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SEIS

Pedro quase conseguia sorrir depois de tudo. Ainda não passava das oito quando já estava em casa, quase aliviado, deitado em sua grande cama macia, olhando para o teto revisando os acontecimentos do dia. Ela havia ouvido. A contragosto, obviamente, mas ela ouviu tudo. E não o julgou. Mais uma vez, Alice se mostrara uma pessoa compreensiva, apesar de parecer que não.

— Não vai me matar em público, né? — Ela perguntou, quando chegaram na praça que ficava a duas quadras da casa dela. Eles estavam sentados em um banco bem centralizado, Alexia e Alessandra os deixaram para ir comprar sorvete em uma barraquinha próxima.

— Eu não vou te matar, já disse. — Ele respondeu, quase achando engraçada a pergunta que ela insistia em fazer a cada dois segundos. Era mais que claro que mesmo se fosse um assassino, ele jamais diria que faria isso, o que fazia a pergunta ser um tanto inútil.

— Ok, então pode começar. Se conseguir não gaguejar, melhor. — Ela falou, soprando as mãos, descontraída. Estava escurecendo, e o frio começava a se fazer presente naquela época do ano, pelas noites.

— Eu... sou gago desde criança. — Ele confessou. Ela o olhou um pouco surpresa, mas nada disse, então ele continuou. — Fiz tratamento por anos, descobriram que era emocional. E até hoje... é só ficar nervoso que gaguejo. — Ele quase não tropeçou nas palavras, tentou controlar a fala e se lembrou de todas as sessões com fonoaudióloga e psicóloga que teve durante a adolescência.

— Nunca te vi gaguejando. — Ela respondeu confusa.

— Já sim. Quando nos conhecemos. — Ele admitiu.

— Por que diz que já nos conhecíamos? Que tipo de maníaco você é? — Ela respondeu assustada. Não entendia o porquê de Pedro em insistir nisso, sendo que ela nunca o havia visto antes de entrar na empresa.

— Primeiramente, não espera mesmo que eu te responda a essas perguntas que faz, né? Não sou maníaco, e claro que não te diria se fosse. — Ele respondeu cruzando os braços, revelando alguns músculos nos braços que estavam expostos, sem a camisa social. Algo que não passou despercebido por Alice.

— Então está confessando que se fosse não admitiria? — Ela perguntou arqueando uma das sobrancelhas, mesmo que não fosse possível ver essa ação, pela franja estar tapando toda a dimensão da testa, até quase os olhos.

— Eu não disse isso. — Ela tinha o dom de deixa-lo confuso. Sobre tudo. — Enfim, respondendo sua outra pergunta. Não se lembra mesmo de mim, né? O menino chorão, que você chamou para brincar naquele dia, 30 de março? — Ok, detalhes demais, sem necessidade.

— Não vou lembrar de datas. Menino chorão. — Pareceu refletir e finalmente entendeu. — De óculos? Gago? Homem não chora? — Ela perguntou devagar, como se levando um susto a cada descoberta.

— Esse mesmo. Eu. — Ele disse tentando sorrir. Ainda estava nervoso. Mas só por ter tido a oportunidade de se explicar, estava se esforçando em manter a calma. Não poderia perder aquela chance.

— O nerd de cabelo vermelho? Não acredito! — Ela disse ainda surpresa. Como seria capaz de reconhece-lo depois de tamanha transformação? Porém, isso ainda não respondia todas as suas dúvidas e temores. — Mesmo que seja verdade, isso ainda não responde o porquê de ter um acervo de coisas minhas no seu escritório.

— Uma coisa de cada vez, Alice. — Ele pediu paciência, mesmo que ele próprio não fosse a personificação dessa qualidade. — Eu me apaixonei por você naquele dia, há doze anos. E continuei apaixonado durante mais de dois anos. Admito, era quase doentia minha paixão, mas eu ainda era um menino, e não entendia bem o que estava acontecendo comigo.

— Você... apaixonado por mim? — Foi a vez dela de gaguejar ao ouvir a confissão.

— Sim, por muito tempo, na verdade. Dois anos e meio foi o tempo que você continuou estudando na nossa escola, depois desapareceu. Fiquei meio doente por isso, eu já tinha esse caderno. — Ele tirou o caderno de dentro da mochila e deixou que ela visse tudo o que havia ali dentro. A foto, os desenhos, os poemas, e até o fio de cabelo. Por vários minutos ela ficou apenas estática, observando e absorvendo todas aquelas coisas. Toda aquela informação. Gigante informação.

