XIII - Pele de Cordeiro
— Eu aposto como ela não gostava dele. — Rick, que estava sentado à mesa da Hufflepuff, atrás de mim, comentou com Matteo. — Todos conhecem a rixa entre os alunos da Slytherin com o grupinho da Gryffindor.
— Foi o que pensei também! — Respondeu. — Ela deveria ser expulsa! Por que será que o professor Dippet não tomou nenhuma providência ainda?
Meu apetite se vai e eu afasto o prato à minha frente. A garganta, no entanto, está secando de tamanho desgosto. Aguo-a com o suco-de-abóbora, que perde seu doce em meu paladar. Do outro lado do salão, no entanto, a situação não parece menos pior. Acho que é a primeira vez que vejo Alexandra tão cabisbaixa. A testa está envergada, a expressão é ameaçadora, mas a postura torta a denuncia, também, o punho fechado, apertado, de quem já não se aguenta.
— Olhem só para ela! — Diz Loreynne, ao meu lado. Olhos de afoito, e sobrancelhas franzidas. — Fingindo que nada está acontecendo!
— Claro que não está acontecendo! Com ela não, ao menos! — Rebateu Guilia.
— Ah, mas isso não vai ficar assim! É claro que não!
— Não me arranjem mais confusão, vocês duas, por favor! — Intervi. — As coisas já não estão ruins o suficiente?
— Não é isso, Annellyze, é que... não é justo! — Debateu Guilia. — Mal podemos sair dos dormitórios para frequentar as aulas. — Eu suspiro. — Poxa! Não temos campeonatos, não podemos ficar na biblioteca, não vamos para Hogsmeade, nosso placar está em último e mal podemos ir ao pátio para tomar sol. Piscamos os olhos, e Hogwarts se tornou Azkaban.
Meus dentes capturam o lábio inferior e meus olhos desviam para o jantar. A absurda vontade de contradizê-la fazendo minha língua formigar, porém, infelizmente, contra fatos, não há argumentos. Hogwarts se tornara uma prisão de segurança máxima.
Os alunos formavam a fila para voltarem ao salão comunal, enquanto eu separava os poucos livros para devolver à Madame Pince. Tomamos o lado oposto no corredor e, de longe, Loreynne me auxilia a ter cuidado e prestar atenção nos corredores, por precaução.
Os castiçais iluminam os claustros e meus solados apressados me denunciam pelo caminho. Deparei-me, com uma pequena fila de monitores entregando e reservando livros. Eu deveria ter previsto isso, depois de outra rodada de trabalhos que iniciara esta semana.
— E aí, Antares? Se divertindo muito? — Perguntou-me Malwina, na fila, à minha frente.
— Com certeza! — Ela me olha séria, por cima dos ombros, antes de rir soprado.
— Estava tão quieta na aula de poções, hoje, que mal a percebi. — Comentou.
— Acho que, enquanto eu não tiver nada de bom a dizer, é melhor continuar assim...
— Concordo com você! — Disse, entregando os livros à Madame. — O silêncio lhe caí muito bem! Quem sabe não vira permanente? — Sorriu para mim, antes de sair pelo corredor. — Té mais!
— Até! — Respondi seco, entregando meus livros e um pergaminho de requisição à Madame Pince.
Ela abaixou-se atrás do balcão improvisado — que fora colocado ali para barrar a entrada para a biblioteca — e revirou uma pilha de livros, que levantara uma nuvem de poeira.
— Bom! — Iniciou ela. — Plantas Mediterrâneas, está reservado para a Gryffindor; da Grã-Bretanha e Irlanda está com a Hufflepuff e; feitiços auto defensivos acabou de ser pego pela sua colega. — Apontou na direção que Malwina seguira.
— Não tem outras cópias?
— Não!
— Nenhum deles?
— Estes aqui, não! Vai ter que esperar que devolvam.
— Mas, plantas mediterrâneas ainda está aqui, não é?
— Reservado, senhorita Antares! Não me ouviu?
