1 | Café da manhã
Naruto está dormindo. Largado na cama, com um braço debaixo do travesseiro, o cabelo cumprido e sem corte cobrindo parte da cara amassada contra o colchão, exatamente do mesmo jeito da última vez, e da vez antes dessa, e nada diferente da primeira vez que ele dormiu em sua cama, quatro meses atrás.
Fazia quase dez meses desde que deram o primeiro passo na tentativa de resolver seus problemas e, principalmente em relação a Naruto, demorou muito para que as coisas pudessem avançar.
Depois da festa, apesar da conversa e dos cinco minutos de entendimento que tiveram, Naruto se levantou, se despediu de Karin e foi embora. Só voltaram a se falar duas semanas depois, quando ele [Sasuke] tomou a iniciativa de chamá-lo para uma conversa, essa que não foi muito tranquila.
Foi naquele dia que ele percebeu que entender a situação, saber a verdade, não seria o suficiente para terem um bom relacionamento. A ferida ainda era muito nova e não pararia de doer porque ele contou duas histórias melancólicas. Havia ferrado com tudo no dia que entrou no avião, quando decidiu que tinha controle o suficiente sobre tudo. Só que entender isso, foi o que fez com que eles pudessem dar um passo, depois outro, para então chegar até onde estão no momento. Entender que doí, muito, que machucamos, sim, as pessoas que amamos, por bem ou por mal, por influência dos outros ou não, um tiro não doerá menos se você disser que pensou no melhor da outra pessoa.
Sasuke se levantou e esticou o corpo ainda pesado do sono da noite e, antes de resolver os problemas de todas as manhãs, beijou a nuca de Naruto, que resmungou ao se reacomodar na cama. Esse é um momento que gosta de aproveitar, já que assim que o alarme toca o loiro encarna um furacão por seu apartamento, caçando suas roupas, as chaves do carro, preocupado com o horário.
Ele boceja e vai até a cozinha preparar um pouco de café.
Enquanto mexia no café, ele pegou o telefone e checou suas mensagens. Havia algumas de sua mãe, que ele respondia com menos frequência que gostaria, havia também um vídeo idiota enviado por seu irmão que o fez sorrir, e uma mensagem grosseira de seu pai, oq questionando novamente da sua volta para o Japão.
Ele desligou o telefone, não era isso que ele queria que tomasse seu dia. Eram cerca de oito e vinte da manhã, dentro de meia hora Naruto acordaria e ele queria, como se esforçava todo dia para conseguir, que ele comece algo descente antes de se trancar naquele maldito escritório.
Apesar de suas inúmeras conversas e tentativas de diminuir seus turnos, Sasuke estava quase chegando ao quinto mês de namoro sem uma única vitória. O homem pelo qual completamente apaixonado tinha outra terrível paixão: trabalho.
Um dia, diz para se mesmo, ele vai conseguir convencê-lo um dia.
Enquanto termina de colocar os ovos no prato, pouco antes de pão saltar da torradeira, ele ouve um estrondo vindo do quarto. Naruto tinha acordado.
— PORRA! — Ele o escuta gritar. — 'TÔ ATRASADO!
Sasuke sorri, seu dia estava prestes a começar.
Naruto olhava o relógio de pulso de segundo em segundo, na esperança de que ponteiros se alinhassem e ele pudesse se ver livre de um cliente grudento.
Fazia pelo menos uma hora que eles não falavam nada sobre o serviço pela qual Naruto foi contratado, mas sobre seus gatos, o novo apartamento e como a vida estava complicada na cidade. Mesmo que soasse grosseiro, o Uzumaki não estava nem um pouco interessado nos assuntos do idoso.
Esperava ansioso para que desse onze horas e sua secretária, Anne, entrasse pela porta para seguir o plano meticulosamente arquitetado para que ele conseguisse estar do lado de fora a tempo do seu compromisso. Era só aguentar por tempo o suficiente.
— Aqui seria uma cidade melhor se as pessoas tivessem um pouco mais de respeito com os mais velhos, eles não levantam para que um idoso sente, eles resmungam, olham feito e te respondem. No Japão essas coisas não acontecem, nós aprendemos a honrar os mais velhos, os com mais experiência de nós, então por favor mande um agradecimento ao seu queridíssimo avô, sou grato a ele por me apresentar você, jovem. Alguém também japonês que sabe a importância de tais valores ditos como "arcaicos" e "antiquados" por esses americanos que parecem não entender a importância de família, quero ver como se sentirão quando for a vez deles de serem repudiados... Anne. Anne. Anne. Anne. Sua mente só conseguia repetir o nome de sua secretária repetidas vezes como uma prece, rezando desesperadamente para que ela entrasse pela porta e o salvasse, precisava desesperadamente ser resgatado e agora não era apenas devido seu compromisso, mas por não conseguir suportar mais cinco minutos nesse ciclo infinito, onde toda vez que achava que o momento aonde eles iriam se despedir finalmente chegaria ele emendava um novo tópico na conversa. Ele não tinha noção de quando parar.
