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V - O Diário Secretíssimo

O clarão infiltrou-se pelas janelas e impregnou a cortina branca ao redor da maca. Resmunguei, remexendo-me na cama, e abri os olhos, um ardido tornando-os úmidos e tive de encolher o pescoço na tentativa de os vedar para baixo da grenha de cabelos. A cabeça girava, o estômago berrava alto e um enjoo prontamente levou para longe o pouco de energia que pensei ter recuperado. Uma silhueta cresceu nas cortinas brancas e afastou-as apenas o suficiente para entrar. As vestes em azul claríssimo, o avental branquinho e o lenço na cabeça deixando para fora a franja rala e curta. Traz uma bandeja nas mãos.

— Bom dia, senhorita Antares — cumprimentou-me e pousou a superfície de alumínio sobre minhas pernas. — Antes de comer, beba isto. Vai se sentir melhor.

Os olhos borrados mal puderam distinguir os dois cálices na bandeja, e apenas aceito ao que Madame Vitally me oferece, um suco aparentemente ralo e azul que exalava pelo ar um gostoso cheiro de menta. Desceu congelando a garganta e causou um desconfortável borbulho no estômago. Depois de vazio, os pulmões se enchem com vigor, um inspiro refrescante que arrepia meu corpo com um frio gostoso de sentir.

— Eu aconselho a comer primeiro e, depois, pode beber uma colher de Poção de Cura para Furúnculos. Eu receio que não tenha um gosto bom, mas...

Eu engulo seco e não posso evitar o impulso que me faz recuar o braço e tocar o rosto. A crosta inundada de caroços de puis fora substituída por uma pele lisa e macia. Eu suspiro aliviada.

— Ah, não! Eu passei bons minutos esfoliando esse seu rosto com a poção. Ainda assim, vai ter que tomar uma colher diária durante a semana — advertiu e entregou-me um pequeno frasco com um líquido verde, opaco e borbulhante.

Afundei o garfo nas salsichas e Madame Vitally deu as costas, afastou as cortinas e pude perceber várias macas ocupadas. Abraxas, está logo à frente, um nariz esponjento que ainda não voltara ao normal. O frasco da Poção de Cura, porém, vazio no criado-mudo. Andrew, não muito longe dele, a pele amorenada pálida e as mãos trêmulas seguram uma bacia de cobre, regurgitando o que me parecera com lesmas enormes. A visão faz-me estremecer e viro ligeiramente, tentando não perder o apetite. Nesta outra direção, contudo, vejo Allen, os lábios avermelhados distendidos no rosto.

Uma a uma as macas foram se esvaziando, até restar apenas eu. A vassoura de fios esgrouvinhados circulando pelo chão, e Madame Vitally arrancava os lençóis, atirando-os sobre uma colcha aberta. Eu penduro os pés para fora e as molas rangem, denunciando-me.

— Como está seu estômago, senhorita Antares?

— Eu acho que já está bom.

— Oh, que ótimo, tive medo que não se recuperasse até amanhã...

Madame Vitally atirou o último lençol e balançou a varinha, a colcha se fechou como uma trouxa e flutuou até a porta. Meus pés estatelaram o chão, e segui descalça até a Madame. que pareceu analisar-me sobre os ombros, mas nada disse. Esperou que me aproxima-se e me entregou uma pilha de lençóis limpos e dobrados. Seguiu até a primeira maca, no final do quarto, e os dedos da mão mandando que eu a acompanhe.

— Eu gostaria de entender o porquê de você sempre estar envolvida em problemas.

— E-eu não apontei a varinha a ninguém.

— Sei que não — sua voz me cortou. — Ainda assim, estava no meio da confusão.

— Quiçá... — eu hesito —, e-eu, possivelmente, possa ter iniciado a confusão?

Madame Vitally virou-se instantaneamente, as sobrancelhas franzidas, os lábios crispados e os olhos saltados.

— Não foi de propósito — digo depressa.