— Tá, mas... se não vierem pegar, posso ficar com ele? Por favor! — Implorei. — Madame Flowers não passou uma mera pesquisa, ela nos mandou perquirir uma linhagem inteira.
— Certo, senhorita Antares! Se nenhum aluno da Gryffindor vier buscar o livro hoje, eu a deixo levar amanhã.
– Mas, amanhã?
— Ora! Sim! Já foi reservado para hoje. Eles têm até o novo horário de fechamento da biblioteca para o retirar.
Eu resmungo.
— Ah, deixa para lá então! — Madame Pince arqueia as sobrancelhas, enquanto debruça-se no balcão. — Posso deixar reservado?
— Pode, mas só um. E o prazo de devolução, são quarenta e oito horas, por causa das matérias acumuladas.
— Fazer o quê?! — Cruzo os braços. — Espécies de dragões.
— Sinto muito! Já foi reservado.
— Como assim?
— Assim que devolverem, ele vai para a Gryffindor. — Meus olhos se cerram.
— Por que eu só posso reservar um livro, se a Gryffindor tem dois na reserva?
— Porque os livros que a senhorita quer reservar, já estão reservados. Caso queira algum outro...
— Esquece! Pode ser qualquer um destes da lista.
— Feitiços auto defensivos. Você pode buscar na quarta. Só isso?
— É... — a resposta foi automática e, apenas depois disso, eu parei para pensar melhor. — Na verdade, eu gostaria de saber: Magia Muito Maligna está reservado?
Madame Pince virou-se sobre os ombros para checar a prateleira.
— Não! — Respondeu arrastado e esticou-se para alcançar o livro. — Tem certeza que esse material é do seu ano? Não vai atrapalhar os estudos de outro aluno sem motivo, não é?
— Tenho certeza sim! — Respondi, cravando as mãos no livro.
— Certo! — Concordou desconfiada. — Traga-o de volta na quarta, quando for trocar.
— Sim, senhora! Boa noite!
— Boa noite, senhorita Antares!
Ruidosamente, a portinha da biblioteca se fechou. Caminhei, o suficiente para dobrar o corredor, então parei, apoiando às costas na parede e abrindo o livro, à procura do sumário. Feitiço para petrificar, petrificação, qualquer coisa... mas os títulos não me revelaram nada.
— Droga! — Praguejo. — Acho que vou ter de ler para saber se tem ou não alguma coisa aqui...
Fechei o livro e dei uma última olhada aos arredores, antes de seguir. Eu havia passado por este mesmo lugar no dia anterior. Meus olhos, estão grudados no piso. Simplesmente, eu não queria olhar para frente e lá enxergar a marca da moldura retirada da parede. Instantaneamente, eu sei, eu lembraria de Andrew e não queria pensar nisso. Não aqui fora, longe da suposta segurança da minha comunal.
Ruídos aproximam-se de algum lugar, eu ouço. Viro-me, sobre os ombros, porém, assim que retomo e ergo o queixo, resmungo. Um resmungo involuntário e rouco, sem ar. Algo me atingira no peito e derrubara o livro de minhas mãos. Levo alguns segundos, desnorteada, para entender que se tratava da própria. Alexandra. As orbes azuis me fitavam com certo desespero. O fundo dos olhos, no entanto, queimavam em vermelho. Eu não pude reagir. Simplesmente, seus braços enlaçaram a minha cintura, e seu rosto desapareceu, apertado contra meu ombro. Ela estava chorando. Chorava tanto, que parecia uma criança. Os soluços a engasgando e, neste momento, eu tive a certeza que a orgulhosa e bronca Alexandra, desabara como a pequena menina que era. Eu a abraço.
Estou prestes a perguntar o que houve, quando percebo que eu já sei a resposta. Acontecera o inevitável. Fora muita pressão para seus ombros cansados. As vozes aglomeradas se aproximando, no entanto, faz-me crer que ainda há mais por vir. De todas, a voz de Allen era a mais alta e inconfundível.
