Treze
Vamos de capítulo gigantão outra vez??
Miguel se sentia estranho e aéreo depois da manhã daquela sexta-feira. Logo após o beijo, ao ver Alexia se distanciar, levantou-se e foi para o balcão, mais próximo à saída, onde podia divisar a morena conversando com um homem relativamente alto de pele bronzeada. Eles pareciam próximos, bastante próximos para o gosto dele. Ao ver que ela se distanciava, e dizia algo antes de entrar no carro, pensou em quem seria aquele moreno, e como estava envolvido com Alexia. No restante do dia, tentou se focar em outras coisas que não fossem nos olhos verdes que pareceram mudar de cor nos instantes que seguiram o beijo.
Não fora bem-sucedido em tal intento. Vez por outra a imagem da morena e seu sorriso límpido lhe assaltava os pensamentos, sem pedir permissão. O fato de Lira reclamar, a cada dez minutos, por não ter visto Lexi naquele dia também não contribuía para afastar seus pensamentos tortuosos. Estava se apaixonando, outra vez, e não tinha certeza de se aquela era uma boa ideia para o momento em que vivia. E se não fosse suficiente para ela? E se no fim, Lira acabasse machucada? Não queria isso, não queria ver o sofrimento nos olhos castanhos da filha outra vez. Teriam que conversar como adultos responsáveis quando se vissem novamente, e deveria ser sincero sobre seus temores e sentimentos.
Naquela manhã de sábado, Lirhandzo insistiu em ir à praça, era um dos lugares que ela mais gostava na cidade, e, por não ter encomendas naquele dia, pôde deixar Josélia responsável pela padaria por algumas horas, a fim de se dedicar à sua menina, sua pequena joia. Entre uma brincadeira e outra com alguns novos amigos, a garotinha pareceu ver algo do outro lado da rua, e foi até ele com uma pressa incompreensível.
— Papai, a Lexi está ali, olha! — A menina disse, esbaforida, e apontou para a lanchonete em frente à praça. Foi então que ele viu a morena, que saia do lugar naquele instante e parava como se estivesse recuperando suas forças para prosseguir em seu caminho. Antes que pudesse reagir, viu-se arrastado pela filha em direção à Alexia.
Não era o melhor momento para se encontrarem, ainda estava pensando no que dizer depois do dia anterior. Não queria se desculpar outra vez, não estava realmente arrependido do ocorrido. Ainda não tinha claro em sua mente o que se passava em seu interior e como lidaria com esse novo sentimento que lhe envolvia. Entre um e outro pensamento desconexo não viu que já estavam praticamente à frente da mulher, até que sentiu a pequena mão se desprender da sua, e a voz infantil invadir seus ouvidos, tirando-lhe da bolha em que estava.
— Lexi! — A empolgação de sua filha a cada vez que via a morena era um forte indicativo de quão envolvida a pequena estava. Alexia havia se tornado uma peça fundamental no jogo de suas vidas, e ele simplesmente não conseguia dizer o momento preciso em que isso ocorreu.
Por dois segundos ele imaginou como seria sua vida se Alexia pertencesse a ela da forma que seu coração pedia. Não pôde se demorar em mais divagações, pois logo teve sua atenção voltada para ela, que lhe falava.
— Oi Miguel. — Ele responderia, se não fosse interrompido por uma pessoa que passava por eles sem nenhuma intenção de os cumprimentar. Um homem. O mesmo do dia anterior. Logo sentiu algo murchar em seu íntimo. Aquele era um encontro. Um encontro dela com quem quer que fosse aquele sujeito que passara por eles. Não com ele. Suas esperanças iam sendo esmagadas, uma a uma, como se um pesado sapato pisasse nelas.
Sentiu-se tolo por se permitir sentir algo por aquela bela morena. Não era correspondido. Mais uma vez se enganava. Voltou seu olhar para a causadora de sua frustração.
