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Trinta e Oito


Capítulo saindo do forno! Dessa vez acredito que volto antes. Deixem seus votinhos para fazer essa pobre escritora feliz, por favor. Também gosto muito de comentários... :)

— Chegou mais cedo, Mugui? — Alexia perguntou, ao ver o namorado irromper em sua sala no meio da tarde de sábado.

Ele havia dito que provavelmente demoraria a sair da padaria naquele dia e que só a veria no fim da tarde. Ela havia passado a tarde terminando os detalhes do projeto gráfico da padaria, do cardápio, que já seria impresso na segunda-feira. Era meio de dezembro, duas semanas depois do almoço em família.

— A inauguração foi adiada outra vez. Problemas com o encanamento da cozinha. — Miguel respondeu com um ar cansado, sentando-se ao lado dela, olhando para a tela aberta do computador, admirando a arte ali.

A morena suspirou, pensativa. Já era a segunda vez que a inauguração era adiada por causa de problemas na reforma. Sabia o quanto era desgastante, ela própria estava muito cansada por causa da rotina agitada e falta de tempo para lazer depois que havia voltado de viagem.

— Qual a nova previsão? — Ela perguntou.

— Cinco de janeiro.

— Mais duas semanas e meia?

— Isso. — Ele respondeu, seu olhar a procurar o dela. — Lira ainda está na San?

— Está, eles vão para o penhasco mais tarde, no pôr-do-sol.

Miguel arregalou os olhos e ela riu de sua expressão assustada.

— Não é perigoso, Mugui. A gente chama assim porque tem um penhasco, ou melhor, um barranco, que dá para o riacho. É bonito lá, é alto, tem grama, árvores, dá para ver o pôr-do-sol. É um dos refúgios das Ribeiro. — Completou, encostando sua cabeça no ombro dele.

— Então vocês têm mais de um refúgio? — Ele perguntou, acariciando o rosto dela com ternura.

— O penhasco e a colina. Devíamos batizar esses lugares. — Brincou. — Foi no penhasco que a Lice descobriu que o Pedro não sabia nadar e que o André se declarou para a San. — Refletiu um pouco e retificou: — Uma das vezes. Na colina dá para ver o nascer do sol. Foi lá que a Lice disse que amava o Pedro, que a San e o André se reencontraram e o lugar que virou tradição no dia 20 de janeiro. — Viu que estava falando demais e levantou os olhos para encontrar os orbes castanhos que lhe olhavam com devoção.

— E você? Tem história nesses lugares também? — Havia uma pontada de ciúmes na voz de Miguel, e Alexia prendeu os lábios com os dentes para não rir dele.

— Não, Mugui. Eu só era a vela. Meus namorados não gostavam muito da natureza, então... — Ela pareceu refletir por alguns instantes e então teve uma ideia. — Mugui, vamos para o penhasco! Você está frustrado, eu estou cansada de ficar aqui, chegou meu momento! — Alexia se ergueu e Miguel não pode conter um sorriso de divertimento e admiração por ela.

Refletiu que talvez fosse mesmo uma boa ideia, talvez fosse o lugar perfeito para colocar seu plano em prática. Nada melhor que um lugar ao livre para isso.

Além da frustração com o adiamento da reinauguração da padaria, havia outro motivo para Miguel voltar mais cedo para ver a namorada. Depois de muitas horas de sono perdidas, e muito refletir sobre sua situação, ele entendeu que precisava ter a garantia que ela estaria sempre em sua vida, embora já tivessem falado sobre isso tantas vezes. A caixinha no bolso de sua jaqueta pesava a todo momento, como se o lembrasse do que deveria fazer.

Assim, saíram do apartamento e foram de carro até o penhasco. No caminho, conversaram banalidades e sobre os planos para a reinauguração, além de relembrarem algumas das peripécias das crianças naquelas semanas.

— Esse lugar é lindo! — Miguel falou, assim que se sentaram na grama, lado a lado, e puseram-se a observar o horizonte.

— Um dos meus lugares preferidos, confesso. — Alexia contou, aninhando-se a ele.

O moçambicano a amparou e colocou seu queixo sobre a cabeça dela, aspirando o perfume floral que tanto amava.

— Nós dizemos que aqui e a colina são nossos lugares de confissão. — Miguel soltou-a minimamente para que ela levantasse o olhar e encontrasse o dele.

