Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

VIII - Troca de Presentes

O quase silêncio é quebrado por um grito esgoelante e, no corredor seguinte, Andrew dispara — os braços para o alto —, perseguido por um Tentáculo Venenoso enfurecido. Gargalhadas escarcalhadas explodem das gargantas de alunos da Grifinória, e Allen e Marcos bramiram incentivos para que Andrew continue correndo, a menos que quisesse comemorar o natal junto de sua falecida bisavó.

As malas já estavam prontas e, além do castelo, não há mais sinal do verde, exceto o escuro de um ou outro pinheiro já quase encoberto pelo manto de neve. Em menos de quarenta horas a maioria de nós estará em casa, em férias de natal, e como se já não bastasse o ritmo lento que alguns alunos entornaram, os próprios professores não parecem mais levar suas aulas à sério. A maioria deles, ao menos.

Diffindo!

O Tentáculo estatelou o chão como se não pesasse mais do que alguns gramas e, no final do corredor, Andrew se encolhia atrás da barra do vestido marsala e mostarda de Madame Flowers. O rosto amargurado, os lábios crispados e curvados para baixo, como se repensando a responsabilidade de ter de salvar um aluno e cometer tamanho sacrilégio; a varinha de teixo tremelicando na ponta dos dedos. Não guinchou com Andrew ou mesmo por causa das gargalhadas, também não nos puniu com metade da matéria do mês como lição de casa para a próxima aula. Guardou a varinha nas vestes, ao invés disso, e recolheu o Tentáculo esmarrido do chão com um cuidado desigual.

— Voltem ao trabalho... imediatamente — disse em um tom surpreendentemente calmo e, simultaneamente, absurdamente firme.

As gargalhadas clandestinas desapareceram no ar como se nunca houvessem existido, e os alunos voltaram a colher as sementes de Tentáculos para envasá-las, tendo a certeza de imobilizá-los adequadamente antes. Jonnatha, que estava no final desta fileira, depois de Allen, encolheu-se embaixo da mesa longa onde trabalhávamos e engatinhou nessa direção, parando à minha frente. Eu me afasto e ajeito a saia num ato involuntário, ele deixa um riso soprado escapar.

— Madame Flowers está por aqui? — Cochichou.

Procuro-a de um lado a outro, estava debruçada em cima do Tentáculo estirado sobre sua mesa de trabalho, um olhar catártico e os lábios ainda franzidos.

— Acho que ela está ocupada no momento...

Jonnatha levantou-se para ver a cena e, outra vez, riu soprado.

— Coitada, deve ser uma perca difícil.

— Deixe-a em paz, sim? — John gargalhou.

— Desculpe-me, afinal, não foi por isso que vim até aqui.

Os lábios de Jonnatha esticaram-se no rosto e ele sorriu abertamente, o braço direito discretamente agarrando-me pelo ombro.

— Hum... eu conheço esse olhar — livro-me ligeiramente de seu abraço.

— Acho que vamos passar o final do ano juntos.

— E por que pensa assim?

— Meu pai disse que vamos ver um amigo no natal, e eu aposto a minha varinha que esse amigo é o seu pai.

Senhor Denebola, o pai de Jonnatha, trabalha no Departamento de Execução das Leis da Magia, assim como papai e, ocasionalmente, ocorre de terem de trabalhar juntos, como há três anos atrás, quando tiveram de conter uma rebelião de bruxos no Hyde Park instigados por Grindelwald em plena luz do dia. Foi necessário quase uma semana para apagar a memória de todos os trouxas, sem falar naqueles que conseguiram fotografar. No dia seguinte, tornou-se a matéria em destaque de todos os jornais que se prezem, e o Ministro da Magia, Leonard Spencer-Moon, teve de intervir pessoalmente para que o caso pudesse ser desmentido; abafado mais precisamente, na minha opinião.

— Vai ser um longo final de ano... — brinquei.

— Qual é, Anne? — Ele jogou os braços para cima. — Vai ser legal.

— Certo — digo arrastado —, está na cara que nem você e nem o seu pai conhecem a minha avó, John, e ela costuma passar todas as festas de fim de ano e o meu aniversário em casa.

— Que máximo! — Sobressaltou-se Jonnatha, e eu o peguei pelos ombros sussurrando para que fizesse silêncio. Viramo-nos para a mesa de Madame Flowers que, por sorte, continuava perdida em seu luto. — Vou poder conhecer o restante da sua família então? — Cochichou.

— Eu não ficaria tão entusiasmada se fosse você. Gjyshja pega no pé de todo mundo, e receio que mesmo as boas-maneiras não a impeçam de fazer o mesmo com você e o seu pai. — Jonnatha sorriu.

— É coisa de .

— Não se atreva a dizer isso perto dela...

Quando a aula teve fim, Allen disparou pela porta das estufas, o riso estrondando nos corredores ainda vazios como uma trovejada, Marcos em seus calcanhares, firmando e reafirmando que iria pegá-la. Andrews os seguiu aos soluços e tropeços, não parecera recuperado do susto ainda agora, e Jonnatha ajudou-me a terminar de plantar as últimas sementes, antes de posicionarmos os vasinhos aos janelões para o sol fraco e congelante. Tomamos os corredores logo em seguida, uma longa nesga prateada luzindo o chão entre os pilares.

Senhor Nicholas dobrara o claustro nesta direção, e cumprimentou-nos ao passar com uma cortês reverência; o saguão abarrotado de alunos, vozes espalhafatosas, ensurdecedoras e sufocantes. Ao alcançar o quinto andar, despedi-me de Jonnatha às escadarias que mudam, e aumentei a largura das passadas até o suntuoso salão. Guilia e Septima trocando algumas mornas palavras, Loreynne, ainda emburrada, encolhida em sua cama. Senti um mal-estar ao vê-la daquele jeito, mas nada que eu dissesse ou fizesse iria tirá-la da situação de encarcere que se colocara. Se tinha um lado que bem conhecia de Loreynne, era sua teimosia, e ainda que eu pudesse provar a ela que nada demais aconteceu na festa de Slughorn, ela não acreditaria, à menos que estivesse lá para ver com os próprios olhos. Não ficaria assim por muito mais tempo, pensei displicentemente, querendo ou não, terá de melhorar esse humor alguma hora, e isso deve acontecer logo.

Um raio de sol de inverno cortou o corredor através das colunas, no caminho até a biblioteca. Uma pequena pilha de livros trago nas mãos para a devolução e, debruçado ao balcão, deixando sua assinatura na folha de reserva, Tom Riddle, o cachecol da Sonserina lhe enlaçando o pescoço, os lábios finos e quebradiços levemente curvados para mim. Eu sorrio em resposta.

— Detenção, trabalhos extras, livros para distração e você ainda achou tempo para ler o meu diário? — Brincou, uma das sobrancelhas franzidas na testa.

— Eu estava procurando uma coisa — digo, deixando os livros sobre o balcão, e Tom esticou o pescoço, os olhos vagando pelos títulos.

— Que mal lhe pergunte, — diz hesitante, — não estava tentando encontrar nada sobre Oliver Salazar, estava?

Meus lábios se secaram instantaneamente, e o sorriso afugentou-se de meu rosto, largando para trás uma expressão embasbacada, que não sei como disfarçar. Tom Riddle gargalhou fraquinho, soprado, e encarou o livro O Condão Puro-Sangue que, aliás, eu deveria ter devolvido já há algumas semanas, e afoitou-o com o indicador.

— Você não é nada discreta.

Juntei os livros novamente e coloquei-os sobre este, Tom afastando-se minimamente para que não fosse atingido pela nuvem de poeira de mofo de prateleiras. Eu o encarei de soslaio e refutei-o em seguida, esperando Madame Pince vir-me trazer o registro da sessão reservada para eu dar baixa. Tom pegou o livro que estava retirando e mostrou-o para mim: O Ovo e a Criatura.

— Para suprir sua curiosidade — disse convencido. — Já pode agradecer.

Fiz-lhe uma careta e dei baixa nos registros, os olhos iracundos, de gavião, de Madame Pince encarando os prazos atrasados e a mim de esguelha. Devolvi-a a pena e escapuli depressa, Tom Riddle à minha acossa.

Passos omissos, embora plácidos, regeu-nos até o pátio aberto e alabastrino, a brisa sutil cortando-nos à fio, fustigando os cabelos de Tom — salpicados em branco — e soprando do lugar minha tiara; montes de neve árida agarram-nos os calcanhares, e flocos miúdos despencando as nuvens grossas, estatelando sobre nossas cabeças. Tom caminhou até a fonte, as águas congeladas refletindo-o como um espelho, e sentou-se ali. Eu tomo o lugar ao seu lado, a ventania me afagando as narinas com um suave aroma de cravo.

— Se devolveu todos os livros e não pegou nenhum outro, é porque está de saída?

— Madame Pince seria capaz de ir me buscar em Londres, acaso eu não os devolvesse antes de ir para casa.

— Três semanas inteiras sem você por perto, hum? Eu poderia me acostumar...

Resmunguei, torcendo os lábios num trejeito, e sorri abertamente, empurrando os cabelos para trás dos ombros. O frio aconchegou-me num abraço congelante que me fez cruzar os braços, a bonita alvenaria envelhecida de Hogwarts à frente, através de uma cortina branca. Há um momento — uma longa pausa — e viro-me para Tom, aparentemente muito tranquilo, o frio não parece capaz de tirar sua paz, nem sequer está tremendo, como eu, ou teve de franzir a mandíbula para impedir os dentes de bater, como eu tive. Ele deu uma lufada congelante, os lábios fumaçando, e levou menos de dois segundos para dissolver o ar. Ele cerrou os olhos e virou o rosto, passeando os pinheiros, os carvalhos, os sabugueiros e os sicómoros da floresta proibida; nadou o lago-negro, lá longe, e contornou sutilmente a neve alta do pátio, até o relumbro de seus olhos encontrarem-me encolhida aqui.

O sol saiu detrás das nuvens, modesto e frio, e iluminou o pátio. Os olhos — antes muito escuros — de Tom Riddle ganharam um brilho verde-esmeralda, como as folhas na primavera, e ele arqueou o rosto, encarando o relógio no alto do campanário.

— Escute, Tom — os olhos verdíssimos reencontraram os meus, e eu agarrei o suéter sob a túnica, os dedos o amarrotando como alento —, você não gostaria de passar o natal lá em casa, algum dia? Aposto que iria gostar, mamãe sempre faz ótimos biscoitos de chocolate decorados e, gjyshja, uma torta de mirtilo que deixa a língua azul.

Tom riu soprado, balançou a cabeça e virou o rosto, e eu gargalhei fraquinho, os dentes agarrando os lábios com certa ansiedade, o vão entre os dedos duros e congelados umedecendo.

— Três semanas com você colada em mim, e sem ter para onde fugir?

— Encarando desse jeito... — comprei a brincadeira.

— Quem sabe... — deu de ombros e levantou-se, e eu ainda o seguia com os olhos, o peito subindo e descendo rápido de expectativa. — Outro ano, talvez.

Dei uma lufada de quebra de expectativa, uma fumaça clarinha morrendo na frente de meu rosto. Eu sorri ainda com o lábio inferior entre os dentes, os olhos espremidos pelas maçãs do rosto.

— Certo... — respondi baixinho.

— Tenha um feliz natal, Antares.

— Feliz natal, Tom...

A neve não deixara de cair durante a noite, e as rodas dos coches encontravam-se soterradas no carpete branco e espesso em frente ao par de pórticos de Hogwarts. Loreynne agarrou Guilia pelo pulso e arrastou-a até Michell e Katty, Murta enlaçou-me pelo braço, a cabeça debruçada em meu peito, e sentamo-nos com Hepzibah, uma garotinha miúda esgueirando-se ao assento livre conosco, e fechou a portinhola com um sorriso sutil e meigo que parecera encantar Hebe de uma forma que não ocorrera com Murta e eu.

— Desculpem-me, as outras estão cheias.

— Não tem problema, Bella. Já conheceu a Anne, certo?

— Sim, na festa do professor Slughorn. Como vai, Anne? — Cumprimentou-me sorridente. — Quem é a sua amiga?

— Bem, obrigada. — O coche de Alexandra, Paul, Malwina e Fredderyc cortou à nossa frente, sua irmã encarando-me de sobrancelhas franzidas, os lábios crispados. — Essa é Murta Warren. Murta, Annabella é a irmã da...

— Alexandra Foundric, não é isso? — cortou-me. — Vocês são idênticas uma à outra. Li, certa vez, que sua família foi retirada injustamente do Diretório Puro Sangue?

— Minha família foi considerada belga, embora residíssemos em Aberfan desde os romanos — explicou orgulhosamente, o peito estufado. — Não há resquício algum de sangue impuro, no entanto, eu as asseguro. Você, por outro lado... desculpe-me, não reconheço seu sobrenome.

Murta encolheu-se nos meus braços, os dedos fundeados em minhas vestes, como se tentando se esconder, e eu pigarreei, um sorriso amornado nos lábios, uma tentativa branda de recobrá-la de que não há nada de errado em miscigenação ou qualquer outra forma de linhagem, isso não define pessoas afinal, e muito pouco deveria importar nos dias de hoje, onde os tempos já não são os mesmos.

— Sou... nascida trouxa.

— Ah, eu sinto muitíssimo — disse, os olhos de cristais arregalados, — não quis ofender.

— Não ofendeu.

Aos trancos e balanços, foi-se os coches com destino a estação de Hogsmeade, passando pelo portão de ferro forjado, ladeados por colunas de pedra encimadas por javalis alados. A ferrovia estava situada numa poça de neve com lama, a locomotiva a vapor fumegando pela chaminé. Apertamo-nos na cabine, as sete, e Murta e Hebe adormeceram sobre mim pouco depois de a aldeia desaparecer das janelas, planícies branquinhas e montes azuis-acinzentados substituindo a vista. Michell dividiu com Mallu — sua ratinha — uma caixinha de feijõezinhos de todos os sabores, e Guilia esvaziou os bolsos, dois pacotes cheinhos de bala de alcaçuz, que dividiu com Lore, Katty e eu. Trocamos as vestes assim que próxima a cidade dos trouxas, e o expresso aportou à plataforma nove e meia na estação de King's Cross.

Pegamos nossas bagagens já despachadas e aguardamos atrás de uma longa fila que fizeram os guardas, de onde liberavam dois ou três alunos com diligência, para não chamarmos a atenção, acredito eu. Despedimo-nos aqui mesmo, e Murta deu-me um abraço tão apertado que varreu até o ar de meus pulmões. Eu a retribuo um tanto debilitada, gargalhando fraquinho e recuperando o fôlego, e acenei na partida, irrompendo a parede com Michell e Hepzibah.

Trouxas de paletós escuros ou saias mídi rodadas circulam despretensiosos pela estação, e vejo mamãe e papai não muito longe da coluna nove e dez, abraçados, como haviam me prometido ainda antes do início do ano letivo, quando não puderam me trazer. Eles esticaram-me um dos braços, cada um, e atirei-me entre o peito de papai e o ombro de mamãe, o par de braços mais formidáveis e aconchegantes que conheço. Papai pegou minha bagagem e mamãe me ajeitou a tiara nos cabelos, ofereceu-me a mão, e fomos juntas até a saída da estação, um Chevrolet Special vinho — um meio de transporte comumente utilizado por trouxas — esperando por nós. Acomodei-me no banco de couro dos fundos, papai e mamãe à dianteira. O motor do veículo rangeu, tremelicando a carcaça, e papai tomou as estradas, foram vinte minutos até dobrarmos a avenida para a rua das Alfazemas. Papai estacionou em frente ao nº7 e, imediatamente, a nossa vizinha, a senhora Cross, afastou as cortinas e amassou o rosto exageradamente maquiado na vidraça da janela. Mamãe destrancou a porta, mas remanchou abrir. Espichou o pescoço por cima da cerca viva, e logo viu a senhora Cross saindo com seu cachorro, um Shih-Tzu pomposo que mais parecia um espanador de pó.

— Boa noite, Leonor, querida! — disse ela, ajeitando o cardigan. — Vejo que foram buscar sua filha no colégio. Como vai, Anne, estudando muito?

— Eu me esforço, senhora, gentileza a sua perguntar.

— Sabe, Leonor — ela coçou a nuca com olhar de descrença —, eu andei ouvindo um barulho estranho vindo da sua casa o dia inteiro, quase não ouço minha televisão.

— Ora, Jaclyn, é só aumentar o volume — mamãe deu de ombros.

— Ah, mas... não é essa a questão, querida. Q-quem está aí na sua casa, não quer que eu acredite que sua lavadora faz um barulho deste, não é?

— Ora, Jaclyn, não seja curiosa, claro que não há ninguém em minha casa, não vê que estávamos todos fora?

— É que não é normal, querida. Pois veja, este é um bairro pacato, entende?

— Bobagem, Jaclyn, eu garanto que você está ouvindo coisas e, Anne! Amor, por que não ajuda o papai com suas coisas?

Papai entregou-me a mala com as roupas e pegou o malão de livros, fechou o carro e cumprimentou a senhora Cross com um aceno, a trouxa insistindo em contradizer mamãe, independente de qual fosse o assunto.

— Cuidado com a cabeça, meu bem — advertiu mamãe, e a senhora Cross franziu o cenho.

Papai abriu a porta com uma cautela desmedida, atravancando-se em frente à fresta — a senhora Cross esticando o pescoço, escapulindo os olhos para dentro —, e eu esgueiro por ali, papai faz o mesmo e fecha a porta o mais ligeiro possível. Mal eu largo a mala, vejo um vulto grande vindo em minha direção; eu encolho os ombros e as mãos agarram a cabeça de susto.

— Henry, tenha cuidado! — advertiu papai, e o pequeno elfo de grandes olhos caramelo se retraiu em cima da cadeira.

O vulto desvendou-se a árvore de natal, um pinheirinho salpicado em neve, cujo as raízes estavam guardadas dentro dum balaio de vime e cordas, que flutuou até os arredores da lareira crepitante, e pousou sob um pedestal feito de um tronco circular, a casca marrom-avermelhada, o interior cuidadosamente lixado. Henry desceu a cadeira, ajeitou o talare e calçou as sandálias. Aproximou-se meramente e curvou a coluna num ato de cumprimento.

— Bem-vindos de volta!

Henry ajudou-me a tirar o casaco, papai o fez sozinho, e pendurou-os no cabideiro sobre o armário aparador, pegou minhas malas e desapareceu com elas. Mamãe entrou neste instante, a porta escancarada, a senhora Cross e seu cachorro espiando aqui dentro da calçada. Mamãe acenou com um sorriso forçado e fechou a porta, um resmungo longo lhe cortando a garganta.

— Argh, como é que só ela escuta essas coisas? — Indagou mamãe de lábios franzidos, papai retirando-a o sobretudo.

— Direi a Henry para ser mais cuidadoso.

— Não é esse o problema, Ariel. Henry podia ser o mais discreto possível, mas se ele tossir, espirrar, essa mulher vai ouvir e vai querer saber quem foi.

Mamãe estufou o peito para continuar reclamando, e papai repreendeu-a com um olhar. Foi o suficiente para mamãe suspirar, engolindo todos os protestos, e sorriu, virando-se para mim, vindo me abraçar.

— Nós sentimos saudades, meu amor.

— Também senti, mamãe.

— Você conseguiu embarcar há tempo, não houve problemas?

— Não, senhora.

— Nós sentimos muito em não poder te acompanhar como em todos os anos, Anne, nós...

— Não tem problema, papai. Correu tudo bem, eu juro.

— Eu queria ter lhe contado tanta coisa, meu bem, mas fiquei com pena de enviar Badb para Hogwarts, para longe das corujinhas.

— E como elas estão?

— Estão enormes, amor. Venha ver.

Mamãe correu as escadarias para o corredor do primeiro andar, um quarto de solteiro e um de casal, o banheiro, o salão de banho, meu quarto e o quarto dos meus pais por último, que é onde entramos. Há uma alcofa forrada chirriando baixinho sobre o puff aos pés da cama, e mamãe ajoelhou diante dela, os olhos azuis-anil consoantes. Badb, a corujinha-das-torres de mamãe, há se tornado mãe algum tempo atrás, uma bonita e plumosa coruja branca, delicadas manchas douradas que destacavam o pontilhado prateado que mais lembrava um pôr-do-sol de verão sob um nevado frígido; o rosto em formato de coração, os olhos de tanzanita contornado por discretas manchinhas marrons-acinzentadas. Debaixo de suas asas protetoras, três filhotes envolto uma bolota de algodão branquinho, os rostinhos de coração enrugado, os olhinhos iguais aos da mãe, exceto por uma de olhos muito escuros, de silício, que me encantou de imediato.

— Papai convidou o senhor Denebola para o natal, e pensei em dar uma delas de presente para sua esposa, e a outra para mami.

— Tenho certeza que elas vão adorar — digo, esticando-me até a alcofa, Badb abordando minha mão, reivindicando as carícias.

— E você, meu amor, quer uma? — O sorriso entusiasmado foi minha melhor resposta. — Qual você quer?

— Essa aqui, de olhos escuros.

— Pense em um nome bem bonito para ela — disse mamãe, puxando um kit de costura de debaixo da cama. — Que acha deste laço aqui para a corujinha de gjyshja? E, talvez, esse aqui para Joan?

Mamãe e eu enfeitamos as corujas, separamos redondas caixinhas de presente coloridas para que pudéssemos colocá-las depois, e reunimo-nos para o jantar após o banho, papai na ponta da mesa, mamãe à sua esquerda e eu à direita. Vestíamos os pijamas, as chamas das velas oscilando no centro da mesa, e Henry surgiu da cozinha, a bandeja com uma terrina de porcelana que, quando destampada, desvelou um caldo áureo: frango marinado no iogurte com molho picante, masala; o prato seguinte foi o delicioso bife Wellington que papai adora e, de sobremesa, torta de banana com café e doce de leite. Mamãe me mandou tirar a mesa e colocar a louça na lavadora, Henry já havia se despedido para jantar e descansar.