— Explique-se! — Mandou, os braços cruzados empurrando os seios para cima.

Eu suspiro.

— Acho que fiquei um pouco irritada e, quem sabe — dou de ombros —, isso possa ter tirado uma das bexigas da rota? — A voz me falha, e Madame Vitally arqueia um dos braços para apoiar o rosto.

— Pensei que já tivéssemos passado por essa fase, senhorita Antares. Bruxos do primeiro ano perdem o controle... o que não deveria acontecer com alguém do quinto ano, muito menos sendo você.

— Eu sinto muito, Madame.

Madame Vitally pegou um dos lençóis e, calmamente, estendeu-o na maca, seus olhos fechados, embora sérios, e o cenho custando desenvergar.

— Que houve?

— Acho que fiquei irritada com Allen. — Os olhos achocolatados me fitam intrigados. — Ela devia entender que nem tudo se resume à jogos.

— Então, você tirou a bexiga dela da rota e acertou a senhorita Petiwysk?

— Isso... — respondo sem muita atenção. Minhas sobrancelhas crisparam involuntariamente. — Não! Madame Vitally, foi um acidente.

Entreguei-a um outro lençol e passamos à maca propínqua.

— ...Allen chamou os meninos para jogar bexigas em cima da mesa. Eu disse a ela que o senhor Rosmerto poderia não gostar, mas... ela me mandou ficar quieta e contar os pontos — arquejei irritada.

Madame Vitally virou-se sobre os ombros, acanhando-me, a testa corrugada e, os dedos, fundeados no tecido. Ela bafeja relaxando o rosto, então deixa o lençol em cima da maca e se aproxima.

— Sabe, senhorita Antares, quando mais jovem, eu costumava ser assim também. Teimosa, intuitiva e extremamente cabeça-dura —, deu ênfase, cutucando-me na testa. — Acontece que, nem você ou muito menos eu, somos donas da verdade. Concordo que jogar bexigas em cima da mesa do pub foi extremamente errado..., entretanto, se o senhor Kendrick, que é o monitor da Grifinória, não viu problema nisto, não deveria ser você a intervir.

Madame Vitally se afastou apalpando as vestes, livrando-as de alguma poeira ilusória, o rosto baixo e os olhos duros. Eu mordo o lábio e sinto meus dedos mergulhando os lençóis dobrados. Eu aceno com a cabeça.

— Não vai se repetir.

— Eu espero que não — disse e foi revestir a maca. — Provavelmente, teria sido melhor nem ter se juntado a eles. Por que não estavam com Guilia e Loreynne?

— E-eu prometi que iria com Jonnatha neste final de semana.

— Oh, sim, senhor Denebola. Ele tentou te fazer uma visita ontem, antes de uma superlotação azarada ser encaminhada para cá. Já havia cuidado do seu rosto de furúnculos, restavam os efeitos da azaração do jiló surpresa, no entanto. Foi quando estendi sua cortina e o mandei embora.

— Eu a agradeço — digo, após um suspiro.

— Vocês iriam juntos, porém, o senhor Denebola acabou levando a senhorita Trynmor também, foi isso?

— Não, senhora — respondi depressa. — Fomos todos juntos, Murta e eu, Jonnatha e os amigos da Grifinória.

— Eu não quero soar rude, senhorita Antares, mas, muitas vezes, devemos avaliar onde somos bem-vindos, onde nos encaixamos e até mesmo onde queremos estar, e... não devemos estar, entende? Hogwarts, como toda escola, é um ambiente para se fazer amigos, eu concordo, no entanto, pessoas que não compactuam ideais são um pouco difíceis de se manter juntas.

"Está claro para mim que esse foi o caso. Eu nunca a vi jogando bexigas ou algo do tipo, assim como não vejo qualquer interesse nisso em Loreynne e Guilia. Não deveria ser esse o seu ciclo de amizade compatíveis?" Indagou.

— Mas... eu estava apresentando um novo ambiente à Murta. Por mais que tenha acabado mal, ela me pareceu muito interessada no jogo e, bom! Eu acredito que nós duas tenhamos uma amizade compatível — dou de ombros.

— Senhorita Antares, Elisabeth Warren é uma nascida-trouxa, qualquer coisa nova que lhe for apresentado será muito interessante. Basta, porém, que ela entenda o que se trata para que isso não seja mais de seu interesse. Eu sei! Também nasci trouxa, sabe? — Revelou, o rosto erguido e os dedos apertados no avental —, sei muito bem o que estou afirmando, eu mesma passei por tudo isso.

Quase posso descrever-me de queixo caído, então fechei a boca e engoli seco. A expressão no rosto bonito que Madame Vitally possuía, há se tornado ainda mais rude. Sobrancelhas retas, olhos em fenda e uma crispadura no músculo levantador do lábio superior.

— S-sim, senhora!

— Ótimo — disse, a voz muito séria. — Agradeço a ajuda. Já pode ir, senhorita Antares.

Madame Vitally balançou a varinha, e os lençóis escaparam de meus braços para pairarem o ar. Seguiam-na por onde quer que fosse, maca por maca, para revesti-las. Estendi a cortina novamente ao redor do leito e busquei dentro do baú os meus pertences, vestes de Hogwarts recém trazidas da lavanderia, e o par de calçados pretos. A varinha estava na gaveta do criado mudo, minha tiara, no entanto, em lugar algum.

— Madame Vitally, desculpe-me, mas a senhora sabe sobre a minha tiara?

— Tiara? — Virou-se sobre o ombro. — Oh, sim! Você usa a tiara que a sua avó lhe deu, não é? Mas não me lembro de estar usando tiara alguma quando chegou.

— Cheguei? Alguém me trouxe?

Madame Vitally acenou a cabeça, de costas, enquanto afofava um travesseiro.

Ele não, ele não. Por favor, não.

— O jovem Riddle a trouxe, pouco antes de o passeio a Hogsmeade ser encerrado. — Eu aperto os olhos, e um suspiro bochornoso me sobe, remanchando escapar a boca. — Que eu não seja estouvada, mas creio que não haverá mais retiros para lá nos finais de semana. Não este ano.

— E-eu agradeço!

— Não há de que, senhorita Antares.

Os corredores estão frios e bonançosos, os braços me agarram os ombros e, lá na frente, uma gargalhada supérflua vem crescendo, e vejo Pirraça cortando o corredor. Atirava bolas de neve com lama no chão, enquanto, um pouco atrás, seguia-o Dodger, a varinha em uma das mãos e a vassoura na outra.

— Agora eu te pego, seu poltergeist duma figa!

Fui até o salão Comunal, que achava-se razoavelmente vazio. Um e outro aluno aconchegados aos estofados, lendo, enquanto as meninas deveriam estar no pátio com Michell, eu supunha, e, Septima, com Guk na biblioteca. Desci as escadarias em espiral e atirei-me na cama. A torre estava álgida, e isso fazia meus braços se eriçarem por baixo da túnica. Aqueci-me com um banho vaporoso e encolhi-me no agasalho, antes de voltar ao quarto.

Há vozes ecoando da sala de convivência. Os alunos devem estar se preparando para o jantar, mas Loreynne, Septima e Guilia, nem sinal. As sobrancelhas estão franzidas involuntariamente e, ecoando em meus ouvidos, o sibilo que ouvi no saguão. Eu não tinha dúvidas. Era o mesmo sibilo da biblioteca. Tom estava fazendo aquilo enquanto saía a espreita pelos corredores. Mas, afinal, porque? Um suspiro me escapa e aperto os palmos contra os olhos. Um passo que eu dava para mais próximo dele, Tom afastava-se três para a frente.

Lancei a mão para debaixo do travesseiro e peguei o livro ali escondido. Quase o havia esquecido, até entrar por aquela porta. Os olhos afrontam o título adornado em prata e, assim que o abro, vou logo para as últimas páginas, procurando qualquer nota sobre o autor.


Oliver Salazar Slytherin

"Salazar Slytherin se foi, mas seus inúmeros preceitos ei de subsistir por toda uma eternidade. A magia tem de ser merecida, e há aqueles que não a merecem. Nesta breve biografia do mais astuto e determinado mestre em magia da história, venho, com minhas palavras, apresentar-lhes os conceitos incontestáveis de Salazar Slytherin — quem tenho o prazer de herdar o nome — sobre a ascendência puro-sangue."

Oliver Salazar Slytherin foi um bruxo irlandês puro-sangue, filho de Jacob e Allynna Slytherin (nascida Malfoy), e irmão mais novo de Anthony e Stephany Slytherin. Ele tinha apenas três anos quando ambos os irmãos iniciaram os estudos na escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, na casa Sonserina.

Aos onze anos, Oliver Salazar recusou a carta de aceitação de Hogwarts, para estudar magia em casa. Acredita-se que ele tenha sido o parente mais próximo de Salazar Slytherin, dado que os pais e os irmãos passaram a residir nos Estados Unidos após a formatura de Anthony e Stephany, deixando-o sobre a tutela do avô.

"Anthony e Stephany eram meus irmãos, mas não podiam se considerar como verdadeiros herdeiros de Slytherin. O meu avô tem um segredo. Um segredo que não confiou a nenhum dos dois, apenas a mim. Lembro-me que, quando ainda muito novo, ele me trancou em um quarto com uma serpente enorme durante toda a noite. Apareceu só no dia seguinte, e eu havia conhecido tanto sobre a serpente, que qualquer um poderia jurar que éramos parentes. Meu avô é minha égide, seus ensinamentos me moldaram e eu os levarei comigo para sempre. Somente eu sou o verdadeiro Herdeiro."


O compasso do coração está acelerado, aparentemente não adjacente ao raciocínio do autor. Engulo seco tentando ignorar os palmos que suam nas capas grossas e velhas do volume e sinto-me faminta; efervescente. As páginas parecem hipnotizar-me, um frenesi que não me permitia desviar os olhos do livro. O nascimento do grande mago e, também, detalhes sobre a criação do salão comunal, e uma lendária câmara construída abaixo da escola, cujo a entrada, inicialmente, seria através da lareira, onde aqueles que fossem merecedores da magia podiam desfrutar de ensinamentos únicos do próprio Slytherin.

O livro insistia incansavelmente em sua sabedoria superior, e não vedou de forma alguma o duelo que ocorreu entre ele e Godric Gryffindor, onde a amizade falou mais alto e, por sua tamanha consideração, Slytherin supostamente se deixou vencer. Abandonou a escola logo em seguida e, a câmara antes construída para mentorear — sem o consentimento dos demais fundadores, claro —, tornou-se o lar de seu monstro favorito. Sua finalidade: expurgar a escola de todos os indignos da magia, como já afirmado em Hogwarts, uma história.

Um conto de fadas, eu penso, não uma autobiografia. Balelas demasiado fantasiosas, entretanto, retém completamente a minha atenção.

Largar o livro e descer para o jantar fora uma grande agrura. Guilia e Loreynne tagarelando, aparentemente sobre um rapaz, e só vim a descobrir ser Brandon Visser, pois Murta ouviu Guk dizer a Septima que Brandon e Guilia foram vistos juntos em Hogsmeade, onde ele prometeu que o pomo de ouro que pegasse seria dedicado a ela, em seu primeiro jogo de Quadribol, quando fizesse sua estreia como agarrador da Corvinal. Loreynne enciumada, cônscia de que ele seria a causa do nosso time perder.

— Oh, Annellyze, fico feliz que esteja bem — cumprimentou-me Rúbeo, após o jantar, o sorriso vedado por baixo da barba.

— Obrigada, é bom estar bem — ele gargalhou fraquinho.

— Anne — chamou-me Jonnatha, que se aproximou aos trotes, afastando-se da roda de amigos —, estive preocupado com você. Fui até a ala hospitalar, mas Madame Vitally me disse que você já havia recebido alta.

— É... eu fui direto para o quarto.

— Claro — disse e balançou a cabeça —, você devia estar cansada. Saiu tão rápido ontem, que eu mal a vi. Poderia ter lhe trazido.

— Não se preocupe, John, eu realmente estou bem. — Jonnatha morde o lábio inferior, eu percebo, antes de assentir.

— Certo!

Os olhos hesitantes de Jonnatha parecem analisar-me, e uma envergadura há de lhe surgir acima das sobrancelhas. Avançou-se sobre mim e acariciou os meus cabelos, meu rosto queimando, fazendo-me jurar que estava corada.

— Esqueceu-se de sua tiara, foi? Acho que nunca a vi sem ela — observou, ele.

— É e-eu — engulo seco, — quis mudar.

Jonnatha gargalhou fraquinho.

— Até que não está mal, mas gosto de você com tiara.

— Er... e vocês dois, não foram atingidos por azaração alguma? — Mudo o assunto, e recuo para trás.

— Até fomos... — Jonnatha franziu o cenho — Marcos e eu fomos, ao menos, mas não era nada de complicado.

— Eu, por alguma sorte, fui completamente ignorado — diz Rúbeo —, deviam ter me confundido com algum ornato.

— Ou ficaram com medo de você — acrescentei aos risos.

— Eu não faria mal a uma mosca, Anne, mesmo que pousasse em minha sopa de ervilhas — defendeu-se.

— Eu tenho certeza disso, Rúbeo.

Murta juntou-se a nós e, os poucos minutos restantes, seguimos conversando, os quatro, até o horário de nos recolher. Em minha mente, a advertência de Madame Vitally ecoando, alertando-me sobre amizades compatíveis. Murta e Rúbeo eram, de alguma forma, semelhantes, pois ainda estavam descobrindo sua vocação. Jonnatha e eu, por outro lado, crescemos juntos. Não tínhamos uma risca perfeita de interesses em comum, mas nossos laços eram fortes. Quais as possibilidades de não serem o suficiente para sustentar a nossa amizade? Seríamos, ele e eu, incompatíveis?


Deixamos o Salão Comunal em direção ao quarto andar. As escadarias de mármore estão enfadonhamente agitadas esta manhã, e mal dão tempo para todos descer, já estão trocando novamente.

— Que ótimo — resmungou Loreynne, as sobrancelhas mergulhadas no eixo. — Vamos nos atrasar!

Atracamos de andar em andar, tentando uma forma de alcançar o corredor correto para a Sala F. As pernas de professor Binns eram fracas e lentas, mas se não nos apressássemos, não haveria jeito de chegar antes dele. Com uma dose extra de falta de atenção e sorte, alcançamos o terceiro andar, pouco antes de Loreynne saltar por cima do degrau do meio que desaparecia, e, distraída, Guilia disparou o caminho, certa de que não iria perder a aula. Acontece que a maçaneta que ela corrupiou pertencia à uma porta falsa e, por muito pouco, ela não despencou para uma queda sem fim. Pirraça guinchou de rir pelos ares, e Loreynne e eu agarramos Guilia pelos braços, escoltando-a de volta às escadarias.

Loreynne acabara de convencer Hepzibah a ceder seu lugar — ao lado de Michell — a ela, quando o velho Binns adentrou pela porta. A coluna curvada, os joelhos trêmulos e os olhos murchos. Pousou a maleta de couro sobre a mesa e encolheu-se na poltrona atrás desta. Hepzibah recolheu o material e dera uns três passos até mim.

— Procurem se sentar, e fechem já a boca — disse, a voz muito seca e asmática.

— Alô, Anne!

— Olá, Hebe — cumprimentamo-nos em um sussurro.

Professor Binns abriu seus apontamentos e começou a ler num tom monótono como um aspirador de pó velho, até que quase todos os alunos na sala caíram num estupor profundo, de que emergiam ocasionalmente o tempo suficiente de copiar um nome ou uma data e, em seguida, tornavam a adormecer. Loreynne e Michell estavam deitadas sobre os braços, falando algo baixinho, enquanto Guilia e Brandon trocavam um pequeno pedaço de pergaminho, passando, antes, para Katty, que estava entre eles.

— ...as duas divindades adoradas pelos seguidores da religião Wicca são: Cornífero, Deus de Chifres — explicou, fazendo um desenho do sol no quadro negro, — e Tríplice, a Deusa Mãe — fez, por fim, um desenho da lua.

Para fechar o assunto, professor Binns mandou fazer um trabalho de trinta e sete centímetros sobre a Cultura Celta. Hebe abrira a boca de sono, quando a sineta tocou finalmente. O cotovelo de Guk deslizou a mesa, e Septima levantou-se abruptamente, como se acordasse de um pesadelo.

— Urgh! — resmungou Michell. — Já não aguento mais as aulas de História da Magia.

— Pois eu aguentaria mais meia hora tranquilamente — retrucou Katty. — Temos Herbologia agora — as pernas de Michell travaram. — Com a Sonserina — completou.

— Esquece! — sobressaltou-se, Michell —, vou voltar para o professor Binns.

Loreynne gargalhou fraquinho e Hepzibah entrelaçou Michell pelos braços.

— Ah, não seja assim! Adoro as aulas de Madame Flowers.

— Hebe, não é possível que estejamos falando da mesma professora.

— Anne gosta também, não gosta? — Eu dou de ombros, encabulada.

— Quando não está gritando.

— Você quer dizer quando ela está dormindo, certo? — Brincou Michell, e as meninas gargalham; um riso soprado me escapa. — Ela está sempre gritando, deve gritar nos sonhos também, as plantas não gostam dela.

— Pois bem! — intervenho —, é melhor vocês descerem, e nós temos de subir.

— Merlin que nos dê paciência para aturar Trelawney falando no nosso ouvido — pediu Loreynne em tom zombeteiro.

O sol já estava baixo, no horizonte, quando deixamos a sala de Transfiguração e disparamos o saguão até as escadarias para o segundo andar. A professora Castspell estava em sua sala quando chegamos, e amarrava as cortinas de modo que as janelas pudessem trazer luz à sala. Assim que o primeiro aluno da Sonserina adentrou, ela retirou o chapéu cônico para nos cumprimentar, e curvou a biqueira contornada de preto e pincelada em roxo. Balançou a varinha em direção ao quadro-negro e o giz começou a riscar.

— Boa tarde, crianças — cumprimentou-nos com gracejo e dirigiu-se até a mesa, onde se sentou ignorando a poltrona. — Continuando nosso ano dos feitiços de cura, formem suas duplas e abram os pergaminhos. Eu não quero ver nem um borrão de tinta, estão me ouvindo, rapazes?

Fredderyc, que acabara de sentar-se ao lado de Malwina, resmungou e a visão desta rindo me foi vedada, quando uma silhueta alta me cortou à frente, antes do indivíduo sentar-se ao meu lado.

— Tom... — cumprimento-o com um sotaque arrastado.

— Antares — devolveu minimamente animado. — Há algo de diferente em você hoje, tenho certeza. Que será que está faltando? — Comentou, e meus olhos se cerraram sobre ele. Tom sorriu fechado.

Um corpo humano e suas anatomias preenche o quadro, quando o giz parou e repousou sobre o rodapé da lousa. Professora Castspell balança as pernas penduradas, vagando os olhos miúdos e muito pretos por todos nós.

— Muito bem! — disse e saltou, da mesa para o chão. — Podemos começar? Larguem as penas e fechem os tinteiros, eu não quero ter de explicar uma segunda vez.

"Ainda tratando de cortes, escoriações ou os famosos ralados, que são os mais simples e típicos tipos de machucados, primeiro, é necessário estancar o sangramento — por menor que seja — e limpá-lo depois. Quero um exemplo. Vocês têm trinta segundos."

Bezoar? — Sugeriu Lavigna.

— Não! Vinte e oito... vinte e sete...

Apimentosa! — Disse Brandon, e a professora Castspell balançou a cabeça.

— Vinte e quatro, vinte e três...

Anestecsi!

— Isso é anestesia. Dezenove, dezoito...

— Poção Limpa-Ferida­ — Malwina deu de ombros.

— Dez pontos para Sonserina. — O indicador de professora Castspell a apontou, mas a contagem não encerrou. — Que mais? Quinze, quatorze...

Wiggenweld? — palpitou Guilia.

— Isso não tem nada a ver, é outro assunto. Onze, dez, nove...

Targeo! — diz Loreynne, os braços cruzados de indiferença e a sobrancelha arqueada para Guilia.

— Dez pontos para a Corvinal. — Disse, e apontou para a dupla. — Depois de todo esse processo, então é utilizado o feitiço de cicatrização ou, se for o caso, a bandagem final. Todos se lembram do feitiço?

"Asclépio", disse a sala em couro e professora Castspell acenou com a cabeça.

— Muito bom! Aprendemos na aula anterior, afinal. Para fazer um curativo, todavia, é necessário já ter as bandagens. Como Madame Vitally se recusou a nos emprestar algumas — ela riu soprado —, vamos fazê-las. Digam "Ferula".

Ferula. — Todos dizem.

— Ótimo! Esse feitiço serve para, como já devem pressupor, conjurar ataduras e bandagens. Visualizem bem. Não há como não conseguir de primeira. Depois disso, basta dizer "Doaid" e o curativo se fará sozinho instantaneamente. — Explicou.

"Informações adicionais. Anotem: é necessário examinar o tamanho do ferimento e a vítima, caso o contrário, pode o curativo ficar muito frouxo ou muito apertado, o que é perigoso. Há uma pequena chance de amarrar as veias ou causar um ferimento ainda pior, então, se não quiserem mandar um colega de vocês, daqui, direto para a ala hospitalar, é melhor prestarem muita atenção", ditou. "Ah, essa última parte não precisa anotar".

Professora Castspell recostou-se a mesa e aguardou mais alguns instantes. Penas ainda esvoaçavam nas mãos de alguns colegas, quando ela juntou os palmos de animação, produzindo um vasto som oco, e exaltou:

— Ótimo, quem quer demonstrar? Senhorita Pewehall e senhorita Pentagron, que tal vocês? — Aproximou-se das duas. — Como eu presumo que você já saiba, pode fazer primeiro para demonstrar?

Loreynne acenou com a cabeça e pigarreou.

Ferula! — Apontou a varinha na mesa e as bandagens surgiram. Apontou o braço que Guilia havia afastado a manga da túnica e disse: — Doaid!

As tiras o enlaçaram e as fitas selaram, um curativo perfeito e sem erros.

— Magnífico! — Elogiou, a professora Castspell. — Senhorita Pentagron agora.

Guilia pegou a varinha e Loreynne afastou a manga.

Ferula! — Nada aconteceu. Ela pigarreou. — Ferula!

— Visualize, senhorita Pentagron.

Ferula! — Insistiu. — Ferula! Ferula!

O rosto de Guilia já estava rubro, quando um tique nervoso se impregnou na ponta dos lábios de Loreynne. Ela engoliu seco, eu percebo, e, escorregando os braços para baixo da mesa, procuro pela minha varinha. Guilia, a essa altura, esgoelava-se tentando conjurar o feitiço, e professora Castspell tomou distância. Os olhos arregalados, no entanto, ainda pareciam minúsculos. Discretamente, tento um manuseio junto de Guilia e, quando feito, escondo a varinha dentro da túnica. Riddle se vira instantaneamente, e eu abaixo a cabeça, de forma a esconder-me de seus olhos acusativos.

Ferula! — Sussurrei junto de Guilia e as bandagens apareceram na mesa, entre ela e eu. Professora Castspell suspirou de alivio.

