𖤍𖡼↷ 𝐄𝐒𝐏𝐄𝐂𝐈𝐀𝐋
Eram poucas as coisas as quais eu podia afirmar com certeza nessa vida, mas eis aqui algumas delas:
1) Não é fácil levar uma vida como herói profissional e posso te garantir isso por uma sequência infinita de motivos, mas vamos apenas ressaltar o fato de que quase morri uma parcela significativa de vezes. Isso por si só já é motivo o suficiente para desencorajar a maior parte das pessoas, mas devo admitir que sempre tive um fraco por situações que facilmente poderiam destruir tudo o que eu mais prezo.
2) Levar uma vida de casado não é nem um pouco fácil. Na verdade, acho que isso consegue ser mil vezes mais difícil do que ser herói, e olha que eu literalmente estive a beira da morte muitas e muitas vezes com essa profissão. Mas levar uma vida ao lado de outra pessoa é um desafio muito maior, e não importa se você conhece a pessoa a vida inteira, não deixa de ser difícil.
3) Shin Bakugo era a pessoa mais teimosa e difícil de lidar que eu já tinha conhecido na vida inteira. Sim, eu o amava desde que me entendia por gente, mas isso definitivamente não tornava a convivência mais fácil. Mas eu tinha que admitir que Shin era ótimo em disfarçar a personalidade horrível herdada de meus padrinhos, pois ele se passava muito bem como bonzinho, mas é só deixar a toalha molhada na cama que ele vira um dos seres mais difíceis com os quais já lutei contra antes. Pois é, eu amava Shin desde que ele nasceu, mas, minha nossa, morar com ele e dividir uma vida com ele era particularmente difícil.
-Shhh, não faz barulho, Tobias. - falei baixinho, acariciando o pelo do golden ao meu lado para que ele se mantivesse em silêncio enquanto nos escondiamos do lado da máquina de lavar. Eu podia escutar o barulho de Shin atirando o que pareciam panelas na pia, provavelmente muito puto comigo por não ter colocado a louça suja dentro da pia. Ele podia me julgar?! Eu tinha chego tarde e estava simplesmente exausto! É claro que esqueci que tinha que lavar a louça, acontece. -Ele também vai ficar bravo com você quando descobrir que comeu o tênis favorito dele. - resmunguei para o cachorro, que parecia ter me entendido já que se encolheu um pouco mais do meu lado. Não sei quem estava mais aterrorizado com o barulho dos passos próximos, se era eu ou o pobre cachorro que Shin e eu adotamos dois anos atrás.
De todas as coisas as quais já enfrentei nessa vida, poucas eram capazes de fazer meu coração acelerar tanto quanto estava naquele momento. Efeito que apenas Shin conseguia causar em mim, eu supunha, e não era exatamente medo, mas sim uma mistura de apreensão e adrenalina que sempre me atingia quando sabia que ele estava prestes a me encontrar no meio de alguma enrascada. Sim, eu tenho noção de que eu tendo a escolher sempre as piores opções possíveis e o como isso irrita profundamente meu marido desde sempre, mas, ei, acho que faz parte do meu jeitinho único de ser, né?
Os passos de Shin estavam cada vez mais e mais próximos de nós e Tobias encolheu-se ainda mais ao meu lado, como se soubesse que estava em apuros tanto quanto eu. Eu respirei fundo, me preparando para o que estava por vir. Terror puro, desespero e caos. Fugir de Shin era tão impossível quanto fugir de uma missão perigosa. Ele sempre me encontrava, de um jeito ou de outro.
Antes que pudesse pensar em uma desculpa plausível, a porta da lavanderia se abriu e lá estava ele, com uma expressão que misturava frustração e algo que parecia diversão, embora ele tentasse disfarçar. E, como sempre, Shin estava incrivelmente lindo. Era óbvio que estava cansado depois de mais um plantão no hospital veterinário em que ele trabalhava, mas nem mesmo isso tornava Shin menos atraente e, merda, mesmo que estivéssemos juntos há tantos anos, eu continuava perdidamente apaixonado por ele. Eu o amava tanto que às vezes achava que meu coração iria sair para fora.
-Fuyuki, de todos os lugares possíveis e imaginários, você foi se enfiar logo na lavanderia? - Shin perguntou, cruzandos os braços e arqueando uma sobrancelha, claramente se divertindo com meu claro desconforto. Maldito. Ele amava com todas as forças me provocar, por que Shin era um maldito. -Meu amor, você é tão previsível. - Eu tentei sorrir, embora soubesse que estava em apuros. Esses genes da família Bakugo eram complicados demais!
-Não é o que parece... - Comecei, mas sem fazer menção de me levantar, pois eu não queria ser assassinado pelo meu marido. Seria uma péssima forma de morrer, isso é um fato. Shin arqueou uma sobrancelha, inclinando-se ligeiramente para me encarar melhor.
-Ah, não? Então o que exatamente parece? Porque, do meu ponto de vista, parece que você está se escondendo de mim depois de deixar uma pilha de louça suja e deixar nosso cachorro devorar meu tênis.
-Eu estava... meditando? - sugeri, sabendo que era uma desculpa terrível. Tobias soltou um pequeno ganido, quase como se estivesse rindo de mim, como se sentisse que eu seria morto por aquele passo em falso. Shin, no entanto, pareceu achar graça, balançando a cabeça como se eu fosse um grandíssimo idiota. Não tenho dúvidas de que ele pensa isso e já faz uma quantidade significativa de anos.
-Meditando. Claro, amor. Acho que vou precisar meditar também, especialmente depois de lidar com essa bagunça que você deixa por onde quer que passe. - ele disse e, apesar de estar calmo, eu conhecia muito bem aqueles olhos vermelhos que estavam cravados em mim, eu sabia que viria uma merda grande em algum momento. Estava preparado para rajada.
Mas Shin apenss se aproximou, ajoelhando-se ao meu lado e estendendo a mão para Tobias, que imediatamente começou a lamber seus dedos em um pedido silencioso de desculpas. Shin afagou a cabeça do cachorro antes de olhar para mim, sua expressão suavizando um pouco.
-Você sabe que não precisa se esconder, certo? - disse ele, sua voz mais calma agora. -Eu posso ficar irritado, mas não sou um monstro, seu idiota. - Eu dei risada e estendi uma mão para segurar o rosto dele entre meus dedos. Shin suspirou, fechando os olhos por um instante, apreciando o toque quente contra sua pele gelada.
-Eu sei, Shin. Só queria evitar um sermão e talvez ganhar alguns minutos de paz antes de enfrentar a bombinha que você é. - Ele riu, um som que eu amava tanto e que sempre fazia meu coração bater mais forte.
-Bombinha é meu pai. Eu acho que tô mais pra estalinho. - ele disse com um meio sorriso. Eu ri, puxando Shin para mais perto de mim até que minha boca estivesse pressionada contra a dele. Não importava quanto anos se passassem, eu continuaria sentindo como se fôssemos adolescentes descobrindo o que era se apaixonar, descobrindo o que era beijar e como ter um relacionamento.
Passamos por tanto juntos, altos e baixos, dificuldades e felicidades, e continuamos aqui, um ao lado do outro. Shin era a luz da minha vida e eu nunca tive dúvidas de que era com ele que eu queria construir uma vida. Por Shin, eu abriria mão de tudo: da minha carreira, da minha vida, de tudo, pois sem ele, nada fazia sentindo. Era por Shin que eu enfrentava cada obstáculo, era por ele que eu fazia cada maldita coisa. Sem Shin, nada parecia ter sentido. Eu sempre soube que era ele, que nunca existiu mais ninguém em meu coração, e ter casado com Shin foi a decisão mais certeira que já tomei. Eu não tinha grandes certezas em relação ao resto de minha vida, mas nuncs tive dúvidas quanto a Shin. Eu o amava tanto, tanto, que chegava até a ser um pouco patético.
-Eu amo tanto você. - eu disse em um sussurro, beijando sua boca, sua bochecha, seu maxilar, seu pescoço. Shin riu, desistindo de me fazer levantar para sairmos da lavanderia e se sentando no meio das minhas pernas.
-É mesmo? Que sorte sua, Fuyuki. - ele disse, o nariz roçando no meu de leve. -Porque também amo muito você. Pois é, não da pra ser perfeito em tudo, eu tinha que ter esse desvio de personalidade. - ele brincou com uma risada e eu dei um beliscão leve em sua barriga. Aquilo só o fez rir mais uma vez, e vê-lo daquela forma fazia uma espécie de calor preencher meu peito.
Shin e eu passamos por muita, muito coisa juntos. Há quatro anos atrás, quando nos casamos, eu quase morri em seus braços. Minha mãe decidiu se sacrificar por mim e eu quase a perdi também. A dor de tudo isso foi tamanha que eu me perguntava de em algum momento tudo poderia voltar ao normal, se seríamos felizes novamente. Era uma pergunta meio idiota, pois é claro que eu seria feliz novamente, pois eu tinha Shin. Era impossível não ser feliz ao lado dele e, quando minha mãe finalmente saiu do coma, há um ano atrás, tudo pareceu se encaixar definitivamente em nossas vidas. É, eu sabia que era impossível que tudo fosse feliz e perfeito para sempre, principalmente quando eu era um herói profissional, mas o que nós tínhamos bastava para mim.
Eu não precisava de grandes coisas, no fim das contas. Apenas do meu cachorro, da minha casa e do meu marido lindo e perfeito. É, eu tomei muitas decisões duvidosas e erradas na minha vida e aconteceu muita merda, mas, o que importa, é que tudo deu certo no final. Shin é meu final feliz. Eu não poderia sequer sonhar com algo melhor do que isso que construímos um ao lado do outro.
Shin sorriu contra meus lábios, aquele sorriso suave que ele reservava apenas para mim, e eu senti meu coração derreter. Ele se inclinou, aprofundando o beijo, suas mãos deslizando para segurar meu rosto com delicadeza, como se eu fosse algo frágil e precioso. Nossos corpos se ajustaram, se encaixando perfeitamente como duas peças de um quebra-cabeça que só faziam sentido juntas.