— Oi Alexia. — Ao ouvir seu nome completo, depois de mais de um mês sendo chamada de Lexi pelo moçambicano, soube que algo estava fora do lugar. Ele havia visto Caíque, estaria pensando que estavam em um encontro? Ao ver o modo como ele fechava sua expressão, parecendo decepcionado, soube que sim, e teve de segurar o riso por alguns instantes. Se ele soubesse o que realmente significara aquele encontro.
— Eu não te vi ontem, Lexi, estava com saudades. — Confessou Lira ainda agarrada às pernas dela, e ela se abaixou para depositar um beijo no rosto da garotinha, que, alheia ao que se passava no mundo dos adultos, queria conversar com sua única e melhor amiga.
— Eu também estava morrendo de saudades de você, mini adulta. — Disse apertando as bochechas da menina, que sorria de alegria. Era seu pequeno presente, uma das pessoas mais importantes para si, e não podia imaginar uma realidade em que a pequena não fizesse parte de sua vida.
— Agora que falou com a Alexia, já podemos ir, Lira. — Miguel pronunciou, com a voz rouca, e Alexia, que ainda estava agachada, levantou os olhos para encontrar os dele, indecifráveis.
— Deixa eu ficar com a Lexi mais um pouco, papai. — Suplicou a menina, olhando para o pai com os olhos chorosos, e Alexia aproveitou o momento para levantar, e pensar em algo.
— Sim, Miguel, deixa a Lira passar a tarde comigo. — Sugeriu Alexia, voltando-se para ele, que não parecia tão compadecido quanto em ocasiões anteriores. — Eu a levo antes de anoitecer para casa.
— Hoje não, Lira. Preciso voltar para a padaria, vamos. — Ele estendeu a mão para a garotinha, que, sem reclamar, embora com olhos lacrimejantes, abaixou a cabeça e segurou em sua mão.
— Tchau Lexi. — Ela disse cabisbaixa, antes de se afastarem.
— Tchau mini adulta. Nós nos vemos na segunda. — Alexia encarou Miguel com uma expressão difícil de identificar, mas o deixou ir, sem mais conversa.
Sabia bem no que ele havia pensado, e ficou imaginando como ele estava se sentindo. Só não entendia qual era o problema que homens tinham em simplesmente perguntar o que se passava. Ele não havia a visto realmente com Caíque para que pudesse tirar todas suas conclusões, e mesmo que tivesse, eles não tinham um relacionamento romântico para que ele se doesse tanto. Ainda assim, viu-se enviando mais de uma mensagem para aclarar o assunto.
"Miguel, seja lá o que você acha que aconteceu, você está enganado".
"Eu não tenho nada com o Caíque".
Depois de mais alguns minutos sem resposta, resolveu mudar de tática.
"E se tivesse, não teria problema nenhum, não é como se tivéssemos em um relacionamento".
Olhou para o celular por mais alguns instantes, tentando imaginar o que fazer, e o motivo de tentar esclarecer aquele assunto. Era óbvio que ele estava chateado, e até o entendia, mas não ficaria correndo atrás de alguém que não queria lhe ouvir, não mais. Cansada de tentar se justificar por algo que nem tinha culpa, enviou uma última mensagem.
"Ah, quer saber? Não vou ficar me explicando para ser ignorada. Pense o que quiser, só não tente me afastar de Lira, ela não tem nada a ver com essa situação".
Ouviu a voz das irmãs na sala e decidiu que afastaria aqueles pensamentos de sua mente, segunda-feira logo chegaria e veria Lira todos os dias durante a semana, o que era suficiente. Deixou o celular sobre a cama, olhou-se no espelho e disse a si mesma que aquele assunto não seria mencionado durante o fim de semana.
