Parte 1 | Naruto Uzumaki
Já fazia mais de uma hora desde que Anne entrou em seu escritório para se despedir, deixando para ele uma garrafa de água cheia, alguma besteira da rua e um aviso. "Não exagere". Já passa das 20h, Naruto era péssimo em seguir concelhos.
Há tempos o sol já desaparecera das enormes janelas do seu escritório, e a única luz que permanecia iluminando a cidade eram as dos enormes edifícios, que se alongavam até o fim do horizonte, sobrepondo-se uns aos outros, de maneira interminável, tal qual a pilha gigantesca de documentos que, não importa o quanto se esforçasse e se dedicasse, penava para diminuir.
Naruto suspira, usando a cadeira para se distanciar o máximo da mesa de mogno que estava lhe causando desespero, e desbloqueia o celular. Nele havia algumas mensagens da sua mãe, outras de seu pai, todas o questionando se apareceria para o jantar, se havia comido, se estava bem, dentro dos seus limites. Ele responde que está bem, que conseguiu parar para comer e que em breve voltará para casa, mas não a tempo de jantar com eles.
Boa parte da mensagem era mentira, e Naruto sabe que em algum nível seus pais, principalmente sua mãe, Kushina, desconfia disso, mas é a única forma que encontrou de tranquilizá-los minimamente. Porque ele tem consciência de que não aparece mais para jantares em família e que ambos não o esperam mais para o almoço, tem noção que não come direito, nem dorme uma noite descente há anos, que transformou o escritório no seu apartamento-prisão.
Mas o que ele poderia fazer? Tinha responsabilidades e nenhum culhão para abandonar tudo porque se sente derrotado. Não importava que persistir fosse cansativo e pouco do seu trabalho atualmente lhe era atrativo ou empolgante, era isso que havia sonhado para si, foi para essa vida que ele saiu do Japão, essa vida era o seu tesouro, o baú de ouro que havia depois do arco-íris.
E daí que não o fizesse mais genuinamente feliz? Era dele, ele conquistara tudo, Naruto precisava da vista do topo dos prédios, precisava das pessoas se dirigindo a ele como Presidente; por isso, tende a fingir que o preço para isso continua baixo.
Ele joga a caneta no meio dos documentos, suspira e passa a mão pelo cabelo, entrelaçando os dedos, usando-os para cobrir os olhos, tentando esquecer de tudo. Ele ficou quase quinze minutos assim, parado, com os olhos cobertos, em um esforço tremendo para manter a mente o mais vazia possível.
Um pouco cansado, mais calmo e com os ombros pesados, ele levantou, procurou a garrafa de água na mesa, e amassou o plástico frustrado ao perceber que estava vazia. Então se voltou para a janela, esticando os braços, torcendo o pescoço para tentar amenizar as dores no corpo, culpa do longo tempo que passa sentado.
Foi nesse momento que ouviu alguém abrindo sua porta. A pessoa não parecia fazer questão alguma passar despercebida, então de duas a uma: 1. O invasor acreditava que, pelo horário, ele não estaria mais no escritório, como qualquer pessoa normal, ou, o mais provável, 2. O invasor se chamava Sakura Haruno.
— Se eu soubesse que você se mudaria para este maldito país para viver desse jeito — Assim que a voz irritada daquela maldita mulher soou, Naruto não conseguiu evitar sorrir como um idiota. — Nunca teria te deixado partir.
— De qualquer maneira, eu não teria te escutado. — Ela também sorri.
— Você sempre foi teimoso feito uma mula. — Naruto atravessa a sala e vai até ela para abraçá-la. Seus braços não se fecham em suas costas, devido às sacolas que carregava, mas retribui o gesto da forma que pode.
— O que faz aqui uma hora dessas?
— Vim te alimentar, sabia que a sua mãe está quase morrendo do coração? Tudo porque o filho dela é um inconsequente sem noção!
Naruto bufa.
— Pode bufar o quanto quiser, a mulher continuará certa. — Ela coloca as sacolas em cima da mesa. — Para que todo esse dinheiro, se vai viver uma vida dessas?
Naruto se encaminha para trás da mesa, se sentando em sua cadeira habitual antes de puxar uma das sacolas para si.
— Não acredito que, considerando tudo, — Ele gesticula para a sala. — Eu esteja pagando um preço tão alto.
Os olhos de Sakura rodearam rapidamente a sala, passando um segundo a mais em lugares como a sua estante de inutilidades de escritório e em sua mesa amontoada, depois, parando no menino loiro com quem cresceu.
"Sorte dele não ter nada pesado o suficiente na sala". Haruno pensou, antes de lamentar internamente a situação. Olhando para Naruto, ela conseguia dizer que ele mentia para ela, que apesar de tudo, não acredita nas palavras atrozes que diz e com isso as coisas só vão ficando piores e a pedra instalada no seu coração ao ver Kushina, pesou mais.
Ah! Como ela entendia a pobre mulher, não deve existir nada mais angustiante do que esperar por um filho. Quando Sakura bateu na porta da casa do melhor amigo um pouco antes das 19h, esperava encontrar um ambiente diferente; quando chegou, encontrou Kushina e Minato na cozinha, conversando em um tom estranhamente baixo, de forma quase melancólica, enquanto preparavam o jantar da noite.
Quando perceberam que ela se aproximava, Kushina se virou sorrindo.
— Sakura! Não acredito que você veio! Vai ficar não é? Temos um quarto que você pode usar tome um banho antes do jantar. Eu tenho certeza... — Ela hesita rapidamente. — Tenho certeza que Naruto aparecerá logo.