— Vem, Alexa!
Sem afastá-la de mim, abaixo-me, apenas o suficiente para alcançar o livro. Fecho os braços ao redor de seus ombros e a levo comigo pelo corredor, sem rumo certo, apenas, tentando esquivar-nos das vozes. Deparamo-nos com o banheiro e, para dentro deste, esgueiramo-nos. Na última cabine, coloco-a sentada sobre o vaso e enrolo um pedaço de papel para enxugar-lhe o rosto. Ajoelho-me à frente dela e seguro-a pelo queixo. O peito está tão perturbado, que faz tremer todo o seu corpo. Minha visão está embaçando, afugentando-a do meu foco. É doloroso, mesmo para mim, vê-la desta forma tão frágil. Pisco, repetidas vezes, dispersando as minhas lágrimas. Alexandra soluça.
— M-malditos! Eu os odeio! — Praguejou entre os sussurros. — Odeio todos eles! — Bradou.
Engulo seco, e guio o papel até o seu rosto. Alexandra, marruda, esquiva-se de mim. Eu hesito por um momento, mas aproximo-me novamente. É quando percebo que ultrapassei todos os limites. Alexandra arranca o papel de minhas mãos, rasga-o e joga os restos em meu rosto.
— Tire as suas mãos de mim, Antares! Eu não preciso da sua compaixão, nem da compaixão de ninguém! — Esganiçou. — Eu não preciso de você!
Alexandra levantou-se com uma raiva absurda, pegou-me pelos ombros e empurrou no chão.
— Não preciso que se importe comigo! Não preciso que cuide de mim!
Ela se abaixa, agarrando-me os braços e eu simplesmente deixo que extravasasse sua raiva. Tentou levantar-me, mas acabou tropeçando nas próprias pernas e caindo por cima de mim. Ela se debate, tentando colocar-se de pé e, outra vez, insiste em me levantar. Eu a ajudo.
— Espero que a próxima seja você, para que pare com essa sua maldita curiosidade! Essa pena enojável! Eu não preciso que sintam pena de mim! Eu sinto pena de vocês, seus vermes sujos!
— Alexa...
— Não! — Cortou-me.
Alexandra virara-me e, com as mãos em minhas costas, empurrou-me de volta para o corredor.
— Vai embora! Me deixa em paz! Vai ...e vai agora! Sai! — A porta do banheiro ladrou em um estrondo e, contra esta, ouço Alexandra bater, incansavelmente. O choro, tão frequente quanto antes.
Eu suspiro.
A aula acabara neste instante e, revezamos à torneira, para lavar a borra das xícaras e devolvê-las à professora Trelawney. Em sua mesa, esta se ocupa, adiantando a correção de alguns trabalhos de outras turmas. Mentalmente, estou engendrando uma forma de abordá-la, embora eu não tivesse certeza do que, exatamente, tinha de pedir. Talvez, eu devesse ter certeza da situação, antes de afoitá-la com minhas perguntas.
— Anne! — Chamou-me Loreynne. — Que tal você acordar e andar logo? — Ela arranca a xícara de minhas mãos e, junto à sua, deixa sobre a mesa da professora.
Assim que Loreynne retoma, Guilia a agarra pelo braço e, juntas, seguimos os corredores e as escadarias. Despedimo-nos de Michell e Hepzibah que, antes de encarar Madame Flowers, estão indo para a enfermaria, para sua visita diária à Katty Loyal. Nós, no entanto, apressamo-nos até o terceiro andar e trombamos com Jonnatha e os demais, conversando na entrada da sala de Defesa Contra as Artes das Trevas.
— Onde está a senhorita Merrythought?
— Não apareceu até agora! — Informou Marcos Kendrick, monitor-chefe da Gryffindor. A voz ignorante e o olhar desconfiado que, francamente, eu já não julgava.
— É melhor esperarmos lá dentro. — Advirto à minha comunal.