Quando recebeu a primeira mensagem, Miguel estava na padaria, sem tempo para olhar o celular. Apenas viu a mensagem pela barra de notificações, e imaginou como poderia estar enganado. Ao ler a segunda, enquanto ouvia Josélia contar algumas peripécias de sua família, só conseguiu se atentar ao fato que agora o sujeito tinha um nome. Caíque. Logo em seguida, segurou o riso ao perceber que Alexia estava perdendo a paciência, e imaginou suas feições irritadiças.
— Está tudo bem, Miguel? — Josélia perguntou, ao vê-lo aéreo e sempre com os olhos direcionados ao aparelho que jazia sobre uma das mesas.
— Está sim. — Disse, espantando seus pensamentos, e voltando aos afazeres.
Arrependeu-se de ter rejeitado a oferta de Alexia por puro orgulho ferido. Estava tão confuso e decepcionado consigo mesmo, que não conseguiu deixar que Lira passasse a tarde com a morena, sendo elas já tão próximas. Quando se despediu da empregada, quase no fim da tarde, soube que também teria de se desculpar com sua menina. Ela estava evidentemente chateada, embora fosse boa demais para se rebelar realmente. O fato de só terem um ao outro por tanto tempo, fazia com que a pequena respeitasse o pai, mesmo que não lhe entendesse, e por vezes se chateasse com suas decisões.
Só conseguiu ver a última mensagem, enviada algumas horas antes, quando já estava em casa, frente à sua menina, que permanecia com um semblante fechado, assistindo um filme de desenho, e com os braços cruzados sobre o colo. Quando leu o que Alexia enviara, percebeu que estava encrencado. Duas mulheres contra ele, era injusto. Era mais que óbvio que não afastaria uma da outra, a morena já provara, em mais de uma ocasião, que era digna de confiança, e que realmente se importava com sua filha. Sua atitude naquela tarde não havia sido madura, e embora ainda estivesse chateado por conta de seus sentimentos, assim que visse a caçula das Ribeiro deixaria claro que não interferiria na amizade dela com sua pequena joia. Mas aquilo ficaria para outro momento, pois tinha que cuidar de sua prioridade.
Resolveu que faria o bolo preferido da filha, com recheio de chocolate e cobertura de leite ninho. Teve de esforçar para ter sua atenção, e prometeu que conversaria com Alexia no dia seguinte.
— Por que não hoje, papai? — Ela perguntou, enquanto comia o bolo, feliz em pelo menos ter o doce preferido como recompensa. — Eu quero ver a Lexi. — Resmungou, entre uma colherada e outra.
— Já está de noite, minha menina. Amanhã. — Ele beijou a testa da garotinha, que assentiu resignada.
Durante a noite, depois de se deitar, recapitulou novamente seus sentimentos e o dia que havia tido. Era realmente melhor deixar sua paixão de lado e ter apenas um relacionamento amistoso com a morena, não poderia deixar seus sentimentos influenciarem a ponto de afetarem suas decisões sobre sua filha. Seriam bons amigos, e isso seria mais que suficiente. Assim Alexia ficaria livre, e ele realmente não poderia interferir em suas escolhas amorosas, nem se doer caso ela começasse a se relacionar romanticamente com outra pessoa.
Ainda sem dormir, ouviu os resmungos de Lira, que estava no quarto ao lado, e se levantou preocupado. Olhou para o relógio no celular e viu que não era mais que duas da manhã. Entrou no quarto e viu que a menina se remexia inquieta, enquanto murmurava palavras desconexas. Sentou-se ao seu lado, e logo colocou a mão sobre seu rosto, ficando em alerta ao sentir a pele quente e úmida. Ela estava febril. Ele a acordou, assustado, e pensou se não seria o mesmo que sentira quando fora abandonada. Seria falta de Alexia? Mas não tinha sentido, porque ela a vira ainda naquela tarde, e tinha a promessa de a ver novamente no dia seguinte.
— Lira, minha menina, acorde. — Disse sacudindo a pequena, até que ela abriu os olhos, confusa e com expressão de dor. Em um gesto paternal, aninhou-a sobre si, enquanto ouvia seu choro baixo.
