedo do meio para ele. Aquilo fez Shin rir, mas só serviu para fazer o sorriso de Dylan crescer ainda mais. -Se você falar o que está pensando, juro que vou te quebrar na porrada e nem sua mãe vai te reconhecer.

Ele ergueu as mãos em sinal de rendição e deu risada.

-Ei, só se vive uma vez, e você já tá indo de vala mesmo. - Dylan disse e, então, arregalou os olhos, se tocando da presença de Shin. Eu bufei.

-Ele já sabe, relaxa. - eu resmunguei. Shin fez uma careta.

-Como conseguem zoar com isso, sério? - Shin censurou e Dylan riu, dando de ombros. Eu dei de ombros também. Era piada, ué, fazer o que. Tão patético que chegava a ser engraçado.

-Eu só vim avisar que estão procurando vocês. Deveriam ser mais discretos, sabe. Vocês dois são muito óbvios. - ele riu, me fazendo revirar os olhos. Shin segurou minha mão, me puxando junto com ele e eu suspirei.

-A gente vai dar um jeito nas coisas juntos, Fuyuki. - Shin sussurrou, dando um beijo carinhoso na minha bochecha. E eu sorri que nem um idiota.

É. Eu podia morrer amanhã, mas pelo menos eu ia morrer feliz pra um caralho.

Um capítulo mais na paz pra vocês pararem de me odiar, bjos
Os próximos vão demorar mais pra sair por motivos de que dia de semana eu sou muito atarefada infelizmente, odeio a vida adulta :')
~Ana

Data: 27/02/23