Prólogo
Catorze anos atrás
Foi o barulho no andar térreo da casa que arrancou Elisa do sono.
Ela abriu os olhos, se revirando na cama, fitando a janela. Ainda estava escuro do lado de fora. Tentou voltar a dormir. Tinha que ir para a escola de manhã e precisava descansar.
Mas as vozes e o barulho lá embaixo...
Elisa contraiu os lábios, mordida pela curiosidade.
Escorando-se para fora da cama, a menina de dez anos saiu do quarto do jeito mais silencioso que conseguiu.
Parou no alto da escada e se agachou, ficando escondida atrás do corrimão, de onde detinha uma boa visão da sala do andar de baixo. Dali, enxergou sua mãe e seu pai em pé. André estava sentado no braço do sofá. E, ao lado de seu irmão mais velho, Elisa viu Cauã, o melhor amigo dele.
— Mas o que aconteceu, querido?
— O de sempre, dona Dora. — Cauã inspirou fundo e enterrou os dedos nos cabelos, abaixando a cabeça. — Meus pais beberam além da conta, começaram a gritar um com o outro e atirar objetos para todos os lados, meu irmão simplesmente se enfiou no quarto com as merdas dele e... Quando vi, já estava no meio da rua, tentando respirar um pouco.
— E ligando para mim — André complementou. — Por isso que eu o trouxe até aqui, mãe.
— E fez certinho, André. Você vai passar a noite conosco, Cauã.
— Não precisa, dona Dora.
— Precisa sim — ela decretou, apoiando as mãos na cintura. Elisa sabia que, quando sua mãe assumia aquela pose, sua decisão já tinha sido tomada e nada a faria mudar de ideia. — Arrumaremos um quarto para você. Amanhã será um novo dia.
— Ele pode dormir no meu quarto.
— Ótima ideia, André. Subam. Pode pegar mais travesseiros lá no armário do meu quarto.
Ao ouvir aquilo, Elisa se levantou num pulo e correu de volta para o próprio quarto. Olhou para os brinquedos enfileirados na prateleira e pegou o Senhor Tadeu, seu ursinho de pelúcia preferido.
Girando nos calcanhares, correu outra vez pelo corredor, os pés batendo alto no chão, e entrou no quarto de André.
Só Cauã estava ali.
— Elisa? — ele perguntou, arqueando as sobrancelhas ao vê-la.
Elisa estendeu o ursinho para Cauã.
— Pra você.
— Sério? Mas ele é seu.
— Já tô grande demais. — Elisa ergueu o queixo e fez bico. Cauã tinha a mesma idade do seu irmão mais velho, mas era bem mais alto. Tão alto que ela quase tinha que inclinar toda a cabeça para trás. — Mas ele é uma boa companhia. Então pode dormir com ele.
— Ninguém quer um ursinho cheio de baba, pirralha — André cantarolou, entrando no quarto com travesseiros e cobertas nos braços.
Elisa bateu o pé e encarou o irmão.
— Eu não babo!
— Baba sim — André provocou. — Porque é uma pirralha babona.
— Não babo!
— Pirralha babona, volte para o seu quarto. — Rindo, André a segurou pelos ombros e a guiou até a porta. — Pirralhas babonas precisam dormir cedo.
Ela ralhou e bateu o pé outra vez.
André não cedeu.
Com um suspiro irritado, caminhou para seu quarto.
— Ei.
A voz de Cauã fez Elisa olhar para trás. Ele estava parado no meio do corredor, segurando o Senhor Tadeu nos braços.
— Obrigado pelo urso. Cuidarei bem dele.
— Acho bom — ela disse.
Cauã soltou um riso baixo.
O som tilintou pelo corredor, atravessando os arcos da noite, os suspiros silenciosos da casa.
Elisa sentiu o coração disparar.
Algo naquele riso a fez prender o ar, se virar e correr de volta para o quarto, se enfiando embaixo das cobertas.
Ela rolou de um lado para o outro, demorando para pegar no sono.
Mas, quando finalmente dormiu, Elisa sonhou com o campo de vinhas, com ursinhos de pelúcia e com o sorriso lindo e cativante do melhor amigo do seu irmão.
E achou melhor não contar sobre o sonho para ninguém.
Sim, eu sei que concluí Jardim de Estrelas ontem, mas já estou com vários capítulos prontos desta história e a ansiedade falou mais alto kkkkkkkk
Então, as postagens de Horizonte de Essências serão iniciadas ♥
E sigam em frente, porque como hoje é o lançamento, VOU POSTAR OS CAPÍTULOS 1 E 2 TAMBÉM ----------->
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