Tomamos os nossos lugares e, na falta de Septima, Guk, timidamente, aconchega-se em sua antiga carteira. Cruzou os braços sobre a superfície e descansou a cabeça sobre eles.
Eu arquejo.
Uma agitação repentina apodera-se do corredor e, para dentro da sala, os alunos da Gryffindor se afugentam e organizam-se às pressas. Segundos mais tarde, senhorita Merrythought finalmente adentrara pela porta, à passos pesados, sendo seguida por Nicholas de Mimsy-Porpington. A barra do vestido vermelho-vinho cobrindo-lhe até os pés. Cumprimentou-nos com um "bom dia" e debruçou-se à mesa, abrindo o grande livro didático. A ponta o chapel — da mesma cor que o vestido —, caia-lhe sobre o rosto. Ela foleia algumas páginas, antes de pegar o giz e escrever bem grande à lousa: espectros e fantasmas.
— Página 301. — Disse e atirou o giz por alguma parte da sala. — Por favor, cumprimentem o senhor Nicholas, que concordou em nos auxiliar na aula de hoje.
— Quero ressaltar que não é de meu agrado particular estar aqui. Apenas concordei, por questões didáticas. — Discursou.
— Hogwarts agradece, senhor Nicholas!
Senhorita Merrythought inicia uma breve leitura sobre Fantasmas Malignos, Inferis e Poltergeist e, mais detalhadamente, os mais comuns porquês para uma alma escolher ficar no mundo dos vivos, ao invés de partir para o além.
— Sim, senhor Visser?
— Como um fantasma pode ser perigoso, se eu, simplesmente, posso atravessá-lo? — Perguntou Brandon, ao abaixar a mão.
— Fantasmas têm a capacidade de se associar à determinados objetos, senhor Visser. Nem sempre, apenas, superficialmente. — Brandon estremeceu debaixo da túnica.
— Repitam: Expecto Exumai.
— Ah, sem as varinhas, por favor! — Advertiu, senhor Nicholas.
— Vamos lá! — A sala fez couro. Alto e claro. — Muito bem! Este feitiço cria um escudo para afastar, violentamente, fantasmas. Há, também, o feitiço Skurge, que vocês podem acompanhar, comigo, na página seguinte. É utilizado para limpar ectoplasmas de fantasmas e poltergeist. Por favor, não o usem para pregar uma peça em Pirraça. Advirto que ele não vai gostar!
Senhorita Merrythought Atravessou à frente da mesa e, senhor Nicholas, posicionou-se bem atrás dela. Os olhos piscando nervosamente, transparecendo o pânico que a postura não deixava manifestar.
— Senhor Visser, que tal ser o primeiro?
Brandon deu de ombros, e levantou-se de sua carteira.
— Formem uma fila atrás dele, por favor e lembrem-se: é astúcia de um bruxo que molda o escudo. Se não tem coragem o suficiente, dê meia volta e vá para o final da fila.
Em geral, cada uma das varinhas produzira um feixe de coloração azulada, que tomara parte da sala. Infelizmente para nós — felizmente para o senhor Nicholas —, nenhum fora forte o suficiente para que senhorita Merrythought tivesse de intervir. Ainda assim, senhor Nicholas estava bastante agitado. Claro! A ideia de ser o alvo de dezenas de varinhas, também não me parecia nada, nada agradável.
— Muito bem! Continuaremos com os treinos de feitiços na próxima aula. Como trabalho extra, vão pesquisar, pelo menos, três histórias de fantasmas. Isso, claro, desconsiderando os fantasmas de Hogwarts. Agradeçam ao senhor Nicholas pela participação e podem ir!
Na sala das molduras, estamos esperando que as escadarias virem-se para o corredor, quando, lá longe, vejo a silhueta que identifico pertencer ao professor Scales, seguindo em direção à sua sala.
— Lore, pode levar os meus livros?
— Você vai fazer o que? — Ela arqueou uma das sobrancelhas.
