Trinta e Seis
Finalmente consegui voltar aqui! Não vou mais colocar metas para não deixar vocês ansiosas e não cumprir, mas agora está chegando bem ao finalzinho, então não desistam da história, Miguel e Alexia esperam por vocês.
Alexia estava exausta. Amava aqueles dois pequenos que estavam sob sua responsabilidade, mas não sabia mais o que fazer para entretê-los. Akili era mais calmo, apesar de não gostar do silêncio e insistir em deixar a TV ligada até quando não queria assistir nada. Já Clarinha precisava de atenção. Ela dividia seus momentos entre chorar e perguntar sobre o que aconteceria a seguir. Questões que Alexia não sabia como responder.
Em alguns momentos, a pequena se calava, olhava fixamente para a morena e esperava. Em outros, ia até Akili e dizia que ele continuava sendo o sobrinho dela, que nada mudaria. Caso Alexia se afastasse por mais de dois minutos, as duas crianças começavam a brigar e Clarinha corria à sua procura. Não podia descuidar nem por um segundo.
Durante o jantar, a mais velha quase dormia sobre o prato, tamanho seu esgotamento. Já devia ter entendido que quem tinha o dom com crianças era Alice, não ela. Quase cochilando, ouviu Clara dirigir-se a si:
— A gente vai fazer o que depois, Lexa? — A menina perguntou, sua mente infantil procurando motivos para se ocupar e não entristecer outra vez.
— Vamos nos preparar para dormir.
A morena estava esgotada, cansada da viagem, preocupada com o sumiço do namorado, com saudade da filha. Sobre Miguel, até aquele momento, às 20h30min, não tinha nenhuma notícia que a satisfizesse. Procurou ocupar a mente para não deixar a raiva consumi-la. Só queria dormir um pouco para se reestabelecer e esquecer seus problemas.
Algumas horas de sono seriam suficientes, pensou.
— Mas eu não tô com sono — Clarinha reclamou.
— Nem eu — Akili concordou, os olhos curiosos focados na tia.
— Tem certeza? — seu tom era de súplica.
Os dois assentiram e ela suspirou de pesar. Tentou puxar à memória se havia dado doces e refrigerante para as crianças, mas não havia cometido tal erro. Havia preparado um jantar quase saudável, a bebida era suco de laranja, não havia contribuído para tanta energia, resignou-se.
— Vamos assistir um filme — disse por fim.
Clarinha resmungou, ajeitando as hastes dos óculos sobre o nariz, não gostava tanto de filme. Mas, no final, acabou cedendo. Era melhor que ir dormir, aceitou. Alexia escolheu o filme do Pequeno Príncipe, as crianças ainda não haviam assistido. Fez pipoca e levou os dois para a sala, onde se sentaram sobre o carpete.
Logo, estavam os três deitados, a morena entre Akili e Clara, que a usavam como travesseiro. Bastou passar do décimo minuto de filme para que o cansaço a vencesse e seus olhos se fechassem, o sono a consumi-la. Vidrados que estavam, os pequenos não se moveram, assistindo o filme com atenção, pelo menos a maior parte dele.
Não muito longe dali, duas pessoas desciam do ônibus na estação rodoviária. Miguel carregava a filha no colo, adormecida que ela estava. Com a mão livre, antes mesmo de pegar as bagagens, ele discou o número do concunhado loiro. Não gostava de pedir ajuda, mas tinha que aceitar que não era um bom momento para se ter orgulho.
Assim que encerrou a chamada, foi atrás de suas duas malas. Seu corpo estava dolorido pelas longas horas de viagem, mas sabia que havia valido a pena. Cutucou a filha para que ela acordasse, não conseguiria pegar a bagagem com ela no colo.
— Acorda, minha menina, chegamos. — A pequena resmungou, mas logo abriu os olhos e se empertigou.
Ele a colocou no chão, para que ela pegasse sua mochila, e viu como os olhinhos dela brilhavam.
— Agora nós vamos ver a mamãe, né, papai? — Ela perguntou eufórica, sem parecer que estava dormindo poucos minutos antes.
Ele riu, puxando as malas na direção da saída, com Lira em seu encalço.
— Podemos ir amanhã, ela deve estar dormindo. — Ele disse para ver a reação da filha, embora tivesse a mesma ideia que ela.
— Não, papai, ainda é cedo, não é? — Em poucos minutos seria dez da noite, mas para a menina era importante rever a mãe, mesmo que só tivesse ficado distante por pouco mais de vinte e quatro horas. — Quero ver a Lexi hoje. — Suplicou, esquecendo-se momentaneamente de chamar a morena de mamãe.