Depois de um tempo, Alice ergueu os olhos e encontrou os verdes de Pedro. Ele tinha os olhos úmidos, meio emocionado, e ela se compadeceu. Sentiu um tremor percorrer sua pele, mas dessa vez não sentia medo. Simplesmente sabia que ele não seria capaz de fazer nada de mal a ela, era apenas a paixão de um menino, ele não havia feito aquilo com algum objetivo doentio. Foi o primeiro amor dele, um amor infantil, quase puro.

— Por que não jogou tudo fora quando superou? — Ela perguntou, meio receosa de ouvir algo que mudasse a boa opinião que vinha formando nos últimos minutos.

— Demorei a superar, Alice. Acho que eu já tinha dezesseis quando finalmente acreditei que já tinha superado. Não tinha mais notícias suas, e gostava de olhar as coisas que tinha guardado para sentir que você estava perto de mim. Aos dezesseis, sei lá, simplesmente parei de olhar o caderno, e o esqueci no fundo do guarda-roupa. Aos vinte, quando me mudei para meu próprio apartamento, encontrei ele lá, e achei engraçado ainda ter aquilo. Eu não era mais apaixonado, já tinha seguido minha vida, mas achei uma boa lembrança da minha pré-adolescência. Esqueci no escritório antes de chegar no apartamento, e decidi deixa-lo lá mesmo, sem nenhuma pretensão.

Muita informação para uma fala só. Muita mesmo. Por isso Alice abriu a boca, quase babando ao ouvi-lo contar tudo.

— Foi por isso que me contratou? Por ser sua antiga paixão? Você sabia que era eu, sempre soube.

— Em parte, sim. Seu currículo era uma mentira, mas você parecia precisar do emprego. E eu sabia que era inteligente, quando criança era uma das mais inteligentes, menos em matemática. Em respeito ao meu sentimento infantil, eu te contratei. Mas não pensava em nada mais que isso. Não fiz isso com segundas intenções. — Ele falou, olhando bem nos olhos dela. Estava se aproximando o momento em que teria que declarar abertamente o que sentia na atualidade, mas iria deixar a conversa fluir para isso acontecer.

— Graças a Deus! — Ela exclamou, aliviada, e resolveu confirmar. — Então agora não sente nada? Não vai ficar tirando fotos minhas e pegando meus fios de cabelo?

— Respondendo à segunda pergunta: não, não vou fazer nada disso. Mas quanto à primeira, eu sinto Alice. Não posso dizer que não sinto nada.

O coração de Alice disparou, a boca secou, e ela não soube o que fazer ou dizer, apenas continuou calada, olhando fixamente para Pedro, aquele homem tão intrigante.

— Eu voltei a sentir quando comecei a trabalhar com você, só que apesar de apaixonado, dessa vez não foi um sentimento inocente, imaturo. Quando me apaixonei por você pela primeira vez, eu era uma criança, você me deu atenção, me tratou como um igual, e eu quase te idolatrei. Meio que fiz isso, era algo inatingível, era minha musa. Algo assim. — Ele parou por um instante quando percebeu que Alice ria de sua confissão. Não parecia rir como zombaria, só parecia achar engraçada sua forma de falar. — Da segunda vez, quando foi trabalhar comigo, não foi assim. Comecei a te achar divertida, engraçada, simples, além de bonita, como eu sempre achei. Seu jeito espontâneo e leve, algo que nunca consegui ser, me cativou. E despertou aquele sentimento que pensei estar extinto. Acho que só tinha adormecido.

— Você está se declarando, Pedro? — Ela perguntou, ainda tentando entender o que estava acontecendo naquele instante.

— Não, estou te contando sobre o que precisa saber. Não vou me declarar imaginando que você vai me abraçar e beijar agradecida por eu sentir algo por você. Seria muita presunção. Sua reação hoje deixa claro que não sente nada por mim. — Ela sentiu pena, e algo mais, mas não era suficiente para desmenti-lo. Ele tinha razão, se ela sentisse, se fosse apaixonada, não teria fugido daquele jeito. Teria se sentido nas nuvens com a declaração, mas não era assim. Ela não era assim, e ele ainda não estava totalmente dentro de seu coração.

