Vinte
Desculpem o atraso, mas precisava de tempo para desenvolver bem esse capítulo, que mexeu com minhas estruturas, mas de um jeito bom. Deixa teu like aí?
— Então, Miguel, você está há quanto tempo aqui no Brasil? — Perguntou Alberto, olhando fixamente para o moçambicano, que se moveu na cadeira, inquieto, sentindo o olhar escrutinador.
Como o costume, todos estavam na casa de Alessandra, a que tinha a maior sala de jantar, capaz de receber a todos. O apartamento de Alexia era pequeno demais para comportar toda a família, que parecia não parar de crescer. A mais velha das Ribeiro havia comprado uma pequena mesa de plástico para que as crianças tivessem um lugar propício para ficarem, visto não se interessarem tanto pelos assuntos dos adultos. Alexia estava no meio, entre Miguel e Alice, e, do outro lado, estavam Pedro, de frente para a esposa, André e Alessandra, nessa ordem. Os pais ocupavam a cabeceira da mesa, um em cada ponta. E, como já era de se esperar, Alberto conduzia um quase interrogatório com a maior solenidade possível.
— Já estamos há oito anos aqui, senhor Alberto. — Ele respondeu, estranhando o fato de estar nervoso, se não tinha nada a esconder. Talvez se devesse ao modo como Alexia tendia a exagerar tudo ao ponto de deixá-lo temeroso. Viu como a namorada o observava, expectante, como se esperasse por suas reações.
— Então é praticamente um brasileiro. — Brincou o mais velho, embora suas expressões não fossem de todo suaves. — Pretende voltar a morar em Moçambique? — Nesse instante, a caçula deixou seu garfo sobre o prato, e mostrou que também estava curiosa para saber a resposta àquela pergunta.
Antes dela, Miguel só tinha Lira no Brasil, e poderia voltar ao seu país sem medo de deixar algo, mas agora a situação era diferente, e precisava saber qual a opinião dele sobre o assunto, mesmo que fosse à frente de todos, em um desnecessário jantar de apresentação.
— Na verdade, não. Principalmente agora que tenho mais um motivo para ficar. — Miguel respondeu, virando-se na direção da namorada, e lançando um olhar terno e apaixonado que encantou os demais. A morena sentiu seu coração derreter a ponto de pingar ao ouvir as palavras dele. Ele não iria, não sem ela.
— Quantos irmãos você tem, Miguel? — Perguntou Magda, impaciente para fazer parte da conversação.
— Seis. Sou o terceiro mais velho, praticamente o do meio. — Disse ele, sentindo que estava vencendo barreiras, e que o jantar não seria de todo um fiasco. — Alexia vai os conhecer em novembro quando formos lá. — Todos pararam de comer ao mesmo tempo, virando-se para a caçula, que tinha uma expressão de quase terror e vergonha. Havia se esquecido de contar para a família sobre a viagem. Com tudo que aconteceu, em um período tão curto de tempo, e tanto a pensar sobre o que faria com relação a Miguel, não havia dito sobre os planos de viajar com ele para Moçambique, mesmo antes de namorarem.
— Alexia vai? — Alice perguntou incrédula, fuzilando a irmã com o olhar, não por causa da notícia, mas sim por não ter sido comunicada com antecedência. Miguel também encarou a namorada, vendo o rubor em sua face, e como ela tomava todo o conteúdo de sua taça de uma vez, parecendo ganhar tempo, e entendeu que havia falado demais.
— É, eu vou, havia esquecido de contar. Miguel me chamou para assistir o casamento da irmã dele em novembro, e como estarei de férias, aceitei. É isso. — Concluiu a mais nova, sentindo o peso do olhar de todos sobre si. Principalmente da irmã do meio, que parecia ofendida por não saber daquele detalhe. Grande detalhe, por sinal.