Miguel riu e passou a mão sobre o cabelo da filha, sem respondê-la. Ele também estava ansioso por rever os olhos verdes que tanto o cativavam. Ficaram perto do estacionamento à espera de André. Assim que o loiro chegou, acompanhado por Alessandra, Miguel se desculpou pelo incômodo.
A cunhada mais velha parecia surpresa e admirada por seu feito de antecipar sua viagem de volta para rever a amada.
— Tio André, eu sinto muito pelo seu pai. — Lira falou, conforme foi instruída pelo pai, e o loiro se espantou ao ver como ela era sincera em suas palavras e parecia compreender bem o que havia acontecido.
Eles ainda estavam do lado de fora do carro, Miguel colocava as malas no porta-malas.
— Obrigada, Lira. — Ele apertou a bochecha da pequena, que fez uma careta diante do gesto, causando riso nos demais.
Já no carro, Lira não estava disposta a permanecer calada. Havia perdido todo o sono diante da espectativa de rever sua mãe do coração.
— Tia San, amanhã eu vou ver a Clara e o Akili, eu trouxe presentes para eles. — A menina contou, e Alessandra se virou para ela.
— Acho que você vai vê-los hoje, pequena. Estão na casa da Ale. — Lira arregalou os olhos, surpresa, e abriu um grande sorriso. Miguel interrogou a cunhada com o olhar, e esta continuou: — Precisaremos viajar amanhã cedo, então ela ficou com as crianças hoje à noite, para eles não acordarem cedo amanhã. E se prepare, ela está furiosa com você por não ter atendido o celular. — Avisou, e o moçambicano estremeceu.
Na tentativa de fazer surpresa, havia se esquecido de quão ansiosa era sua namorada e no quanto devia ter se preocupado ao não ter suas mensagens respondidas.
Assim que pararam na frente do apartamento da morena, Miguel e Lira desceram, mas Alessandra e André preferiram não aparecer. Akili poderia chorar para voltar com eles e não queriam instigá-lo. Então, depois que as malas foram retiradas, o casal se despediu, deixando pai e filha na calçada, ambos preparando-se para entrar.
Miguel tinha uma chave reserva, então não se preocupou em bater na porta, queria que a surpresa fosse completa.
— A mamãe vai brigar com o senhor, papai? — Lira perguntou enquanto subiam as escadas que davam para o andar de Alexia.
— Espero que não muito. — Ele respondeu sinceramente, tirando a chave do bolso da calça.
Seu coração disparou com a simples ideia de rever a amada. Assim que girou a maçaneta e abriu a porta com cuidado, imaginou mil coisas que poderiam acontecer no momento. Só não esperava pela cena que encontrou ao adentrar à sala.
Alexia estava apagada, dormindo profundamente, e as crianças, uma de cada lado, dormiam abraçadas a ela.
Lira levou a mão à boca, desacreditada por ver aquilo, talvez com um pequeno ciúme a despontar. Miguel fez sinal para que ela não fizesse barulho e ela assentiu. Ele deixou as malas no canto da sala e fechou a porta com cuidado. O sono dos três era tão profundo que nenhum deles acordou com o som do abrir e fechar da porta.
— E agora, papai? — Lirhandzo perguntou num sussurro quase alto.
— Você vai tomar banho, eu vou colocar as crianças no seu quarto e a Lexi no quarto dela. Depois que banhar, você volta para me ajudar, tudo bem? — Ele se abaixou para que ela o ouvisse sem que precisasse alterar seu tom de voz.
— Mas o quarto é meu. — Ela cruzou os braços, mas ao ver o olhar severo do pai, soltou-os.
— Eles são seus amigos e estão passando por um momento difícil. Lembra do que falamos no ônibus, Lira? — Apesar da voz baixa, Miguel foi firme, não queria que a filha se tornasse egoísta.
Já havia conversado no caminho sobre o que acontecera com o pai de Clara e que a amiga precisaria de apoio, então a pequena entendia bem seu papel naquele momento.
— Tudo bem, papai. — Lirhandzo respondeu, abaixando a cabeça, envergonhada por sua atitude.
Assim, ela pegou a roupa em sua mochila e seguiu para o banheiro. Miguel pegou primeiro Akili, o pequeno mal se moveu no colo, exausto que estava. Deixou-o na cama que era usada por sua filha quando esta dormia ali. Logo, voltou para buscar Clarinha. Ela murmurou algo inaudível, mas não acordou. Colocou-a ao lado do sobrinho e observou-os por alguns segundos, antes de retornar por Alexia.