— Tá doendo, papai. Tá doendo. — Ela disse, colocando a mão sobre a barriga, enquanto continuava a chorar, encolhendo-se de quando em quando.
Miguel entrou em pânico ao ouvi-la. Levantou-a como se tratasse de uma pluma e a carregou até a sala conjugada com a cozinha. Sua casa, se é que podia ser chamada assim, tinha dois quartos minúsculos, e não tinha divisão entre os ambientes de cozinhar e assistir TV. Colocou-a sobre o surrado sofá, e procurou remédios que pudessem ajudá-la. Antitérmico, remédio para enjoo. Fez um chá, e a cada minuto sua preocupação aumentava. Nada melhorava o estado de Lira, que se contorcia de dor, e continuava a chorar.
Levou as mãos à cabeça, pensando que deveria levá-la ao hospital, e que ela estava fraca demais para ir de moto. Olhou para o celular que havia deixado sobre a mesa, e apenas uma pessoa veio em sua mente. Alexia. Ela não o atenderia. Não depois de ser ignorada durante a tarde anterior. Amaldiçoou-se mais uma vez por sua atitude infantil. Ela estaria em seu direito de o ignorar, mas tinha de tentar. Por Lira.
Ligou e por duas vezes caiu na caixa postal. Ela estaria dormindo, não acordaria com suas chamadas, e se acordasse, não o atenderia. Resolveu então enviar mensagem em uma última tentativa de a avisar. Se não fosse respondido, tentaria levar a pequena na moto, mesmo que tivesse que a colocar na sua frente.
Alexia havia acordado pelo calor que sentia. Maldito ar-condicionado que havia resolvido quebrar durante os dias mais quentes do ano! Olhou para o celular e não entendeu o motivo de se sentir mal por não ver nenhuma mensagem. Já era quase três horas da manhã. Suspirou, e pegando uma toalha, foi ao banheiro, tomar um banho para se refrescar e aguentar passar o resto da noite. Quando retornou, dez minutos depois, assustou-se com a luz acesa do celular, e foi conferir o que havia acontecido.
Duas chamadas e uma mensagem.
"Alexia, a Lira está muito mal".
Seu coração disparou ao ver a mensagem, e ainda de toalha, discou o número de Miguel.
— Miguel, o que aconteceu? — Disse assim que a chamada foi atendida.
— Lira está mal. Está se contorcendo de dor e chorando. Preciso a levar ao hospital, mas ela está tão fraquinha. — Em sua voz havia notas de desespero, o que fez a morena se condoer.
— Deixe-a pronta. Daqui a quinze minutos chego aí. — Ela disse e antes de ouvir resposta, desligou, angustiada.
Nunca havia se arrumado tão depressa. Em menos de cinco minutos já estava a caminho da garagem, enviando uma mensagem para a irmã mais velha, que possivelmente estava em um dos mais profundos sonos.
"San, peguei o carro para levar Lira ao hospital".
Durante o curto caminho para a casa de Miguel, pensou em como seus pais se sentiam cada vez que acordava sem ar, prestes a perder todo seu fôlego. Agora entendia a angústia no olhar de cada um, quando finalmente acordava no hospital. Agora que estava com as mãos suadas e com mil pensamentos preocupantes a rondar-lhe a mente, tudo por causa da pequena garotinha que havia conquistado seu coração. Quando se aproximou da padaria, viu Miguel, com Lira no colo e uma mochila nas costas, e seu coração se apertou uma vez mais. Era estranho pensar em como estavam envolvidos por linhas invisíveis. A dor nos olhos dele refletiam em seu próprio interior, e ao sair do carro, com expressão preocupada, seus olhares se encontraram em um acordo mudo. Lira era a prioridade de ambos.