— Como assim você esqueceu de contar? — Tornou a irmã ao seu lado. — Quando você decidiu isso? — Miguel coçou a nuca, desconfortável, enquanto André cutucava o irmão, com o riso contido, prevendo o que viria.
— Foi em junho, mas tinha tanta coisa acontecendo que esqueci de avisar. A gente ainda nem comprou as passagens. — Justificou-se, e até mesmo Alessandra, que se mantivera a observar a interação entre as duas mais novas, resolveu opinar.
— Ale, a gente está em setembro, são três meses e você simplesmente esqueceu de contar? — A mais velha questionou.
— Ai gente, eu esqueci, sério. Mas eu ia, quando comprasse as passagens. — Ela se virou para Miguel, que continuava um tanto assustado pela forma como a conversa se desenvolvia, e murmurou. — Obrigada por me colocar nessa. — Resmungou.
— Eu não sabia que você não tinha contado. — Sussurrou ele, ainda tentando entender em que havia se metido.
— Vocês já tinham planejado a viagem para Moçambique, juntos, antes mesmo de namorarem? — André provocou, e Pedro o olhou com incredulidade, sem acreditar que ele colocava ainda mais gasolina no fogo já atiçado. O loiro se divertia ao ver que todos pareciam refletir na nova informação, e que a cunhada mais nova se engasgava com o vinho.
— A gente... a gente ia como amigos. Eu sempre quis conhecer a África. — Respondeu a mais nova, tentando sair daquela situação constrangedora em que envolvera.
Em menos de um minuto, as vozes se sobrepunham umas sobre as outras, em uma briga para descobrir quem seria ouvido, e as duas crianças na mesa ao lado se viraram na direção dos adultos, assustadas e sem saber o que estava acontecendo. André começou a gargalhar, e Pedro não pôde segurar o riso. Eles se divertiam com a situação criada com algo tão pequeno.
— Meu Deus, eu amo as reuniões dessa família! Olha o Seu Alberto tentando colocar ordem nas mulheres. — Apontou ele, sussurrando para o irmão, que estava se divertindo igualmente. — E o Miguel, a cara de assustado, ele deve achar que a Ale vai ficar brava com ele por ter falado da viagem. — Comentou, bebendo o vinho em sua taça, tentando segurar o riso que ameaçava a sair outra vez.
— O que você queria colocando mais lenha na fogueira, vida? — Murmurou Alessandra, que já havia desistido de opinar naquela discussão sem sentido.
— Isso aconteceu quando marcamos o noivado, eu só queria ver como é assistir essas brigas de vocês de camarote. — Respondeu ele, dando de ombros.
— Só vai acabar quando a Alexia se irritar e sair da mesa chateada. — Pedro apontou, e os outros dois, próximos a ele, concordaram.
Não tiveram tempo de ver essa cena ocorrer, pois, no instante seguinte, Lira, assustada, corria na direção de Alexia, tentando entender o que havia acontecido. Akili continuava sentado, observando toda a situação, intrigado, sem coragem de se aproximar.
— Mamãe, o que aconteceu? — A voz da menina e a palavra usada por ela foram percebidas por todos na mesa, que pararam instantaneamente suas conversas e se atentaram à garotinha. A caçula das Ribeiro sentiu seu coração falhar uma batida, e teve todas as atenções voltadas para si. Ela puxou a pequena para si, e respondeu com toda a ternura possível.
— Não foi nada, mini adulta. É só nosso jeito de conversar. — Beijou a testa da menina e levantou o olhar para Miguel, que parecia tão surpreso quanto os outros na mesa ao ver a conexão entre as duas. — Desculpa por isso. — Murmurou e ele assentiu, ainda anestesiado pela preocupação de sua filha. — Mas nós vamos conversar como pessoas civilizadas e maduras, sem gritar, para não te assustar, tudo bem? — Concluiu, lançando um olhar para a irmã do meio, que estava intrigada demais para fazer qualquer comentário sarcástico.