Acomodamo-nos às poltronas em frente à lareira depois — papai e mamãe dividindo uma e eu na outra —, e mamãe contou-me sobre xhaxhai e sua namorada nova, papai falou sobre o trabalho, então apagamos a lareira e subimos. Mamãe acendeu a luz, um cômodo claro e não muito grande — os móveis e objetos em creme —, o carpete forrando o chão de madeira, uma cômoda sob um espelhinho circular ao lado do biombo, as janelas abertas permitindo que o aroma suave das amarílis perfume o quarto, a brisa balançando as cortinas e o dossel da cama ladeada por mesinhas de cabeceira. Retirei o roupão cor-de-chumbo e o joguei sobre a poltrona, quase tropeçando no puff capitonê, e deitei-me na cama, mamãe aconchegou-me ao edredom de veludo e em meio as almofadas. Beijaram-me as bochechas, os dois, e papai fechou as janelas e apagou as luzes ao sair, o sono alcançando-me de mansinho.


Papai estava limpando o console da lareira branca, e mamãe cerzia uma guirlanda para a porta com os galhos que Henry tirou de excesso do pinheiro, com laços de cetim e veludo, bolas em vermelho e flavo, azevinho e pinhas, rosas e cravos ressecados, um contraste em marrom bem escuro. Papai arranjou-nos pincéis antigos em uma das caixas da garagem, e nós pintamos algumas pinhas secas de branco; cortei uns bons vinte centímetros quadrados de uma fibra sintética que mamãe possuía no kit de costura — um tecido discretamente imaleável, cor-de-trigo-maduro —, e costurei laços para o pinheiro, o toque final foram os pisca-piscas que papai colou no centro destes, tudo muito bem conciliou com as bolas douradas e pratas.

Henry espalhou uma folhagem muito verde sobre a lareira, e mamãe trouxe as vidraças de doces: biscoitos de chocolate e avelã, trufas com recheio de cereja vermelha, bolo de nozes e torta de ameixa. Espalhou por ali o que sobrou das bolas de enfeite e três velas brancas na grossura de um palmo, rodeadas com azevinho, figos e romãs. Teci uma guirlanda marrom e vermelha com o azevinho e pinha que sobraram, e papai pendurou-a no alto sob a lareira; pudemos, enfim, contemplar a casa toda decorada, e papai entregou-me sua varinha, Henry veio trazendo uma caixinha de onde tirou uma estrela muito polida e brilhante.

Wingardium Leviosa!

Guiei o ornamento até o topo do pinheirinho, a única magia que papai me deixava fazer — todos os anos —, a única exceção. Fazer a decoração dessa forma mais banal e despojada era o nosso verdadeiro significado de natal, aproveitarmos juntos esses dias, sem aulas, sem trabalho ou qualquer outra coisa que venha da porta para fora. Perca de tempo para alguns, um dos momentos mais aguardados do ano para outros, e o melhor era o regozijo ao ver todo o trabalho que tivemos.

Papai recolheu os pincéis e demais tralhas vindas da garagem, e mamãe correu para a cozinha para checar o peru recheado no forno. Henry e eu subimos para arrumar os quartos de hóspedes e, quando estamos voltando, a campainha tilinta. Mamãe abanou a mão, mandando o pequeno elfo para se esconder na cozinha, e papai ajeitou o paletó, em pé, próximo à lareira. Eu desço os últimos degraus, tentando arrumar os cabelos teimosos e armados sob a tiara, e abro a porta.

Miremengjes mon amour!

Gjyshja estava trajada em pele dos pés à cabeça — literalmente —, o chapéu muito felpudo destacando os cabelos escuros como terra preta, a pele pálida e os olhos azuis-anil. Abraçou-me, e sufoquei por um momento naquela maciez devota, a paz situava-se ali, com certeza, exatamente entre seus seios, no âmago do casaco que parece um pedacinho do céu, então gjyshja me afastou e beijou-me as bochechas, uma de cada vez.

— Cómo ecstá bela, An-ne — disse ela e entrou. — Porr sorrte non se parrece tante com Ar-r-riel. Ao menes, os trraces cairram melhorr em você que nele.

Papai pigarreou, inconfortável, e mamãe foi até ele com passos brandos, ajeitou-o o paletó e esfregou os palmos em seus braços, um sorriso fraquinho nos lábios rubros de batom.

Gjyshja retirou o casacão longo de pele e jogou-o desatentamente sobre o armário aparador, e o ruído de mármore se partindo, fez com que nós três encolhêssemos os ombros, e ela encarou os cacos do vaso favorito de mamãe de soslaio. Piscou algumas vezes e virou-se para mamãe, os lábios finíssimos formando um sorriso fechado que marcava as maçãs avermelhadas do rosto redondo, retirou o chapéu e jogou-o junto ao casaco, um segundo rangido, de porcelana se partindo dessa vez.

Dashuria ime!

Gjyshja, Heloísa Crouch, nasceu na Albânia, filha de Hecdínea Lavirtu e Roman Dipostur, e frequentou a Academia de Magia Beauxbatons, onde se formou com notas exuberantes. Foi, também, onde expendeu-se a amizade ainda irrequieta com Miss Dellicate, sua mestra de artes mágicas, relacionamento, este, que engendrou um amálgama de francês e albanês, uma espécie de idioma próprio e quase incompreensivo. Há uma tiara de trança nos cabelos, um diadema de prata com uma bonita safira azul no centro entrelaçado às tranças. Lê-se na borda: "inteligência além da medida é o maior tesouro do homem", a herança mais antiga de nossa família, um símbolo da descendência de nosso sangue, o diadema de Rowena Ravenclaw, orgulhosamente passado em geração entre as filhas — assim como os olhos anil —, mas nunca soube o real motivo para gjyshja jamais ter entregado o legado à mamãe, quando em seu casamento.