Com cuidado, ajoelhou-se ao lado dela, pensando em uma forma de pegá-la sem precisar acordá-la. Era tão bonita, até naquela situação, o cabelo esparramado, o cenho franzido por causa de algum sonho que tinha, a respiração pesada, quase resfolegante, sinal de seu cansaço. Era linda de qualquer forma, só por ser quem ela era.
Passou seus braços ao redor do corpo dela, erguendo-a. Ainda dormindo, a morena se aferrou ainda mais a ele, sua expressão tornando-se mais serena. Com cuidado, ele a levou até o quarto, onde a depositou com cuidado sobre a cama. Quando terminou de fazer isso, passou a mão pelo rosto dela, gravando-o em si. Antes que pudesse se afastar, desestabilizou-se e quase caiu sobre a namorada. Precisou alçar seu corpo, firmando os braços em cada lado de Alexia, para não tombar totalmente sobre ela. Ele se assustou, mas logo viu os olhos verdes se abrirem e uma expressão de surpresa tomar o rosto da mulher que tanto amava, o que o fez esquecer de respirar por alguns segundos.
Alexia estava em estado de choque. Pensou ainda estar sonhando quando viu Miguel ali, na sua frente, suas mãos sobre o colchão para não cair totalmente sobre ela, os rostos muito próximos. Miguel, seu Mugui, estava ali? Era real?
— Mugui? — Perguntou, a voz baixa e rouca. — Estou sonhando?
— Não, meu amor, você não sonhou, estou aqui. — Ele respondeu, um sorriso largo a aparecer em sua face.
Ela pareceu voltar à realidade com essas palavras e o empurrou, para que pudesse se sentar. Estava confusa, completamente atordoada. Miguel também se sentou, esperando a reação dela, ansioso por qualquer palavra que fosse.
— Co… como? — Perguntou ofegante.
— Não resisti, precisava estar com você, peguei o primeiro voo da madrugada.
Ela pareceu refletir por alguns instantes e murmurou:
— Por isso não me atendeu…
Sua mente estava em turbilhão, relembrando da reação estranha de Vitória quando ligara e na falta de respostas. Era para ser uma surpresa, mas sua ansiedade a fez pensar no pior.
— Sim, estava em trânsito. — Eles se encaravam fixamente, os olhos se recusavam a mirar em outra direção.
— Por quê? E sua mãe? Você não devia ter feito isso. — Ela começou a falar e ele a calou, colocando um dedo sobre sua boca.
— Não está feliz por eu estar aqui? — Ele questionou com um olhar manhoso e ela suavizou, assentindo em resposta. — Então não precisa perguntar tanto. Só estou aqui. Para cuidar de você.
Ela sentiu seu coração esquentar-se com as últimas palavras e jogou-se sobre ele, abraçando-o de forma significativa.
— Eu te amo. — Sussurrou, beijando o rosto dele. — Pode cuidar de mim, não vou mais te encher de perguntas.
Encostou seu queixo sobre o ombro de Miguel, aspirando o perfume amadeirado que emanava dele. Nem mesmo a viagem longa fora o suficiente para esgotar aquela essência. Ele a afastou minimamente, para olhá-la de frente para si, admirar seus olhos verdes.
— Eu te amo, Lexi. — Dito isso, ele aproximou-se outra vez, desta vez para beijá-la.
Os lábios se encontraram e selaram as declarações anteriores. Era um amor tão grande que não cabia apenas em palavras. As línguas gladiavam-se, dançavam juntas ao som inaudível da paixão. Assim que se afastaram, ele passou as mãos sobre a região abaixo dos olhos da morena, percebendo suas olheiras.
— Você está bem cansada. — Foi uma afirmação, não uma pergunta.
— Estou. — Concordou. — Você também está.
— Estou. Mas quero cuidar de você hoje, assim como cuidou de mim nas últimas semanas.
— Tudo bem. — Resignou-se Alexia, e logo se deu conta de algo. — As crianças? Lira?
— Coloquei os dois no quarto da Lirhandzo, e ela está tomando banho.
— Quero tanto ver meu pimpolho. — Confessou ela.
— Ela também quer ver a mãe dela. — A morena sorriu, imaginando como estaria sua menina. — Vou limpar a cozinha e organizar a sala, já volto.
— Fica. — Ela fez beicinho e ele riu. — Amanhã a gente arruma.