— Desculpe, não queria te magoar. Mas tem razão, eu não posso fazer isso, não sou apaixonada por você. — Admitiu, ainda receosa de estraçalhar o coração daquele moço de cabelo vermelho e olhos verdes.

— Eu sei disso. Não vai machucar mais do que o que fez hoje, fugir como se eu fosse uma doença, um louco. Eu sei, tinha um pouco de razão, mas doeu ver seu medo. Eu jamais faria nada de mal contra você, Alice. Só quero que entenda isso. — Parou por um instante, sem se aperceber olhou para a boca rosada e sentiu um forte desejo de a beijar. Não o fez, isso só desmentiria sua frase anterior. Olhou novamente para os olhos dela, e continuou. — Não se demita por isso. Eu queria te beijar, e não fiz. Porque te respeito. E sei que não quer. Eu não vou fazer nada que não queira. Só não se demita agora. Faltam só dois meses para Júlia voltar, e se ainda quiser sair do emprego, eu te demito com todos os seus direitos.

Ele era um cavalheiro, Alice constatou. Outro em seu lugar não faria metade do que ele fez. Pediu para que ela ficasse, reconheceu seus erros. Mesmo isso tudo não a fez se derreter por ele. Chegou a se perguntar se tinha algum problema. Seria problema ser cautelosa ou o coração ser um pouco mais duro? Não o rechaçaria para sempre, só não sairia entregando seu coração apenas por ouvir uma declaração.

— Eu não gosto do emprego, Pedro. Nada pessoal. Só não gosto de ficar muito tempo sem ter o que fazer. — Confessou.

— Eu sei, e já tentei te dar trabalho extra para que não ficasse tão ociosa, mas nada parece ser suficiente. — Ele disse, grato por ela ter mudado subitamente o rumo da conversa.

— Tentou? — A careta que fez parecia graciosa aos olhos de Pedro. — Mandando eu levar café e reclamando dele? — Ela falou sorrindo, sentindo-se estranhamente à vontade com ele.

— Eu precisava falar alguma coisa, e nem era tão bom. — Ele disse se fazendo de desentendido. — Vai ficar?

— Só até Júlia voltar. — Ela concordou. — E vai me dar aumento de quarenta por cento. — Disse como se estivesse decretando condições para permanecer no emprego.

— Nada disso. Já ganha bem. Não vou te dar aumento só porque estou apaixonado, não tente me extorquir por isso. — Pedro estava relaxado, sem gaguejar, e dando um ar de brincadeira a todo aquele assunto.

— Precisava tentar. — Alice falou dando de ombros. Depois de alguns instantes em silêncio, ela continuou. — Como vai ser isso? Agora que sei que está apaixonado por mim? É estranho.

— Vai ser a mesma coisa, pelo visto sempre me achou estranho. Pelo menos agora sabe o motivo de eu ser estranho com você. Não muda nada, vou continuar te respeitando, e é só ignorar minhas crises bipolares. — Ele falou sorrindo.

— Não somos normais. — Ela constatou. — Qualquer outra pessoa ficaria constrangida falando abertamente sobre sentimentos, e nós estamos aqui falando de paixão como se não fosse nada de mais. — Seu sorriso iluminava o dia de qualquer um, constatou Pedro.

— Porque não tem nada de mais nisso. — Pedro não parecia ter medo de se abrir. — Eu até prefiro que saiba. Era muito ruim ter que fingir distância profissional quando o que eu queria era apenas ficar te admirando e enumerando suas qualidades.

— Nem inventa de fazer isso. — Ela ameaçou, mas logo sorriu. — Está perdoado Pedro. Dessa vez. Da próxima eu te mando para cadeia. — Era uma brincadeira, ele sabia. — Agora quero comer. Estou com fome. Vai pagar um sanduíche para mim? — Perguntou e ele negou.

— Não inventa de tentar me extorquir. — Brincou, levantando-se, ajudando-a em seguida.

Logo estavam com as outras duas irmãs, que não pareciam estranhar em nada a situação daqueles dois. Depois de lancharem, e Pedro pagar a conta das irmãs, foram embora.

Ela sabia. Sabia de sua paixão, e não o rechaçou de forma definitiva. Talvez, apenas talvez, bem no fundo, houvesse um futuro para eles, juntos. E se essa possibilidade existisse, ele lutaria para que se tornasse realidade. Com esse pensamento, ele adormeceu na grande cama macia.

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