— Me trouxe aqui para eu me confessar? — Ele brincou e ela riu.

— Talvez. — Provocou. — A ideia era sair um pouco de casa antes de minha cabeça explodir e te distrair um pouco dos problemas.

Ele esboçou um encantador sorriso de canto que fez Alexia duvidar se seria capaz de se levantar e manter a força das pernas.

— Já estou distraído. Totalmente. — Ele respondeu, buscando os lábios dela e depositando um selinho.

Miguel sabia que aquela era a oportunidade ideal para fazer o pedido, mas resolveu esperar um pouco mais, aproveitar aquele tempo com a mulher de sua vida, sem interrupções da vida diária. E pensar que passara tanto tempo sozinho a ponto de pensar que talvez nunca fosse capaz de amar outra vez. Mas com ela era fácil, amá-la era natural, quase que instintivo, e isso era impagável.

— Me conta um segredo. — Alexia pediu, depois de minutos em silêncio, virando-se para que ficassem frente a frente.

As mãos de ambos estavam entrelaçadas, formando um vínculo. Miguel pareceu assimilar a informação por alguns segundos, e finalmente, com um sorriso de canto, respondeu:

— O que eu ganho em troca? — Ele perguntou, perspicaz.

— Eu te conto um segredo meu também.

— Você já sabe quase tudo sobre a minha vida, Lexi. — Ele falou, tentando pensar em algo que pudesse ser considerado como segredo. — Já sabe que fui casado, que minha esposa me abandonou, que tive problemas com meus sogros, que meu irmão me culpava por coisas do passado. O que mais posso te contar?

— Sempre tem alguma coisa. — Ela contrapôs. — Sentimentos. Coisas que passaram pela sua cabeça. Nunca aprendemos tudo um sobre o outro e isso é o que deixa o relacionamento mais interessante, saber que tem sempre alguma coisa nova a saber.

— Quando a Nilai morreu, pensei em entregar a Lira para os avós. — Ele disparou e Alexia arregalou os olhos. — Não, eu nunca disse para eles que faria isso, mas quando eles falaram que tinham mais condições do que eu para criá-la, que nunca faltaria nada a ela, quase cedi. Foi na mesma semana que ela adoeceu e tive que ficar em casa para cuidar dela. Meu chefe me demitiu, mesmo que eu tivesse com atestado. Fiquei desolado por não ter como nos sustentar e pensei em entregá-la aos avós, ela teria tudo que quisesse e que eu não podia dar.

— Mugui, eu sinto muito. — Alexia soltou as mãos dele e acariciou seu rosto, seu coração apertado por saber daquela confissão. — Seu chefe, ele não podia fazer isso. Não pode demitir alguém que está de atestado. Você até poderia processá-lo.

Podia ver, dentro dos olhos castanhos, que aquela lembrança ainda era dolorosa, e imaginou que outras coisas ele teve de passar em um país que não era o seu para criar uma filha sozinho.

— Ele sabia que eu não conseguiria apoio para isso. Não tinha como pagar advogados e os órgãos públicos não faziam questão do meu caso.

— Isso é revoltante! Você não merecia passar por algo assim. — Abrandou a voz ao ver que se exaltava por um acontecimento do passado de seu namorado.

Entendia o lado dele. O motivo de por um momento ele pensar que não seria o suficiente para a filha. O meio em que vivia não o ajudava.

— Mas na mesma semana que pensei em dizer que aceitava a proposta deles e voltaria a Moçambique, deixando a guarda da Lira com eles, conheci Abrahim. Ele era israelense, sabia bem o que era ser desprezado por sua origem, e foi quem me deu a mão para que eu me reerguesse. E me trouxe para cá. Não foi fácil no início, eu sofri com o racismo enquanto trabalhava no restaurante em Belo Horizonte, e já vi muita gente não querer comprar na padaria do Abrahim por achar que ele era terrorista. Algumas pessoas são cruéis em seus julgamentos e convicções de estarem acima dos outros. Mas conseguimos passar por isso. E pude continuar com a minha menina.