— Tudo bem. — Assentiu a menina, olhando para todos na mesa antes de se afastar e voltar para perto de Akili, tranquilizando-o. — Eles só estavam conversando.
O silêncio persistiu por alguns instantes, visto que todos ainda a encaravam, entendendo o quanto aquela palavra, a pequena palavra "mamãe" era importante e demonstrava o lugar que Alexia ocupava no coração de Lirhandzo.
— Então, eu já disse que Miguel sabe quatro idiomas? — A mais nova comentou, depois de um pigarreio, tentando amenizar o clima na mesa.
Logo, todos voltavam a conversar de maneira contida e civilizada, sem muita desordem. O moçambicano sentia-se mais tranquilo, percebendo que teria de se acostumar ao jeito daquela peculiar família, e que a efusividade de sua família provavelmente não assustaria Alexia, que já estava acostumada a grandes emoções. Depois de comerem a sobremesa, e ele passar algum tempo conversando com os gêmeos, Akili voltou para perto dos pais, mostrando sinais de sonolência.
— Mamãe, quero dormir. — Ele disse, ainda em inglês, e Alessandra se levantou.
— Ok, vou já te ajudar, mas, antes de irmos, dá boa noite para eles. — Disse apontando a todos na mesa, e o menino acenou positivamente, indo de pessoa em pessoa, estendendo a mão e dizendo "Boa noite" em português.
— Boa noite, tia Lexi. — Ele falou ao chegar ao lado de Alexia, e em vez de estender a mão, ergueu os braços para a abraçar, o que a deixou estupefata.
— Boa noite, pequeno Akili. — Ela respondeu, emocionada, abraçando-o, e direcionando seu olhar à Lirhandzo, que os observava com um sorriso orgulhoso. Sua mini adulta era muito sagaz, e isso a deixava ainda mais apegada àquela pequena, que a ajudava mesmo sem saber. Depois desse momento terno, o garotinho se desvencilhou do abraço, e foi até Alice, repetindo o processo de abraçar e dizer "Boa noite".
— Vou levá-lo para o quarto. Você ajuda a organizar a cozinha? — Perguntou Alessandra para o marido, que mostrou uma careta pouco apreciativa em resposta.
— Hoje é o dia da Ale. — Ele murmurou, e recebeu um olhar fulminante, decidindo não contrariar. — Tudo bem, vida, pode ir, eu ajudo.
— Não precisa, André. Eu e Alexia arrumamos tudo. — Magda se manifestou, e a caçula olhou para a mãe, incrédula.
— Arrumamos? — Perguntou, sem saber o que esperar daquela ordem velada.
— Sim, nós duas arrumamos. — Reiterou a mãe, e a morena soube que havia algo por trás daquilo, sua mãe queria conversar com ela, era certo, mas não tinha ideia do teor da conversação.
— E eu faço o quê? — Perguntou Miguel, sem saber como se posicionar naquela situação.
— Vai para a sala com os outros. — Sussurrou Alexia. — Ela quer conversar comigo. — Concluiu, em um tom de voz baixo o suficiente para apenas ele ouvir.
— Preciso me preocupar?
— Não, não precisa. Com certeza não é nada com você. — Tranquilizou-o, e depositou um beijo terno em seus lábios, tornando-se novamente o centro das atenções.
Depois que se viu a sós com a mãe, a caçula começou a sentir a expectativa a corroê-la. Sabia que algo estava fora do lugar, embora não tivesse certeza do motivo.
— Mãe, por que queria arrumar tudo só comigo? — Perguntou, por fim, colocando as bandejas usadas sobre a pia.
— Eu precisava conversar com você, Ale. — Admitiu a mulher.
— Você não gostou do Mugui? Eu pensei que tinha gostado dele e de Lira. — Indagou, suas feições demonstrando sua preocupação.
