Vinte e Cinco
Mais um capítulo amorzinho para vocês. Espero que gostem! Não esqueçam os votinhos, são muito importantes para o crescimento da obra.
— Lice, vamos repassar tudo. — Alexia falou, colocando a irmã à sua frente para que pudesse a encarar.
— Lexi, está tudo certo, não esqueceram nada, pelo amor do Pai, acalme-se. — A do meio ordenou, vendo que a caçula estava à beira de um colapso nervoso. — Já repassamos a lista pelo menos umas cinco vezes. A San vai cuidar das contas da padaria, Pedro vai supervisionar a reforma enquanto vocês não estiverem aqui, e os funcionários do Miguel vão usar a cantina da empresa esse mês, está tudo organizado. Eu venho toda semana ver seu apartamento, não se preocupe. — Ela abraçou a irmã e sussurrou. — Só aproveita, deixa de pensar tanto. — A mais nova riu e relaxou.
— Fala isso só porque não é você que vai conhecer sua sogra em outro continente. — Alice gargalhou, ainda abraçada à caçula. — Mas vou tentar ficar mais calma. Já basta o nervosismo do Mugui, ele está mais ansioso que eu. — Olhou para o carro, onde Miguel estava colocando a última mala no porta-malas.
Era segunda-feira de manhã e a viagem estava prestes a começar. Miguel, Alexia e Lirhandzo iriam de carro até a cidade dos pais dela, depois Alberto ficaria responsável de os levar até a capital para pegarem o voo até Guarulhos. Chegariam ali no fim da tarde e embarcariam no início da noite para a África do Sul. A chegada em Moçambique estava prevista para a noite do dia seguinte, contando com as escalas.
Todos da família já estavam na frente do apartamento, prontos para se despedirem dos três. A pequena Lira estava no canto da calçada com Clarinha e Akili. Sentiria falta de seus amigos quando viajasse, mas estava empolgada para voltar ao seu país de origem. Como nunca haviam voltado ali depois da mudança para o Brasil, a menina não se lembrava de nada ali, e só conhecia os tios e avós por vídeo e fotos. Para ela, essa viagem seria muito importante para conhecer melhor sua família.
— Você vai ligar, não vai? — Clarinha perguntou, tirando uma fita de seu cabelo. — Coloca essa fita no braço para não esquecer da gente.
— Você vai me esquecer, Lira? — Akili perguntou tropeçando no português, ele sentiria muita falta de sua melhor amiga.
— Eu não vou esquecer vocês. — Ela pegou a fita oferecida por Clara e amarrou-a em seu braço esquerdo. — Meu pai disse que vamos ficar só duas semanas lá. Depois vamos voltar. E vou ligar também. — Disse com convicção.
Akili olhou ao redor à procura de algo que pudesse dar para a amiga levar em sua viagem. Viu que havia um pequeno canteiro na frente do prédio em que sua tia morava e correu até ali. Enquanto as duas meninas conversavam, ele pegou algumas flores coloridas e voltou para perto delas.
— Aqui. Isso é para não me esquecer também. — Ele entregou as flores, eram pequenas e de espécie desconhecida, mas a garotinha ficou feliz ao ver o empenho do amigo e o abraçou.
— Eu vou voltar rapidinho e vou trazer presentes para vocês, minha mãe prometeu. — Os outros dois assentiram e voltaram a abraçá-la.
Depois de se despedirem de todos, os três finalmente entraram no carro, rumo à primeira viagem em família. Alexia ia dirigindo, Miguel estava ao seu lado e Lira estava no banco de trás, tagarelando sobre o que fariam quando chegassem em Moçambique. O moçambicano parecia ausente e a morena ao seu lado percebeu. Quase não falava e passava a maior parte do tempo olhando pela janela, admirando a paisagem. Ele não era calado e ela sabia disso. Algo estava errado, e esse fato começou a afetá-la. Será que havia se arrependido de convidá-la para ir? Estava com medo da reação de sua família?
Ela tentou ignorar seus pensamentos por deixar Lirhandzo conversar e fazer suas constantes perguntas, até que a pequena caiu no sono. Aquele silêncio sepulcral já estava a irritá-la. Não gostava de permanecer em silêncio por tanto tempo, queria entender o que estava se passando na mente do namorado, queria ajudá-lo se pudesse.