— Vai ser rápido, prometo voltar.
Ele se esgueirou para beijá-la outra vez, mas Lirhandzo apareceu na porta do quarto na mesma hora.
— Toda hora vocês estão beijando. — Reclamou a menina, e Alexia quase se engasgou com o riso preso.
Ou você sempre chega nessas horas, mocinha, Miguel pensou em dizer, voltando-se para a filha e indicando que ela entrasse.
— Mini-adulta! — A morena esticou os braços e Lira correu para ela.
— Mamãe, eu estava com saudades. Achei que eu ia ficar lá. Mas o papai ficou triste que você foi embora, aí o vovô mandou a gente pegar o avião hoje de madrugada. — Despejou a menina, encostando-se no colo da morena, de frente para o pai.
De certo modo, seu coração se aquecia ao ouvir aquilo. Ele queria ajudá-la, queria estar com ela naquele momento.
— Sério? — Alexia perguntou divertida e olhou para Miguel, que parecia prestes a enterrar-se, tamanha a vergonha que sentia.
— Enquanto vocês duas conversam, vou fazer o que falei e tomar um banho. — Beijou a testa da namorada e o rosto da filha, antes de sair do quarto.
Falante e esperta como era, Lira contou tudo o que havia ocorrido desde a partida de Alexia até o momento em que eles entraram no avião. A morena sentia sua admiração e amor pelo namorado crescerem ainda mais ao ouvir aquele relato. Não era sobre ele duvidar de sua força, era sobre querer dividir o peso, a carga, mostrar que um podia contar com o outro em todas as ocasiões.
Em algum momento durante a conversa, as duas cederam ao sono outra vez, antes mesmo que Miguel voltasse. Quando o moçambicano chegou no quarto, presenciou a terna cena das duas mulheres de sua vida, abraçadas uma à outra, dormindo profundamente. Cada vez ficava mais difícil imaginar um futuro sem Alexia. Era impossível, a bem dizer. Ela era sua família, a parte mais bonita de sua vida. Vendo como a ligação entre ela e Lira era forte, pensava que o laço que as unia era maior que o de sangue. Com cuidado, deitou ao lado delas, no canto da cama, deixando seu amor transparecer em seu olhar.
Com cuidado, afastou uma mecha de cabelo da namorada, e abraçou-a pelo lado. A quem visse a cena, era evidente que eram uma família, o amor exalava. Em poucos minutos, o moçambicano foi vencido pelo sono, entregando-se ao mundo dos sonhos.
Em algum momento durante a noite, Alexia acordou com uma pequena mão cutucando-a e alguém sussurrando.
— Lexa, Lexa. — Ao abrir os olhos, a morena viu Clarinha sentada sobre a cama, de frente para ela.
— O que foi, Clarinha? Aconteceu alguma coisa? — Perguntou, tentando levantar-se, mas foi impedida pelo braço forte de Miguel, que estava sobre sua cintura.
— O Akili acordou e tava chorando. Podemos dormir com vocês? — De relance, Alexia viu o sobrinho no canto do quarto, parecia tímido.
Ela sabia que não era apenas sobre ele. Clara também estava amedrontada, tinha medo da solidão. Com cuidado, a morena tirou o braço do namorado de cima de si e acenou para as duas crianças que podiam dormir com ela.
— Pode vir, Akili. — Clarinha chamou o menino e ele se aproximou envergonhado.
Tomando cuidado para não esmagar Lirhandzo, a mais velha alçou o pequeno para que ele subisse na cama. Clarinha, que já estava ali, apenas se deitou, atravessada, mais tranquila por estar rodeada por adultos. Akili se deitou ao lado de Lira e, quase de modo imediato, apagou.
Alexia ainda ficou alguns minutos acordada, virada para o namorado, acariciando seu rosto. Ele havia conseguido tirar um peso de cima dela e mostrado como seria uma vida junto a ele. Pela primeira vez, vislumbrou como seria seu futuro e gostou do que viu. No meio da bagunça que haviam sido os últimos dias, encontrara seu lar.
Não imaginava uma vida diferente para si. Foi seu último pensamento antes de voltar a dormir.
Mugui voltou! E aí, o que acharam desse reencontro?
Eles estão bem cansadinhos, ein? Será que vão ter um pouco de descanso?
O que vai acontecer agora? Próximos capítulos prometem.
Amo cada comentário e voto que recebo, vocês são minha força motivadora.
Amo vocês, alecrins! Até mais!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro