Parte 10 | Capítulo narrado em terceira pessoa
Depois que Naruto chegou no escritório, eles não trocaram mais nenhuma palavra antes de entrar na sala onde aconteceria a reunião. Sasuke tinha quase certeza de que se arrependeria disso no fim do dia, mas tinha medo de falar qualquer coisa e ela ser o coisa errada.
Então preferiu se manter calado.
Afinal ele é um canalha, um vigarista, um homem ultrajante e manipulador. Mesmo que esteja cansado de todos esses títulos, eles pesam nas suas costas e soam mais problemáticos a cada dia; um estorvo pior conforme ele vai os ignorando.
Mas o silêncio cobrou seu preço. O seu silêncio, para todos aqueles jornalistas e curiosos, se tornou um: sim, tudo o que dizem é verdade. O que levou a situação que está hoje, onde não importa o que faça, as pessoas sempre vão levar com malícia, todas as suas ações perderam o valor, ele tem um título agora e nada que faça poderá muda-lo.
O que poderia fazer? Se estava enterrado tão fundo nessas mentiras era sua culpa, por deixar que elas se propagassem até tomar tal proporção.
Porém se prometeu uma coisa: que mesmo que mentisse para tudo e todos, que sua vida, seus negócios, seus sorrisos e intenções fossem sempre falsas e mentirosas, nunca seriam para Naruto.
Ele acha que conseguiu cumprir a promessa. Em todas as vezes que se encontraram, ele nunca contou uma mentira, nunca deu um sorriso falso, talvez ele seja a única pessoa no planeta que só ouviu a verdade saindo da sua boca.
Se ele soubesse disso, talvez se sentisse privilegiado.
E qual o resultado de todos os seus esforços? Provar para ele que eu não sei o que são virtudes e não tenho o mínimo de compaixão pelos outros.
Demorou cerca de 15 minutos para que qualquer um deles ousasse dizer alguma coisa. Naruto se calou porque não sabia como começar uma conversa em que suas ações estavam em jogo e Sasuke, bem, ele se calou porque é covarde. Era estranhamento desconfortável, não gostavam dessa sensação, não queriam que permanecessem quietos, sentados um de frente para o outro sem saber o que estão pensando nem o que seria mais certo de se dizer.
Mas não parecia ter opção melhor por agora, por isso permaneceram.
No fim, Naruto foi o primeiro a falar.
— Podemos começar? — Sasuke não se sentiu mais aliviado por não precisar iniciar a conversa.
— Podemos, claro. — Ele suspirou e releu os poucos arquivos e informações que tinha consigo, incialmente não planejava ganhar essa briga, destruir Naruto era só uma desculpa para fugir para os Estados Unidos e se declarar aos seus pés, mas aparentemente todo o seu plano deu errado e ele vai ser chutado de volta para o Japão. — Como sabe, ou pelo menos deveria estar sabendo, eu planejo comprar sua empresa e fazê-la dela uma parte integral da Corporação Uchiha, a proposta inicial foi de 1.5 bilhões de dólares...
— Valor o qual eu recusei, porque não pretendo vender minhas ações.
— E...
— Nem parte delas, como você já sabe, ou pelo menos deveria estar sabendo.
— Acredito que até o fim da nossa conversa você mudará de ideia, sr. Uzumaki.
A voz vinha de trás de Naruto, que sentava de costas para a porta, de frente para Sasuke, que parecia igualmente surpreso com a chegada do homem. Aparentemente nenhum dos dois esperava que ele aparecesse.
— Com licença? — Naruto se virou para encarar a pessoa que atrapalhava sua negociação. O homem de estatura média, ralos cabelos escuros e uma estranha cicatriz em X no queixo.
Apesar de surpreso, Sasuke parecia conhece-lo.
— Danzou, o que você está fazendo aqui?
— Fugaku Uchiha me enviou.
Sasuke revirou os olhos. Fugaku, sempre Fugaku, por que ele não desiste de se intrometer nas suas coisas? Não é como se ele soubesse um décimo sobre a situação nos Estados Unidos para saber o que deve ser feito.
Era apenas o complexo ridículo dele, de achar que deve ser o centro de tudo, saber de tudo e estar envolvido em tudo. Quando voltar para o Japão é provável que não sobre um vaso italiano naquele maldita casa.
Ignorando o súbito ataque de raiva que seu superior não conseguia esconder, Danzou cumprimentou Naruto, ele queria o ignorar, ser ignorante, mas preferiu sorrir educadamente e responder como se não suspeitasse que deveria se preocupar com aquele homem.