Sakura acena com a cabeça.
— Ficarei sim, — Mas ao invés de subir de para os quartos, Sakura se senta a mesa, ao lado de Minato, que cortava silenciosamente os vegetais enquanto observava as duas conversarem. — Tem alguma previsão para a volta do Naru?
Ambos desviam o olhar dela, e a atmosfera melancólica retorna.
— Não tem — Kushina resmunga, em uma mistura de tristeza, raiva e amargor. — Nunca temos ideia de quando ela voltará para casa.
— Ele avisou que não vem hoje. — Minato resmunga, depois de uma rápida olhada no celular da esposa que vibrou pouco tempo depois. Kushina ergue a cabeça, abandona a louça e se senta a mesa, colocando o rosto sob as mãos cruzadas.
— Eu não sei porque continuo fazendo isso, cozinhando, esperando, acreditando nele. Não foi para isso que eu o trouxe para cá, não foi pelo dinheiro, pelas capas de revista, pelos prédios espelhados, eu só queria que ele fosse um pouco feliz.
Sakura conseguia ouvir sua respiração pesada, era nítido o peito subindo e descendo forte, era provável que fosse chorar, talvez se estivesse sozinha, tivesse. Mas ao invés disso ela levantou a cabeça novamente.
— Sakura, você pode me conceder um favor?
— Claro.
— Depois que eu preparar, leve o jantar para o Naruto.
📌
Eles se sentaram a mesa do escritório, transformando aquele pequeno espaço na sua cozinha, onde comeram juntos enquanto a noite passava. Quando o assunto sobre seu trabalho passou, Naruto questionou Sakura sobre as coisas que aconteciam na sua vida em Konoha, sobre como se encontram as coisas que ele deixou para trás.
— Sabe, — Ela dá uma pausa, terminando de mastigar. — praticamente nada mudou desde a última vez que nos falamos.
— Como?
— Bom, eu e o Lee, como você bem sabe, continuamos noivos. E espero que você esteja bem ciente que estará jurado de morte caso decida não aparecer.
Naruto deita na cadeira.
— Darei um jeito de aparecer, afinal de contas, sou o padrinho do Lee.
— Aquele desgraçado te contou? — Ela pega um papel aleatório da mesa, amassa e joga em direção do rosto de Naruto, que ergue as mãos para se defender do ataque.
— E não era para contar? Queria que eu ficasse sabendo quando? No dia do casamento?
Sakura faz bico.
— Não exatamente, mas eu queria que fizéssemos uma surpresa. Ah! Sei lá, só queria que o momento fosse especial, ok?
— Sakura, Sakura, é seu casamento, seu casamento, já é especial para mim.
Os olhos de Sakura lacrimejam e, envergonhada, ela tenta esconder o rosto dele, o que não funciona muito, já que ele percebe. Naruto solta uma pequena risada e, com os olhos marejados, ela ri também.
— Seu maldito homem. — Naruto coloca a mão no coração.
— Pegou pesado. — Ele se ergue levemente, ajeitando a postura torta na cadeira. — Sabe o que é mais engraçado sobre o seu casamento?
— O quê?
— Ele ser com Lee, não com Sasuke.
Sakura amarga a cara na hora.
— Você não perde uma oportunidade, não é? Você demorou mais para superar essa paixonite do que eu, mais de 15 anos e continua com as mesmas piadas.
— As mesmas piadas, eu sei, eu sei. Mas se você tivesse que escutar tudo o que eu escutava, na frequência que eu escutava, você também não perderia a chance de zoar.
— Eu tinha 12 anos, ok? E todas as meninas daquele colégio já foram apaixonadas por ele.
— Você foi certamente a pior delas.
— Meu Deus, garoto! — Sakura grita, nervosa e Naruto gargalha alto. — De qualquer forma, duvido muito que você saiba o que ele aprontou dessa vez.
— Você faz muito pouco de mim — Naruto resmunga, em um falso drama.
— Você sabe?
— Não exatamente, mas mesmo assim...
— Então pronto, não enche. — Ela se inclina na cadeira, colocando os pés sobre a mesa, totalmente a vontade.
— Mas... O que houve?
— Curioso? — Ela sorri maligna.
— Sakura, pelo amor de Deus! Vou ter que me humilhar por uma fofoca?
— Tá bem, está bem! — Se rende. — Sasuke Uchiha traiu a noiva, Konan Hiyagashi.
— Hiyagashi?
— Sim, dos ricos, muito ricos Hiyagashi.
— Não sabia que estavam noivos.
— Estavam, mas é claramente um casamento arranjado, todas as fotos em que saem juntos passam a impressão de estarem posando para a câmera em um péssimo ensaio de fotos, mal se aproximam, deviam se detestar. — Sakura abaixou os olhos e desbloqueou o celular, vasculhando a galeria atrás de alguma imagem. Ao encontrar, entregou o aparelho nas mãos de Naruto.
Naruto ri, as imagens realmente pareciam planejadas e eles claramente não estavam a vontade na presença um do outro. Ele desligou o celular e o colocou em cima da mesa, o Uzumaki poderia não saber exatamente sobre todos os motivos ou todos os detalhes (dos quais Sakura sabia de cor e salteado, compartilhando esse conhecimento interminável sobre a vida das famílias Uchiha e Hiyagashi, empenhada em deixá-lo a par de tudo), porém ele tinha noção das coisas que Sasuke andava aprontando, afinal, o homem estava vindo atrás da sua cabeça e só pararia quando ele estivesse afogado na lama.
Naruto não poderia estar mais ansioso.
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