— Bem, até que enfim! Pensei que fosse arrancar um olho de alguém — repreendeu-a Loreynne, as narinas bufantes como um Rabo-Córneo Húngaro. Restara soltar fogo da boca.

— Prossiga, senhorita Pentagron.

Guilia pigarreou.

Doaid!

As tiras agarram-se ao braço demasiado branco, porém, as fitas, ao ameaçarem selar o curativo, foram interrompidas pelo berro que Loreynne soltou.

— É só para enrolar, não é para esmagar — disse entredentes, e recolheu-se.

— Eu sinto muito!

— Bem, como eu disse, prestem atenção no tamanho do braço da vítima. Está vendo? Loreynne tem o braço fino, mas não tanto. Não precisa apertar mais do que o suficiente, é um curativo, afinal — pontuou, a professora Castspell. — Continuem treinando. Vejamos, senhor Riddle e senhorita Antares.

Retirei a mão com a varinha da túnica e arqueei a manga. Tom apontou-me sua varinha, e o processo fora notoriamente rápido.

Ferula! Doaid!

— Perfeito! Senhorita Antares?

Ferula! Doaid!

— Esplendido! Vou dar mais dez pontos para a Sonserina e dez pontos para a Corvinal. — Disse e prosseguiu. — Senhor Avery e senhor Rosier. Admirável! Senhor Greengrass e senhor Lestrange. Excepcional...

A última aula tem fim, e professora Castspell balançou a varinha, mandando ao apagador que trabalhe. Tom juntou o material e saiu tão rápido, que quando o vi, já estava ultrapassando a porta com Baltazar e Lavigna. Há um livro a mais, no entanto, com meu material. Os alunos já saíram, todos, e restara apenas Loreynne e Guilia, que seguravam uma pequena fila atravancada pela minha cadeira.

— Anda logo, Annellyze, está colada aí?

— Estou indo.

Seguimos os colegas de Comunal e, Drogo, que abrira a porta, fez o favor de mantê-la assim para adentrarmos. Loreynne despejou-se sobre um sofá, atirando os livros no criado-mudo, e Guilia, por sua vez, propeliu-se para o banheiro. Eu tomo uma das cadeiras e deixo os livros empilhados no chão, ao meu lado. Curiosa, analiso o livro de capa preta quando percebo, em dourado, a gravura T. S. Riddle. Eu o abro. A primeira página indica que é primeiro de janeiro e, logo adiante, um pequeno texto escrito com tinta em uma caligrafia cursiva e bonita.

"Este, há de ser um novo ano"...

Leio e fecho-o depressa. Não era um livro de estudos coisa alguma, mas sim um diário. O diário de Tom Riddle. Apertei-o contra o peito e chequei de um lado ao outro. Os poucos alunos ali estavam distraídos e, adentrando a porta, outra turma acabara de chegar. Recupero meus livros do chão e deixo a poltrona. Esgueiro-me pelas escadarias e despejei os livros para dentro do baú, possivelmente, a primeira vez que a bagunça não me incomodara. Atirei-me na cama e debrucei-me sobre o diário. Os olhos se dirigem a porta do banheiro, de onde pequenas nuvens de vapor fumegam das vigas e mordo o lábio inferior. Não posso ler, não posso ler, insiste minha consciência. Talvez, só uma página, intervém a inconveniência. Eu engulo seco e, com a ponta das unhas, abro o diário cautelosamente. Não queria bisbilhotar, todavia, quem sabe, aqui estaria a informação necessária para entender quem era Tom Riddle. Algo em mim implorava para o conhecer.

... "tudo mudara desde que recebi a visita de Dumbledore no orfanato Wool. Sempre soube que era diferente, mas até então, não imaginava quão vultoso poderia ser isso. Descobrir ser um bruxo deu um novo significado a minha vida, uma pequena oportunidade de ser o melhor, e eu não a deixaria escapar de forma alguma."

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