Então duas batidas na porta finalmente o salvaram.
— Entre, Anne. — O homem imediatamente virou o rosto para encarar a porta.
— Senhor Uzumaki — Ela se apoia na porta, colocando só o rosto para dentro da sala. — Me desculpe a intromissão, mas o Senhor Senju está no telefone.
— Diga para ele esperar, por gentileza, estou em reunião com um cliente importante.
— Naruto, não — Ele cruza os braços e encara Anne. — Peça cinco minutos para ele, Naruto já está indo.
— Não precisa se preocupar Sr. Tomura, estamos em reunião, ele pode esperar.
— Esqueça, continuamos outro dia, por favor, não posso permitir que você deixe o homem que nos apresentou esperando — Ele pisca um olho, era estranhamento bizarro. — Está me devendo uma nova reunião.
Naruto não ousou respirar enquanto assistia Sr. Tomura caminhar para fora de seu escritório, um passo de cada vez. Tinha medo de que se o ar entrasse em seus pulmões o homem desse meia-volta, reiniciando seu ciclo infernal.
— Ele foi embora — Anne praticamente sussurrou, soltando o ar que, aparentemente, também segurava. Se sentia um pouco melhor por não ser louco sozinho.
O alívio transparecia de Naruto.
— Obrigado, Anne.
— Por nada, senhor Uzumaki.
Naruto não espera muito mais antes de sair correndo, se atrasasse o almoço outra vez essa semana Sasuke o mataria e não estava com muito humor para ser o causador de qualquer problema entre eles. Sempre que os ponteiros se alinhavam as onze horas da manhã, as meninas da recepção já esperavam ver Naruto correndo desesperado pelo saguão de entrada até o conversível caríssimo estacionado na entrada do prédio comercial.
E, mesmo que as pessoas não comentassem, todos que sabiam minimamente sobre os acontecimentos do final do ano passado, sabiam que quem estava no volante era Sasuke Uchiha, que aparentemente havia abdicado de suas responsabilidades de CEO para brincar de casinha com o Uzumaki.
Por isso ninguém entendia o que tanto tentavam esconder.
— Pode desligar esse cronometro, cheguei a tempo. — Sasuke dá dois cliques no relógio.
— Parabéns.
— Por favor, tire esse sorriso idiota da cara — Naruto fala entrecortado ao entrar no carro, sem fôlego por causa da corrida. — Você é um maldito psicopata, é muito custoso esperar dois minutos?
— Você sabe que nunca atrasa dois minutos, amor.
— Óbvio que não! Se eu atrasar é capaz que você exploda o prédio todo.
Sasuke sorri para ele ao dar de ombros e ligar o carro, acelerando em direção ao trânsito. Naruto bufa, colocando os pés por cima do painel do carro.
Essa foi uma regra imposta por Sasuke no relacionamento dos dois: Naruto passaria a ter uma rotina descente, se não Sasuke realmente destruiria sua empresa até o último tijolo, ele não poderia morrer de trabalhar, Sasuke não queria ser viúvo tão novo. E mesmo que relutasse, Naruto sabia que era para seu bem e aceitou todas as condições, por isso se obrigava a parar todo dia cinco minutos antes das onze para poder sair com o namorado para almoçar.
— Ainda acho isso tudo um exagero, eu tenho um carro, poderia ir almoçar e apenas te mandar uma mensagem. — Naruto resmunga e Sasuke segura sua mão. Foi um hábito que adquiriu nos últimos meses, tocá-lo como uma prova constante de que aquilo era real.
— Assim não teria graça.
— E quem disse que era para ter?
Naruto resmunga algo que Sasuke não é capaz de desvendar e vira o rosto para a janela, seu namorado sorri e liga o rádio, ele sabia que sua birra não duraria muito tempo, assim que eles chegassem na casa dos seus pais e Kushina o enchesse de perguntas sobre suas ultimas 24 horas longe dela, como se nenhum deles soubesse exatamente o que ele fez. A maior mudança de rotina da vida de Naruto havia sido seu namorado, que passou a adicionar horários para cuidado pessoal a sua agenda, de forma forçada e nada natural para o seu gosto, mas convenhamos, ambos sabiam que não funcionaria de outra forma.
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