Capítulo 20. Equilíbrio
Levei Megumi até uma cafeteria local, nos sentamos em uma mesa reservada. Ele pediu café puro, me surpreendi com seu pedido. Ele era jovem, com um gosto um tanto adulto. Tive receio, de além dos seus gostos, que suas ações também houvessem se tornado maduras.
— O Sensei sabe dessa maldição?
— Ele está ciente de que Kenjaku é uma ameaça, entretanto tomar conhecimento do seu hospedeiro... não o deixaria enfrentar com total sanidade. — Peguei minha xícara com café, bebi um gole e me encostei no lugar.
— O Sensei Gojo é um dos feiticeiros mais fortes e menos abaláveis que conheço, é um erro não contar com a ajuda dele.
— Você não entende.
— Então me explica. — Ele se encostou e cruzou os braços, desviei o olhar pensando em uma resposta decente.
— Satoru tinha um melhor amigo, costumávamos ser eu, Shoko, Gojo e... Geto. — Comecei a explicar, ele franziu o cenho. — Um dia Geto apenas se cansou dos humanos, de defender os mais fracos... eu sei que ele sempre detestou gente comum.
— Então ele se tornou uma maldição? — Megumi perguntou, neguei.
— Um tempo depois que deixei Shibuya, descobri que m-meu amigo... — Suspirei novamente, era difícil pensar em tudo pelo que Suguru passou, e não ter feito nada para ajudá-lo. — Geto um falso "herói", ele virou um mercenário. Ao invés de ajudar pessoas vulneráveis... humanos, com maldições. Passou a usá-las para coletar maldições e dinheiro.
— Ele se tornou um monstro então. Seu amigo agiu feito covarde, e matou inocentes. — Ele retrucou, irritado só de imaginar.
— E-eu não sei como ele pôde... ele matou quem não tinha condições, oi não se encaixava em nenhum dos seus... benefícios próprios.
— Deve ter sido difícil para você.
— Foi mais difícil para o Satoru. Eles eram melhores amigos. O que Suguru se tornou depois... — Senti meu rosto queimar, tocar nesse assunto me deixava emotiva até demais. — Mas quando o encontrei novamente, não era mais o Suguru. Aquela maldição tomou conta do seu corpo. Nanami e eu buscamos respostas, ainda estamos tentando entender quais os objetivos de Kenjaku. Por isso, preciso que mantenha entre nós.
— Ele vai descobrir em algum momento. — Megumi argumentou, não respondi, ele continuou em silêncio esperando uma resposta.
— Só preciso de tempo. Precisamos lidar com Kenjaku antes. — Sugeri, ele cruzou as pernas, seus pés estavam inquietos.
— Como assim lidar?
— Suguru é a chave. Sei que ele está lá, pode ter um jeito de trazê-lo de volta.
— Espera. Eu não entendi. Por que trazer um assassino de volta? — Megumi hesitou, preocupado com o rumo que a conversa estava tomando.
— Se Suguru tomar o controle de Kenjaku, podemos detê-lo de forma pacífica. Assim, ninguém se machuca.
— É uma maldição no corpo de um feiticeiro Jujutsu que assassinou inocentes. Só estaria trocando o leão pelo tigre. — Ele usou uma metáfora para definir a situação. — Não pode estar pensando que ele vai te ajudar só por ser uma velha amiga, não é?
— Eu aprecio sua preocupação sobre a situação. Mas se o hospedeiro não ceder, então, vamos detê-lo de qualquer forma.
— Entendi. — Ele afirmou, terminei meu café, o paguei e Megumi me acompanhou até saída da cafeteria.
— Eu prometo. Sua irmã vai ficar bem. — Tentei deixá-lo mais aliviado, ele afirmou. — Quando quiser visitá-la, basta me avisar e darei um jeito.
— Obrigado.
— Tudo bem, por mais que não goste, você é da família.
Assim que me despedi de Megumi, liguei para Nanami e o alertei de tudo. O avisei que agora Megumi sabia de Kenjaku, Suguru e a situação de sua irmã. Não podia deixar de lado o fato de que confiava nele por ser Zenin, por ser parte da família mesmo que não quisesse.
*
Desde que era apenas uma criança, sempre tive o sonho de ver uma cerejeira florescer. Na nossa cultura, elas significam esperança... renovação. Suas pétalas dançavam no céu, enquanto caminhava por um jardim coberto por elas. Raios de Sol entravam por entre os galhos das árvores, deixando o ambiente bem iluminado.
Em alguns passo à minha frente havia alguém usando uniforme da academia Jujutsu, uma garota com longos cabelos lisos. Parei ao seu lado, ela olhava diretamente para uma fonte com água cristalina. Dentro desta fonte, haviam duas carpas em cores distintas, uma completamente preta enquanto a outra completamente platinada.
— Você veio. — Ela disse sem me olhar, me virei, seus cabelos eram escuros feito carvão.
— Eu demorei? — Franzi o cenho tentando lhe tirar alguma resposta, ela sorriu.
— Não tanto quanto eu. — Me disse, ficamos em silêncio analisando ambas as carpas opostas, nadando em sincronia.
— O que estamos olhando?
— Eu não sei. O que acha? — Perguntou e virou para mim, seus olhos eram tão azuis quanto o céu, como os olhos de... Satoru.
— Nós... nos conhecemos?
— Espero que sim. — Ela riu gentilmente, hesitei. — É hora de ir.
— Ir?
Quando abri meus olhos, estava deitada, não havia ninguém ao meu lado na cama e o como estava mal iluminado. Era em torno de 4 horas da manhã quando me levantei e fui até o banheiro. O sonho me embrulhou o estômago fazendo-me colocar todo o meu jantar para fora. Parei em frente ao espelho, pensei nas imagens que acabara de ver em minha cabeça, era tudo... um sonho?
— Você está bem? — Satoru me assustou parado na batente da porta.
— Não é nada. — Passei por ele, beijei sua bochecha como um cumprimento e fui até a cozinha.
— Você está doente já faz um tempo...
— Eu estou bem. — Peguei um copo vazio e o enchi com água da pia, o bebi. — Só tive... um sonho intenso.
Satoru se aproximou e segurou meu rosto, sentindo o calor em minhas bochechas.
— Estou bem Satoru. Não se preocupe. — Retirei suas mãos, ele não demonstrou desconforto, apesar de sentir incômodo.
— Sobre o que era o seu sonho?
— Eu não sei. — Resmunguei, voltei para o quarto, ele me seguiu e trocou de roupa enquanto me ajeitava na cama.
— As vezes, sonhos são avisos de algo que estamos deixando passar. — Ele me disse na tentativa de tirar alguma resposta. — Tem algo incomodando você?
— Não é nada.
— Tudo bem. — Ele se deitou ao meu lado, e se espreguiçou na cama. — Nesse caso, então eu preciso dormir. Quando quiser me contar, estarei bem aqui.
— Obrigada. — O respondi e me deitei de costas, ele não expressou reação, apenas me observou por um tempo antes de dormir.
Não conseguia fechar meus olhos. Era difícil não pensar no que vi, na imagem de uma garota que me transmitia uma sensação estranha de deja vu. De alguma forma, parecia conhecê-la de algum lugar... e as carpas tinham cores distintas, eram claramente uma representação de equilíbrio. Nem mesmo suas palavras tinham significado, tudo foi apenas... muito superficial e confuso.
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