JACK HAMILTON
Quando a esposa do meu patrão me ligou desesperada me pedindo um favor, não imaginei que o seu desespero fosse apenas por causa de um bolo. Tudo bem que Sophie parece ser um pouco frívola, mas ainda assim não pensei que ouviria sua voz chorosa por causa de uma boleira.
Comecei a trabalhar para David Rogers há poucos meses quando cheguei em Chicago. Eu estava em um pub, enchendo a cara, e ele sentou-se em minha mesa e começou a conversar. A amizade veio fácil, mas não era isso que eu precisava naquele momento. Eu precisava de estabilidade, de um meio de colocar minha cabeça no lugar para que eu pudesse dar um lar a minha filha. Na semana seguinte David me contratou, mas não para trabalhar em sua empresa, e sim para ser uma espécie de faz tudo em sua mansão.
Consertos, reparos, manter o jardim em ordem, e de vez em quando ser o motorista da patroa. Por isso estou aqui nesse exato momento, voando em meio ao trânsito caótico em meio a toda essa neve para salvar uma jovem boleira em perigo. Estaciono o carro e olho através do vidro antes de descer.
A jovem sentada em uma cadeira na calçada com um bolo de um metro a sua frente parece triste e desolada. Também não é pra menos! Na noite passada teve uma tempestade de neve e hoje estamos colhendo os frutos da bagunça feita pelos céus. Seus cabelos na altura do pescoço estão desgrenhados e ela tem um ar cansado, sua pele da cor do pecado me faz refletir a respeito dessa expressão; qualquer homem cometeria um pecado por ela, e eu cometeria um pecado com ela.
Ela continua com o olhar fixo em minha direção e eu apenas me aproximo.
—Sou o Jack. — Falo o mais rápido que posso e já vou colocando as mãos na base que segura o bolo, erguendo-o da mesa.
—Ei! Você tá louco? Larga o meu bolo! — Ela fala e eu lembro que tenho que explicar porque estou aqui.
— Sophie me enviou para te ajudar.
— Obrigado por me informar, mas isso não te dá o direito de colocar suas mãos em meu bolo, pode deixar que eu mesma o carrego. — Ela fala e eu apenas aceno com a cabeça e vou em direção ao meu lado do carro.
Quando estou prestes a abrir a porta do motorista, vejo a moça equilibrando o bolo próximo da porta. Espero alguns minutos até ela finalmente me olhar, com a sobrancelha erguida como quem diz que precisa de ajuda.
— Pode fazer a gentileza?
— Claro. — Eu digo, indo em sua direção e abrindo a porta do carona.
Ela novamente tenta fazer malabarismo enquanto se inclina para sentar no banco.
— Me deixa te ajudar.
— Ah claro. — Ela sussurra. — Agora você quer ajudar.
Paro um pouco e a olho. Ela parece envergonhada da grosseria e do sarcasmo e suspira fundo.
— Sophia me enviou para te ajudar, mas você precisa me dizer exatamente com o quê você precisa de ajuda. — Falo, deixando escapar o máximo de irritação que consigo no meu tom de voz.
— Desculpe, é que estou muito estressada. Não tive a intenção de ser grossa.
— Sem problemas.
— Você pode segurar o bolo nessa posição? Assim eu consigo me acomodar melhor para levá-lo em meu colo.
Faço o que ela sugere e a proximidade dos nossos corpos me deixa um tanto nervoso. Faz muito tempo que não sinto o toque de uma mulher e sentir o cheiro dessa garota linda me deixa sem fôlego.
Tento controlar meus pensamentos. Minha vida está uma bagunça e eu não posso deixar outra pessoa entrar assim. Coloco seu cinto de segurança, fecho a porta do carona e vou para o outro lado me acomodar diante o volante.
— Qual o endereço que devo levá-la?
Ela liga o GPS de seu celular e indica o local a que devo dirigir.
Dirijo o mais rápido que posso na situação em que me encontro. O silêncio no carro não me incomoda, até porque estou acostumado a estar sempre sozinho, solitário, calado.
Sempre fui muito observador, o tipo de cara que só fala se for importante e o único motivo de nunca ter tido dificuldade com garotas na minha adolescência, era devido a minha aparência. Por ser um bom tipo, eu não precisava me esforçar, apenas ficava na minha e as garotas se aproximavam. Foi assim que conheci o grande amor da minha vida, ela era extrovertida, falante e engraçada enquanto eu cultivava um humor negro e uma personalidade mais analítica e julgadora.
— Cuidado!!! — A jovem boleira grita ao meu lado quando um motoqueiro derrapa na neve e passa deslizando ao nosso lado, quase levando o espelho retrovisor do carro. Ela suspira fundo, aliviada e extremamente cansada.
Depois que o susto passa, dobro a minha atenção no tráfego enquanto a mulher ao meu lado continua em silêncio, não sei dizer se está concentrada no enorme bolo que carrega ou se está prestes a chorar. Acho que em um momento como esse eu deveria tentar puxar assunto para mantê-la distraída e para que sua preocupação evidente diminua. Mas decido continuar em silêncio e não importuná-la.
Aumento o aquecedor do carro e ligo o rádio, sintonizando em uma estação que toca música country. Aos poucos vou notando que ela relaxa ao meu lado, cantarolando a música que está tocando e diminuiu a quantidade de vezes que suspira sonoramente. Confesso que acho muito meigo a forma com que ela inspira o ar com força, enchendo os peitos de ar, e expira ruidosamente, relaxando os ombros e fechando os olhos, como se estivesse pronta para enfrentar o mundo.
Chegando ao local de destino, ajudo-a a descer o bolo e entro no salão de festas carregando aquela obra de quatro andares e detalhes complexos demais para eu entender. Quando coloco sobre a mesa que ela aponta, aviso-a que a esperarei no carro enquanto ela veste uma capa de profissionalismo ao conversar com as pessoas aflitas ao seu lado, acalmando-as e decidida a resolver o que precisar para aquela festa ser um sucesso.
— Irei demorar um pouco. — ela diz. — Se quiser pode ir que eu chamo um táxi.
— Certo. — Respondo educadamente e sigo até o lado de fora do enorme salão. Quando olho para trás, a vejo trabalhar com concentração, dando ordens para todo lado e organizando os docinhos e as flores sobre mesa e ao redor do bolo.
Não, eu não vou embora. Vou esperar aqui até ela terminar.
E fico lá fora, encostado no meu carro, de frente para o imenso salão e admirando-a de longe. É perigoso, eu sei. Mas eu simplesmente não consigo resistir a pensar que eu poderia fazer isso. Na verdade, eu posso fazer isso. Eu posso tentar conhecer alguém, pois eu sou um viúvo livre e desimpedido.
Minha vida tem sido uma loucura nos últimos dois anos, mas foi uma questão de escolha, e agora que estou colocando tudo no lugar, eu posso SIM me abrir para conhecer alguém e permitir que alguém entre na minha vida. Bom, ao menos posso tentar.
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