Vinte e Um
Ela tarda, mas não falha...kkk... Alecrins, esse capítulo não foi tão fácil de escrever, e na verdade eu tinha outros planos, mas não fluiu como esperava, então tive que deixar, mais uma vez, eles decidirem o enredo. Deixa um votinho para me alegrar?
Alexia olhou mais uma vez pela janela da sala, contemplando a rua e sua pouca movimentação, segurando a xícara de café, com vários pensamentos a permearem sua mente. Miguel levantou os olhos do notebook, e ficou absorto naquela visão que lhe acelerava o coração. Mesmo com roupas cotidianas, um blusão e bermudas jeans, a morena tinha uma beleza que o hipnotizava, e não era apenas exterior. Ele estava sentado em um dos puffs, e tentava comprar as passagens deles para Moçambique. Era domingo de manhã, então não havia pressa, e em ambos residia a letargia típica das manhãs de domingo, a calmaria.
— A internet não está colaborando, Lexi. — Ele disse para chamar a atenção dela, que se virou com um sorriso preguiçoso, andando com tranquilidade até ele.
— Não deveria estar ruim, quem usa a internet, domingo de manhã, para congestionar o sinal? — Ela perguntou, ainda com a xícara nas mãos, aproximando-se para ver o site que não carregava.
— Nós? — Ele perguntou, voltando-se para ela, que estava atrás de si, com os olhos levemente inchados, denotando sua sonolência.
— Sim, nós, mas quem mais? E eu achei que seria o melhor momento para fazer isso, porque não teria muita gente usando a internet. — Resmungou ela, afastando-se para ir à cozinha. — Se soubesse, não teria acordado cedo. — Bufou, buscando a garrafa de café para servir-se de mais. — Quer mais café? — Perguntou, com a voz mais elevada.
— Não, obrigado. — Miguel respondeu, colocando o site para recarregar e vendo que finalmente entrava a conexão. — Deu certo, entrou. Agora só falta conferir se ainda está na promoção e comprar as passagens. — Explicou, levantando os olhos para a encontrar parada atrás do balcão, olhando fixamente para ele. — O que está pensando tanto hoje? Desde que cheguei, está com essa expressão de estar refletindo, e estou quase com medo. — Brincou ele, embora sua última afirmação fosse verdadeira.
— Não precisa ter medo, e eu sei que é raro eu ficar pensativa, mas ainda estou acordando, dá um desconto. Ainda nem são oito horas, e a Lira está dormindo. — Diante da expressão de dúvida dele, ela riu. — Ok, estou pensando em como tanta coisa tem acontecido nas vidas de todos nós, quase ao mesmo tempo. A chegada de Lira, eu te conhecer, a Lice estar grávida de trigêmeos, a San adotar o Akili, o pai do André vir morar aqui com a Clarinha. Parece que as coisas esperam para acontecer ao mesmo tempo. — Refletiu, com uma careta, e Miguel sorriu. — Mas sabe, eu estou gostando dessa nova fase, mesmo que não tenha ideia de onde isso vai dar. — Ela sorveu o último gole do café e deixou a xícara sobre a pia, indo até o namorado em seguida.
— Vai dar no nosso casamento. — Ele respondeu, quando ela estava próxima o suficiente para que pudesse estudar suas reações. Alexia parou, e estática o encarou por longos segundos, sem saber o que fazer em uma situação daquelas. O moçambicano, vendo a expressão de confusão no rosto da namorada, puxou-a para si, quase fazendo o notebook cair de seu colo. O puff era grande o suficiente para caber os dois, embora ficassem praticamente colados, sem espaço a sobrar entre eles. Ele passou um dos braços pelos ombros dela, e com a outra mão segurava o notebook para esse não cair.
— A gente vai casar? — Ela perguntou, a voz baixa, encostando sua cabeça sobre o ombro dele. — Acabamos de começar um relacionamento e você já fala disso, não tem medo de me assustar? — Brincou, ainda sussurrando, e levantou minimamente o rosto para o encarar.