— Eu, ahn... — mordo o lábio inferior. — Lembra-se da reunião com os monitores? Professor Scales e eu estávamos cogitando a ideia de liberar a biblioteca, mas não tivemos tempo para discutir isso. Talvez, nós possamos conversar agora!
— Ah, tá bem! Então vai! — Incentivou-me.
Sorri amarelado, antes de dá-la as costas e correr o corredor atrás de Scales. Na verdade, sua rota parecia ser o Grande Salão, até que eu o enquadrei.
— Professor Scales, podemos conversar?
Ele pareceu se assustar com minha chegada repentina. Suspeitamente checou os corredores antes de conduzir-me até a sua sala. Auxilia-me a entrar e, ainda com a mesma cautela, passou os olhos pelo lado de fora e, por fim, fechou a porta, porém, permaneceu, demorados segundos, agarrado à maçaneta.
— Senhorita Antares, está tentando matar-me do coração? — Indagou.
— Perdoe-me, senhor! E-eu pensei que já poderia ter algo à me dizer, à respeito de Katty e, também, Andrew. — Explico. Ele ri soprado.
— Não! — Professor Scales afasta-se da porta, antes de virar-se para mim. Brando, ele se dirige até a mesa, onde apoiou-se, e esgueirou as mãos para os bolsos. — Na verdade, alguns de meus colegas me encararam de forma suspeita, quando demonstrei o mínimo interesse na vida pessoal da senhorita Loyal.
— Eu sinto! — Cocei a nuca. — Hoje, quase falei com professora Trelawney, mas... achei que, antes de voltar a esse assunto, fosse melhor trabalhar um pouco mais em cima disto. — Ele arqueia uma das sobrancelhas. — Ao menos, saber se estamos no caminho certo ou não.
— Bem, Annellyze! — Cortou-me. — Eu não posso garantir a você as respostas, mas caso eu tenha outra chance, eu tentarei falar com professor Genesis. Mas, não vou ficar o importunando por algo que não vai dar em nada.
Meu rosto perde a expressão, enquanto o ergo na direção dos olhos esguios de Scales. Meu cenho se franze.
— É que — ele ri soprado. — Não faz mais sentido! A pintura da parede foi atacada. Você tem noção disso?
— Eu sei! Eu vi!
— Não, Annellyze! Você não sabe! Galateia passou ontem, o dia inteiro e, também, esta manhã, estudando o quadro. Ela tentou sete contrafeitiços. Sete! Nenhum funcionou. Sabe por que? — Eu arquejo, contrariada. — Porque ainda não entendemos como isso foi acontecer!
— Mas, professor, não podemos descartar nenhuma hipótese ainda. Não sabemos qual dos dois têm mais relevância sobre o outro.
— Eu lhe digo! — Impôs. — Semana passada, Tom Riddle relatou ao professor Slughorn, um comportamento estranho vindo de Alexandra. Ontem, novamente, constatando que ela anda desobedecendo os novos horários e restrições. Ele e Malwina estão com duas advertências cada um. A justificativa deles por estarem nos corredores, todas as vezes, eram porque estavam à procura da senhorita Foundric. Agora, diga-me, Annellyze! Você ainda tem alguma dúvida?
Involuntariamente, os dentes prendem o lábio inferior e a língua o contorna, umedecendo-o. A testa, tão envergada, que sinto a cabeça doendo. Os olhos de Scales parecem imprensar-me em um corredor estreito e sem saída, mas há uma maldita crença, que não me deixa simplesmente aceitar os fatos. Eu nego com a cabeça.
— Segunda-feira, encontrei-me com Alexandra nos corredores. — Retomei. O semblante de Scales suaviza. — Estava fugindo dos alunos da Gryffindor, que pareciam empenhados à ideia de vingar o amigo petrificado. — Scales dá de ombros, arqueando as sobrancelhas. Todavia, eu continuo. — Ela estava desesperada. Tão desesperada, que começou a chorar. Estão todos tão ocupados, culpando-a, que não estamos nem perto de descobrir quem, de verdade, está por trás disso.
— Annellyze, já passou pela sua cabeça, que ela poderia estar apenas fingindo?