Elas abraçaram-se apertado, gjyshja dando-lhe leves palmadinhas às costas, então afastou-se e pegou mamãe pelo rosto, as sobrancelhas muito crispadas e os olhos ríspidos analisando o vestido canela de manga-bufantes.

Bijë, olhe parra você! Cuidarr decsta família e ecsta casa non está fazendo-lhe bem. Acho que você engorrdou desde a última vez e, mon Dieu, quantas rrugas!

— R-rugas? E-eu? — Mamãe parecera perder a cor, o ar e o raciocínio, mergulhando em um estupor profundo, de onde esqueceu-se de voltar.

— Quanto a você, Ar-r-riel — continuou gjyshja, soltando mamãe e seguindo até papai, — que horrorr! Os anos eston lhe fazendo muito mal, Anctarres, parrece até mais velho que eu. — Gjyshja gargalhou estrondosamente e agarrou papai em um abraço sufocante.

Papai afastou-se de gjyshja com uma expressão de desconforto, dor talvez, e foi tentar consolar mamãe, ela acariciando as próprias bochechas um tanto dispersa, o rosto abatido e os olhos chorosos.

Gjyshja pegou uma pequenina carteira do busto do vestido plissado, marfim, clandestinamente íntima do Feitiço Indetectável de Extensão, e retirou de lá uma travessa com a memorável torta de mirtilo, e uma caixa de presente no tamanho de um tronco, enlaçado com uma bonita fita azul de seda.

Harry — vozeou gjyshja, e Henry veio correndo da cozinha. — Guarrde este na geladeirra, coloque este com os outrros prresentes, leve minhas coisas parra meu quarrto, e prrocurre rrestaurrarr aqueles ecsculturras, fui um pouco descuidade, acontece...

— À propósito, mami, xhaxhai trará a Ava Flint para o natal? — gjyshja rosnou e virou o rosto.

— Par La Fontaine, non chamé porr este nome, Leonorr. Sabe, se aquela mulherr aparrecerr porr aqui, eu vou-me emborra no mesme incstante. Barrtolomé que non se atrreva!

Henry havia espalhado taças invertidas por toda a cozinha e a mesa de jantar, pequeninos enfeites guardados no interior destas, velas grossas e pequenas sobre as bases e, no balcão, mamãe dava os últimos retoques no peru, e eu aproveitei para tirar o assado de batatas-doces e batatas-inglesas, salpicando-as com alecrim. Papai levou para a mesa o cabaz com uma variedade de pães, molho cranberry e creme de leite, a terrina ali ao lado exalando o gostoso aroma do creme de cebola; gjyshja preparou a salada de bacon, couve-de-bruxelas, pera e queijo azul, e mamãe devolveu ao forno o peru, o pernil saindo de lá já no ponto. Completamos a mesa com frutas cristalizadas, Henry e eu, então a campainha soou, uma balburdia baixinha vinda da porta.

Jonnatha e seu pai aparentemente trombaram com xhaxhai pelo caminho, e chegaram os três juntos. Henry e eu recolhemos os casacos e sobretudo, também os presentes para colocar ao pé do pinheirinho. Jonnatha deu-me uma piscadela discreta, seguida do cumprimento, e mostrou-me a varinha que ele trazia no bolso — ainda bem que não havia comprado a aposta —, xhaxhai entregou a Henry uma garrafa de Prosecco antes de me abraçar, e, senhor Denebola, um vinho rosê Greyfriars.

— Como vai, Dominic? Uma pena que Joan não possa estar aqui, — disse mamãe.

— Ela preferiu ir ver a irmã, — explicou o senhor Denebola. — Angelle não está muito bem, ela se recusa a deixar a França e vir morar conosco, e essa história de guerra mundial...

— Sim, sim — intervém gjyshja, — guerra é guerra e todos nós sabemos, mas non é cómo se non ecstivéssemos fazendo nade parra ajudarr, no? E mais, já temes prroblemas demais no mundo brruxo com Grrinden-hald, oui? Ecstamos aqui parra falarr de prroblemas?

— Bom, Dominic, Bartolomeu Crouch, meu cunhado, acho que vocês já se conhecem do ministério, e essa é minha sogra, a Heloísa Crouch. Ela é Albanesa, mas está temporariamente na França, na direção da Academia de Magia Beauxbatons.

— Mamãe, estes são Dominic e Jonnatha Denebola. Dominic trabalha no Ministério da Magia, no mesmo departamento que Ariel e Bartô, e Jonnatha estuda em Hogwarts no mesmo ano que Anne.

— Sei — disse arrastado. — Encantade, encantade!

Henry serviu uma bandeja de chá verde e levou as bagagens dos hóspedes para cima, mamãe acomodou todos à sala por ligeiros minutos até o peru terminar de assar. Tomamos a mesa, papai em uma ponta — gjyshja à sua direita, xhaxhai à sua esquerda — e mamãe na outra — senhor Denebola à sua direita, Jonnatha à sua esquerda —, e Henry serviu-nos o creme de cebola e pãezinhos, encheu de água meu copo e de Jonnatha, vinho para os demais.

— Ansioso para os N.O.M.s, Jonnatha? Aposto que é um rapaz inteligente — disse mamãe.

— Bom, sim! Digo, eu me esforço. Não tanto quanto a Anne, claro, mas sei que vou conseguir as notas necessárias para prestar o teste de aptidão do Ministério.