Meus dedos se enroscaram nos fios macios dos cachos de seu cabelo, puxando-o para mais perto enquanto o calor entre nós aumentava. A maneira como Shin me tocava, com uma mistura de urgência e ternura, sempre me deixava sem fôlego. Era como se ele estivesse me marcando, me lembrando de que eu era dele tanto quanto ele era meu. Não existia espaço para nara além disso, nenhum outro sentimento seria tão intenso e verdadeiro quanto aquele que compartilhavamos. Eu tentei achar conforto em outras pessoas quando nos separamos e sei que Shin também, mas nunca funcionou, pois a realidade é que Shin era minha alma gêmea e ninguém mais fazia sentido em minha vida que não ele. Não importava que tivéssemos tentado nos enganar dessa forma pois sempre foi ele e sempre seria ele.
Tobias, percebendo que sua presença não era mais necessária, se levantou e saiu da lavanderia, deixando Shin e eu sozinhos naquele espaço pequeno e íntimo. Eu mal percebi, pois estava focado em Shin, na maneira como sua boca percorria a minha de forma quase que faminta, como se não me visse há anos, em suas mãos explorando meu corpo e fazendo minha pele queimar por onde ele tocava, em seus lábios que não paravam de me beijar daquela forma que arrancava os suspiros mais profundos de mim. Shin afastou-se apenas o suficiente para olhar nos meus olhos, seu rosto vermelho e seus lábios inchados.
-Fuyu... - Ele sussurrou meu nome, e a maneira como o fez, cheia de amor e desejo, fez com que uma onda de calor atravessasse meu corpo. Não importava o quanto já conhecêssemos cada detalhe um do outro, eu jamais conseguiria deixar de admirar cada traços do meu marido.
-Shin... - Eu murmurei de volta, puxando-o novamente para mais perto, até que ele tivesse sentado no meu colo. Não havia necessidade de palavras entre nós. Tudo o que sentíamos, tudo o que éramos um para o outro, estava naquele momento, nos toques, nos beijos, nas respirações entrecortadas que preenchiam o silêncio.
Nossos movimentos eram suaves e lentos, cada toque, cada carícia, carregava o peso de anos de amor e cumplicidade. Não havia pressa, apenas o desejo de aproveitar cada segundo juntos, de nos perdermos um no outro como tantas vezes antes. O mundo lá fora podia ser caótico e imprevisível, mas aqui, nesse pequeno espaço, só existíamos nós dois. E isso era tudo o que precisávamos.
Shin me empurrou levemente contra a parede da lavanderia, seus lábios se movendo para explorar meu pescoço, depositando beijos suaves que me faziam arrepiar. Suas mãos estavam em meu peito, descendo lentamente enquanto seus dedos deslizavam por baixo da minha camisa, tocando minha pele quente. Cada toque de Shin me fazia suspirar, e eu me encontrava desejando mais, ansiando por mais. Eu puxei sua camisa até que ele tirasse, os dedos deslizando por sua pele pálida e pela tatuagem ali, sentindo o calor de seu corpo contra o meu. Meu coração batia descompassado, e eu podia sentir o dele ecoando na mesma intensidade. Era como se nossos corpos estivessem sincronizados, movendo-se em perfeita harmonia.
Eu deslizei minhas mãos por suas costas, puxando-o ainda mais para perto, eliminando qualquer espaço entre nós. Shin gemeu contra minha pele, um som que me fez perder o controle. Eu queria tudo dele, cada pedaço, cada suspiro, cada gemido.
-Nós deveríamos ir para o quarto. - eu sussurrei, tentando manter alguma racionalidade, mas minha voz estava rouca. Shin se afastou apenas o suficiente para olhar nos meus olhos, um sorriso brincando em seus lábios.
-Ou podemos continuar aqui mesmo. - ele sugeriu, sua voz suave, mas carregada de intenção. Eu ri, puxando-o para outro beijo apaixonado.
-Você sempre tem as piores ideias e todos juram que você é um santo, né? Você é muito falso. - murmurei contra seus lábios. Shin pressionou seus lábios contra os meus, aprofundando o beijo enquanto suas mãos exploravam cada centímetro do meu corpo. Eu me perdi completamente na sensação de seus dedos, na forma como ele sabia exatamente onde me tocar, onde me fazer suspirar.
Seus dedos deslizaram pelo meu abdômen, provocando uma onda de calor que se espalhou por todo o meu corpo. Eu arqueei as costas, buscando mais de seu toque, enquanto minhas mãos deslizavam pela sua cintura, puxando-o ainda mais para mim. Nossos corpos estavam perfeitamente encaixados, e a sensação de estar tão perto dele me deixava em êxtase.Shin interrompeu o beijo, apenas por um momento, para olhar nos meus olhos. Seus olhos brilhavam com uma intensidade que fazia meu coração acelerar ainda mais.
-Fuyuki. - ele sussurrou, sua voz carregada de desejo. -Eu te amo muito. - Aquelas palavras simples, mas cheias de significado, me atingiram como uma onda de calor. Eu sorri, tocando seu rosto suavemente.
-E eu amo você, Shin. Mais do que tudo.
Ele sorriu, aquele sorriso que sempre me fazia derreter, antes de me beijar novamente. Dessa vez, o beijo era mais lento, mais profundo, como se quiséssemos saborear cada segundo. Nossas respirações se misturavam, nossos corações batendo em uníssono enquanto nos entregávamos completamente um ao outro. Eu deslizei minhas mãos para seus quadris, segurando-o com firmeza enquanto o guiava para se sentar sobre mim, nossos corpos se alinhando perfeitamente. Shin ofegou contra meus lábios, suas mãos se agarrando aos meus ombros enquanto ele se movia levemente, provocando sensações que me deixavam tonto.
Com um movimento suave, eu o deitei no chão da lavanderia, cobrindo seu corpo com o meu enquanto nossos lábios se encontravam novamente, em um beijo que era ao mesmo tempo feroz e terno. Eu queria mostrar a ele, em cada toque, em cada beijo, o quanto ele significava para mim. E sabia que Shin entenderia exatamente tudo aquilo que eu não conseguia expressar em palavras.
Sendo honesto, eu não queria sair de casa por uma sequência infinita de motivos, e olha que nem estava considerando o fato de eu estar teoricamente de férias (teoricamente mesmo já que infelizmente heróis nunca conseguem tirar férias de verdade, a gente só finge que sim). No topo da lista, estava o fato de que era o dia de folga de Shin e eu queria passar o dia todinho agarradinho com meu marido, desligar o celular e não precisar me preocupar com mais absolutamente nada. Mas a vida não era exatamente justa, e hoje era aniversário de dezoito anos da única prima que Shin tinha, e eu sabia que ele não ia querer perder isso.
A família da minha madrinha sempre foi meio complicada. Eu não sei muito sobre, mas sei que ela saiu de casa muito nova para morar com a namorada e noiva, mas tudo saiu um pouco do controle quando ela morreu e minha madrinha ficou completamente sozinha. A única pessoa que Shin conhece de sua família por parte de mãe, é seu tio, o irmão mais novo da minha madrinha e única pessoa com quem ela ainda tem contato. Ele só conhece os avós por parte de pai, então Shin não tem uma família muito grande. Basicamente minha família sempre foi a família dele, muito antes de sequer namorarmos já que meus pais são padrinhos dele. E, honestamente, não é como se minha família fosse muito funcional já que minha mãe acabou com a vida de seu pai e meu avô paterno, o grandíssimo Endevor, sempre foi uma péssima figura paterna, mais deixando meus pais e tios traumatizados do que qualquer outra coisa.
Pois é.
Família complicada.
Acho que não podia julgar Shin por querer participar do aniversário de sua prima e ver seu tio. Eu tinha uma quantidade significativa de primos já que a tia Fuyumi tinha três filhos e o tio Natsuo tinha dois. Tio Akira foi o espero, ele decidiu não ter nenhum, e a vida dele definitivamente parecia muito mais feliz viajando pelo mundo com sua esposa e minha vó materna agora que ele era um herói aposentado. Algumas pessoas são inteligentes. Diferente de meus pais, que na falta de um filho, decidiram ter dois. Poxa, eu seria muito mais feliz se fosse filho único e não tivesse Yumi enchendo meu saco. Eu teria crescido e me tornado uma pessoa melhor, tenho certeza!
Mas a vida tinha outros planos, e cá estamos nós, Shin e eu, nos arrumando para o aniversário da prima dele. Enquanto colocava minha camiseta preferida (que obviamente era da melhor heroína de todas, vulgo Psique), vi Shin se aproximar por trás, deslizando os braços ao redor da minha cintura e encostando o queixo no meu ombro. Ele estava lindo, como sempre, com um sorriso suave que fazia meu coração acelerar um pouco mais rápido.
-Obrigado por vir comigo, Fuyu. Sei que você preferiria passar o dia em casa, mas significa muito pra mim ter você comigo. - ele sussurrou, beijando minha bochecha. Soltei um suspiro, virando-me para encará-lo. Eu sabia que nem sempre conseguia ser presente em eventos como aquele na vida de Shin, porque a vida de herói consumia boa parte do meu tempo. Mas, sempre que eu pudesse, eu faria qualquer coisa por ele. E acho que no fundo Shin sabe disso.
-É claro que eu iria, Shin. Você sabe que faria qualquer coisa por você. - Apertei suas mãos nas minhas, sentindo o calor reconfortante que sempre parecia acalmar minhas preocupações. -Além disso, sou sua família. E isso significa ir a festas de aniversário e lidar com primos e tios e qualquer coisa assim. - Ele riu suavemente, balançando a cabeça.
-Eu sei que você gostaria de fazer outras nil coisas, mas prometo que não vamos demorar. Só preciso ver minha prima e meu tio por um tempo. Depois disso, podemos voltar para casa e fazer o que você quiser.
-Essa é uma promessa que eu vou cobrar. - brinquei, inclinando-me para um rápido beijo antes de pegar as chaves. -Vamos lá antes que eu mude de ideia.