— Eu gostei deles, Alexia. Sério, gostei muito. Na verdade, pela primeira vez, gosto de algum namorado seu. — A mais nova começou a rir ao lembrar de como nunca teve a aprovação dos pais em nenhum de seus relacionamentos anteriores. — Não é sobre isso.
— Então, é sobre o quê? É sobre eu viajar com eles em novembro? A gente tinha marcado de viajar quando ainda éramos só amigos, ele até tinha dito que eu podia levar uma amiga junto. É só para o casamento da irmã dele, depois a gente volta. — Justificou-se, apressada, enquanto ligava a torneira e começava a lavar as louças.
— Alexia, não é sobre isso, e tem que parar de não deixar os outros falarem o que pensam. — Ralhou a mãe, e ela voltou a rir, controlando-se. — Também não é sobre isso. Na verdade, Ale, é sobre sua nova filha. — Disse Magda, entregando os pratos para a filha, e colocando-se ao seu lado.
— Ah! — Disse a morena, sem saber como responder. Desligou a torneira e voltou-se para a mãe, esperando-a continuar.
— Eu ouvi que ela te chamou de mãe, Alexia, e confesso que me assustei. Ser mãe é diferente de ser a namorada do pai de alguém, você entende isso? — Perguntou a mais velha, e ela assentiu, refletindo sobre o assunto.
— Eu sei, e mesmo antes de ser namorada do Miguel, eu já sentia uma conexão absurda com ela. Eu não a obriguei a me chamar de mãe, ela me pediu, e foi algo surreal. Foi como se eu entendesse que, assim como minhas irmãs, eu me tornei mãe de alguém, e foi empolgante, mas também assustador. — Confessou.
— Eu não estou te acusando de nada, Alexia, eu só quero que você entenda que quando você permitiu que ela te chamasse assim, assumiu esse papel na vida dela, na cabeça dela, e isso não tem nada a ver com seu relacionamento com o pai dela, entende? — Outra vez assentiu. — Se não der certo, não pode simplesmente sair da vida da Lira, isso acabaria com ela. Eu só quero que você seja responsável e entenda onde entrou. — Magda passou as mãos pelos braços da caçula, e viu quando lágrimas saíram dos olhos da filha.
— Eu não tinha pensado realmente em tudo, mas isso, o que sinto pela Lirhandzo, esse amor materno que tenho por ela, não tem nada a ver com o Miguel, e jamais sairia da vida dela. Já conversei com ele sobre isso, teríamos guarda compartilhada em caso de separação. — Brincou, em meio às lágrimas. — Eu quero, quero muito ser uma boa mãe para ela. Quero poder ter esse papel na vida dela, poder proteger, cuidar, fazê-la feliz.
— Eu tenho certeza que você vai ser. — Confessou a mãe, sentindo-se orgulhosa pela pessoa que sua menina havia se tornado. — Você vai ser uma mãe incrível. — Continuou, abraçando-a, e deixando que ela despejasse seus temores sobre os ombros maternos. — Então, até três meses atrás, eu não tinha nenhum neto, agora tenho cinco? — Disse Magda, e Alexia riu, ainda abraçada à mãe.
— Sim, já é vovó. — Provocou, e a mais velha se afastou, fulminando a filha com o olhar, embora não estivesse realmente chateada. — Obrigada, mãe, por me apoiar, e por sempre cuidar de nós, mesmo quando era difícil.
— Eu tenho muito orgulho de vocês três. — Reconheceu a mulher mais velha. A mãe tinha olhos verdes como a filha mais nova, cabelo mais claro que o das filhas, com alguns fios brancos a aparecerem, e algumas rugas já se faziam presentes na região próxima aos olhos. Tinha pouco mais que cinquenta anos, e um jeito extrovertido que se assemelhava muito ao das filhas mais novas.
Logo, voltaram ao trabalho, lavando e secando as louças, enquanto conversavam. Até que Alexia se lembrou de sua última briga com a irmã do meio, e resolveu esclarecer aquele assunto com a mãe.
