Parte 6 | Sasuke Uchiha
Eu estava nas nuvens, literalmente flutuando, rindo do vento, bobo, parecendo um idiota, sem motivo nenhum. Eu não tinha me declarado para Naruto, ele não disse que me ama, em teoria não existe motivo para eu estar saltitando feito uma criança.
Entretanto, não é como as outras vezes, eu não vim para os Estados Unidos para deixar Naruto em segundo plano como todas às vezes, hoje ele é a minha única prioridade.
Só tenho duas coisas para fazer nesse país: tomar sua empresa e contar de uma vez por todas o que sinto.
São às duas coisas mais difíceis que vou fazer na vida.
Ao chegar no prédio americano da minha empresa, encontro Karin já sentada em seu lugar de costume.
— Pensei que só a veria depois do almoço.
— Não voltarei depois do almoço, então decidi ficar por enquanto.
— Conseguiu?
— Sim.
— Só me resta desejar boa sorte, então.
— Obrigada, Sasuke.
Um de nós tinha que ter coragem de resolver os problemas pendentes, pena que eu não tenho o psicológico inabalável de Karin, eu tenho medo de levar um fora dos Uzumaki.
— Além disso, você tem visita, sr. Uchiha. — A encarei confuso, até onde sabia não havia nenhuma reunião para até depois do almoço (afinal de contas estava ocupado, muito ocupado, em um compromisso sem possibilidade de adiamento). Se alguém invadiu meu escritório antes disso, quer dizer que é um esquentadinho problemático.
— Oi, Sasuke. — E eu não poderia estar mais certo. Itachi Uchiha, esquentado, problemático e inconveniente, estava na minha sala, sentado na minha cadeira, os pés apoiados na minha mesa, acabando com todo meu bom humor.
— Itachi.
— Também estou muito feliz em te ver, irmãozinho.
— O que caralhos está fazendo aqui? Não tem problemas o suficiente no Japão e veio arranjar aqui?
Nesse momento ele se levanta, com outro semblante. Não mais descontraído, mas estranhamente irritado.
— Eu que te pergunto, idiota! Karin me contou tudo.
— Tudo o que, posso saber? — Cruzo os braços, e ele bufa, como se não tivesse paciência para minhas mentiras.
— Tudo o que, Sasuke? Que saiu do país deixando sua família para lidar com todos os problemas que você criou apenas para ficar se pegando com o nosso rival comercial do outro lado do mundo.
Mordo a parte de dentro da boca, tentando conter a raiva. Ele não tem nada a ver com o que eu vim fazer aqui, nunca foi da sua conta e não vai começar a ser agora. Afinal, sei que vai me dar um sermão terrível pelo jeito que lido com as coisas.
— Sinceramente, Itachi, não vou perder meu tempo te explicando nada, estou sem saco para um sermão.
Itachi apoia o quadril na mesa, as pernas cruzadas.
— Porra, Sasuke, eu sou a desgraça do seu irmão, eu poderia só querer saber sobre as coisas que você faz escondido porque acredita que sua família vai te condenar, como a traição da sua noiva, faz bem conversar com outra coisa que não são as vozes da sua cabeça.
— Eu não converso com vozes da minha cabeça, tenho Karin para isso.
— Ela não te escuta.
— Não mesmo. — A ruiva responde do lado de fora. Reviro os olhos, ela nunca parece estar jogando do meu lado.
— De qualquer forma, você nunca entenderia.
— Talvez eu entendesse, Sasuke, eu não sou o Fugako, não vou jogar um vaso na sua cabeça.
— Você acertaria.
Ele ri e eu sorrio de canto, de fato, ele não hesitaria ao jogar um vaso pesado na minha cabeça e a peça cara com certeza me acertaria em cheio.
— Não quero saber sobre você por Karin ou qualquer outro, dentre todas as pessoas do mundo, todos que você tenta enganar por um motivo ilógico, eu sou o último que deveria estar cego para a verdade.
— Então você quer saber tudo?
— Não me esconda nada.
— Alguns detalhes devem ser obrigatoriamente ocultados.
— Sasuke... — Eu abro os primeiros botões da minha camisa. Ao ver as marcas que estampam meu peito branco, Itachi se cala e sorrio sozinho ao lembrar de quem as fez a algum tempo, parece ter abandonado a ideia de "todos os detalhes".
- * -
Ficamos meu horário de almoço lá, conversando sobre cada detalhe da minha vida que insisti em guardar para mim, todos os acontecimentos envolviam Naruto, o principal motivo para minha inesperada viagem sem data de volta.
Meu irmão escutou atentamente cada detalhe, não parecia muito chocado ou assustado.
— Você é um idiota apaixonado.
Karin, que está sentada conosco enquanto comemos, ri alto.
— Só isso?
— Quer que eu diga mais o quê?
— Sei lá, alguma coisa, eu te contei toda a minha história oculta e você não faz nem cara de surpresa.