— Professor Scales, com todo o respeito, Alexandra não fingiria bem, desta forma, nem que o prêmio fosse um A em Aritmância. — Revirou os olhos. — Estou dizendo! Não foi ela! E eu vou provar que não!
— Que vai fazer? — Interviu.
— Eu vou conversar com ela, só isso!
— E ela, simplesmente, vai lhe contar tudo, porque vocês são as melhores amigas do mundo... — ironizou.
— Eu vou fazê-la falar. O senhor vai ver!
— Annellyze, podemos fazer isso de uma outra forma.
— Por favor, o senhor precisa descobrir se Katty e Andrew são nascidos trouxas, só isso! Vamos tirar essa história à limpo. Por favor? — Implorei.
Professor Scales franziu os lábios. Ele parecera remediar e remediar, prendendo o ar nos pulmões, até quase estar ficando roxo. Ele suspira.
— Certo! Vou dar um jeito!
— Obrigada, professor!
Entrelacei os dedos das mãos — que suavam —, e dei-o às costas, dirigindo-me à porta. Tinha de reunir-me à minha comunal para o almoço, e aproveitar a breve hora vaga, para pensar em uma forma de abordar Alexandra.
— Antares — interviu, o professor Scales. — Não seja petrificada!
Sorrio amarelado.
— Não serei!
A biblioteca já estava para se fechar, quando abordei Madame Pince que, iracunda, entrega-me o livro de Feitiços auto defensivos. Aproveito para reservar o livro "Poder, Política e Poltergeists Petulantes", o qual imagino que poça ajudar à mim e aos demais com o trabalho de D.C.A.T.. Madame Pince parece certa de que, agora, finalmente, poderá encerrar, quando Jonnatha surge à curva, correndo nesta mesma direção. Nas mãos, os livros: Plantas Mediterrâneas e Os devoradores de Homens. Eu interfiro.
— Que livro é este?
— Este? — Indagou. — É do sexto ano. Só estou devolvendo. — Explicou. Madame Pince quase lhe tomando os livros à força.
— Escuta! Eu não posso ficar com ele?
— Por acaso, a senhorita é do sexto ano, senhorita Antares?
— E-eu... ahn, não senhora!
— Então é claro que não pode! — Bradou.
— Posso reservar? — As sobrancelhas se franzem, fitando-me por cima dos ombros. — Okay! Isso é um não! — Deduzo. Jonnatha ri, sorrateiramente.
Estou ameaçando seguir, quando Jonnatha me pede para o esperar, usando como desculpa, o perigo dos corredores. Madame Pince o entrega Espécies de Dragões da Grã-Bretanha e Irlanda e um Dicionário de Runas Antigas.
— Tempo esgotado! Boa noite! — Despediu-se rudemente, antes de fechar a biblioteca.
Daqui até a sala das molduras, Jonnatha insiste em falar sobre o que acontecera com Andrew. Acredito que todas as casas já haviam provado um pouco deste amargo gosto, mas era extremamente ruim recordar, principalmente pelo fato de eu ter encontrado a primeira e a última vítima até agora. Minha mente agradece quando tenho de me despedir, para tomar as escadas que me levariam até o quinto andar.
No claustro quase escuro, Loreynne e Guilia estão me esperando, em frente a Aldrava, como o combinado. A porta já está se abrindo, quando me aproximo e, junto aos demais colegas, decidimos que a maneira mais produtiva para se estudar, é criarmos grupos de até oito pessoas para que, assim, conseguíssemos todos utilizar os livros, e ainda devolvê-los dentro do prazo.
Meus olhos já estão perdidos à turvilhão, quando percebo que Brandon, Daryl, Guilia, Guk, Loreynne, Nathan, Verse e Yago dormiram por cima dos estofados e da tapeçaria do chão. Deixo o livro sobre o criado-mudo, e busco o foco do relógio, embora mal o consiga ler. Era tarde! Muito tarde!