— Mãe. — Chamou, enquanto secava uma bandeja usada no jantar. — Uns meses atrás, eu briguei com a Lice, nenhuma novidade, confesso. — A mais velha riu, sabendo da veracidade de tais palavras. — Mas, dessa vez, ela me disse uma coisa que eu fiquei pensando. Disse que eu fui mimada por todos porque era mais frágil, por isso fiquei egoísta, sem pensar muito nas consequências das minhas ações. Que sempre tive tudo que eu queria. — O olhar da morena mostrava que ainda lhe feria aquela constatação, e sabia que era melhor conversar com sua progenitora sobre seu passado.
— A Lice disse isso? — Assustou-se Magda. A filha do meio nunca falava sobre o quanto deixara de lado pela irmã mais nova, era como se não tivesse se importado de terem que voltar todas as atenções para a caçula, nunca reclamava.
— Ela disse. Também, eu provoquei isso. Falei que ela só sabe julgar as pessoas, que se sente superior por causa das escolhas que fez. Quase isso. — Disse Alexia, guardando alguns copos, enquanto a mãe continuava estática, próxima à pia. — Mas, eu fiquei pensando nisso, todos tiveram que parar suas vidas para cuidar de mim quando adoeci, não foi? A gente teve que se mudar para eu receber tratamento, e meio que tudo mudou, mas eu não tinha ideia do tanto que afetei a Lice. Mãe, eu não lembro tanto de quando éramos muito pequenas, mas, minha doença mudou o jeito que a Alice me tratava?
— Mudou. — Confessou a mãe. — Vocês duas têm personalidades diferentes, mas são intensas quase do mesmo jeito. A San puxou seu pai em quase tudo, exceto no quanto é organizada, Alice puxou um pouco de cada, e você é muito parecida comigo.
— Vou falar para o Miguel. Se ele quer saber como vou ficar mais velha, é só olhar para você. — Brincou a outra, voltando para a pia, parando ao lado da mãe. — Pode continuar.
— A San sempre foi reservada, até quando era bem nova. Quando a Alice nasceu, desde que aprendeu a falar, ela chamava a atenção, era dinâmica, e todo mundo percebia sua presença. Alessandra não reclamava, ela detestava ser o centro das atenções, mas confesso que ela acabou sendo negligenciada porque pensávamos que ela era muito independente e sabia se virar. Quando você nasceu, Lice teve que dividir o palco, e não foi fácil para ela. Vocês duas brigavam muito quando eram bem pequenas, porque ambas queriam estar em evidência, embora cada uma do seu jeito. Vocês mais brigavam do que brincavam, e isso me assustava um pouco. Duas meninas tão brilhantes, que se destacavam tanto, mas que por alguma razão viviam a discutir.
— Eu não me lembro disso, mãe. Eu só lembro de brincar com a Lice e estar com ela em todas as peripécias que inventava. Não lembro de disputar atenção. — Contou a mais nova, tentando trazer à tona memórias da infância.
— Porque isso só durou até sua primeira crise de asma, quando você tinha seis anos. A Lice tinha brigado com você, o que não era novidade, e disse que nunca mais se falariam, você ficou chorando pedindo para ela a perdoar, e ela não quis aceitar suas desculpas. Ainda chorando, você teve a primeira crise, e Alice se sentiu responsável por isso. Depois disso, ela deixava você ter toda a atenção para si, e aprendeu a ter seu lugar sem brigar por ele. Era carismática, inteligente, bonita, e não precisava brigar com você para estar em evidência. Você não se lembra, mas ela sim, já que tinha sete anos, e tem uma memória surpreendente.
— Eu... eu não sabia disso. — Seu olhar ficou perdido por alguns instantes, absorvendo a nova informação. Então todos realmente me deixaram ser o centro das atenções porque era a mais frágil. Por isso ela disse isso. — Suas palavras eram mais para si que para outra pessoa. — Eu só me lembro depois dos sete anos, não entendo o motivo, mas minhas memórias antes disso são só um borrão.