— Eu te assustei? — Tornou Miguel, buscando o olhar dela, que negou com um acenar. — Um dia vamos, não vamos?
— Se você está dizendo. — Ela replicou com um sorriso brincalhão, e se esgueirou para o beijar, sentindo seu coração se aquecer e percebendo o quanto gostava daqueles momentos com ele, as coisas mais simples. — Agora termina de fazer a compra das passagens, preciso colocar a roupa para lavar. — Deu um último beijo nele e se levantou, ainda sem desconectar seus olhares.
— Eu te amo, Lexi. — O moçambicano falou, assim que a viu se afastar em direção ao quarto.
— Eu sei. — Ela respondeu com picardia, virando-se na direção dele, os olhos mais brilhantes que outrora.
— Um dia você também vai me amar. — Brincou ele, e a morena sorriu, voltando a caminhar para o quarto.
— Talvez eu já ame. — Murmurou para si, enquanto buscava o cesto de roupas que estava em seu quarto, parando para observar Lirhandzo, que ainda dormia, toda esparramada pela cama. Tão terna, tão pura, e tudo que Alexia queria era que ela pudesse ser feliz, protegida, sem traumas.
Saiu do quarto, sem fazer barulho para não acordar a garotinha, e se encostou na parede do lado de fora por alguns segundos, refletindo na nova informação processada por seu coração. Amava Miguel. E não era o mesmo sentimento que tinha por Caíque, ou por qualquer outro namorado antes dele. Com os outros, sempre tentava estar à altura deles, ser a "namorada perfeita", e anulava qualquer defeito que talvez tivessem. Colocava uma carga tão grande sobre si, que era incapaz de perceber quando eles erravam, até que fosse tarde. Em cada momento, fazia questão de mostrar quão envolvida estava, e isso rendeu uma boa quantidade de lágrimas por quem não valia a pena. Quando falava do futuro, de seus planos pessoais, eles diziam que ela os assustava, que ainda era cedo, que teriam todo o tempo para falar nisso no futuro, mas o futuro nunca chegava.
Estava tão desacostumada a ser vista com tamanho amor por alguém, que tinha medo de tudo não passar de um sonho bom, e em algum momento descobrir que ele era como os demais. Não, ele não era como os outros. Era seu Mugui, com seu jeito sincero de falar o que pensava, sem medo de ser cedo demais. Pela primeira vez, entendia que o amor só era saudável quando existia reciprocidade, e que não se forçava alguém a amar. Ele a amava sem cobranças, sem apontar seus defeitos e dizer que era sua culpa algo não dar certo, e olhava-a com tamanha ternura que ela sentia que poderia desfalecer a qualquer momento. Era diferente, era único. Saber que podia se abrir, conversar sobre qualquer assunto, contar seus planos, era algo que não tinha preço. Sim, amava Miguel, e teria de contar isso a ele, precisava mostrar que também se importava, que seu coração era totalmente dele. Dele e de Lira.
Mas, antes que pudesse revelar seus sentimentos a ele, ouviu as batidas na porta, e soube que as declarações teriam de esperar. Deixou o cesto no canto da sala, e foi até a porta, pensando em que tipo de pessoa teria a audácia de aparecer na casa de alguém em um domingo de manhã, sem prévio aviso. Foi surpreendia ao ver a pequena criatura do outro lado, acompanhada por André. Com laço no cabelo cacheado, óculos lilás e vestido azul, Clarinha abriu um enorme sorriso ao ver a porta ser aberta.
— Clarinha? Que saudades, pequena! — A menina se jogou sobre a mais velha, parecendo em um ápice de felicidade, e Alexia teve que se segurar no batente para não cair. Outra criança empolgada para acompanhar Lirhandzo, refletiu.
— Lexa! Eu estava com saudades! — Clara disse, e jogou a mochila, que estava em suas costas, no chão da sala, mostrando que passaria algum tempo ali.
— Ela chegou ontem, e passou o dia lá em casa, hoje me ligou sete da manhã dizendo que queria ver a Lexa, porque não tinha nada para fazer na casa dela. Na verdade, ligou primeiro para o Pedro, mas ele disse que a Lice ainda estava dormindo, porque teve enjoo durante a noite. — O loiro se justificou, ainda sem entrar no apartamento, mas olhando para dentro e percebendo que havia mais alguém ali. — O Miguel está aqui? — Perguntou.
— Sim, a Lira dormiu aqui, e hoje ele veio cedo para comprarmos as passagens para Moçambique, mas a internet não está ajudando muito. — Contou a morena. — Então você queria me ver, Clarinha? — Voltou-se para a menina, que já estava escrutinando todo o local, parando seu olhar em Miguel, que observava a cena algo confuso.
— Sim, ontem eu fiquei na casa do Andy, eu sou tia agora, Lexa. — A menina disse, e a mais velha teve que rir do ar de responsabilidade com que ela proferiu a frase. — Eu vou para a casa do Pê na hora do almoço, a Lica ainda está dormindo. Aí pedi para o Andy me trazer aqui, não queria ficar sem fazer nada em casa. — Sem cerimônia, a pequena garotinha de cabelo cacheado e pele avelã falava, mostrando sua personalidade excêntrica e algo hiperativa.
— Entendi. Então ela vai passar a manhã aqui? — Murmurou a morena para André, que deu de ombros, como se dissesse que a escolha era da pequena. Antes que percebessem, a menina já ia em direção ao Miguel, e o cumprimentava solenemente.
— Olá, eu sou a Clara, e você, quem é?
— Eu sou o Miguel, namorado da Alexia. — Ele respondeu segurando o riso.
— Ah! — Clarinha refletiu por alguns segundos e continuou. — Prazer, Miguel. Eu sou a... — Tentou lembrar do termo que deveria usar para se referir à sua relação com Alexia. — Como é mesmo o nome, Lexa? Eu sou o que sua?
— Concunhada, Clarinha. — A mais velha respondeu, segurando o riso, pegando a mochila que jazia no solo e a colocando sobre o gancho na sala.
— Isso, concunhada. É que meus irmãos são casados com as irmãs dela, sabia? — Miguel negou, contraindo os lábios para não rir da menina, que com tanta seriedade explicava o assunto. — O Andy é casado com a Sandy, e o Pê é casado com a Lica. Aí só sobrou a Lexa. — Concluiu a pequena. Quando mais nova, ela havia apelidado todos da família de acordo com sua linguagem limitada, e, mesmo aos nove anos, continuava a chamá-los pelos apelidos escolhidos.
Depois que André se despediu, Alexia voltou a se aproximar da tagarela garotinha, que parecia engajada em uma conversa muito profunda com Miguel. A irmã dos gêmeos, apesar de ter vivido toda sua infância na Espanha, falava com fluência o português, e todos os anos, ela e o pai visitavam o Brasil. E agora moraria ali, perto dos irmãos, e a morena pensava que era realmente uma boa ideia. Seria bom para Lira ter mais uma amiga. O que ela não esperava era que Lirhandzo não gostaria de Clarinha e que sentiria ciúmes dela.
Sim, assim que acordou e percebeu que havia mais alguém na casa, uma pessoa que não conhecia, a pequena mostrou não estar disposta a dividir seu espaço e atenção com a nova integrante. Diferente de sua reação com Akili, Lira não estava empolgada com a visita de Clarinha, e sua irritação era evidente, o que deixou Alexia preocupada.
— Lexa. Eu trouxe giz de cera e papel para desenhar, você me ajuda? — A recém-chegada disse, enquanto estava sentada, de frente para Lirhandzo, tomando o café-da-manhã.
— Não é Lexa. É Lexi. — Corrigiu a outra, de mau-humor.
— Não tem problema ela me chamar assim, mini adulta, cada uma tem seu apelido para mim. — A morena tentou apaziguar.
— Mas o certo é Lexi, mãe. — A pequena frisou a última palavra, como se quisesse marcar seu espaço, e Clara as observou, confusa.