Engulo seco, cogitando a possibilidade de dar para trás, quando minhas pernas me puseram em pé. Não era força de vontade, eu asseguro. Tratava-se do que é certo, e eu já não estava mais conseguindo dormir direito, dividida entre a possibilidade de tudo ter sido previsto e, na melhor das possibilidades, ter sido evitado. Eu suspiro.
À passos calmos, afasto-me de meus amigos e aproximo-me da porta. A maçaneta — presente apenas na parte interna — parece girar desconfortavelmente em minha mão e, quando o trinco aciona, ouço um dos meninos revirar-se no estofado, quase fazendo-me pular de susto. Entrego-me à negridão dos corredores, galgando para qualquer lado. A varinha, fielmente em meu bolso, apagada, no entanto, para não correr o risco de trombar com um professor ou qualquer outro que pudesse me pegar zanzando e sem uma boa justificativa.
Com um pouco de confiança em minha boa-memória, acredito ter feito uma passeata completa no quinto andar, antes de pegar-me pensando para que lado, exatamente, deveriam ficar as escadas. Aspiro a ideia de acender a varinha, por um único momento, para me situar e, quando o faço, esta é arremessada ao chão. Sua luz, por outro lado, mesmo um pouco distante, bem alumia o rosto ignavo de Alexandra, antes de apagar e perder-se no completo breu.
— Antares?
— Eu! — Respondo, quase sem voz.
— Que está fazendo aqui?
— Que eu estou fazendo? — Indaguei. — Que você está fazendo!
Horas mais cedo, tudo isso me parecera uma ótima ideia. Agora, no entanto, minha mente estava se questionando, como se dissesse: "sério mesmo, Annellyze? Tudo bem então". Eu a empurrara, e não precisava nem olhar o seu rosto, para ter certeza de que ela deveria querer me matar.
— Esse aqui é o meu andar. Você, por outro lado, está bem longe do seu. Que houve, Slytherin? Teve um pesadelo? — Zombei. — Ah, não! Espera! Deixa eu adivinhar... você é sonâmbula, e gosta de sair por aí, à noite, para petrificar alunos de outras casas.
— Você é maluca, por acaso? — Empurrou-me. —Sabe com quem você está falando, não sabe?
— Claro que sei! Estou falando com Alexandra Foundric: a aluna que se comprometeu em transformar toda Hogwarts em belas estátuas.
Eu esperei, mas não houve uma única resposta de Alexandra. Eu continuo.
— Diz, que pensa em fazer conosco, depois de petrificar todo mundo? Vai trocar a sua irmã de comunal? — Alfinetei.
— Cala a boca, Antares! — A voz saiu baixa, quase inaudível.
— ...se todos viraram pedra, quem você vai azarar? A pequena Annabella? Pobrezinha, não é? Será que ela vai ficar decepcionada quando você for expulsa de Hogwarts, ou será que ela já se acostumou com essa ideia?
— Mandei calar a boca!
— Já comentou com seus pais? O que o ministério vai pensar, quando...
— Cala a boca! — Esgoelou-se.
Um feixe avermelhado iluminou rápido, antes de o meu corpo ser atirado para trás. O tórax arde e, nem gritar pelo cume da situação, sinto que não consegui. O ar fora arrancado, brutalmente, de meus pulmões, e tardou em retomar.
— Quando você não tiver mais o que dizer, fique calada! — Mandou. A varinha acesa, apontada para o meu rosto.
Quase camuflado no véu escuro, porém, enxergo o rosto de Alexandra. O fundo dos olhos ganhando coloração, a testa envergada e os lábios franzidos. Silenciosamente, eu lamento.
— Vou ensiná-la a nunca mais se meter comigo! — Prometeu.
Eu engulo seco.
— Alexa, eu posso explicar!
— Silencio! — Eu tenho certeza que argumentei, mas voz alguma escapou de minha garganta. Alexandra balança a cabeça, e aponta-me a varinha novamente. — Quer ficar petrificada, Antares? Pois fique!
—
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