— Alexia, Alice não gosta de ser ignorada, você tem medo de ser esquecida, e as atitudes de vocês refletem isso. Mas, sabe, talvez, se nada disso tivesse acontecido, vocês nunca seriam amigas, e não saberiam o valor da fraternidade. Não precisa ficar voltando ao passado, filha, ele ficou onde deveria ficar, e sei que sua irmã, suas irmãs, não te culpam realmente por nada que aconteceu. — A morena ficou em silêncio por alguns segundos, e enfim resolveu se pronunciar, afastando os pensamentos confusos.
— Sim, eu sei. Não vou mudar o passado, mas saber disso me ajuda a ser mais consciente das minhas ações. A entender minhas irmãs, e como eu as afeto por não pensar nos demais. — Encarou os olhos verdes de sua progenitora, antes de concluir. — Eu vou mudar, vou pensar mais antes de agir, vou ser alguém melhor.
— Ale, você já está mudando. — Percebeu a mãe. — Você nem saiu da mesa, chateada com todo mundo. — Riu a mais velha, e a caçula a acompanhou.
— É, estou mudada. — Brincou. — Mas isso só não aconteceu porque a Lira apareceu e me fez ver o quanto era inútil aquela discussão. — Reconheceu. — Eu precisava dessa conversa. — Sinalizou. — Obrigada, mãe. — Abraçou-a, emocionada.
— Sempre foi a mais carinhosa também. — Apontou. — Lice é carinhosa só quando quer alguma coisa, e a San, quando vocês estão mal.
— Eu amo aquelas garotas. — Pontuou a morena mais nova. — Acredito que acabamos, e agora posso voltar para perto do meu namorado, que deve estar sendo interrogado até agora pelo pai. — Riu.
— Acho que não, seu pai gostou dele, principalmente depois de ele contar que cuida da filha, sozinho, sabe quanto isso mexe com ele. — A outra concordou, sorrindo, deixou o pano de prato sobre o gancho, e saiu da cozinha, tendo uma perspectiva maior sobre si e suas irmãs.
Ao entrar na sala, viu como todos pareciam relaxados e riam de alguma piada contada por André. O loiro estava com a esposa praticamente colada a si, no sofá menor, e acariciava o cabelo dela. Pedro estava com Alice aninhada ao seu peito, no sofá maior. Alberto estava sobre a poltrona que sempre ficava, e Miguel estava com Lira adormecida em seu colo, sentado no carpete, e levantou os olhos assim que viu a morena de olhos verdes entrando no ambiente. Percebeu os olhos lacrimejantes, e apontou o lugar ao seu lado, preocupado.
— Você está bem, Lexi? — O moçambicano perguntou, assim que ela se sentou ao seu lado, puxando o braço dele para passar por seus ombros.
— Estou sim. – Sussurrou, encostando a cabeça no ombro dele. — Eu precisava dessa conversa, soube de algumas coisas que não me recordava, e que agora fazem sentido. — Concluiu, olhando para a irmã do meio, que interagia com o cunhado loiro, tranquila.
Ficaram mais algum tempo entre conversas triviais e perguntas sobre a cultura de Miguel. Em muitos momentos, eles riam tanto que se perguntavam sobre como Lirhandzo conseguia continuar a dormir. Alberto, como bem dito por Magda, aprovava o namorado da caçula, e seu interrogatório logo cessou. As três irmãs se alfinetavam de quando em quando, mas o brilho no olhar da mais nova, mostrava como seu conceito sobre as outras duas havia mudado, e sua admiração por elas, aumentado. Não mudaria sua essência, seu jeito de ser, mas saberia pensar mais em como suas ações afetavam outrem.
Depois de se despedirem, ela deu carona ao namorado e à filha, conversando em todo o trajeto, feliz pelo resultado daquela noite. Não fora tão ruim quanto em sua imaginação, e apesar dos poucos contratempos, o saldo era positivo, e sabia que podia contar com o apoio de toda a família quanto àquele relacionamento.
— Chegamos. — Apontou, assim que pararam na frente da padaria, e Miguel assentiu, olhando para a filha que continuava a dormir. Desafivelaram os cintos, quase ao mesmo tempo. — Desculpe pelo vexame na mesa e nossa discussão sem sentido, é nosso jeito de conversar quando nos reunimos. — Brincou.
— Eu pensei que ficaria com raiva de mim. — Ele contou, franzindo o cenho ao se relembrar de seu temor.
— Provavelmente ficaria, mas Lira me salvou. — Riu ela, virando-se para admirar a pequena.
— Sobre isso, Lexi, ela te chamou de mãe. Você tem certeza sobre isso, está confortável com esse título? — Perguntou o moçambicano, parecendo preocupado. — Se não tiver, eu converso com ela, explico tudo. Eu sei que ela te ama, mas não quero te colocar em uma situação que não queira.
— Mugui, Mugui. — Chamou a morena, levantando o queixo dele com o indicador, para que a encarasse. — Eu quero muito isso, já sou mãe dela mesmo antes do nosso relacionamento. Só fala com ela se você não quiser isso, e tem todo o direito por ser o pai, mas da minha parte, eu já sou a mãe da Lira, e se a gente se separar, vou à justiça por guarda compartilhada. — Disse com picardia, e ele não pôde conter o riso.
— A gente não vai se separar, Lexi. E, se você tem certeza, se considera minha filha como sua também, eu jamais me colocaria no caminho. — Ele se aproximou perigosamente e sussurrou. — Na verdade, ver seu amor por ela só faz meu sentimento por você crescer. — Pegou a mão dela e colocou sobre seu peito, sentindo o coração a bater descontrolado. — Você faz isso com ele, a cada vez que mostra ser alguém tão incrível. — Ela sentiu seu interior vibrar ao sentir as batidas do coração dele, e um sorriso iluminou todo seu rosto.
Acho que estou muito apaixonada por você. — Ela respondeu, aproximando-se ainda mais, encostando os rostos, e buscando os lábios dele com avidez. Puxou-o para si, esquecendo-se da criança no banco traseiro, por breves segundos, até que, sem se aperceberem, tocaram a buzina, despertando Lirhandzo, que se levantou assustada. Os dois se afastaram, envergonhados, e se encararam, conversando-se pelo olhar.
— Papai, mamãe? — Talvez nunca se acostumasse a ouvir essa palavra sem sentir seu coração se derreter, refletiu a morena.
— Oi meu amor, chegamos. — Alexia se incorporou no assento, e logo abriu a porta do carro, sabendo que o romance teria de ficar para outra hora.
— Ah. — A pequena disse, preparando-se para sair do carro, encontrando o pai do lado de fora.
Antes de partir, a morena voltou-se uma última vez para Miguel, e sentiu seu coração desfalecer de amor. Amor?
Queria que ficasse menor, não deu...kkk... Mas acho que valeu a pena, né? Então Alice e Alexia não eram tão unidas quando pequenas? E tudo mudou depois? Lembrem-se que nossa Lexi está num processo de amadurecimento, entendendo que nem tudo é sobre ela. Eu estou simplesmente in love com a relação dela com a Lira, mas preparem-se porque provas virão... TAN TAN TAN TAN!
Eu preciso dizer que o Mugui tem meu coração todinho?? Se Alexia demorar pra dizer "eu te amo", eu falo no lugar dela...hahaha... Brincadeira, porque ninguém mexe no meu casal...hehe
O que acharam do capítulo? Preparadas para as próximas emoções? Clarinha tá chegando e vai mexer com muita coisa também...
Até amanhã, se der, se não, até domingo!
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