— Prazer, sou Danzou Shimura, vou cuidar da negociação a partir de agora. — Danzou olhou para Sasuke, como se o desafiasse a questionar a pouca autoridade que Fugaku lhe deu, mas ele esqueceu que o homem é louco e não se importa se seu pai vai ficar furioso. Ele não tinha o poder de tomar qualquer decisão.
— Você não vai participar de nenhuma negociação, Danzou, Fugaku Uchiha não tem nenhum poder na minha empresa, e você não tem autorização para se meter nos meus negócios.
— Mesmo quando o filho em questão está sendo manipulado?
— Eu...!
— Danzou, se quer tanto se envolver na negociação, sua conversa deveria ser comigo, não com Sasuke Uchiha. — Danzou sorri venenoso, parecia ter conseguido o que queria.
— Porque está o defendendo, sr. Uzumaki? Se deixasse que surtasse, talvez conseguisse evitar a perda das suas ações.
— Eu já disse para Sasuke, e vou repetir: não vou vender minhas ações, não importa o preço que estejam dispostos a pagar.
— Naruto... — O loiro o olha irritado, era uma deixa para que ele entendesse que o tempo dele ali tinha acabado que, assim que Danzou entrou na sala, ele não teria mais nada para fazer ali.
E, infelizmente, ele entendeu. Em menos de um minuto Sasuke estava fora de jogo e havia sobrado apenas Naruto e Danzou.
— Quando eu terminar, venderá por qualquer valor que eu determinar.
Naruto queria dizer que é improvável que isso aconteça, mas uma parte de si não confiava 100% nesse discurso, não com aquele homem envolvido na compra. Por isso ficou calado enquanto Danzou se sentava no mesmo lugar que Sasuke estivera minutos antes.
— A única coisa que vou pedir para você é que responda algumas perguntas, tudo bem sr. Uzumaki?
Naruto mordeu o interior da boca.
— Sim.
— Qual seu nome completo?
— Naruto Uzumaki Namikaze.
— Porque usa somente o Uzumaki como sobrenome? — Ele deu de ombros.
— Costume.
— Você se formou em gestão na faculdade [?]?
— Sim.
— Estagiou com meu chefe na empresa [?] sob a supervisão de Hashirama Senju?
— Sim.
— Pouco antes de vir para o Estados Unidos começou um caso com meu chefe? Há três anos?
— Posso saber como isso é relevante, senhor?
— Claro, acho que com minha próxima pergunta as coisas vão ficar mais claras: você, levando em conta a ligação emocional que afirma ter com o sr. Uchiha, acredita ser capaz de acessar informações particulares dele?
— O que? Claro que não! Eu mal tenho contato com o sr. Uchiha.
— Mesmo que alegue ter pouco contato com ele, o que diz sobre sua prima? Você a considera uma irmã, não é? Ela é uma pessoa próxima do sr. Uchiha e tem conhecimento de coisas que você provavelmente usaria contra ele.
— Mesmo que você alegue uma coisa absurda dessas, de que eu usaria da minha própria família para prejudicar o sr. Uchiha, eu não tive contato com ela nos últimos 10 anos.
Então pastas e mais pastas são colocadas em cima da mesa de vidro, quando as abriu, Naruto se assustou, ali tinham páginas e mais páginas constando conversas de meses entre Karin e Anne, sua secretária.
O conteúdo era variado, mas muitas das vezes falavam de Sasuke, sobre seus encontros, escândalos, até mesmo de coisas privadas sobre sua vida e família.
Ali era a primeira prova que, mesmo sem saber, Naruto estava mentindo.
Com os papeis a sua frente, ele percebeu que havia levado o bote.
— Ainda alega não ter tido nenhum tipo contato com Karin Uzumaki nos últimos 10 anos?
— Sim, eu não sou minha secretária, não sei o conteúdo de todas as suas mensagens. Secretárias costumam manter contato com outras o tempo todo, não é?
— Sim, você está correto, normalmente esse contato é incentivado por seus chefes para se manterem informados sobre a situação nas empresas. Esse seria então o caso da senhorita Miller?
— Não, nunca a instruí a vigiar Sasuke ou a companhia Uchiha.
— Mas também fez descaso de seu papel de agente duplo, ou irá alegar que não sabia sobre o contato da sua subordinada mantinha com uma empresa concorrente, mesmo que isso pudesse acabar mal para você? Preferiu se fazer de cego para as ações das pessoas sob o seu comando?
— Como você mesmo alega, eu não sabia e me fazia de cego para as ações dos meus subordinados, logo não teria como eu ter acesso a informações privilegiadas da empresa do sr. Uchiha, porque eu teria que saber de seu contato com Karin Uzumaki em pelo menos algum nível, logo não poderia ser totalmente incompetente, Danzou.