Frustrado, encho a boca de comida.
— Não é como se eu me surpreendesse, você só confirmou o que todos sabem: que só toma péssimas decisões.
— Eu não tomo péssimas decisões! Se fosse isso, não estaríamos sentados em um prédio com meu nome.
— Uma coisa não tem nada a ver com a outra, idiota. — Karin diz, com a boca cheia.
— Um anel de noivado não te torna especialista nessas coisas, ruiva.
— E ter uma empresa muito menos, moreno.
Reviro os olhos. Ela estava certa, eu tenho uma empresa, mas isso não me torna especialista em merda nenhuma. A empresa não tem expectativas nem sentimentos que eu preciso corresponder, eu só preciso saber o que fazer para gerar dinheiro.
— Você sabe que precisa falar para ele. — Itachi diz o óbvio, colocando a embalagem já vazia de comida em cima da mesa.
— Acha que eu não sei disso? Saí do Japão com esse objetivo em mente.
Ele joga um papel amassado na minha cabeça.
— Por favor, Sasuke, use um pouco da inteligência que você precisou para construir seu império narcisista. Não estou falando de uma declaração afobada e desesperada, estou falando de contar para ele tudo o que me contou hoje, afinal, ele só transa com você, não sabe nada mais do que lê na internet, nas revistas de fofocas e o que você mostra nos poucos momentos que passam juntos.
"Acredito que você não tenha uma imagem muito agradável em todos os casos."
— Como vou contar para ele tudo isso? Acha mesmo que ele vai sentar e acreditar em cada uma das palavras que eu disse, que vão contra tudo o que ele sabe até agora?
— Ele vai acreditar.
— Como pode ter tanta certeza disso?
— Porque Shisui acreditou em mim.
Então ele respirou fundo e começou a contar, como eu, sua história que durante tanto tempo ficou escondida.
— É um consenso geral que se declarar para um melhor amigo é uma coisa assustadora, mas particularmente acredito que se assumir para um melhor amigo é algo ainda mais assustador. O risco não é apenas de levar um fora, é a completa rejeição dos seus sentimentos e da relação de anos, você está arriscando resumir uma amizade a sua sexualidade, da pessoa te achar tão terrível e tão nojenta que deseje nunca ter falado com você. Te culpar por sentimentos incontroláveis.
"Por isso demorei tanto para dizer a Shisui o que sentia por ele a anos, e quando eu tive coragem... — Os olhos negros de Itachi brilhavam com lágrimas, sentindo o peso de momentos que estão fadados a ficar no passado. — Quando juntei coragem, aos 25 anos, ele estava em uma viagem internacional, disse que era jovem e precisava ver um pouco do mundo antes de se afundar em trabalho pelo resto da vida.
"Eu tinha bebido um pouco a noite então estava alterado o suficiente para ter coragem de contar tudo, de uma vez só, para sua caixa postal. Eu estava tão fora de mim, Sasuke — Ele suspira, massageando as têmporas como se tivesse uma súbita dor de cabeça. — Falei cada besteira naquela mensagem, se eu fosse Shisui, fingiria que não escutei aquilo e apenas manteria distância de mim.
"Mas ele definitivamente não era tão sensato, porque quando acordei no outro dia, minha cabeça parecendo que explodiria de tanta dor, eu tinha uma mensagem de voz de Shisui, a primeira coisa que pensei naquele momento foi: estou ferrado.
Contudo para a minha surpresa, ele ria na mensagem, disse que eu era um idiota impulsivo sem noção de nada, mas que gostava disso, que me amava e estava pegando o primeiro voo para o Japão.
"Você se lembra do acidente de 2016? Da New Air?"
— Sim, um dos motores do avião explodiu e a queda matou todos os passageiros, 25 pessoas morreram.
— Shisui era um deles.
Era muita coisa para organizar na cabeça depois dessa conversa. Eu conhecia Shisui, ele vivia em casa quando eu era mais novo, participava de almoços e era uma das únicas pessoas que parecia agradar nosso velho pai e, de um momento para outro, descubro que Itachi era apaixonado por ele, que a algum tempo estava em uma situação parecia com a minha, mas hoje ele é casado e ninguém na família parece ter ideia dessa parte de sua vida. Nem sua esposa.
— Izumi sabe dessa história?
— Sabe, não escondo nada da minha esposa, diferente de você, não tenho o costume de esconder minha vida daqueles que amo. Conheci Izumi pouco tempo depois do acidente, seus pais morreram no mesmo avião de Shisui.
— Nunca imaginaria que você escondia uma história dessas. — Karin também parece surpresa, o homem exemplo e orgulho de Fugaku já foi apaixonado por outro cara.
— Isso não importa mais, só te contei isso para que não perca tempo, quanto mais você enrola porque tem medo da rejeição, é só um dia a menos para se estar com ele.
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