— Fez um pacto de silêncio para só conversar quando chegar em Moçambique? — Ela perguntou com ironia e ele finalmente se virou para a encarar.
— Não fiz. — Ele respondeu com a sombra de um sorriso, e buscou a mão livre dela sobre o banco. — Só estou pensando.
— Você está começando a me assustar com esse seu silêncio, Mugui. Desde ontem, você está tenso, nervoso. O que está acontecendo? Está com medo de não gostarem de mim? Está arrependido de me levar? — Suas perguntas saíram com um tom preocupado que afetou a Miguel. Ele não queria que ela tivesse dúvidas, que se sentisse insegura, mas estava deixando seus pensamentos nublarem suas atitudes.
— Não! — Respondeu com veemência. — Não é isso, Lexi. Eles vão te amar, tenho certeza disso. Estou muito feliz que esteja conosco, nunca me arrependeria de te levar. Esse plano começou antes mesmo de sermos um casal e eu já tinha certeza que te queria comigo quando voltasse lá.
— Então, o que é? Sabe, se você contar, pode dividir um pouco desse peso que está carregando. — Ele a encarou com incredulidade e ela esboçou um sorriso. — Não tente negar, Mugui, quanto mais se aproximava a viagem, mais tenso você ficava. Sei que tem alguma coisa te incomodando, mas não sou vidente, preciso que me diga.
— É... — Pausou por um momento e tornou a olhar pela janela outra vez. — Complicado. Eu nem sei explicar direito o motivo de estar angustiado. — Confessou.
— Explica do jeito que puder, sou boa em encaixar peças soltas. — Piscou para ele, antes de voltar seu olhar para a pista. Ele riu e tentou relaxar.
— São oito anos sem vê-los, Lexi. Nunca voltei, perdi o casamento de um irmão, e apesar de não perder o contato com minha família, aconteceram muitas coisas nesse tempo. — Ele suspirou e continuou. — A família da Nilai acredita que sou o culpado pela morte dela. Ela era a única filha mulher que eles tinham e, depois que ela morreu, seus pais ameaçaram entrar na justiça pela guarda da Lirhandzo, disseram que eu era irresponsável e um pai ausente.
— Mas não era sua culpa, Mugui, ela estava doente. Ela que decidiu ir embora, você não a expulsou de casa. Não tem sentido brigar pela guarda da Lira, você é o pai e está vivo. — Alexia estava indignada com aquela suposição. Mesmo antes do namoro, ela já havia visto muito daquele homem para saber que ele daria o mundo pela filha.
— Não é o que eles pensam. Um dos irmãos da Nilai não concordava, foi graças a ele que consegui saber dos planos da família para que eu voltasse em Moçambique e eles tomassem minha menina. Esse foi um dos motivos de nunca ter voltado nesses anos. Tinha medo de perder a pessoa mais importante do mundo para mim.
— Você acha que eles... — Ela parou por um instante antes de terminar sua fala. — Acha que eles ainda têm essa intenção? É por isso que está tão tenso?
— Não sei, Lexi. Há seis anos, eles me ligaram e tentaram usar a persuasão para que eu entregasse Lira. Falaram que sozinho eu não conseguiria sustentar minha filha, que eles tinham condições de criá-la melhor. Chegaram a tentar usar meus próprios irmãos para me fazerem mudar de ideia. Eu sabia que se voltasse, poderia perder minha filha, por isso fiquei até que conseguisse minha cidadania brasileira, diminuindo a probabilidade de eles ganharem a guarda da minha pequena.
— Só que ainda tem medo de perder, né? Mesmo sabendo que é o pai e que suas condições mudaram, voltar para lá te deixa ansioso. — Ela buscou a mão dele outra vez e entrelaçou seus dedos, mostrando que estava ali com ele, para ele.
— Eu pensei que isso não me afetaria. — Outro suspiro pesado. — Acreditei que era uma parte do passado que não me atingiria. Eu tenho casa, um negócio, uma namorada linda. — Alexia sorriu, embevecida pelo carinho que ele demonstrava. — Quando decidi que iria para o casamento da minha irmã, não pensei muito na família da Nilai, em como eles reagiriam. Mas, nos últimos dias, esse assunto está me preocupando. Não tenho ideia de como eles estão, de qual é a opinião deles sobre mim e Lirhandzo, e mesmo que não queira, fico angustiado só de pensar na possibilidade de alguém tentar tirar minha filha de mim.
— Ninguém vai te afastar da Lira, Mugui. Eu não permitiria isso. — Ele sorriu ao ver como ela parecia resoluta em estar ao seu lado em qualquer questão. — Mas, sabe? Ficar focado nisso só vai tirar sua animação para a viagem, vai te deixar aflito e não vai aproveitar direito. — Constatou. — E também vai me afetar. Acha que não estou nervosa o suficiente com a possibilidade de sua família não gostar de mim? — Ele gargalhou e puxou a mão dela para depositar um beijo terno sobre ela.
— Vamos combinar uma coisa? Vou tentar não ficar tão preocupado com a reação dos avós maternos da Lira e você não vai mais pensar na aprovação da minha família, ok? — Ela concordou com um aceno, virando-se por breves segundos para o encarar.
— Combinado. Não sofreremos por antecipação. — Concluiu. — E, Mugui? — Ele a encarou esperando sua continuação. — Estamos aqui um pelo outro, então não precisa passar por tudo sozinho. Pode compartilhar, afinal, acredito que os relacionamentos sirvam para isso. — Ele assentiu, pensando que deveria se acostumar a compartilhar seus temores. Já estava há tanto tempo lidando sozinho com tudo, que acabou se desacostumando a dividir seus problemas.
Depois dessa conversa, o ambiente no carro parecia menos tenso e mais ameno. Eles não haviam se esquecido dos motivos para estarem ansiosos, mas se comprometeram em não deixar que suas preocupações afetassem seus planos para aqueles dias. Almoçaram na casa dos pais de Alexia antes das onze horas da manhã, e logo partiram para a capital, onde pegariam o voo para Guarulhos. Lira, que já havia passado parte da viagem dormindo, agora estava falante outra vez e conversava com o novo avô.
— Vô Alberto, agora eu tenho cinco avós. Eu contei. Três avós e dois avôs. — Embora ela não tivesse contato com os pais de Nilai, Miguel nunca a colocou contra os avós, nem contou sobre o que tentaram fazer. Lirhandzo pensava que eles não tinham telefone para ligar, mas a verdade era que depois da tentativa frustrada de conseguirem sua guarda, os dois não se esforçaram realmente em manter o contato com a neta.
O mais velho sorriu, olhando pelo retrovisor do carro. Até o meio daquele ano, não tinha nenhum neto, e agora era avô de cinco crianças. Não reclamava, de fato. No fundo, gostava de ver como suas filhas estavam felizes em suas famílias e como os vínculos cresciam.
O voo para Guarulhos passou rápido, menos de duas horas, o que garantiu que Alexia não entrasse em pânico. Não precisou ir ao banheiro do avião. Conferiu se sua bombinha para casos de asma estava em sua bolsa, respirando aliviada ao ver que não havia esquecido seu estojo com medicamentos. Já em São Paulo, eles esperaram quase três horas para entrar na sala de embarque e a morena sentiu outra vez o nervosismo tomar conta de si. Era a primeira vez que fazia uma viagem internacional e passava por tantas inspeções.
— Agora você que fez pacto de silêncio, Lexi? — Miguel provocou assim que entraram na sala de embarque, esperando o horário do voo, previsto para sete da noite.
— É a primeira vez que viajo para fora do país, Mugui, tenha consideração. — Ela ralhou, provocando o riso do namorado. Lira parecia alheia a tantos procedimentos e já não tinha interesse em conversar, passando o tempo restante jogando no celular.
— Pensou que seríamos barrados? — Ele perguntou com picardia e ela assentiu, indo até um lugar próximo ao portão de embarque, sentando-se em um banco vazio, sinalizando para que os outros dois se sentassem ao seu lado.
Suas malas já haviam sido despachadas e apenas carregavam seus pertences pessoais. Alexia estava com uma bolsa carmesim e Miguel carregava a mochila de Lirhandzo, onde também estavam seus documentos.
