Union Square Park
Podíamos escutar os preparativos ao lado de fora, objetos batendo, e a maneira como eles conversavam...não sou o mais adequado para diferenciar sotaques, entretanto era uma mistura do inglês britânico com um pouco de francês, deveras horrível de se escutar. Finalizando a implantação do que seria uma bomba, em seguida veio o barulho do botões sendo apertados, todos na cabine se espremeram para trás, eu e Isabella estávamos um pouco mais a esquerda, praticamente ao lado de Kaleb e seu filho, antes da explosão tive a impressão de ver um sorriso, o problema é que não lembro a quem pertencia, a porta explodiu, foi arremessada em cima de nós, gritos e mais gritos, a poeira foi baixando e deitado no chão com um ensurdecedor zunido no ouvido pude ver um homem alto, cheio de tatuagens, e uma cicatriz no lado direito do rosto, ele entrou olhando para os lados como se procurasse por alguém, seus olhos pararam em Kaleb, mais dois homens entraram na cabine com armas em mãos, meu instinto na hora foi de proteger Isabella, quando a aperto em meus braços percebo que ela estava desacordada, na explosão objetos devem tê-la atingido, ou teria sido apenas o choque, menos mal, com ela desacordada não teria que ver o nosso fim.
– Atire neles, matem todos! – Como assim? Eles vão atirar em todos nós? Pensei que queriam tomar Kaleb como refém e quem sabe até mesmo alguns de nós! O cara da cicatriz ordenou sem piedade e deu as costas.
Quando os dois capangas se posicionaram para atirar ouvimos a guarda-costeira anunciando a sua chegada por um alto falante, os dois vacilaram por um segundo, o cara que discutia conosco mais cedo me deu um tapa no ombro e sinalizou com os olhos para onde estava a arma, o desgraçado tinha percebido também, sem pensar muito me joguei em baixo do painel e a peguei, fiz exatamente como nos filmes, engatilhei, atirei e incrivelmente acertei o abdômen de um deles, a moça que anteriormente se encontrava próxima ao leme dá um grito e tenta sair correndo, infelizmente ela levou um tiro, o cara que me sinalizou imediatamente pula em cima do capanga ferido pelo meu tiro e toma a arma dele, com agilidade e uma certa perícia o cara dispara em ambos os capangas, o chefe havia corrido por causa da guarda-costeira, aquela situação horripilante terminava diante de nosso olhos, expressões de alívio se espalhava pelo local, lembro-me de ter olhado para Javier e ele desviar os olhos de mim, deveria estar em picos de estresse, não o culpo, eu mesmo segurava para não fazer xixi nas calças.
As coisas se acalmaram, os oficiais chegaram, faziam os primeiros socorros em todos, eu estava com uma forte náusea por causa do barulho da explosão, Isabella acordou e foi examinada, um objeto havia a atingido, porém nada demais, ela só desmaiou e ficou com um galo na cabeça. O cara que me ajudou sumiu em meio a enfermeiros e sobreviventes, e por falar nisso, a moça que levou o tiro foi a óbito, o tiro atingiu seu pescoço, perdeu muito sangue e não resistiu. Eu permanecia sentado com Isabella no barco da guarda-costeira quando o senhor Kaleb veio ao meu encontro, me disse algumas palavras de agradecimento.
– Obrigado meu filho, sem a sua bravura e a daquele rapaz ninguém teria sobrevivido.
– Obrigado senhor, a minha sorte foi ter avistado a arma, e aquele rapaz me proporcionou o momento de agir no instante que a ajuda chegou, ele é o verdadeiro herói de hoje! – Às vezes eu forçava um pouco de humildade, não que eu realmente fosse assim.
– E por falar nele, para onde ele foi? – O velho parecia realmente ter mudado o interesse em mim, na hora não deveria ter dado todos os créditos ao cara.
– Ele sumiu senhor Kaleb, deve estar escondido em algum lugar esperando ser levado para casa. – O herói não quis receber as horarias.
– Enfim, pena ele não estar aqui! Mais uma vez obrigado meu rapaz, por se arriscar e salvar todos nós. – Agora sim velhote! – A propósito, como é seu nome rapaz? Quero pelo menos saber o nome daquele que me salvou.
– Steve, Steve Collins! – Aceitaria esse navio como agradecimento.
– Collins é... Sinto que já ouvi esse sobrenome em algum lugar...
– É do meu pai, o senhor já deve ter sido cliente dele!
– Sim, verdade, ele é um bom homem. – Discordo um pouco, meu pai não era lá um bom exemplo.
O bilionário senhor Kaleb foi embora, sem nem deixar alguns milhões para o seu salvador, afinal eu esperava o quê? Ser apadrinhado? Era a triste verdade, por isso, posteriormente a toda essa tragédia eu logo me concentrei em terminar a minha faculdade, dinheiro não caia do céu, meu pai me dava o necessário para pagar as mensalidades e não passar fome, e o velho rico não me bancou também, só me restou os estudos. Final de 1993, finalmente formado, Isabella se formou no mesmo ano que eu, em medicina veterinária, era apenas bons momentos, vivíamos ao limite para aproveitar os últimos momentos antes de arrumarmos emprego. Janeiro de 94 foi a minha formatura, bebi como nunca tinha bebido antes, fiz várias besteiras, uma delas foi chegar na casa dos meus pais às 2hrs da madrugada fora de mim e fazê-los passar vergonha diante dos vizinhos, eu literalmente saí correndo pelado e gritando em frente a casa dos meus pais, até a polícia foi acionada, só me lembro de ter acordado no departamento de polícia de Manhattan com uma puta dor de cabeça, bons tempos. Depois daquilo eu parei de receber a mesada do meu pai, minha mãe que era praticamente submissa a ele não quis contraria-lo, contudo é como dizem, á males que vêm para o bem, me mudei para Long Island com o dinheiro de minhas economias, logo de início Isabella se mostrou relutante, se negava a ir, meu entusiasmo não a atingiu, segui em frente sem ela, não que isso teria ocasionado no fim do nosso relacionamento, não, terminamos um tempo depois, mas ainda sobre a minha mudança, consegui um lugar ótimo perto do centro, o apartamento era novo, um pouco mal cuidado por causa do antigo morador, nada que uma mão de tinta não desse jeito. Quase um mês depois dei início no cargo de auxiliar administrativo em um Banco, as coisas vinham se ajeitando a sua maneira, algumas semanas depois conheci um rapaz, Anthony Conrad, 18 anos, 3 anos mais novo do que eu porém muito inteligente e vivido, estava entrando em seu penúltimo ano da faculdade e precisava de um lugar para morar já que seu antigo prédio seria demolido para a construção de um shopping, ele vivia independente dos pais na cidade grande, não pensei duas vezes e o chamei para ser meu colega de quarto, ou melhor, de apartamento.
Quase 2 meses depois de me mudar Isabella veio me fazer uma visita, eu ainda insistia que ela se mudasse para Long Island, ficar perto de mim, mas por causa do emprego que ela teria arrumado em Manhattan sua mudança se tornava improvável. Era início de Abril, tudo seguia muito bem, já estava acostumado com o trabalho, e vivia minhas farras sempre que possível, foi então que certos acontecimentos em Manhattan forçaram Isabella a se mudar, uma série de assassinatos se iniciou, um serial killer apelidado de Buddha Puzzle transformava a cidade num inferno e por causa disso, temendo por sua vida Isabella veio para Long Island, mas não ao meu apartamento, ela havia trazido mais 2 amigas para dividir uma casa. Por causa desses assassinatos na minha cidade natal logo fiquei preocupado com meus pais, sempre que saia uma notícia no jornal falando das pessoas assassinadas eu ligava para eles, toda vez era minha mãe que atendia, e ela sempre me acalmava, certas vezes liguei para meu pai no trabalho, mas o homem bruto muitas vezes não queria falar, e quando falava me dava sermões. Em suma, um ano depois fiquei sabendo da morte dele, a essa altura eu já não sentia muita coisa, só me preocupava com minha mãe, foram tempos de aflição, mas passaram. 2 anos depois eu e Isabella terminamos, quanto a isso não é necessário detalhes, não tínhamos mais a mesma química. Para a minha alegria, neste mesmo ano meus esforços foram reconhecidos, me tornei subgerente do Banco, Anthony já tinha terminado a faculdade e conseguiu um emprego melhor, no final das contas e apesar de tudo, foram bons anos.
Enfim chegamos ao presente, a história da minha vida está tomando seu rumo, meu testamento escrito mentalmente está ocasionalmente chegando ao ponto final.
1999, setembro, creio que foi há dois dias atrás que recebi o convite para jantar no mais novo e um dos mais requintados restaurantes de Long Island, o Union Square Park, se eu tivesse desconfiado daquele convite evidentemente pitoresco, chamativo e provavelmente mortal, eu não estaria aqui amarrado e com um saco na cabeça.
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