Danzou pensou por um momento que o havia desestabilizado, mas Naruto mesmo com uma arma apontada para si, permaneceu firme.
— Sim, tem razão, não faz sentido você ser incompetente e ter usado Anne Miller, Karin Uzumaki e manipulado emocionalmente Sasuke Uchiha para conseguir informações, por isso admiro o quão sagaz você pode ser. Mas infelizmente, se fosse apenas o sr. Uchiha aqui hoje, você provavelmente teria conseguido dobrá-lo, afinal, manipulou como uma víbora, usando do corpo e dos sentimentos que sabia que ele nutria por você desde a época que estagiaram juntos, mas para o seu azar, sr. Uzumaki, eu não sou ele.
— Sr. Shimura, mesmo que tenha esses prints de mensagens que nunca li e alegue que meu relacionamento profissional e esporádico com sr. Uchiha tenha sido uma armação feita por mim para derrubar vocês, não teria como provar: eu não tenho nenhuma informação privilegiada sobre a empresa, não tenho armas com as quais atacar vocês. Então por que forçar uma teoria falha?
Danzou respira fundo e sorri. E outras duas pastas são colocadas sobre a mesa.
— Porque, apesar de tudo o que eu falei aqui ser circunstancial e você, um dos protagonistas dessas histórias afirmar que eu sou um mentiroso, se você junta todas as peças elas fazem sentido, não fazem? O homem que subiu mais rápido do que qualquer um, sem que ninguém conseguisse ao menos entender como o fez, um outro homem que já estava no topo, impedindo a total ascensão do outro.
"Um rosto bonito, algumas conversas e bam, o pobre homem teria caído em suas graças e acreditado na sua lábia de bom moço, mas o que você queria não era o coração de um homem apaixonado, mas as coisas que ele estava disposto a te contar. Pilhas e mais pilhas de histórias, coisas que as pessoas ficariam espantadas em saber, você poderia usa-las para tirá-lo do jogo."
— Eu... Danzou... Não diga mentiras tão estupidas.
— Para as pessoas cegas para a verdade isso não seria uma mentira, seria uma revelação. — Então o resto das coisas que trouxe consigo foram postas na mesa e mostradas a Naruto, uma por uma em cima da mesa de vidro: fotografias, artigos, prints de mensagens, fotos íntimas onde ele aparecia, momentos em que os dois estavam juntos e acreditaram estar sozinhos durante aquele ano. — Por isso eu vou sugerir: assine o contrato agora, venda para Sasuke suas ações e tudo pode acabar aqui.
— E se eu decidir não assinar?
— Tudo isso será vazado e as pessoas vão conhecer o verdadeiro você: homem que não consegue subir na vida por mérito próprio, que estampando revistas como um bom moço, mas vende o corpo em troca de poder, pior que uma prostituta. —
Naruto não conseguia dizer o quanto se sentia traído. Danzou havia ultrapassado todos os limites com essa reunião.
— Me dê o contrato, Danzou, eu assino.
▨▣
Do lado de fora da sala Sasuke estava desesperado, conhecia Danzou o suficiente para saber o que ele faria. Naruto seria colocado em uma posição difícil, Danzou o humilharia e, merda, ele não poderia fazer nada, não pode agora.
Resolveria essa situação sozinho com ele. Ele e Danzou, depois ele e Naruto.
Uma coisa de cada vez.
Quando Danzou saiu pela porta, Sasuke não esperou para intima-lo.
— O que você fez?
— O que você não teria coragem, coloquei a putinha no... — Antes que conseguisse terminar de falar, Sasuke o acertou com um soco no rosto.
— Lave a boca para falar dele.
— Sabe — Danzou massageia o rosto. — É por isso que Fugaku me mandou, porque você é frouxo, Sasuke, não consegue tomar uma decisão, escolher qual das versões que você banca na mídia e fora dela vai ser o seu eu real, se deixássemos isso com você, concordaria com qualquer coisa que ele te pedisse com a voz aveludada.
Sasuke agarra seu colarinho. O homem é mais alto que si, mas ele o puxou para baixo, obrigando o homem a tencionar as pernas para olhá-lo de baixo.
— Se eu decidir destruir toda essa merda ou vende-la por uma bala, isso nunca será problema do Fugaku, eu criei tudo isso, eu criei monstros como você debaixo do meu teto. É muita prepotência achar que pode matar alguém que te ensinou a segurar uma arma.
Danzou sorri, Sasuke odiava aquele sorriso porque era igual ao que ele dá a todo mundo: falso e malicioso.
— Espero que eu tenha sido um bom aprendiz.
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