— Lexi. — A menina murmurou, e esticou os braços para a morena, que a pegou sem hesitar, mesmo sabendo que a garotinha era pesada demais para ficar em seu colo por muito tempo.
— Você dirige? — Perguntou a Miguel, que assentiu, sem saber o que dizer. Ela lhe entregou a chave do carro, e abriu a porta do banco traseiro, e depois de depositar a pequena no banco, sentou-se ao seu lado, aninhando-a a si novamente.
O moçambicano soube que havia chamado a pessoa certa. Ninguém se importava tanto com sua filha como ela, que estava disposta a sacrificar sua noite de sono para levar uma criança que não era da família ao hospital. O que ele não sabia é que para a morena, Lira era sim parte de si, era essencial para ela, quase tanto como respirar.
Ao chegarem ao hospital, Lirhandzo estava adormecida sobre o colo de Alexia, ainda murmurando e com a feição dolorida no rostinho infantil.
— Você a carrega, passa os documentos que eu já vou preenchendo as fichas. — Ela ordenou, e ele não teve coragem de discordar, e entregou a mochila da menina para que ela adiantasse.
Miguel parou ao lado dela na recepção, e se admirou com a agilidade que ela tinha para passar as informações sobre o estado da garotinha, e só a viu ficar em dúvida quando pediram os documentos do responsável. Sabiam que barrariam a entrada dela se soubessem que ela não era da família, e ao se encararem, os olhares se conversaram sobre o que fazer.
— Aqui está o meu. — Ele se adiantou, entregando sua identidade, e dando sinal para Alexia não dizer nada.
Depois de mais alguns minutos, e a morena praticamente brigar com a enfermeira que fazia a triagem, por seu descaso, finalmente conseguiram entrar no consultório médico. Lira havia acordado novamente, e não parava de reclamar de sua dor na barriga.
— O que a mocinha tem? — O médico perguntou, assim que ambos entraram com Lirhandzo, e se sentaram à sua frente.
— Duas da manhã eu acordei ouvindo seus resmungos e fui ver o que era. Ela estava dormindo resmungando e com febre, e acordou chorando. — Explicou Miguel, com total preocupação.
A menina estava sentada no colo de Alexia, com os olhos chorosos e com as mãozinhas sobre o ventre, como se pudesse conter sua dor. Alexia quis tirar com a mão o sofrimento da pequena, e limpava as gotas de suor que se esparramavam pela face infantil.
— Ela comeu alguma coisa diferente? — A morena encarou Miguel em busca de respostas, ao ouvir a pergunta do médico.
— Eu fiz um bolo de chocolate com leite ninho para ela. Mas também comi, e não passei mal. — Justificou-se, pensando se era o culpado pelo sofrimento da filha.
— Com leite? — O médico, que não tinha mais que trinta anos, e se chamava Emanuel, conseguiu pensar em uma possibilidade que poderia ser real. — Ela tem o costume de tomar leite?
— Não muito. Ela não gosta. O bolo é a única coisa com leite que ela gosta de comer, e sorvete. — O pai respondeu.
O médico fez mais algumas perguntas, e depois de pedir alguns exames, disse que o provável era ser alergia à lactose. Ou intolerância. Mas faria os exames para ter mais precisão no diagnóstico. Miguel ficou em choque por alguns minutos, sentindo-se culpado por ter feito aquele bolo. Se ele não tivesse em dívida com a pequena por causa do ocorrido com Alexia, não estaria passando por isso.
— Infelizmente, ela terá que se internar. — O médico concluiu. — Só a mãe pode ficar com ela no quarto. — Disse se referindo à Alexia. Quando o casal chegara com a criança, pensara que a morena era apenas a madrasta, mas ao ver o amor com que ela cuidava da menina, dissera a si mesmo que era a mãe, e se não fosse a biológica, certamente era a do coração.
— Eu não posso? — Miguel perguntou, perdido, embora sem desmentir o médico sobre a relação de Alexia com Lira.