— Ministério, hein? É bom saber que tem um rapaz responsável para cuidar de Anne em Hogwarts — disse papai, e eu resmunguei inconscientemente sob a mira dos olhos censuradores de mamãe.

— Den-nebola, Den-nebola... — indagou gjyshja. — Certamente non son brritânicos, oui? Ecste sobrenome non me é familiar.

— Na verdade, já somos oito gerações de bruxos na minha família, não exatamente os mais marcantes da história, mas... — senhor Denebola deu de ombros, orgulhoso, e vovó franziu o cenho, remexendo-se desconfortavelmente na cadeira, e bebeu o vinho. — A senhora, por sua vez, não é britânica, mas seu sobrenome...

— Minha família é ton antiga que non saberria porr onde comecerr a contarr. Son muitas lendes, muitos nomes, todos, eu lhe garranto, brruxos com até a úrrtima gota de sangue immaculé — enfatizou. — Minhas anccestrrais son semprre rretrratadas cómo mulheres de muite bukuri, cómo Prre-e-sina, ecsposa de Elynas, um gran'brruxo, rei da Escócia. Prre-e-sina ecstudou em Beauxbatons, e sua beleza erra ton grrandiosa que ofendeu aos Selkies, que a rrogarram uma maldiçon.

"É porr esto, porr cause deste maldiçon, que Prre-e-sina non querria ser vista durrante o parrto de suas trrois filhas, entrreté, Elynas a viu, estava muito ansioso parra conhecerr suas descendentes. Éle deparrou-se com Prre-e-sina, parrecia um monstrre de pele verrde, um serreiano horrívell, e enverrgonhade, ela fugiu com as crriances parra a ilha de Avalon, e éle nunca mais viu a ecsposa".

Henry retirou a louça e a terrina, servindo-nos de peru, batatas, salada e pernil. Gjyshja arqueou uma das sobrancelhas para a garrafa de vinho, esta flutuou da outra ponta da mesa até sua taça, encheu-a e brindou com gjyshja, o tilinto delicado de vidro. Ela bebericou e usou o guardanapo, trocou os talheres e tomou fôlego:

— Meliorr, Palatine e Melusine, son as trrois filhas de Elynas e Prre-e-sina. Porr quinze anos elas viveron em Avalon, e Melusine nutrria um sentimento muito forrte de vingance porr seu pai. Éla e suas irrmans o sequestrrarram e prrenderram numa montanhe, e isso deixou su mami zemërthyer. Como puniçon, Melusine foi condenade a se trransforrmarr em um serreiano uma vez porr semana, e non conhecerria l'amorr, até encontrrarr alguém que concordasse em jamais des-rrespeitarr sus dias de recluson.

"Anos mais tarrde, casou-se com o Conde Rraymond de Poitou, que matou um drragon com sus prróprrias mons e arrancou-lhe as corrdas do corraçon parra forrjarr su cajado, que tinha a sua alturra, e a pontinha de lance. Éle mandou constrruirr parra éla o Palace de Lusignan, porrém, ficou deverras irritade quando todos os filhos homens nascerram com deformaçons, enquanto suas filhas mulherres erram belíssimas, até mais que a mami. O Conde, enton, quebrrou a prromessa que fizerra de nunca invadirr a prrivacidá de Melusine, e quando viu o moncstrro que erra, a culpou porr ecstrragarr a família. Melusine, muito magoade, abandonou o Conde e os filhos, e isolou-se na montanhe junto de su pai. Éla acprrendeu a perrdoá-lo e descobrriu que éle erra o único homem capaz de amá-la, cómo se ama um pai a su filha, e recspeitou todes os seus dias de maldiçon, até morrerr."

Jonnatha parecia boquiaberto, e não pude segurar o riso quando a batata despencou a ponta do garfo para o prato, atirando uma couve-de-bruxelas em sua gravata azul-marinho.

— Eu ecstudei em Beauxbatons, sabe? — continuou, e mamãe e eu baixamos os talheres, sorrindo fraquinho; adorávamos ouvir sempre que gjyshja contava algo de sua juventude, e ela sempre contava para quem quisesse e não quisesse ouvir. — Em 1885, o Palace de Beauxbatons rrecebeu alunos de Ogwarrts e Drum-miss-trrangué, uma tentativa — falha, é clarro — de sediarr o torrneio trribrruxo. Eu ecstava muito animada porr terr sido ecscolhida parra rreprresentarr minha escola, e irria competirr com Merrle Barrtolomé Crouch e Errgon Karrkarroff. Non tivemes a chance de celebrrarr, contudo, nem mesme a prrimeirra tarrefa, porr qué Errgon e Merrle tiverron um desentendimente no camarrin, e Errgon pegou a varrinha e saiu atirrando parra todos os lados. Acerrtou a Mantícorra que deveríamos abaterr, e éla desembestou pelo campo, seu ferron atingiu e matou sete brruxos, incluindo nosso diretor, Corrnell Amellot.

"Merrle conseguiu chamar a atençon da Mantícorra e fizerron um acorrdo, depois que ele desafiou a inteligência do animale — nunca façon isse, além de muito perrigosas, Mantícorras son exctremamente vaidosas —. Éles deverrian fazerr um jogo de advinhas e, se Merrle acerrctasse a rrecsposta, a Mantícorra deverria sairr dali sem machucarr mais ningun".

— Advinhas? — Jonnatha fez uma carranca.

Gjyshi foi um Corvino muito inteligente.

— Foi sim, — concordou gjyshja. — Uma inteligência madhështore, lembrro-me até hoje quando lhe rrecitou a Mantícorra:


"Dissimetrria étnicas ou vingance, isso posso causarr;

Somente as trrois prrimeirras letrras deve lhe imporrtarr.