Eu tinha visto a prima mais nova de Shin nas datas comemorativas ou quando ia visitá-lo e ela estava lá. Antes de Shin e eu namorarmos, Aimi era um pé no saco comigo porque ela achava que eu estava tentando roubar seu primo mais velho (e mais legal, segundo ela) dela, o que fazia essa pirralha infernizar minha vida. Quando ela percebeu que o que eu queria com Shin não era exatamente amizade, ela decidiu que me amava, principalmente quando eu virei um herói profissional mundialmente famoso. Bem espertinho ela, sim, e pelo menos tinha bom gosto em ter se tornado minha fã. Sou muito bom em tudo o que faço, eu sei.
A casa do tio dele, Shizuko, não era muito longe de onde Shin e eu morávamos. Mesmo assim, fomos de carro, porque honestamente eu já tinha um trabalho incrivelmente exaustivo e não estava nem um pouco afim de ter uma caminhada na rua em um dia gelado e sem graça como aquele. Que pena para Aimi fazer sua festa de dezoito anos em um dia tão feio e triste.
Quando Shin e eu chegamos a festa já estava em seu auge. Fiz uma careta e me perguntei seriamente como minha madrinha se sentiria quando chegasse ali com aquele som absurdamente alto. Provavelmente ela arrancaria o aparelho auditivo pelo restante da noite e ficaria bem estressada. E eu, como um ótimo afilhado e genro, daria risada de sua desgraça. Me perguntava se ela de fato iria, mas acho que ela não ia perder os dezoito anos de sua sobrinha, mesmo que minha madrinha nunca comparecesse a festas de família já que sempre evitava possibilidades de encontrar seus pais. Bom, acho que agora que ela sabe que o pai dela morreu, não exista mais tantas ressalvas assim.
-Shin! Que saudades! - Aimi disse de forma animada assim que abriu a porta de casa. Ela era incrivelmente parecida com o pai, os mesmos cabelos pretos e olhos vermelhos que parecia um traço característico da família da minha madrinha. Fazia um bom tempo que eu não a via, e admito que fiquei um pouco surpreso ao me dar conta que ela não era mais aquela pirralha baixinha que eu amava importunar quando ela era mais nova. -Já de você, Fuyuki, nem tanto. - ela disse me olhando e torcendo o nariz com desgosto. Aquilo só me fez rir, principalmente por saber que Aimi estava tentando me provocar e não por sentir literalmente isso. Eu podia ler em seus pensamentos, já que ela não era boa o suficiente em oculta-los da minha telepatia.
Ah, sim, um detalhe importante: minha individualidade não é mais só telecinese. Deve estar se perguntando o como isso é possível e o que mudou para que eu tivesse mais habilidades psíquicas, me tornando tão parecido com minha mãe no quesito individualidade que chegava a ser trágico, mas a resposta é bem simples. Às vezes, quando você passa por uma situação de vida ou morte, pode acontecer o que muitos chamam de "despertar". Foi o que aconteceu comigo três anos atrás, em uma luta que tive contra um vilão que era particularmente forte. Eu não podia estar a beira da morte mais uma vez, não depois de tanta merda que qcinteceu comigo. Então, foi quando minha individualidade evoluiu.
Eu não sabia como ser um bom telepata como minha mãe ou como usar a empatia, mesmo que ela tivesse dedicado uma parcela de tempo significativa para tentar me ensinar assim que saiu de seu coma e se recuperou. É um pouco mais difícil lidar com essa habilidade quando ela surge e você já tá pra lá dos vinte e cinco anos na cara. Honestamente, eu nunca quis ter essa habilidade, estava particularmente feliz só com minha telecinese. Mas não era como se eu pudesse exatamente escolher. Sei que foi um choque para muitas pessoas e principalmente para mídia quando minha individualidade evoluiu, e foi um inferninho o tanto que os médicos me usaram de cobaia para pesquisas. A Comissão de Super Heróis pareceu um pouco mais interessada em mim, e claro que sei que no fundo Hawks tem medo que, sei lá, eu vire um ser maligno e destrua o Japão. Ele é um idiota completo, eu sei, mas eu me contento com pouco, arrasar corações já é o suficiente pra mim.
-Awn, a recíproca é verdadeira, Aimi! Feliz dezoito anos. - falei, esticando a mão para bagunçar o penteado ridículo que ela tinha feito. Aimi, claro, odiou, dando um tapa na minha mão e me lançando um olhar mortal que não me aterrorizava nem um pouco. Eu era casado com Shin, ele sim era o ser mais assustador da face da Terra, e não aquele projetinho de gente que ele chamava de prima.
-Você é um idiota completo. - Aimi reclamou, mostrando a língua para mim, como a grande adulta que ela era. -Shin, porque trouxe ele junto?!
-Talvez, só talvez, seja porque sou marido dele. - falei com um sorrisinho e Aimi revirou os olhos.
-Detalhes infelizes os quais prefiro esquecer. - Aimi disse, agarrando Shin pelo braço e o puxando para dentro antes que pudesse dizer mais alguma coisa. -Seus pais estão aqui já, Shin! Sua mãe e meu pai ficaram falando mal de mim, eu achei péssimo, na frente dos meus amigos é sacanagem, né! E o tio Katsuki está fazendo sucesso, quem diria que mesmo sendo um velho chato e ranzinza ele ainda teria tantos fãs jovens.
Aquilo me arrancou uma risada sincera demais. Era mesmo a cara do meu padrinho, odeia todos os fãs e isso não o impede de ter uma parcela bem alta deles. O mais engraçado de tudo é que de todas as pessoas existentes no mundo, entre tantas possibilidades, ele foi se apaixonar logo pela sua hater número um. Ah, era tão hilária a história de amor do meu padrinho e da minha madrinha. O que não encaixava era o como duas bombas tinham conseguido ter um filho tão maravilhoso quanto Shin. Um dos maiores mistérios da ciência, com certeza.
-Ai meu Deus, Aimi, você realmente conhece o Fuyuki! Então não era mentira? - honestamente, eu não sei porque Aimi tinha chamado uma suposta amiga que nem acreditava nela, mas vendo a forma triunfante que Aimi estava se portando quando chegamos no jardim de sua casa onde estava acontecendo a festa, provavelmente ela tinha chamado a querida só para provar um ponto. Imagina então se eu não tivesse vindo, hein? Se bem que não ia fazer diferença, o mundo inteiro sabia que Shin era não só filho de Azami e Katsuki Bakugo, mas também casado com o caro mais gostoso, bonito e o herói número um do Japão, vulgo eu mesmo.
Haviam dezenas de amigos de Aimi olhando para mim como se eu fosse uma estrela do rock e eu achava isso meio engraçado, sendo sincero. Eu provavelmente deveria já ter me acostumado com isso, mas nunca ia ser normal para mim ir em algum evento familiar como aquele e ter pessoas tentando tirar fotos minhas sorrateiramente como se eu não fosse notar. É, eu era famoso e o herói número um, mas será que era para tanto? Fica ai o questionamento.
A festa estava cheia de pessoas que eu não conhecia e algumas outras que eram familiares, como minha madrinha e meu padrinho conversando com Shizuko, pai de Aimi. Não era uma grande festa, mas tinha um certo charme. Músicas altas, risos e conversas abafadas. Meu estômago, no entanto, não estava lá para curtir isso. O que eu queria mesmo era voltar para casa com Shin, curtir a paz e tranquilidade do nosso lar e talvez até ver um filme no sofá, um momento que mal tínhamos na correria das nossas vidas (sim, eu sei que principalmente da minha já que parece impossível ter tempo para soltar um peido tamanho é o caos da minha vida).
-A gente vai embora logo, Fuyu. - Shin me prometeu, apertando minha mão na sua antes de me arrastar em direção aos seus pais. Eu agradeci silenciosamente por isso, pois apesar de eu ser de fato estrelinha e amar ser paparicado, hoje eu não estava exatamente no clima para ver jovens adultos se degladiando para tirar uma foto comigo. Mais que isso, eu não queria ser motivo de Aimi ter uma festa de merda só porque o herói número um recebeu mais atenção que ela (sim, eu era um cuzão e irritava ela porque era muito divertido, mas eu não era uma pessoa ruim e definitivamente não queria ofuscar seu dia especial. Ei, eu tenho sentimentos sim!).
-Olá a todos e um oi especial para minha sogrinha. - falei com um sorriso que sabia que só servia para irritar minha madrinha, ainda mais quando ela odiava que eu a chamasse de sogra, me aproximando dela e a puxando para um abraço apertado que a fez chiar e reclamar como uma velha chata. Eu apenas ri, principalmente quando ela deu um soco nas minhas costelas (é claro que eu não senti, inclusive já estava esperando que ela fizesse exatamente isso).
-Seu idiota! Antes de ser sua sogra eu... - Azami Bakugo, a mulher mais revoltada do mundo, começou, me olhando feio com seus omhos vermelhos bonitos.
-Limpava minha bunda, trocava minha fralda, me dava comida e banho, me levava no parquinho, é, madrinha, eu sei que você cuidou tanto de mim quanto minha mãe, fica tranquila! - provoquei, piscando os olhos em falsa inocência. Ela semicerrou os olhos, talvez arquitetando minha morte em sua mente. Era difícil saber pois era impossível passar pela barreira de aço que era a proteção mente da dela. Me deixava até meio orgulhoso saber o como minha madrinha era uma mulher foda, e ela nem precisava de uma individualidade incrivelmente poderosa para isso (inclusive, a individualidade dela estava mais para karma já que foi culpada por causar sua deficiência auditiva parcial).
-Você é um maldito. - ela resmungou, tentando conter um sorriso. -Eu sempre disse para Shin crescer e encontrar alguém legal, sabe, Shizuko? Ai ele vai e me casa com essa coisa ai!
-Acho que você não pode falar muito, Zaza. - o irmão mais novo de minha madrinha provocou, arrancando um som de indignação do meu padrinho. Eu dei risada.
-E pode parar, eu tenho muito bom gosto, obrigado. - Shin retrucou, sua mão ainda segurando a minha com carinho. Sorri que nem um idiota. Eu o amava pra cacete.
Acho que não teve um momento em minha vida que eu tenha sequer pensado na possibilidade de amar outra pessoa que não Shin. Desde que eu era muito jovem sabia exatamente o que sentia por ele, e mesmo que eu achasse que jamais seria algo recíproco, não consegui me livrar de toda a paixão que eu sentia por Shin. Admito que até saber que Shin era bissexual, foi particularmente difícil carregar no peito o que eu sempre senti por ele. Não é fácil gostar de alguém e menos ainda se essa pessoa gosta do sexo oposto ao seu. Eu nunca demonstrei, claro, mas sempre fui incrivelmente inseguro em tudo o que dizia respeito a Shin quando éramos adolescentes. Eu tinha medo não só de estragar a amizade que construímos, mas principalmente de o perder por um motivo egoísta. Eu tinha decidido deixar aquela história morrer quando Shin me beijou pela primeira vez.
Muita coisa aconteceu depois disso e desde que Shin e eu começamos a namorar. Ele pode não ter sido meu primeiro beijo, mas foi meu primeiro em todas as outras coisas mais importantes na minha vida, e mesmo que nem sempre tudo tenha sido pacífico e bonito entre nós, era com Shin que todos os momentos mais importantes da minja vida tinham acontecido. Eu o amava tanto que às vezes sentia como se meu próprio coração pudesse saltar para fora do peito. Eu não conseguia expressar o suficiente o quanto o amava, mas acho que isso já é meio (muito) óbvio para todos.
É, eu queria estar em mil outros lugares sozinho com Shin naquele momento, mas na realidade não importava. O que de fato importava para mim é que estávamos juntos, que eu ainda estava vivo e que tínhamos um ao outro. O resto era apenas detalhe e parecia incrivelmente pequeno. Sei que a vida que escolhi levar não é fácil e menos ainda segura, mas eu faria de tudo para sempre voltar para casa, voltar para Shin. Eu nunca mais o deixaria sofrer pensando que me perdeu para sempre.
Mesmo que eu quisesse muito, eu não tinha a habilidade de controlar todas as variantes. Por isso que, quando senti minha madrinha começar a ficar agitada e seus sentimentos ficando incrivelmente negativos, não tinha nada que eu pudesse fazer para tentar amenizar a catástrofe eminente. Mas não nego que fiquei confuso; estava tudo bem, então porque diabos ela ficou calada de repente, tão ansiosa que estava começando a fazer eu me sentir mal? (pois é, o lado empático que herdei da minha mãe é um lixo. Mais uma vez, preferia quando tinha controle apenas da telecinese, pois empatia e telepatia dava um trabalho do cão e minha vida já era difícil demais).
Como um grande curioso, eu segui o olhar dela, percebendo que Shin, Shizuko e meu padrinho estavam completamente alheios a mudança de postura de minha madrinha. Devo admitir que ela sabe mesmo como ser discreta quando quer, e tenho certeza que qualquer fosse o motivo pelo qual ela tinha ficado tão desconfortável, ela não falaria para não correr o risco de arruinar a festa de Aimi. Minha madrinha era boa demais para seu próprio bem, e eu não me importo com quem diz que ela tem uma personalidade terrível, pois não é inteiramente verdade.
Fiquei ainda mais confuso do aue já estava quando vi que minha madrinha olhava intensamente para uma senhora que tinha acabado de chegar e estava cumprimentando Aimi. Eu não era burro (tá, talvez eu fosse sim um pouco burro, mas eu era telepata agora e isso reduziam muito as chances de eu interpretar alguma coisa da forma errada), e aqueles olhos vermelhos intensos pareciam marca registrada da família de minha madrinha. Todos eles tinham, ela, seu irmão Shizuko, Aimi, o único que não tinha herdado essa característica havia sido Shin, pois o vermelho de seus olhos eram iguais aos do meu padrinho.
Aquela senhora que pareceu ficar assombrada quando viu minha madrinha era a mãe dela.
A mesma mãe que havia deixado que minha madrinha fosse expulsa de casa por um pai homofóbico, que fosse destratada pelo irmão gêmeo ruim e que deixou que minha madrinha ficasse tanto tempo afastada de seu irmão mais novo Shizuko por todo o preconceito que sua família tinha. A mesma pessoa que havia causado aquelas mágoas e feridas dentro da minha madrinha que tenho certeza que ela não tinha se curado e jamais se curaria.
Bem, que bela de uma merda.
Eu admito que fiquei tenso, principalmente quando Shizuko finalmente percebeu para onde sua irmã estava olhando e ficou pálido como uma folha de papel. Ele claramente não deveria saber que sua mãe apareceria ali, e se eu não pudesse ler seus pensamentos, diria que ele também não tinha contato com ela. Mas ele tinha sim, e tudo melhorara um pouco desde que o pai morera, mesmo que ainda fosse uma relação complicada. Claramente ele não esperava que ela fosse aparecer no aniversário de Aimi, caso contrário teria avisado minha madrinha. Mais que isso, teria evitado, principalmente pois acho que esse não era o melhor momento do mundo para meu marido descobrir quem era sua vó materna.
É.
Pois é.
Shin nunca conheceu os avós por parte de mãe e, honestamente, acho que ele nunca sequer se importou com isso. Ele tinha perguntado vez ou outra quando éramos mais novos, eu me lembro disso, mas quando minhha madrinha só disse que eles tinham ido embora, Shin parou de perguntar. Ainda lembro quando ele descobriu que na verdade seus avós maternos só eram preconceituosos de merda o como ele ficou revoltado. Tínhamos acabado de começar a namorar quando minha madrinha contou a verdade para Shin sobre ter sido expulsa de casa e a sua noiva que faleceu. Pois é, eu também fiquei surpreso, tipo, minha madrinha bissexual era um evento mesmo. Mas ao mesmo tempo me senti péssimo por saber que ela tinha passado por algo do tipo, pois eu sabia exatamente qual era a sensação. Não é porque minha família me apoiava imensamente que eu nunca passei por uma situação de merda.
Fiquei incrivelmente alarmado quando aquela senhora se aproximou acompanhada de uma mulher que estava de mãos dadas com um homem. Ela chamou mais a atenção, pois era parecida com Aimi, mas mais velha e talvez apenas alguns anos mais nova que eu e Shin. Eu não sabia quem ela era, mas Aimi deixava o suficiente pipocando em sua mente: ela era sua prima, filha do irmão gêmeo da minha madrinha, o mesmo que tinha sido um merda com minha madrinha tantos anos atrás. Pelo menos ele não estava aqui.
Ah. Pensei cedo demais, pois logo o vi um pouco atrás, olhando para minha madrinha como se tivesse vendo um fantasma. E a semelhança entre eles era tão absurda que deixava inegável o fato de que eram mais que meros parentes, mas sim irmãos gêmeos.
Puta que pariu.
Apertei a mão de Shin com um pouco de força demais na minha. Eu estava mesmo alarmado e desesperado para dar o fora, poeque tudo o que eu menos precisava era de drama familiar. Mais que isso, eu não queria que Shin passasse por estresse desnecessário e não queria acabar perdendo meu pequeno autocontrole. A verdade é que por mais que eu finja muito bem, minha paciência é muito curta e estou sentindo que ela vai se tornar nula em breve. Tudo o que eu menos precisava era virar notícia em site de fofoca por protagonizar um barraco na festa de aniversário da prima do meu marido.
-O que foi, Fuyu? - Shin perguntou baixinho, confuso, fixando os olhos em mim. Eu abri a boca e fechei, mas nada saiu. Eu não sabia o que dizer e, honestamente, nem queria explicar nada, só queria o arrastar para fora. Sabia que se fizesse isso, Shin não iria questionar, apenas iria permitir, pois esse era o tipo de confiança que ele tinha em mim. Ainda assim, parecia tão errado deixar minha madrinha para trás no meio dessa clara situação cagada do cacete.
Meu padrinho foi o primeiro a reagir quando aquela velha se aproximou. Ele fixou os olhos nela, ficando confuso por um instante, sem saber quem ela era. Mas, quando finalmente a reconheceu, ele ficou tenso. Não, mais que isso, ficou verdadeiramente irritado, se colocando na minha madrinha como se estivesse preparado para destruir quem quer que cruzasse o caminho dela e no fundo eu sabia que estava mesmo.
A velha, no entanto, não se abalou nem um pouco. Apenas parou diante de todos nós, com Aimi segurando seu braço e implorando para que ela se afastasse, que deixasse para lá, que fosse embora. Mas ela nem deu trela para Aimi, apenas manteve os olhos presos na minha madrinha.
-Olá, Azami. - a velha disse, parecendo muito determinada a conversar com a filha que ela havia chutado que nem cachorro sem dono para fora muitos anos atrás. Minha madrinha deve ter pensado o mesmo, pois apenas arqueou uma sobrancelha, esticou as mãos e arrancou os aparelhos auditivos para fora, se recusando a escutar. Eu dei uma gargalhada alta. Merda, como eu amava essa mulher.
Meu marido, no entanto, não achou graça nenhuma. Ele afundou o cotovelo nas minhas costelas, me olhando com sua melhor expressão de "cala a maldita boca, Fuyuki". Eu o fiz, mas já era meio tarde porque tinha chamado a atenção da velha, que me fitava com o cenho franzido. Isso até seus olhos caírem em Shin, seu rosto ficando tão pálido quanto o de Shizuko estava.
-Você parece tanto com sua mãe. - a velha disse, parecendo surpresa e ao mesmo tempo mortificada. Shin franziu o cenho, totalmente confuso.
-E a senhora é quem? - ele perguntou, tentando ser racional.
-Amor, não acho que é uma boa ideia falar com essa velha ai não. - murmurei, agarrando Shin pela manga da blusa e o puxando para mais perto de mim.
-Ah. - a velha parecia muito decepcionada por Shin não saberia quem ela era. -Eu entendo sua mãe nunca ter dito quem eu sou, mas Shizuko, porque nunca fez isso? Ou você, Aimi?
-Mãe, honestamente, não é uma escolha que tem que ser minha. - Shizuko disse seriamente, parecendo irritado. -E eu disse para virem mais tarde. Eu ia avisar.
-Tudo isso só para que minha incrível irmazona não nos visse? Sério, isso já está ridículo, Shizuko. - o homem que parecia minha madrinha disse, incrivelmente irritado e olhando com raiva para minha madrinha. Quis dar um murro nele, mas meu padrinho já estava quase fazendo isso.
-Deveria tomar cuidado com o que fala. - meu padrinho dia com um sorriso sarcástico.
-Azumi, isso é escolha da Azami e ela tem direito de não querer olhar para sua cara feia. - Shizuko disse ao irmão, revirando os olhos. -Eu mesmo só te tolero pela saúde da nossa mãe.
Sério, era tanta informação que eu nem estava conseguindo processar direito. E, pelo jeito, nem Shin, pois ele estava terrivelmente chocado, olhando para sua suposta vó com uma mistura de surpresa e irritação, pois é claro que todas as histórias que ele escutou sobre a família de sua mãe o atingiram em cheio naquele momento.
-Sou sua vó, Shin. - a velha disse, mas acho que todo mundo já tinha entendido que dois mais dois é quatro. Estávamos tão distraídos que nem notamos que minha madrinha tinha colocado os aparelhos de volta e estava incrivelmente puta.
-Você não tem direito nenhum de falar com meu filho, de sequer dizer o nome dele! - minha madrinha disse, se colocando no meio e apontando o indicador para cara da própria mãe. Meu Deus, a situação tá fugindo do controle e no fundo bem que eu tô achando divertido. -O que quer com ele?!
-Entendo que me odeie, Azami, mas ele é meu neto. - a velha parecia estar suplicante. -Eu quero ter contato com ele. Quero conhecê-lo.
-Conhecer ele?! Bem, já está meio tarde para implorar por isso. Sua covarde, esperou meu pai morrer para isso, né? - minha madrinha disse, sua voz baixa e mortal.
-Não fala assim com nossa mãe! - o tal Azumi disse, irritadinho, dando um passo na direção da minha madrinha, apenas para dar de cara com meu padrinho que se colocou no meio. Sabiamente, o cagão recuou, mesmo que ainda olhando feio para minha madrinha.
-Acredite em mim! - a velha implorou, tentando se aproximar de Shin. Meu marido recuou, claramente desconfortável e incomodado. -Eu quero saber sobre você, Shin. Você é meu neto também.
-Ah, claro! - minha madrinha zombou. -Pra depois você dizer para meu filho a mesma merda que disse para mim? O que é que foi? Que bissexualidade era uma doença a ser curada? - sim, eu conseguia ver que nem mesmo todos aqueles anos longe da parte podre da família dela haviam curado o coração da minha madrinha. Ela definitivamente tinha sofrido. -Com meu filho você não vai fazer isso.
-Eu mudei, Azami. Queria que pudesse me dar uma chance. - a velha disse e parecia muito sincera. Ah, que peninha, eu não tinha um pingo de dó. E nem minha madrinha, pois olhava com desgosto para própria mãe.
-Se você também mudou, porque nós não podemos? - Azumi disse, parecendo um pouco mais calmo, quase arrependido. -Muita coisa aconteceu e você não soube, Azami.
-Eu não podia me importar menos. - minha madrinha retrucou e se virou para seu irmão mais novo. -Está tudo bem. Eu não te culpo por isso, mas vou embora.
-Entendo, Zaza. - Shizuko disse com um suspiro.
-Espera, a senhora podia escutar um pouquinho? - a mulher, provavelmente sobrinha da minha madrinha, disse, parecendo incomodada com a situação. Pois é, eu também estava, principalmente quando o cara que estava de mãos dada com ela estava olhando Shin e eu como se fôssemos dois extraterrestres.
Eu já tinha recebido muito olhares como esse, acredite. Por mais popular que eu sempre tenha sido na escola e na mídia ou que eu seja o herói número um do país, isso não significa que nunca sofri e que não sofro uma onda de homofobia muito grande. Eu nunca escondi quem eu era e minha orientação sexual, mas é incrível a habilidade do ser humano de semear ódio gratuito e cuidar da vida de gente que nem conhece. A quantidade de barbaridade que eu já escutei só pelo fato de ser gay foi tão absurda que prefiro fingir que nunca aconteceu. Se eu não fosse ótimo em calar a boca de gente otária, bem, talvez eu tivesse sofrido um pouco mais, mas a verdade é que nunca me importei que mexessem comigo ou com as merdas que diziam sobre mim na internet. Agora, quando os comentários ou olhar de nojo eram lançados a Shin a coisa ficava um pouco mais difícil de lidar.
Ignorei o resto da conversa ao meu redor, porque eu estava ficando muito puto. Porra, eu era um telepata e o mundo inteiro sabia dessa merda. Eu sabia que esse infeliz sabia quem eu era e ele nem fazia um esforço para me impedir de ler seus pensamentos homofóbicos e nojentos e, ah, pelo amor de Deus, eu vou matar alguém e perder a porra do réu primário.
-Você tá olhando para meu marido porque, tá querendo uma foto? - eu falei com um sorriso sarcástico e apesar de ter soado calmo, eu não estava nem um pouco calmo. Shin me conhecia bem o suficiente para perceber isso, pois estava no meio de uma discussão com sua suposta prima e com Aimi quando parou de falar e ficou tenso ao meu lado. Senti os dedos dele me apertando e me puxando, mas não me virei para olhar.
-Fuyuki. - Shin disse em tom de aviso. Ignorei.
-Não, só estava aqui impressionado por ser verdade mesmo que o herói número um fica de quatro por um cara qualquer. - o babaca retrucou e, meu Deus, como pode existir tanta gente sem noção?! Tipo, será que ele sabe que se eu quiser consigo matar ele com um piscar de olhos e eu nem preciso de individualidade pra quebrar o pescocinho frágil dele no meio em uma respirada?!
-Como é que é? - falei com uma risada incrédula. Eu ia matar ele. É isso, eu ia matar o infeliz na frente de todo mundo e quando viessem me prender, eu ainda seria preso feliz porque teria livrado o mundo de um escroto do caralho.
-Katsuo, cala a sua boca, pelo amor de Deus. - a mulher ao lado dele, e infelizmente era a prima de Shin e claramente esposa desse merda, impmorou, parecendo horrorizada. Poxa, minha querida, você não sabia o tipo de lixo que o cara era antes de casar com ele?!
-Que que foi, hein, Mai? Só quero saber o que é que seu suposto priminho fez pra aviadar o herói mais popular do país. - ele continuou, me deixando incrédulo. Eu estava extremamente sem reação, porque nunca encontrei um homofóbico tão sem noção. Geralmente eles tinham argumentos melhores que aquilo. Mais que isso, eram inteligentes o suficiente pra não provocar o herói número um, né. -Poxa, Fuyuki, eu era seu fã, mas pelo jeito é mesmo verdade que você casou com um cara! Tem noção de que isso é meio nojento, vocês andando juntos por aí de mãos dadas? Isso não é normal.
Eu nem sabia o que fazer, honestamente, eu estava incrédulo de verdade e eram poucas as coisas capazes de me deixar desse jeito. Estava totalmente boquiaberto e todo mundo estava com a mesma reação. Até a velha conservadora mãe da minha madrinha parecia prestes a atirar a bolsa no meio da testa do idiota. Se a situação já estava ruim antes dele abrir a boca, ficou pior agora.
Shin foi o mais rápido de todos em reagir diante de tal ataque gratuito. Chocando a todos e principalmente a mim mesmo, Shin avançou em um movimento rápido e chocou o punho com força contra o maxilar do babaca que era bem maior que ele (heterotop de academia e nem serviu para nada já que ele desmontou que nem lego), fazendo o babaca cair com tudo no chão, nos pés da sua esposa.
Todos ficaram quietos. A música tinha parado e todo mundo olhava para o barracão se desenrolando bem ali, principalmente quando o caro estendeu a mão e cuspiu um dente nela, horrorizado. Já eu fiquei cheio de orgulho do meu marido.
-Você deveria ter cuidado com o como fala com meu marido. - Shin rosnou, tão puto da vida que me deixou verdadeiramente assustado. Shin, meu raiozinho de sol, o ser humano mais doce e gentil que eu conhecia, parecia prestes a ele mesmo perder o réu primário. -Ou eu juro que vou te fazer engolir todos os malditos dentes, um por um.
-Calma, amor. - falei meio, sei lá, em choque? Tentei puxar Shin, mas estava praticamente impossível já que ele não queria, e, porra, eu era o herói número um e ainda assim tive dificuldades de arrastar meu homem para longe. -Shin, não vale a pena.
-Você é um merdinha. - o cara disse, se levantando. -Seu filho da...
E simples assim, a voz dele sumiu. Talvez eu devesse ter feito o cérebro dele derreter, mas me contentei com prender sua língua usando minha telecinese e foi sim divertido, pois o babaca ficou desesperado.
-Você não deveria testar meus limites. - falei piscando os olhos com falsa inocência. -Poxa, eu realmente não quero virar notícia em site de fofoca por ter arrancado sua língua fora e te feito comer ela por ousar falar sobre meu marido.
Foi um pouco complicado, pois ele achou que eu estava falando sério mesmo (eu tava) e ficou desesperado enquanto a sua esposa tentava entender o que estava errado, o porque ele não estava conseguindo mexer a própria língua e falar e ai sim começou a baderna e as discussões. Shizuko começou a brigar com a própria mãe, Aimi gritava com a prima por ter sido burra de casar com um imbecil e ameaçando nunca mais falar com ela pela forma como o babaca tinha falado com Shin, minha madrinha estava ignorando fortemente as suplicas de seu irmão gêmeo para que a perdoasse, que ele era uma pessoa melhor e blá-blá-blá.
Meu padrinho, por outro lado, estava ocupado demais em me encarar com ódio enquanto Shin me balançava e me mandava parar. Sim, eram as únicas duas pessoas inteligentes o suficiente para saber que aquela onda de poder passando por eles era minha e que eu estava bem, bem perto de explodir e me descontrolar. Seria lindo e memorável, pode ter certeza.
-Fuyuki. - meu padrinho disse me olhando com seriedade. -Não vale a pena.
Mas eu achava que valia a pena sim. A verdade é que eu estava cansado, não, mais que isso, exausto. Era por nunca sofrerem as consequências que pessoas como aquele idiota continuavam destilando veneno de graça e eu estava de saco cheio de precisar escutar e ficar quieto por ser uma figura pública e, mais que isso, por ser um herói. Eu sabia que existiam códigos de ética e limites que como um herói profissional eu não podia cruzar, mas era difícil de não socar a cara daquele babaca quando ele fazia de tudo para que eu fizesse exatamente isso. Eu nunca me importei muito com o que falavam ao meu respeito, mas desrespeitar a pessoa com quem eu durmo todos os dias, com quem eu divido uma vida, ai já é demais. Já passa dos meus limites e, honestamente, eu não estava me importando muito com as consequências.
Mas eu sabia que Shin estava. Sabia que ele estava pensando no que aconteceria caso alguém percebesse o que eu estaba fazendo e decidisse começar a gravar, ou caso todos percebessem a confusão que estávamos causando. Sua mão estava fechada ao redor do meu pulso, me apertando com força, como se para me lembrar que ele estava bem ali e que, independente do que aquele imbecil estava dizendo, não valia mesmo a pena. E foi pensando nisso, escutando os pensamentos de Shin, que eu dei um grunhido resignado e soltei a língua do infeliz.
-Isso não é nada heroico da sua parte! - o babaca gritou apontando para mim assim que soltei sua língua, se afastando de mim como se eu fosse o próprio Shigaraki.
-E homofobia é crime, seu animal. Deveria te mandar pra prisão agora ou daqui cinco minutos? - eu cuspi, irritado, pensando seriamente se eu não deveria socar a cara dele. Shin fez um estrago, sim, pois a boca dele agora estava inchada e tinha sangue escorrendo pelo queixo onde meu marido o tinha socado, mas eu definitivamente teria o deixado desacordado. Pessoas medíocres não conseguiam receber um soco meu sem apagar no processo, fazer o que.
Pela primeira vez, o imbecil pareceu se dar conta do incrível detalhe que eu não era só um herói famoso, mas também que eu era influente e que meu trabalho respondia para justiça do nosso país. Sorri, sarcástico, me perguntando se não valia a pena enfiar uns bons socos no nariz dele. Mas o desespero que ele estava sentindo, principalmente ao ver que tinha passado muito do ponto já era o suficiente pra mim.
-Você vai dar o fora da minha festa, agora. - Aimi disse, agarrando o idiota pelo braço. Ele até tentou argumentar, mas a prima de Shin estava irredutível. Ele reclamou mais uma vez ao notar que sua esposa não estava indo junto e, antes mesmo que eu pudesse dizer mais alguma coisa, Aimi já tinha desaparecido para colocá-lo para fora. Ótimo, porque se ela não o fizesse, eu faria, e não faria de um jeito legal e educado.
-Eu realmente sinto muito, muito mesmo por isso. - a esposa dele, que se chamava Mai, disse, as bochechas incrível vermelhas pela vergonha. Eu conseguia acreditar nela; era o óbvio o como estava desconfortável depois de tudo o que o imbecil com quem ela havia casado disse.
-Está tudo bem. - Shin falou. Claramente não estava tudo bem, mas ele pelo menos tentou ser simpático, apesar de eu saber que tudo o que ele menos queria era contato com aquele lado de sua família o qual ele tinha acabado de conhecer (e que já tinha dado problema).
-Eu te avisei para não casar com esse idiota. - o irmão gêmeo da minha madrinha suspirou, parecendo mais velho do que realmente era.
-Bem, pai, não perguntei sua opinião. - Mai retrucou, o olhando feio. Minha madrinha riu.
-Acho que gostei da sua filha, Azumi. Deve ser bem melhor que você, um fato. - minha madrinha provocou, mas seu irmão apenas suspirou, derrotado.
-Podemos ir embora agora? - falei olhando Shin e arqueando a sobrancelha para ele.
Ir para casa. Eu só queria ir para minha casa, ficar longe de todo aquele caos e problemas familiares. E pela forma como Shin estava me olhando, ele estava pensando na mesma coisa, cansado demais depois de toda aquela merda para continuar. Sim, eu sabia que ele estava em partes curioso em relação a família que acabara de conhecer, mas sabia que acima disso, Shin estava incrivelmente estressado com o que tinha acontecido. Não era a primeira vez que passávamos por algo do tipo e não seria a última, mas não significava que não era frustrante quando acontecia.
No entanto, não teve tempo para Shin me responder, pois meu celular começou a tocar. Meio estressado, tirei o aparelho do bolso e vi que era Dylan. Bem, ele podia esperar, por isso apenas recusei a chamada e voltei meus olhos para Shin com expectativa. Eu queria mesmo ir embora. Ele abriu a boca, provavelmente pronto para me responder, mas meu celular tocou mais uma vez. Outra chamada de Dylan.
Veja bem, Dylan é um chato, mas somos heróis profissionais e eu sei que ele não insistiria na ligação caso não fosse extremamente necessário. Fiquei tenso, não nego, mas atendi a chamada de Dylan, apenas para escutar um barulho infernal de luta e coisa se partindo, o que claro que só serviu para me deixar ainda mais preocupado.
-Dylan?! - falei e escutei um xingamento do outro lado da linha.
-Preciso de ajuda. - foi tudo o que ele me disse antes de desligar e eu soltei um palavrão. Filho da puta, não podia pelo menos me dizer o que era?! Maldito!
Abri rapidamente o aplicativo que me mostraria a localização de Dylan. Pois é, nem mesmo meu marido tinha minha localização em tempo real, mas Dylan tinha a minha e eu a dele. Claro que por motivos óbvios como aquele: se precisássemos de ajuda, saberíamos onde encontrar um ao outro. E, para minha sorte ou azar, Dylan estava há cinco minutos de onde eu estava. Dylan era o herói número dois. E se ele tinha me ligado, bem, então ele não estava exatamente querendo só passar um tempo comigo ou estragar minhas férias.
Me virei para Shin, mas ele já tinha entendido o que estava acontecendo.
-Vai. - ele disse me olhando e eu fiz uma careta.
-Desculpa. - eu pedi, mas ele apenas balançou a mão.
-É seu trabalho. - ele disse dando de ombros, mas sabia que ele odiava isso e que era uma merda.
Eu o beijei, sem me importar com quem estivesse ali. Não passou de um selinho, mas era uma promessa que eu voltaria para casa bem. E que eu não pretendia deixá-lo tão cedo. Então, antes que ele mudasse de ideia e me impedisse de ir, fui atrás de Dylan.
Eu sabia que Shin odiava quando tinha que ver Fuyuki ir atrás de algum vilão. E eu não podia julgar meu filho, pois costumava me sentir dessa exata forma antes de Katsuki se aposentar. Ele deve ter pensado nisso, pois estendeu a mão para apertar a minha de leve enquanto trocávamos um olhar. De repente, nem parecia mais tão importante assim a discussão que estava tendo com a desagradável da minha mãe e o idiota do meu irmão gêmeo. Tudo o que eu conseguia ver, era a preocupação de meu filho que provavelmente estava se lembrando que da última vez que viu Fuyuki sair tão desesperado, foi quando ele tecnicamente morreu, naquela sua falsa morte.
Era complicado. Eu sabia que Shin jamais iria forçar Fuyuki a largar o trabalho que ele tanto amava, pois eu filho era altruísta demais para isso, mas eu tinha a impressão de que se Shin o fizesse, Fuyuki não hesitaria um segundo em atender seu pedido. Porque no fim das contas, Fuyuki amava Shin o suficiente para colocá-lo a cima de tudo, inclusive de seus próprios desejos e ambições. Eu achava isso incrivelmente bonito em relação ao casamento dos dois, aquele relacionamento que construíram ao longo dos anos e que ia muito além de apenas paixão. Era o amor e o companheirismo em sua forma mais pura, e para minha imensa sorte, eu entendia perfeitamente qual era o sentimento.
Queria ir embora. Mais do que qualquer outra coisa no mundo, eu priorizava pelo bem estar do meu filho, e eu sabia que algo tinha ficado fora do lugar quando Fuyuki teve que sair. Shin não se importava com muitas coisas e eu sabia que não tinha se afetado o suficiente com o imbecil homofóbico que foi expulso por Aimi, mas ele se importava demais com Fuyuki. Vê-lo precisar ir embora tinha sido o que faltava para determinar que aquela noite precisava ser encerrada.
-Azami, será que podemos conversar em particular? - fui trazida de volta a realidade pela voz irritante da minha mãe, me lembrando que ainda estava aqui e que tínhamos uma pequena plateia de pessoas. Apesar de ver Shin tentando manter uma conversa amigável e menos tensa com a filha de Azumi, sua prima, eu conseguia notar a tensão de meu filho há quilômetros de distância. -Por favor?
-Olha, de verdade, eu realmente não tenho nada para falar com a senhora. - falei, fixando os olhos nos dela.
Sim, eu entendo que ela esteja velha e com o pé na cova, mas isso não significa que eu precise perdoá-la por tudo o que ela e meu pai me fizeram passar quando eu era mais nova. Eu teria literalmente passado fome e sofrido coisa pior se não tivesse tido Liz na minha vida para me apoiar e me ajudar em todas as dificuldades que eu enfrentei. Era difícil perdoar alguém que tinha te machucado tanto. E era ainda pior quando isso vinha de alguém que você costumava amar tanto, principalmente se for de sua mãe.
-Azami, por favor. Você sabe que sempre quis conhecer meu neto mais velho. - ela choramingou, se fazendo de coitada. Eu apenas arqueei a sobrancelha. -Eu sempre estive aqui, sonhando em cumprir meu papel de avó!
-Desculpa, mas eu já tenho uma vó, e uma muito incrível por sinal. - Shin disse, se envolvendo na conversa. A pouca paciência que ainda o restava parecia ter se esgotado, seus olhos iguais aos de Katsuki perfurando minha mãe como se fossem lanças. -E, bem, se ela tivesse alguma richa com minha mãe ou meu pai, tenho certeza que mesmo assim teria feito da vida deles um inferno para poder participar da minha vida. Ou teria feito de tudo para se resolver com eles. Não precisa se preocupar, meus avós são incríveis e eu não preciso que a senhora queira vir assumir esse papel agora que já sou um adulto formado e casado.
A tensão na sala aumentou visivelmente, e minha mãe parecia prestes a retrucar, mas Shin não deu chance, erguendo a mão como sinal de que ele ainda não tinha terminado. Eu tinha criado meu filho muito bem e ele era incrivelmente diferente de Katsuki e eu. Shin não era o tipo que brigava, gritava e falava coisas maldosas, ele era franco e firme e acho que por isso ele conseguia ser mil vezes pior quando queria dar sermão em alguém, porque sua verdade sempre doía.
-E, francamente, a senhora só quer isso agora porque percebeu que está envelhecendo e não quer morrer sozinha cheia de erros e situações mal resolvidas. - Ele cruzou os braços, firme. -Isso não é amor, é arrependimento tardio, e eu não estou interessado em ser uma solução para os seus problemas de consciência.
As palavras de Shin cortaram o ar como facas. Fiquei orgulhosa da firmeza dele, mas também sentia uma pontada de dó por tudo o que minha mãe tinha perdido ao se distanciar de mim e de Shizuko por conta de meu pai durante todos esses anos. Ela tentou falar, mas eu levantei uma mão, interrompendo-a.
-Acho que já foi o suficiente, mãe. Nós não estamos interessados em reviver o passado ou em fingir que tudo está bem. - Minha voz saiu firme, e eu senti o apoio de Katsuki ao meu lado. -É melhor irmos embora. Esta noite já está complicada o suficiente.
Minha mãe abriu a boca para dizer algo, mas desistiu. Ela olhou ao redor, como se procurando apoio, mas não encontrou, nem mesmo em Azumi. Então, sem dizer mais nada, ela apenas assentiu e saiu, seus passos pesados ecoando no silêncio que ficou. Shin suspirou, relaxando um pouco, mas ainda claramente tenso. Eu estendi a mão e toquei seu ombro.
-Vamos lá para casa até Fuyuki voltar, Shin. Acho que já tivemos nossa cota de drama por uma noite.
Ele assentiu, e nós começamos a nos preparar para sair. No fundo, eu sabia que essa noite marcaria o fim de qualquer tentativa de reconciliação com minha mãe, mas isso não importava mais. O que importava era que eu tinha minha família comigo, e isso era tudo o que eu precisava.
Shin estava preocupado com Fuyuki e eu sabia disso, mas depois de passar tanto estresse com o que havia acontecido na festa de Aimi, meu filho não conseguiu durar mais que cinco minutos acordado antes de apagar na cama de seu antigo quarto. Sabia que Shin estava exausto devido ao trabalho e tudo o que tinha acontecido na noite e, honestamente, eu bem que gostava de ter meu filho na minha casa. Não disse nada, apenas mandei uma mensagem a Fuyuki avisando que Shin estava aqui e fechei a porta do quarto. Qua do meu afilhado pudesse, eu sabia que ele viria até aqui.
Com um suspiro pesado, fui em direção a sala onde Katsuki estava sentado no sofá lendo meu livro novo. Ele parecia relaxado, mas eu sabia melhor que ninguém que estava terrivelmente incomodado com o que tinha acontecido na festa de Aimi. Mesmo que meu marido não tivesse se sentido no direito de se intrometer, eu sabia o quanto ele detestava minha mãe e com toda razão.
Não disse nada enquanto me aproximava dele, sentando ao seu lado no sofá e deitando minha cabeça em seu colo. Dei um longo suspiro ao sentir os dedos de Katsuki deslizando pelos meus fios, me sentindo subitamente melhor. Era engraçado que mesmo que já estivéssemos juntos há anos, eu ainda fosse perdidamente apaixonada por ele. Mais que isso, eu gostava da forma como Katsuki conseguia ser meu porto seguro e tudo o que eu mais precisava no mundo. Eu nunca havia ansiado por muitas coisas, mas Katsuki conseguia ser tudo aquilo que eu jamais imaginei que precisasse e eu o amava com todo o meu coração.
-Que dia de merda, Zaza. - ele resmungou e eu ri baixinho, me virando o suficiente para fitar os olhos dele. -Será que sua mãe não cansa nunca de ser uma vaca velha?!
-Katsuki! - falei com uma risada, o empurrando de leve, e ele deu de ombros. Bem, não era exatamente mentira. -No fundo eu entendo que ela deve se arrepender de muita coisa e Azumi também, mas, honestamente, eu quero que eles se fodam. Não consigo perdoar, não consigo esquecer. Será que isso me torna uma pessoa ruim, Kats?
-Bem, se você é uma pessoa ruim por causa disso, então eu devo ser um lixo, porque além de não perdoar, teria feito eles se sentirem uns merdas. - Katsuki disse me olhando seriamente e eu apenas sorri, esticando a mão para tocar seu rosto. -Sua mãe e seu irmão gêmeo não merecem sua atenção, Zaza. E você não precisa perdoá-los ou achar que deve algo a eles por serem sangue do seu sangue. Sua família está em outro lugar.
Eu sabia exatamente do que Katsuki estava dizendo. Estiquei as mãos o suficiente para segurar seu rosto entre elas, dando um sorriso para ele.
-Sim, minha família sempre esteve onde você estivesse, Katsuki. - falei de forma suave. Sei que a forma que Katsuki e eu demonstramos o amor que sentimos um pelo outra, para quem vê de fora, é algo bruto. Mas não é verdade. Nós temos nosso próprio jeito de nos amarmos e cada um respeita a personalidade do outro. Eu não podia pedir um parceiro melhor para a minha vida. -Eu amo muito você, Katsuki. - minha voz era um sussurro, e ele deslizou os dedos suavemente pelo mei rosto, me fazendo fechar os olhos. -Não importa quanto anos passem, não importa o que aconteça, eu me apaixonaria por você de novo e de novo e de novo.
-Eu também amo você, Zaza. - ele disse baixinho, se aproximando o suficiente para me beijar. -E eu preciso de você na minha vida mais do que imagina. Você faz eu me sentir vivo, Azami. É uma chata, não sabe fritar um ovo, mas de alguma forma, você me completa.
Dei um beliscão em Katsuki e ele riu, me puxando para mais perto de si.
-Idiota. - resmunguei. -Você também me completa, Katsuki.
Não dissemos mais nada um para o outro, apenas permanecemos ali, aproveitando a presença um do outro. Eu sabia que não precisava existir palavras entre Katsuki e eu, pois aquilo que tínhamos bastava. Eu o amava, mesmo que Katsuki fosse um idiota insuportável. E eu continuaria o amando, mesmo com todos os defeitos e erros. Não importava, pois era ele quel me fazia feliz, e apenas ele.
Fuyuki apareceu na porta da minha casa pouco tempo depois, quando Katsuki e eu estávamos quase dorminddo abraçados no sofá. Meu afilhado estava um grande caos; tinha um roxo embaixo de seu olho esquerdo e mais um novo corte na bochecha direita. Uma parte da sua camiseta estava rasgada, e haviam gotinhas de sangue pelos cortes em seu ombro. Mas não foi isso que me assustou, pois Fuyuki sempre se metia em grandes encrencas, o que me assustou foi o olhar derrotado do meu afilhado, um olhar vazio e cansado.
-Fuyu? - chamei, me levantando e indo até ele. Estava péssimo e percebi o quão cansado mesmo Fuyuki estava quando ele simplesmente me puxou para um abraço apertado e derreteu aos poucos em meus braços. Olhei para Katsuki meio exasperada; Fuyuki geralmente escondia suas dores por trás de piadinhas e sarcasmo. Se ele estava se permitindo ser vulnerável na nossa frente naquele momento, bem, algo estava errado. -Fuyuki, o que aconteceu?
-Está tudo bem. - ele murmurou, sua voz soando abafada pois estava com o rosto afundado no meu ombro. -Dylan estava desesperado porque Lily e Noah estavam junto com ele. - Lily e Dylan tinham se casado pouco tempo depois de Fuyuki e Shin, e eles tinham um filho lindo de um ano e alguns meses, afilhado do meu filho. Entendo agora o motivo de Fuyuki ter saído correndo para ajudar no que quer que tenha acontecido, pois é claro que ele não deixaria seus amigos mais próximos e seu afilhado passando por uma situação crítica. -Eles estão bem agora, mas Dylan estava preocupado de que talvez tenha sido um ataque proposital. Isso me fez lembrar de algumas coisas que queria esquecer.
Eu sabia do que ele estava falando. Fuyuki ainda carregava um trauma muito grande pelo ataque da terrorista que quase me matou e o fez fingir sua morte durante um ano. Sabia que Fuyuki se culpava por isso, mesmo que não fizesse sentido. Ele não podia controlar a forma que outras pessoas agiam, e era cruel jogar esse peso em seus ombros.
-Vamos. - falei, mudando de assunto. -Vou limpar seus ferimentos e fazer um curativo.
Fuyuki deu um meio sorriso para mim.
-É mesmo? Que nem quando eu era criança? - ele zombou, me seguindo para cozinha.
-Exatamente. - falei, abrindo uma das portas onde guardava remédios e o kit de primeiro socorros. Fuyuki apenas riu, se sentando na pedra da ilha da cozinha e balançando os pés como se ainda fosse a criança pirrancenta que me dava o maior trabalho toda vez que ralava o joelho.
-Madrinha, você sempre foi péssima fazendo curativos. Eu nunca disse nada, mas depois que você terminava, meu padrinho refazia tudo, viu? - Fuyuki me provocou e eu apenas arqueei a sobrancelha para ele. Sim, isso tinha acontecido algumas vezes, mas não todas e só tinha acontecido porque tanto Fuyuki quanto Katsuki eram incrivelmente sistemáticos e irritantes. Se eu deixasse um pedaço de esparadrapo mal colocado, automaticamente tudo já estava péssimo para eles e precisava ser refeito. Ridículo.
Vi Katsuki olhando na entrada da cozinha, mas ele apenas trocou um olhar comigo antes de se afastar. Por mais que ele e Fuyuki tivessem uma relação imensa de confiança e mesmo que eu soubesse que meu afilhado admirava e respeitava muito meu marido, eu e Katsuki sabíamos que tinham coisas as quais Fuyuki não contaria para ele ou para os próprios pais, receoso demais de desapontar os seus heróis favoritos e que ele seguia como exemplo. Mas contaria para mim.