As lágrimas se acumularam nos olhos da morena e ele as limpou, embora sentisse sua própria garganta fechar-se com o gosto amargo das lembranças daqueles dias. Ele era negro, moçambicano, sentiu na pele, mais de uma vez, o julgamento das pessoas, o racismo, a xenofobia, pessoas que eram incapazes de enxergá-lo como semelhante. Alexia nunca saberia o que era passar por aquilo, ser inferiorizada por cor ou origem, mas só de ver a empatia nos olhos verdes dela, ele soube que tinha um apoio incondicional.

— Não queria que fosse assim. — Ela o abraçou, seu queixo sobre o ombro dele.

— Eu sei que não.

— Me dói saber que ainda existem pessoas que julgam pela cor, pela origem. Eu não as entendo, Mugui. O que as faz pensar que são melhores que outros? Queria apagar tudo de mal que aconteceu com você por culpa de pessoas más, que se acham no direito de determinar o que é aceito ou não.

— Eu entendi que o problema está nelas, não em mim. Nunca esteve. Os apelidos pejorativos que ouvi, tanto dirigidos a mim quanto a Abrahim, isso só mostra o quanto alguns estão presos em uma bolha de preconceito e se definham cada vez mais ali dentro. Doía, sim, doía, mas aprendi a não me abalar por comentários ou atitudes que tentassem me inferiorizar.

— Você é gigante, Mugui. Não posso dizer que sei o que é passar por isso, mas saber que você e milhões de pessoas passam por isso me indigna tanto. Eu te amo tanto e cada dia mais. A força que emana de você, seu jeito de superar cada desafio e não deixar que outros determinem seu valor, eu amo cada parte sua e suas dores agora são minhas também. — Ela terminou de falar, colocando a mão sobre o lado esquerdo do peito dele, sentindo as batidas descompassadas de seu coração a se unirem com as dele.

Miguel a encarava com um misto de devoção e amor, estava completamente a mercê daquela morena e sabia disso, bem como entendia que não existia mais ninguém no mundo a quem poderia entregar seu coração sem temer represálias.

— Eu queria que o mundo fosse menos cruel, que você e Lira não passassem por nada de mal, mas não posso prometer isso.

— Lexi. — Ele segurou o queixo dela com delicadeza para que ela o encarasse. — Você está ajudando a minha menina a confiar em si mesma e isso não tem preço. Ela agora não tem vergonha de ser quem é, reconhece seu valor, e sei que você foi quem mais a ajudou. Eu sempre tentei mostrar a ela que não precisava ser igual às outras meninas para ser bonita, mas ela ainda era insegura. Nos últimos meses, Lira está muito mais confiante, ama o cabelo crespo, quer usar roupas coloridas e turbantes, quer mostrar sua identidade. Você está sendo a mãe que minha pequena sempre quis ter e eu sinto meu amor por você crescer toda vez que vejo como a trata.

— Ela é meu tesouro mais precioso. E só quero que ela seja muito feliz.

— Ela vai ser, tem a nós, não tem? — Quis confirmar que ela estaria ali com eles, que não precisavam temer sua partida.

— Ela tem. — Confirmou a morena e voltou a se aninhar a ele, sua mente borbulhando por tantos pensamentos.

— Não vai me contar nada? — Miguel provocou, passados alguns minutos. — Achei que seria uma troca.

— Ainda estou digerindo sua confissão, o que passou. — Ele assentiu, mas ela logo se virou outra vez, para que pudessem se encarar. — Acho que sei de um segredo que posso te contar.

— Tem algum que não pode? — Ele arqueou a sobrancelha, em desafio, mas não estava realmente desconfiado.

— Alguns não valem a pena. — Respondeu ela com picardia. — Você sabe que eu tive pneumonia duas vezes, né?

— Sim, você me contou, também me disse que isso mudou seu relacionamento com suas irmãs.

— Mudou. — Concordou ela. — Mas não foi só isso. Da segunda vez, eu estava no fim da adolescência, ou meio, sei lá. E ficar tanto tempo internada me fez ter medo de ficar sozinha, de morrer muito nova e não ter ninguém para sentir minha falta. Acho que esse acontecimento influenciou muito minha percepção sobre o amor. Comecei a ter pressa para amar, me apaixonar, como se precisasse sentir isso antes que minha vida acabasse. Não queria ser esquecida.

— É difícil te esquecer, Lexi. — Miguel falou, pensando que nunca conseguiria esquecer aqueles cativantes olhos verdes e tudo que ela representava.

— Obrigada, vou ver como um elogio. — Ela piscou para ele, e logo continuou. — Depois que saí do hospital, com quase dezessete anos, passei a enxergar o mundo de outro modo e parece que me apaixonar tornou-se meu hobbie preferido. Não me lembro das minhas convicções antes disso, só sei que eu tinha tanto medo de ficar sozinha, que acabava projetando em outros o que queria, como se eu inventasse alguém para amar. E por isso me frustrava e não dava certo. Não me imaginava solteira além dos vinte e cinco anos, e adivinha? Cheguei aos vinte e oito sozinha. Não adiantou ter pressa, procurar um amor em cada rosto, não funcionou.

— E assim eu pude te conhecer e descobrir a mulher incrível que é.

— Se fosse um pouco antes, não daria certo, Mugui. Precisei aprender a amar minha própria companhia, decidir não colocar minhas expectativas em cima de coisas que não posso controlar. E foi só aí que entendi meu valor e o que significa amar de verdade. — Ela se lembrou de outro ponto e falou: — Minhas irmãs sofreram comigo, com meu jeito, tiveram que se sacrificar por mim algumas vezes e eu demorei a entender isso. Fui egoísta por pensar só em minhas pretensões, sem levar em consideração os sentimentos alheios. E isso é discrepante, eu me doava tanto no amor e me esquecia de quem realmente movia o mundo por mim. Sempre fui amiga delas, mas nunca percebi, ou melhor, nunca parei para pensar no quanto fizeram por mim. Agora entendo e as amo um pouco mais por isso.

— Então nos conhecemos no tempo certo? — Ele sussurrou, seu rosto a milímetros do dela.

— Você apareceu no meio do meu processo de redescoberta. — Ela respondeu no mesmo tom. — Lira tomou primeiro meu coração, depois você deu um jeito de entrar também.

— Não me arrependo nenhum pouco de ter quase implorado por seu amor.

Seus hálitos já se encontravam, os olhares instintivamente foram para os lábios alheios, tamanha a química que emanava entre eles. Os olhos se fecharam ao mesmo tempo em que as línguas se encontraram. Alexia puxou o namorado para si, como se ainda estivessem distantes demais um do outro. Segundos depois, as testas estavam coladas, enquanto o ar voltava aos pulmões de ambos.

— Eu te amo, Lexi. — Miguel disse, pensando que talvez o momento tivesse chegado por fim. Colocou a mão dentro do bolso da jaqueta jeans, tocando a caixinha de veludo.

Enquanto eles se encaravam, o moçambicano a tentar encontrar palavras que o ajudassem em seu intuito, a morena teve uma ideia muito parecida com a que a irmã tivera anos antes. Mas, antes, resolveu se certificar:

— Mugui, você sabe nadar? — Ele, atônito, assentiu, percebendo que havia perdido a oportunidade perfeita de se declarar. — Pula comigo? — Apontou para o riacho.

Miguel refletiu por alguns instantes e resolveu que talvez aquele momento o ajudasse a colocar as ideias no lugar.

— Pulo. — Ele olhou ao redor, imaginando onde deixaria seu casaco e celular.

Alexia estava com uma blusa folgada por cima da regata branca e shorts, e ele estava de bermuda, mas não abandonava a jaqueta onde estava a caixinha.

— Não é perigoso deixar aqui a jaqueta e o celular?

— Não, nunca vem ninguém aqui, mas dá para deixar no casco daquela árvore, é escondido. Por que mexe tanto na jaqueta, Mugui? — Perguntou ela com desconfiança e ele teve que engolir a saliva para não se entregar.

— Não é nada. — Ele negou, e a desconfiança dela aumentou, mas não disse nada.

Ela tirou a chave do carro de dentro de seu bolso e entregou a ele para que escondesse junto com a jaqueta e o celular. Também tirou a blusa folgada, ficando apenas com a regata e o short.

Assim que esconderam os pertences, os dois deram as mãos e correram até a beira do penhasco, de onde pularam. A sensação de adrenalina dominava a ambos quando sentiram a água em contato com os corpos. Ao emergir e procurar o namorado com o olhar, constatando que ele estava logo atrás de si, Alexia soltou um suspiro aliviado e feliz. Sentiu as mãos de Miguel em sua cintura e virou-se para ele, passando suas mãos no pescoço dele. Ele a ergueu com facilidade, e ela passou suas pernas ao redor dele para que não afundasse outra vez.

A aura romântica que os envolvia era límpida, surreal, quase como se as cores do céu se mesclassem com o brilho no olhar de ambos. Os olhos presos um ao outro, negando-se a mirar em outra direção. Para Alexia, era a realização de seus mais profundos sonhos românticos, um momento único e inesquecível. Para Miguel, era a certeza de que não conseguiria pensar em um futuro que não envolvesse a morena.

A morena se recordou, por instantes, do que as irmãs lhe disseram, meses antes. Cada amor era único, diferente, e não se podia medir um com base no outro. Alice e Pedro pareciam opostos, mas de alguma forma completavam-se à perfeição. André ajudava Alessandra a vencer seus medos e juntos eles alçavam grandes voos. Já ela e Miguel, apesar de não serem exatamente iguais, tinham uma conexão incrível, e em alguns momentos ela tinha a impressão de que ele podia ler seus pensamentos através de seus olhos.

— Vai me encarar para sempre? — Ele provocou, e ela voltou à dimensão em que deveria estar, balançando a cabeça para colocar seus pensamentos em ordem.

O magnetismo que os prendia um ao outro nublava sua racionalidade.

— Não é uma visão ruim. — Ela devolveu, buscando os lábios alheios para provar a paixão que sentia.

Segundos depois, ainda no meio do riacho, a água a chicotear-lhes, os dois envoltos em seu próprio mundo, Miguel decidiu dizer algo que havia pensado durante dias e que tinha reparado naquela tarde.

— Você deveria voltar a trabalhar como design. — Ele disse, e Alexia o encarou sem entender a mudança brusca de assunto.

— Deveria? — Perguntou incrédula.

— As artes que você fez para mim são incríveis, Lexi. É evidente que você tem talento e técnica.

— Aqui não temos muitas opções para trabalhar com isso. — Ela deu de ombros, embora estivesse encantada por ver que ele admirava seu trabalho. — Só tinha uma empresa especializada nisso e ela foi embora. As gráficas não contratam ninguém há anos, e a única proposta que recebi foi para trabalhar na empresa do Caíque. — Ao ouvir o nome do ex dela, Miguel franziu o cenho por instantes. — E não, eu também não quero trabalhar para ele. Além disso, tenho meu emprego na escola, é seguro, não vou ser demitida.

— Mas é isso o que você quer? Trabalhar na secretaria é o que você quer para toda a vida? — Ele perguntou outra vez, levando uma das mãos ao rosto dela e afastando uma mecha de cabelo que estava grudada perto de seus olhos.

— Não é o que eu planejava, mas não posso reclamar. Pelo menos tenho um emprego. E agora tenho a Lira para me distrair nos intervalos. Nem sempre os sonhos dão certo. — Murmurou.

— Você podia lançar sua própria marca, trabalhar como designer freelancer e depois, quem sabe, expandir e abrir uma pequena empresa especializada nisso.

— Mugui, não. — Ela negou em voz baixa, assustada por pensar na possibilidade de não dar certo aquele plano. — Estou feliz assim, com você e Lira, meu emprego, é sério, amei fazer as artes para você, mas não dá certo fazer isso.

— Por que não? Você me apoia tanto nos meus planos, Lexi, por que não investe também nos seus? Um projeto não anula o outro. Não precisa ser de uma vez, pode começar aos poucos, ainda trabalhar lá na escola por um tempo, até ter certeza que vai funcionar. Pode usar o material da padaria para montar seu portfólio. — Ela fixou seu olhar no dele, encantada e emocionada, embora ainda assustada com a ideia.

— Acha mesmo que daria certo? — Perguntou com desconfiança.

— Não acho. Tenho certeza. Lexi, você é tão confiante, por que está duvidando de si agora?

— Tem razão. — Ela piscou para ele, divertida. — Vou pensar, e você será a primeira pessoa a saber de minha decisão.

Logo, ela o abraçou e olhou para o horizonte, constatando que o pôr-do-sol já estava em seu ápice. Lembrou-se que a irmã, o cunhado e as crianças deveriam ter chegado, mas não ouvia voz alguma.