— Na ala infantil só pode acompanhar mulheres, desculpa, é a regra do hospital. Mas pode visitá-la a qualquer hora do dia. E ficar no corredor, só não pode dormir no quarto. — Explicou o médico, simpático.
Lira passou algum tempo na enfermaria, recebendo injeções, soro, e fazendo exames, até que pôde finalmente ir até o quarto onde ficaria. Vez por outra, Alexia encarava Miguel, preocupada com seus sentimentos. Ainda estava chateada por sua reação na tarde anterior, mas não podia negar que se preocupava ao ver a dor e culpa nos olhos castanhos do moçambicano.
— Eu não vou para casa. Vou ficar aqui. — Disse quando chegaram à porta do quarto de internação, onde Lira compartilharia com mais duas crianças e suas mães. Ela estava no colo do pai, já novamente dormida, agora sem dor. Uma enfermeira viria depois para colocar soro nela, pois havia vomitado mais de uma vez, ali mesmo no hospital.
— Eu diria para ir para casa, descansar, mas não posso, seria hipocrisia. — Ela disse em concordância, tomando a garotinha em seu colo. — Eu vou colocá-la na cama onde ficará, depois volto para falar com você.
Minutos depois, assim que teve certeza do sono da menina, e que ela já estava com o soro a correr por suas veias, Alexia finalmente saiu do quarto, lançando um rápido olhar sobre as outras duas mulheres que estavam dormindo ao lado de seus respectivos filhos. Interpretaria o papel de mãe por um dia, ou mais, e simplesmente achava que aquele papel lhe caía perfeitamente bem.
— Ei. — Ela falou, sentando-se ao lado de Miguel no banco que estava encostado na parede fora do quarto.
— Desculpa te envolver nisso. — Ele sussurrou, encarando-a. — Foi a primeira pessoa que me veio à mente. Eu entrei em desespero. Ela é tudo que tenho. — Reiterou.
— Eu me sinto lisonjeada por ter pensado em mim, mesmo depois de me ignorar por toda a tarde de ontem. — Ela disse, e apesar das palavras, seu tom era leve, tranquilo.
— Me desculpa por ontem. Eu fui um idiota. — Reconheceu.
— Foi mesmo. — Ela concordou e ele riu. — O que deu na sua cabeça para me afastar de Lira? — Reclamou.
— Eu fiquei tão decepcionado comigo mesmo ao ver o quanto me afetava te ver com outra pessoa, que não consegui raciocinar direito. — Desculpou-se. — Eu iria te procurar hoje para pedir desculpas e dizer que não deixaria meus sentimentos interferirem no seu relacionamento com Lira. — Ele abaixou o olhar, envergonhado por suas últimas atitudes.
— Primeiro, você entendeu tudo errado. Aquele que viu sair é meu ex, e eu estava deixando claro que não temos mais volta. — Ele voltou a encará-la, esperançoso. — Segundo, não somos um casal, e você foi bem idiota ao me punir por algo que não tem sentido, mesmo que tivesse interpretado corretamente.
— Eu sei, foi só um beijo. — Ele disse, tentando se convencer disso, embora seu interior gritasse o contrário.
— Não seja babaca usando essa frase feita. — Ela respondeu, parecendo ofendida e ele riu de sua expressão. — Terceiro, vamos combinar que não importa o que aconteça entre nós, Lira sempre vai ser nossa prioridade, e não vai me afastar só por sentir ciúme, ok? Eu nunca a machucaria, e acho que já deixei isso bem claro.
— O que você fez hoje foi incrível, Lexi. — Novamente o apelido, e dessa vez, ela sentiu que de alguma forma tinham algo único, embora não quisesse rotular ou pensar demais em como se sentia. — Eu me sinto tão culpado. Não tinha percebido os sinais de intolerância, não imaginei que isso faria mal a ela. Eu fiz o bolo para compensá-la, visto estar triste.