Ficamos em silêncio enquanto eu passava antisséptico e limpava a bochecha e os cortes de Fuyuki com um algodão. Ele fez caretas, como se ainda fosse a mesma criança birrenta que eu havia cuidado e amado com todo meu coração, mesmo que agora ele já fosse um homem casado de quase trinta anos. Acho que isso não importava, pois uma parte de mim sempre veria Fuyuki como o bebê sorridente e arteiro que ele foi, ou o adolescente rebelde. Perceber que Fuyu tinha crescido e se tornado uma pessoa incrivelmente responsável, apesar de fingir arduamente não ser, era algo que eu não conseguia fazer. Sempre existiria dentro de mim algo um pouco mais profundo, aquele desejo de o proteger de tudo e todos. Fuyuki era tão filho para mim quanto Shin, e acho que ele sempre soube disso.
-O que está te incomodando tanto, Fuyuki? - falei sem o olhar, continuando a fazer o curativo. Ainda assim, sabia que ele estava fazendo uma careta, claramente não querendo falar sobre aquele assunto. E mesmo assim, ele sabia que não tinha como fugir, não de mim. Ele podia enrolar Atsuko, Shoto, Katsuki, mas nunca a mim.
Ele deu um suspiro longo e pesado e, de repente, ele não parecia assim tão jovem quanto era. Fuyuki parecia exausto e no fundo eu o entendia. Sabia que a vida a qual ele havia escolhido era uma repleta de complicações e situações difíceis. Mais que isso, sabia o quão pesado tudo aquilo era para Fuyuki, principalmente com tudo o que aconteceu nos últimos seis anos de sua vida. Ter que fingir a própria morte para evitar que algo acontecesse com as pessoas que ele amava, seu término com Shin devido a isso, mudar de país e tentar recomeçar apenas para ser atingido por uma individualidade que tentava matá-lo aos poucos e, como cereja do bolo, ter a mãe entrando em coma para salvar sua própria vida. Sim, eu entendia que Fuyuki carregava muito consigo mesmo, apesar de agora estar tudo resolvido e Atsuko viva e acordada há um ano. Eram traumas que não conseguíamos nos livrar facilmente.
-Não sei. Toda essa situação me lembra que só por ser casado comigo, Shin corre perigo de vida constantemente. - ele falou, baixinho. Eu suspirei, me afastando o suficiente para fitar os olhos heterocromaticos de Fuyuki. -A ideia de perder Shin é insuportável. Tenho medo de algo acontecer com ele. Tenho medo de muitas coisas, madrinha, mesmo que eu finja que não. Não me importo com o que acontece comigo, mas tenho tanto medo de qualquer coisa respingar em Shin. - Eu entendia o sentimento dele. Coloquei uma mão gentil no rosto de Fuyuki, forçando-o a me encarar.
-Fuyuki, você não pode controlar tudo. Eu sei que você quer proteger Shin de tudo, mas ele escolheu estar ao seu lado, sabendo dos riscos. O amor de vocês é forte o suficiente para enfrentar qualquer coisa juntos, e você precisa confiar nisso. - falei olhando para ele e Fuyuki fechou os olhos por um momento, respirando fundo.
-Eu sei, mas é difícil. Cada vez que algo acontece, eu só consigo pensar no pior.
-É normal ter medo, Fuyu. - Disse, com a voz suave. -Mas você precisa lembrar que não está sozinho. Você tem Shin, tem seus pais, tem a mim e ao Katsuki. Nós todos estamos aqui para vocês dois, sempre. - Ele abriu os olhos novamente, e eu vi um brilho de gratidão misturado com a tristeza.
-Obrigado, madrinha. - Ele murmurou, apertando levemente minha mão. -Às vezes sinto que estou afundando.
-E está tudo bem, Fuyu. - Respondi com um sorriso encorajador. -Não há problema em pedir ajuda, e nós sempre estaremos aqui para você.
Fuyuki assentiu, parecendo um pouco mais leve. Continuei cuidando de seus ferimentos em silêncio, deixando que ele processasse tudo o que sentia, sabendo que ele precisava desse espaço para se recuperar. Quando terminei, dei um beijo em sua testa, como fazia quando ele era criança.
-Agora, você vai descansar um pouco. E, sim, Fuyu, é uma ordem. - falei e ele riu, um pouco mais sincero dessa vez.
-Ok, sogrinha. - ele zombou, se levantando. -Obrigado por tudo.
-Sempre, Fuyuki. Sempre.
Fuyuki não demorou para ir até o quarto antigo de Shin, pois era claro que eu não os deixaria ir embora naquele momento. Com um suspiro, apenas fui para cama, me sentindo incrivelmente cansada. O dia tinha sido difícil o suficiente, então não hesitei em afundar na cama ao lado de Katsuki, meu rosto pressionando contra o travesseiro.
-Que dia, hein. - Katsuki zombou e eu apenas murmurei.
-Nem me fale. - resmunguei.
Katsuki apenas riu, se aproximando um pouco mais de mim e me apertando em seus braços. Eu afundei o rosto na curva de seu pescoço e fecheu os olhos, me sentindo incrivelmente mais tranquila. Era algo que apenas Katsuki conseguia me proporcionar. E nada mais precisava ser dito entre nós.
Eu não estava na minha casa quando acordei. Demorei um tempo para perceber que aquela não era minha cama e aquele já não era mais meu quarto, mas sim que eu estava na casa dos meus pais, as paredes do meu antigo quarto repletas de pôsteres que eu tinha colocado quando era adolescente e nunca tirei. E definitivamente eu não estava sozinho, porque tinha um braço ao redor de mim me apertando. Suspirei, fechando os olhos mais uma vez e me aconchegante no calor do corpo de Fuyuki, me sentindo incrivelmente melhor apenas com sua presença. Eu sabia que a noite de ontem tinha sido uma verdadeira merda, mas tudo isso desaparecia da minha mente quando eu estava com Fuyuki. Honestamente, nada mais tinha importância, e o mundo inteiro podia se explodir. Tudo o que verdadeiramente importava era que Fuyuki estava ali comigo e estava bem.
Meu corpo arrepiou quando senti o nariz de Fuyuki deslizando pelo meu pescoço. Eu o conhecia bem o suficiente para saber que apesar de ter feito aquilo de forma arrastada, como se tivesse dormindo, ele estava bem acordado. Não consegui evitar o suspiro que escapou pela minha garganta, minha mão deslizando pela dele e o puxando para mais perto de mim. Claro que aquilo seria incentivo o suficiente para meu tolo marido, que deixou os lábios tocarem lentamente a pele exposta do meu pescoço, beijando suavemente e lambendo, seus dedos percorrendo pelo meu abdômen.
-Você não deveria estar dormindo? - resmunguei sem fazer menção de abrir os olhos ou me virar. Fuyuki riu contra a pele do meu pescoço, a mão contornando cada parte do meu corpo de forma preguiçosa.
-Você não faz ideia do como é difícil dormir do lado do cara mais gostoso do planeta. - ele resmungou, sua mão livre enroscando no meu cabelo e puxando lentamente meus cachos. Suspirei, me aproximando mais de Fuyuki.
-A gente tá na casa dos meus pais, sabia? - falei, apesar de não estar me importando muito com isso. Ainda assim, Fuyu riu, fazendo eu me virar para fita-lo.
Fiz uma careta. Como de costume, ele estava com o olho roxo e mais um corte na pele. Sutilmente, estendi a mão para tocar seu rosto, fazendo ele fechar os olhos e suspirar com o gesto.
-Odeio isso, Fuyuki. - falei baixinho, algo que já tinha dito mil vezes e que ele sabia melhor que ninguém. Fuyuki não disse nada; apenas segurou minha mão e beijou minha palma.
-Eu sei, meu amor. - ele disse gentilmente, seus olhos heterocromaticos que eu amava tanto fixos nos meus. -Mas está tudo bem agora. Sempre fica tudo bem quando estou com você.
Era impossível não amar Fuyuki. Era impossível pensar em um futuro sem ele, e por mais que eu ficasse aterrorizado todas às vezes em que ele ia para alguma missão, eu sabia que Fuyuki voltaria para mim. Eu sabia que ele sempre faria de tudo para voltar para mim, independente de qualquer coisa. Isso era sufuciente para mim.
Sorri levemente, puxando Fuyuki para um beijo suave, tentando transmitir todo o amor e alívio que sentia por tê-lo ali, seguro. Seus lábios eram familiares e reconfortantes, um lembrete constante de que, apesar dos perigos e das incertezas, ele sempre encontraria o caminho de volta para mim.
-Promete que vai se cuidar mais? - Sussurrei contra seus lábios, ainda segurando seu rosto com delicadeza. Fuyuki sorriu de volta, aquele sorriso cansado, mas sincero, que me fazia acreditar que, apesar de tudo, estávamos bem.
-Eu prometo, Shin. Vou me cuidar. Por você. - Ele falou com seriedade, seus olhos fixos nos meus, como se quisesse que eu acreditasse em cada palavra. Acariciei seu rosto novamente, sentindo o calor da sua pele sob meus dedos, enquanto uma onda de paz me inundava.
-Então, está tudo bem. - Murmurei, aninhando-me mais em seus braços. Ele me apertou ainda mais forte, suas mãos acariciando minhas costas em um gesto tranquilizador.
-Você nunca vai me perder, Shin. Nunca.
Aquelas palavras, ditas com tanta certeza, foram tudo o que eu precisava ouvir. Fechei os olhos, me deixando ser envolvido pela presença de Fuyuki, me sentindo mais seguro do que nunca. Mesmo com todas as incertezas lá fora, aqui, nos braços dele, eu sabia que estava exatamente onde deveria estar. E isso bastava.
boa noite povo bonito!
tudo bem com vocês? espero que sim!
que saudades eu estava do fuyu e do shin 🥺 acho que uma parte minha nunca vai desapegar desses dois, então deixo aqui um especial de 13500 palavras deles pra vocês, extremamente caótico mas também reconfortante
aliás, também tem dois especiais em ocean eyes que contam o que aconteceu depois que a atsuko se sacrificou pelo fuyu, acontece um ano antes desse capítulo que vocês leram agora. para quem não viu, dá uma passada lá hihi
inclusive, dedico esse especial a maanuzx0. seus comentários me fizeram ter uma saudaaaades deles, e me motivaram a escrever esse especial. espero que goste S2
beijos na bundinha
~Ana
Data: 16/01/25
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