— Mugui, a San e o André ainda não chegaram. Que estranho, era para já estarem aqui. Precisamos ir. Ver o que aconteceu. — Ela lhe deu um selinho e o soltou, para que pudesse nadar até a margem.

Assim que chegaram na margem, Miguel lembrou que estava perdendo uma oportunidade maravilhosa. Alexia começou a andar depressa até o local onde estavam seus pertences, com um pressentimento que algo não estava certo. Nem se apercebeu que o namorado tentava alcançá-la e parecia algo nervoso.

— Lexi, espera. — Ele chamou, mas ela já estava tirando a jaqueta e outras coisas de dentro da casca da árvore. — Antes de verificar o que aconteceu, eu queria te falar uma coisa. — Ele falou esbaforido, já de frente para ela.

A morena estava empenhada em pegar tudo de uma vez, quase sem se dar conta da fala do namorado. Antes de entregar a jaqueta para ele, tentou alcançar o celular para ver se havia alguma mensagem de Alessandra avisando que não iriam mais. Mas, a primeira coisa que alcançou foi uma caixinha de veludo vermelha. Ela retirou o objeto, seu coração a palpitar mais forte. Finalmente, ainda com a caixinha na mão, ergueu seu olhar para Miguel, vendo a emoção nos olhos castanhos. Seria o que ela estava imaginando?

— Lexi, eu... — Ele se ajoelhou e ela teve certeza do que era.

Abriu a caixinha com cuidado, o coração desbocado batia, suas mãos suavam. Dentro dela estava o que pensava. Um anel. Pequeno, de alguma qualidade de ouro desconhecida por ela, e com brilhantes no meio dele. Era lindo.

— Não era assim que eu imagina te pedir em casamento, estava esperando o momento perfeito, mas você foi mais rápida. — Ele se justificou apressado e ela baixou os olhos para encontrar os dele, então esboçou um sorriso, sem esperar que ele continuasse.

— Eu aceito. — Ela respondeu emocionada, esticando a mão para que ele se levantasse.

Antes que ele pudesse reagir, o celular dele começou a tocar o insistentemente e Alexia se lembrou daquela sensação que algo estava fora do lugar. Então ela, que estava com a jaqueta nas mãos, voltou a buscar o celular dentro dela e o encontrou. Era Alessandra. Viu pelo visor que era a sétima chamada. Arrepiou-se ao perceber esse fato. Com receio, atendeu.

— Alô, San? Vocês não vêm? Estamos no penhasco.

Ale, a Lice entrou em trabalho de parto alguns minutos atrás. Tentei te ligar, mas você não atendeu, por isso estava ligando para o Miguel. Estamos no hospital. — A mais velha falou de uma vez, e a caçula arregalou os olhos, assustada.

Os bebês estavam chegando. A comemoração pelo pedido de casamento teria que esperar.

— Lice vai ter os bebês agora. Precisamos ir, Mugui. — Ele assentiu.

Ela vestiu a blusa por cima da regata de qualquer jeito e correram para o carro. Assim que entraram, esbaforidos, Miguel resolveu ter certeza de algo que lhe martelava a mente:

— Estamos noivos?

— Sim, estamos. — Ela respondeu com um sorriso, dando partida no carro.

Quanta conversa, ein? Revelações sobre o Mugui e a Lexi, um apoiando o outro e um pedido inacabado. Essas Ribeiro não sabem esperar um pedido formal...hahaha

Sobre a questão do racismo e xenofobia abordada por Miguel: Pensei muito antes de abordar esse assunto, mesmo que não de forma extensa, porque acho importante entender que infelizmente isso ainda existe na nossa sociedade, e muitos sofrem por causa de pessoas que não conseguem entender que não existe raça ou origem superior uma a outra, mas que a culpa nunca é de quem sofre. Sou parda, minha família materna é negra, e já vi o racismo acontecer com minha mãe e outras pessoas conhecidas, e é algo horrível. 

P.S.: Se falhei em algum momento na abordagem desse assunto, peço que me chamem no privado e me corrijam, caso seja necessário. 

Bem, é isso. E o que acharam do capítulo? Os bebês da Lice interromperam o momento do nosso casal. Bebês chegando! Próximo capítulo vamos conhecer os novos integrantes da família. <3

Acredito que amanha ou terça já volto com um novo capítulo. Até mais, alecrins!


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