— Você é mãe dela, Lexa? — Perguntou a menina que usava óculos, com uma expressão de dúvida.
— Sim, Clarinha, Lira é minha filha. — Respondeu a mais velha, antes que Lirhandzo pudesse contestar.
— Igual o Akili é filho do Andy e eu sou filha do meu pai? — Na mente infantil de Clara, era fácil associar a situação de Lira com a sua própria, sendo ela adotada, e de seu sobrinho. Todos eram filhos, e ela entendia que não havia distinção.
— Isso mesmo, é filha igual você é filha do seu pai. — Concordou a morena, retirando os copos usados pelas pequenas, e os levando para a pia. A garotinha moçambicana continuava a encarar a outra, sem nenhuma intenção de melhorar seu humor durante aquela manhã.
Depois do fiasco no café-da-manhã, o dia não melhorou para as duas meninas. A garota de cabelo cacheado até tentou se aproximar, mas logo desistiu ao ver a resistência da mais nova, e resolveu tentar interagir com os adultos. Essa decisão não agradou Lirhandzo, que começou a exigir a atenção dos pais, quase todo o tempo.
— Ei, mini adulta, o que faz aqui? — Alexia perguntou, enquanto estava tirando as roupas da máquina de lavar. O espaço da lavanderia não era exatamente grande, e não entendia o motivo da garotinha estar ali.
— Eu quero te ajudar, mãe. — Respondeu a pequena, solene, o cenho franzido e os braços cruzados.
— Mas a Clarinha está aqui, por que não brinca com ela? — Perguntou a morena.
— Não quero brincar, quero te ajudar. — Contestou, ainda parecendo mal-humorada.
— Ei, meu amor, o que está acontecendo? Você não gostou da Clara? Ela é muito legal, e vai precisar de uma amiga agora que vai morar aqui. Você não pode ser má com a Clarinha. — A mãe tentou explicar, mas nada surtia efeito.
— Eu só não quero brincar hoje. — Lira se sentia ameaçada, como se a qualquer momento pudesse perder seu posto de filha, por isso não conseguia relaxar perto da outra menina, tão alegre e espontânea. Não gostava de dividir seu palco, e isso estava se tornando muito evidente naquela manhã de domingo.
-Lira, por favor, volta para a sala e seja legal com a Clara, ela vai ficar aqui mais algum tempo e depois vai para a casa da Lice, então quero que seja a menina boazinha que sei que é. Depois nós conversamos. — Lirhandzo assentiu, de mal gosto, e saiu pisando duro, mostrando que não estava nada satisfeita com a ordem.
Alexia suspirou pesadamente, pensando no que fazer. Não pensava enfrentar uma situação assim tão cedo. Acreditava que a filha gostaria de ter uma amiga de sua idade, e não imaginava que ela seria tão arredia com Clarinha. Lembrou-se do que a mãe havia dito sobre ela e Alice na sexta anterior. Duas meninas tão brilhantes, e que por algum motivo viviam brigando. Essa situação estava se repetindo entre Clara e Lira? Era óbvio que as duas tinham personalidades fortes e que eram inteligentes. Mas, por alguma razão que desconhecia, a mais nova parecia se sentir ameaçada na presença da outra. Começou a estender as roupas no pequeno varal existente ali, enquanto percebia que aquela situação esgotava todas as suas forças.
— Lexi? Eu comprei as passagens para a segunda semana de novembro. — Miguel entrou no ambiente, tomando cuidado para não bater a cabeça no portal, e viu a expressão de angústia da namorada. — Está tudo bem?
— Eu não imaginava tanta tensão para um domingo de manhã. — Reconheceu a morena, colocando um prendedor na blusa que estendia, e virando-se para o namorado. Ele se encostou sobre o pequeno tanque, observando-a com atenção. — Lira está exigindo atenção a manhã toda, e não está nem se esforçando para ser legal com a Clara. Eu não sei o que fazer, Mugui, Clarinha é da família também, e também está passando por momentos bem difíceis, não posso simplesmente pedir para o André vir buscá-la e dizer para ela não voltar aqui. Não é tão simples.
— Lexi, olha para mim. — Ela fez o que ele havia mandado, mostrando sua aflição pelos olhos verdes. – Não vamos afastar a Clara, nem pedir para o André vir antes do combinado. Ela é ótima e muito divertida. Eu sei porque Lirhandzo está assim, ela está com medo de perder o lugar dela no seu coração, por isso tenta chamar a atenção o tempo todo. Lira acha que com a chegada da Clarinha, ninguém mais vai notar sua presença, e isso a faz estar tão empenhada em afastar a menina. Eu conheço minha menina, e sei que ela é muito insegura em algumas situações.
— Mas com o Akili ela agiu tão diferente, não ficou com ciúmes quando ele me abraçou, na verdade ela que o ajudou a se aproximar de mim. Por que isso agora?
— Porque Akili precisava dela, ela era útil, e ele estava fragilizado. Clara não precisa da Lira, ela é solta e pode se virar sozinha, e isso assusta minha menina. Lirhandzo está errada, Lexi, e assim que a Clara for embora, vou conversar com ela sobre isso, tudo bem? — Miguel falou, e a morena sentiu um peso sair de si. Precisava aprender muito sobre ser mãe, mas tinha certeza que conseguiria. Ela deixou o cesto sobre o tanque, e foi até ele, enlaçando-o pelo pescoço.
— Acho uma ótima ideia. Inclusive, eu queria te dizer uma coisa. — Era o melhor momento para falar sobre seus sentimentos, ou pelo menos ela pensou que fosse. Seus olhares, como já era costume, fundiram-se em uma conversa muda, implacáveis, chamejantes. — Eu... — Te amo, completaria, se não fossem interrompidos por gritos que vinham da sala. Imediatamente Alexia se pôs em alerta, soltando-se de Miguel, e correu até o ambiente.
As duas meninas gritavam, chateadas, e pareciam em uma discussão ferrenha, quase ao ponto de se agredirem. A morena entrou no meio e as afastou, assustada pela situação criada entre elas.
— Mas o que é isso? — Perguntou Alexia, enquanto analisava cada uma das duas, que estavam com expressões emburradas e braços cruzados. — Por que estão brigando?
— A culpa é dela. — As duas disseram ao mesmo tempo, e a mulher riria se a situação não fosse demasiado tensa.
— Não quero saber de quem é a culpa, quero saber o motivo de estarem agindo feito homens da caverna. — Ralhou a mais velha, percebendo que não era o ser mais paciente com crianças em uma discussão.
— A Lira quebrou meu giz de cera roxo. — Resmungou Clarinha, ajeitando as hastes dos óculos, ainda irritada.
— Eu não quebrei! — Reclamou a outra. — Eu estava pintando, e ela veio puxar o giz, aí ele quebrou. — Com a feição fechada, como se estivesse muito brava, Lirhanzo falava com convicção.
— Eu pedi meu giz e ela não quis me dar. Disse que não ia dar, aí eu fui pegar e ela quebrou, de propósito. — Completou Clarinha, e Alexia esteve mais disposta a acreditar na versão da garotinha de cabelos cacheados, entendendo que Lira não estava sendo exatamente amigável.
— Não foi assim, mãe. — Aquele olhar de súplica quase amoleceu o coração da morena, quase. — Ela está mentindo.
— Eu não estou mentindo, Lexa. Eu pedi meu giz para pintar a flor, e ela falou que não ia me dar porque não queria. Aí eu disse que ia usar rapidinho e depois ela podia usar, mas ela não quis, e quebrou meu giz, disse que ninguém ia usar mais. Eu não minto, Lexa. — Suplicou Clara. — Eu quero ir embora, pede para o Andy me buscar? — Ainda não era onze da manhã, e a mais velha sentiu-se mal pela situação criada. A menina de cabelo cacheado tinha os olhos marejados, mas se recusava a chorar, e isso fez o coração de Alexia se encher de compaixão.
Miguel já estava na sala, preocupado com o desenrolar daquela situação, e se aproximou da filha, chamando sua atenção.
— Você está errada, Lira. Pede desculpas para a Clara. — Ordenou e a menina olhou para o pai, incrédula.
— Mas papai... — Tentou argumentar, e ao ver o olhar duro que ele lhe dirigia, resolveu obedecer, mesmo que a contragosto. — Desculpa Clara.
— Tudo bem. — A outra respondeu e se abaixou para pegar os gizes no chão e recolher os papéis. — Eu ainda quero ir embora, Lexa. — Voltou-se para a adulta ali, que estava estática tentando saber o que fazer em uma situação assim.
— Tem certeza, Clarinha? — A menina assentiu veemente, e Alexia pensou que talvez seria melhor fazer isso para que pudessem conversar com Lirhandzo sobre suas atitudes naquele dia. — Eu... eu vou ligar. — Olhou para Miguel, que estava tão assustado quanto ela, e saiu dali, procurando o celular.
Lira continuava parada, amuada, e não estava disposta a tentar reverter aquela situação. Sabia que estava errada, entendia que teria castigo, mas sua mente não conseguia mudar sua opinião sobre a outra garotinha. Era alguém que roubaria todas as atenções para si e a deixaria sem nada. Mesmo tão pequena, ela experimentava o sentimento corrompedor dos ciúmes, e isso lhe nublava os pensamentos infantis.
Minutos depois, Pedro, não André, chegava no apartamento para buscar a irmã, e via como a cunhada se sentia culpada por toda a situação criada ali. Sabia que essas coisas eram comuns acontecerem, mesmo nas melhores famílias, e fez questão de deixar claro que aquilo era comum entre crianças, e que ela não era culpada.
— Lira, para o quarto, vou conversar com você. — O pai ordenou, e a garotinha abaixou a cabeça e se arrastou, com toda a dramaticidade possível, até o local indicado.
Antes que fossem atrás dela, Alexia o parou, segurando em sua mão, e ele a encarou, tentando entender o que ela pretendia.
— Somos uma família, não somos? — Ele assentiu, sentindo seu coração acelerar ao perceber que ela já os via como uma família. — Então me deixa fazer isso também. Tudo é muito novo para mim, mas quero fazer parte de tudo, Mugui. Você está tão chateado com ela que pode exagerar, deixa eu ser seu ponto de equilíbrio. — Pediu ela, e Miguel não pôde negar.
— Você é a mãe. — Concordou. — Vamos fazer isso juntos. Mas não é para dar doces como recompensa pelas atitudes erradas, viu? — Ele brincou, mesmo em meio à tensão, e sua namorada riu.
— Nunca faria isso. Ela precisa entender que está errada, e que não precisa ter medo de perder seu espaço em nossos corações. — O moçambicano passou os indicadores pelo rosto da morena, e beijou levemente seus lábios.
— Eu te amo, Lexi. — Contou, uma vez mais, embevecido pela capacidade dela de incluir sua filha em tudo de sua vida.
— Eu também te amo, Mugui. — Alexia finalmente respondeu, e o coração de Miguel começou a bater descompassado.
— Papai? Eu posso sair do quarto? — A voz de Lirhandzo pôs fim ao momento mágico entre eles, e se lembraram que tinham uma missão pela frente: conversar com ela sobre seu comportamento hostil.
Eita que a Lira não gostou da Clarinha! :/ Está com ciúmes, será que vão continuar assim? O próximo capítulo vai ser muito emocionante e definir muitas coisas.
Lexi ama o Mugui, Lexi ama o Mugui! Finalmente se rendeu ao amor <3 <3
O que acharam do capítulo? Sejam sinceras! E preciso contar que ontem descobri os gêneros dos bebês da Alice, mas ainda não posso contar...hehehe
Vou tentar postar o próximo amanhã, e no último capítulo da semana vou contar a novidade sobre um novo projeto que vou trabalhar. Bem, é isso, até amanhã!
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