— Fiquei com medo de terem colocado alguma coisa contrabandeada na minha mala. — Ele riu e passou seu braço ao redor dos ombros dela e ela aproveitou para se escorar nele. — Não seria tão legal vir só como sua amiga, sabia?
— Ah é? Por quê? — Inquiriu o outro, curioso para saber o motivo daquela declaração.
— Não poderia usar meu nervosismo como desculpa para te abraçar e pedir apoio. — O moçambicano fitou os olhos verdes da namorada, pensando que já não conseguia imaginar uma vida sem que Alexia estivesse nela. — O que aconteceu? — Perguntou preocupada ao ver o olhar dele, incorporando-se na cadeira para o encarar melhor.
— Só estou pensando que não conseguiria ser só seu amigo. Eu não consigo imaginar uma vida em que você não esteja comigo. — Ela também não conseguia, e aquele sentimento começava a assustá-la. Era maior que todas as outras vezes, era gigante, e ela temia que aquelas sensações a consumissem. Tratou de dissipar seus pensamentos conflitantes, tinha de se lembrar da combinação: não sofrer por antecipação.
— Quando me convidou para vir, em junho, você já gostava de mim? — Questionou.
— Acredito que já gostava de você desde aquela noite em que entrou na padaria com a maquiagem borrada e me pediu o que eu tivesse de mais forte. — Ela riu e sentiu a face queimar, lembrando-se do vexame do ano anterior. Pelo menos aquela tragédia havia servido de algo, refletiu. — Quando te convidei, já entendia que estava gostando de você e meu subconsciente planejava usar essa viagem para te conhecer melhor e, quem sabe, te convencer a namorar comigo.
— Então você atropelou tudo e não esperou? — Ele assentiu, acariciando o rosto que tanto amava. — Você tem que ter mais autocontrole, Mugui, precisa seguir o roteiro. Não pode mudar os planos assim. — Brincou e antes que ele pudesse contestar, esgueirou-se para o beijar.
Os beijos sempre pareciam diferentes, únicos. Como se cada vez que o beijasse, sentisse algo novo em seu ser. Desde o primeiro beijo, sentiu que havia encontrado seu lugar, e, ao mesmo tempo que essa sensação lhe reconfortava, sentia um temor percorrer sua espinha de que tudo acabasse e não conseguisse se colar novamente.
— Por mim, eu te pediria em casamento hoje mesmo e faríamos um casamento duplo em Moçambique. — Ele provocou, assim que se afastaram. Lirhandzo ainda ignorava a presença dos dois, envolta em seu mundo infantil.
— Eu disse para ter mais autocontrole, não menos, Mugui. Está parecendo o André. — Miguel a encarou confuso e ela explicou. — Ele pediu a San em namoro em um domingo, na terça já estavam noivos. — O moçambicano abriu bem os olhos, pasmado pela história e ela riu de sua reação. — Não faça isso, eu não vou aceitar. — Concluiu com fingida veemência, sem estar certa, entretanto, de qual seria sua reação.
— Não vai? — Provocou ele, mais uma vez.
— Não agora. Um dia eu vou. — Voltou a se escorar no ombro dele e lembrou-se do dia em que se conheceram. — Quando nós nos conhecemos, eu te disse que você se assustaria com meu jeito e fugiria em um mês. Parabéns, Mugui, você passou pelo teste. Já estamos namorando há dois meses.
— Dois meses e uma semana, Lexi. — Corrigiu. — Você foi a melhor coisa que me aconteceu nesses anos que estou aqui. — Completou e viu o olhar emocionado que ela lhe dirigiu.
— Papai, meu celular descarregou. — Lira reclamou, entregando o aparelho para o pai e interrompendo a aura romântica em que os dois adultos estavam envolvidos.
Poucos minutos depois, ouviram a chamada para o início do embarque e se levantaram, sabendo que ali se iniciava realmente a viagem. Uma viagem que modificaria conceitos e definiria futuros.
Começou a viagem! O que acharam da revelação do Mugui? Será que alguma coisa vai acontecer? Os pais da Nilai vão aparecer? Algum palpite sobre o que pode acontecer?
Miguel fala muito de casamento, ein? O que acharam do capítulo? Preparadas para as próximas emoções? Sexta-feira ou sábado tem mais.
Até lá. <3 <3
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