— Não se sinta culpado, Mugui. — Ele sorriu ao ouvir seu nome, usado apenas por pessoas muito próximas, sair da boca dela. Já não tinha certeza se poderia resistir ao sentimento que se apoderava de si. — Não tinha como saber. Se ela ficasse comigo, eu daria sorvete, e o resultado seria o mesmo. Ela vai se recuperar, amanhã ela será liberada. Você faz o seu melhor, e Lira tem sorte de ter um pai incrível como você é. — Alexia disse com sinceridade.
— Eu me sinto péssimo nesse momento. — Confessou, passando a mão na nuca. — Achei que era o emocional dela, ela tem febre quando sente muito a falta de alguém. Foi assim quando a mãe dela foi embora, e por isso tentei dar remédio e esperar passar a febre, mas não melhorava, e só então que percebi o quão sério era.
— Vai me contar sobre a mãe dela? — Pediu a morena, e ele a fitou, vendo que a cada dia ela entrava mais fundo em suas vidas, tornando-se indispensável. — Não precisa ser agora.
— Amanhã. Quer dizer, hoje. Durante o dia, se tivermos tempo, eu te conto.
— Vamos ter. Agora todos acham que sou sua esposa, e mãe de Lira. Ou madrasta. — Disse com uma careta e ele riu de sua expressão.
— Eu não vou te responder, é perigoso. — Ele brincou e foi a vez dela de gargalhar com sua resposta.
— Nós dois sabemos como é perigoso. — E colocando uma mão sobre o ombro dele, consolou. — Não se culpe tanto. Eu te perdoo por ser um idiota ontem. E sobre Lira, você não tem culpa nenhuma. Ela sabe disso, eu sei.
— Então estamos bem? — Ele perguntou.
— Tanto quanto poderíamos estar numa situação dessas. — Disse enigmática, e lembrou-se que deveria avisar a irmã sobre a situação de Lirhandzo, ou ela ficaria extremamente preocupada quando visse a primeira mensagem. Levantou-se antes de continuar. — Eu vou voltar para o quarto, você precisa de mais alguma coisa? Um abraço, talvez? — Ele a olhou surpreso, definitivamente, ela era peculiar, e sua peculiaridade a fazia ser inesquecível, sabia disso.
— Um abraço? — Ao ver o sorriso malicioso de Miguel, ela negou prendendo o riso.
— Só um abraço, Miguel, sem beijos. — Avisou.
— Tudo bem, é melhor que nada. — Ele disse com fingida resignação, levantando-se em seguida, e abrindo os braços para a acolher em um abraço aconchegante.
Era a primeira vez que se abraçavam, e os corpos pareciam estar em perfeito encaixe, os corações a se enlaçarem. Ele, que era quase vinte centímetros maior que a morena, colocou seu queixo sobre a cabeça dela, inspirando seu perfume, e desistindo da decisão de não se envolver. Ela sentia que estava no lugar certo, outra vez, e dessa vez não se assustou. Não tinha ideia de para onde caminhavam, só tinha a certeza de que para onde quer que fossem, não tinha volta.
Eu amo meu casal que ainda não é casal...hahaha... Miguel foi bem bobo por ignorar a Alexia como se isso resolvesse alguma coisa, né? Mas, entre idas e vindas, eles se resolveram. E dizem que não vão se envolver, né? Quem acredita? Porque eu não...hahaha
Que capítulo ein? E que dó da Lira! Intolerância a Lactose é um saco. :/ Bem, próximo capítulo vai narrar mais um pouquinho deles no hospital, e tem mais coisa vindo por aí... Na verdade é tanta coisa que tá acontecendo na vida deles, que eles vão acabar me enlouquecendo...kkk
É isso, capítulo adiantado para compensar o da semana passada, e se possível, volto aqui amanhã! Beijões, votem e comentem para fazer uma escritora feliz.
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