Enton me diga o que é um conjunto de duas coisas iguais?

E da mantilha de luto, comprrida, o acento deve deixarr parra trrás.

Corro ton rrápido, que mall o vento pode me acompanharr,

Diga-me quem sou, ou a morrte há de o levarr."


Jonnatha, senhor Denebola e mesmo xhaxhai encararam gjyshja boquiabertos, papai engoliu em seco e bebeu vinho, mamãe e eu esticamos o sorriso — gjyshja gargalhou fraquinho —, estou certa em pensar que uma chama sóbria acendera em nossos peitos.

— Porr qué non responde este parra nós, An-ne?

Beberiquei o copo d'água e pigarreei orgulhosa.

— Discordâncias e vinganças geram conflitos, guerras. Três primeiras letras: gue... — enfatizei. — Conjunto de coisas iguais, pares: par; e, por último, mantilha de luto comprida, o , tiramos o acento: do. Corro tão rápido, que mal o vento pode me acompanhar: guepardo!

E përsosur! — Exclamou gjyshja às gargalhadas, e bateu a mão com estrondo na mesa.

Durante a sobremesa, papai, senhor Denebola e xhaxhai trocaram algumas conversas banais e tediosas, Jonnatha e eu gargalhando, e dando a língua azul de mirtilo um ao outro, atitudes que mamãe repreendeu pigarreando alto, e me oferecendo um guardanapo com certa aridez.

— Annellyze, que modos!

Jonnatha e eu retiramos a mesa, e mamãe e Henry levaram as bebidas e demais docinhos para a mesinha de centro na sala. Papai empilhou os últimos presentes em baixo do pinheiro, e abriu o Prosecco, servindo uma taça para gjyshja, xhaxhai, senhor Denebolla e a sua por último. Mamãe, Jonnatha e eu tomamos chá de bergamota.

— Muito bem —, diz mamãe ao acomodar-se no sofá, ao lado de papai —, hora dos presentes. Anne, o de gjyshja primeiro, sim?

A caixa púrpura possuía alguns furinhos minúsculos e um laço grande, de veludo, peguei-a — a caixa deu uma chirriada — e passei para gjyshja, que abriu com entusiasmo.

— Este é seu, senhora Antares — Jonnatha passou uma caixinha pequena e vermelha para mamãe.

Debrucei-me sobre as caixas, procurando alguma etiqueta com meu nome, e deparei-me com a caixa grande e azul que gjyshja trouxera. Era leve, no entanto, e trouxe-a até próximo o rosto e sacodi.

— Annellyze! — Papai repreendeu-me.

Encolhi os ombros, baixando a caixa, e desfiz o laço e o embrulho, meu queixo quase foi parar no chão quando vi o bonito vestido de organza, cetim e chiffon, azul grisaceo e índigo. Gjyshja gargalhou com satisfação.

— Sabia que irria gostarr, mon amour, Robesrobuste de Madame Toile. Ainda irrei levá-la comigue parra fazerr um vestide sob medide, ficarrá superrbe!

— Mami, por Deus, não havia necessidade de tudo isso.

Sa pa kuptim, bobagem! — protestou gjyshja. — An-ne é minha neta, e merrece o melhorr.

Mamãe fez uma caraça, e papai deitou sua cabeça sobre a dela, o que pareceu tranquilizá-la o suficiente. Jonnatha e eu ainda entregamos os presentes de xhaxhai, papai e senhor Denebola, até Jonnatha encontrar o seu, e eu descobrir uma última caixinha que também estava endereçada com meu nome, uma fita vermelha a vedando. Lá dentro encontrei uma tiara dourada e muito simples, isso é, ignorando as pequenas pedrinhas de safira salpicadas no louro.

— Oh, mamãe, papai, obrigada, eu adorei!

Eles trocaram um olhar encabulado, embasbacado, eu percebo, e uma gargalhada discreta escapou-me. Levantei-me com a tiara em uma das mãos e atirei-me no colo de meus pais, entre os dois, agarrando-os pelo pescoço, e ambos me apoiam pelas costas, um abraço um tanto frouxo da parte deles, e meu cenho se franze imediatamente, meus pais nunca me abraçaram assim.

— Ei, qual o problema?

— De que está falando, querida? — Indagou papai.

— Ora, mas... da tiara — mostrei-os —, o que mais seria?

Mamãe pareceu engasgar.

— É realmente linda, meu amor, m-mas... não fomos nós. O seu presente é a corujinha, já se esqueceu?

Meus olhos se arregalaram com independência, e revezei olhares entre a tiara e meus pais, um tanto envergonhada; sentia-me tola, e não fazia ideia de onde um presente destes poderia ter vindo. Virei-me para xhaxhai, ele afundou o rosto na taça de Prosecco imediatamente, e sequer ousou me corresponder; senhor Denebola riu sozinho, baixinho, e Jonnatha levantou-se cautelosamente do carpete. Eu me viro para ele com olhos arrependidos, já nem precisava ouvir de seus lábios para ter certeza.

— Feliz natal, Anne!

Dicionário

Amour: Amor;

Babai: Pai;

Bijë: Filha;

Bukuri: Beleza;

Dashur: Querido(a);

Dieu: Deus;

Gjyshi: Vovô

Gjyshja: Vovó;

'Ime: Minha;

Madhështore: Magnífica;

Mami: Mamãe;

Miremengjes: Bom dia;

Mon: Meu;

Përsosur: Perfeito;

Trois: Três;

Xhaxhai: Tio;

Zemërthyer: Coração Partido.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro