O que começa mal
Logo após Túlio ter me mandado mensagem a noite, eu me joguei na cama, e fiquei por algum tempo com a cara no travesseiro me sentindo uma idiota por ter achado que era alguém especial na vida dele. Ledo engano! Ele tinha outras amigas, e eu me achando a única. Peguei meu celular e o desliguei, e fiquei ali deitada encarando o teto escuro, talvez fosse melhor eu me afastar de Túlio e dos sentimentos que sem querer alimentei por ele, e continuar sozinha como já estava a longos meses.
- Quando é que você vai amadurecer Sarah? Perguntei a mim mesmo.
- Tudo bem... Vai passar, e você nem está sentindo a falta dele! Falei alto tentando me convencer. Mas não adiantava, meu próprio corpo zombava de mim denunciando a minha carência e desejo de que ele estivesse ali comigo e foi assim que tive uma noite péssima e acordei com um humor horrível. Se na segunda feira meus colegas trabalharam com uma Sarah espontânea, bem vestida, e maquiada, na terça eles encontraram a mesma Sarah com seu uniforme habitual, cabelo num rabo de cavalo e o rosto lavado sem nenhum batom, o que combinou com o dia horrível que tive.
Mais tarde ao ligar meu celular para entrar em contato com Vanessa e saber se já teríamos aula naquela noite me deparei com mensagens de Túlio no Whatsapp.
-Oi Sarah.
-Cadê você?
-Estou te ligando, mas seu celular está fora de área.
Fitei-as por alguns segundos e enquanto pensava no que responder, ele mandou outra:
-Ah aí está você. Está tudo bem?
Suspirei.
-Oi Túlio. Estou bem sim. Pois é desliguei o celular ontem, estava ocupada.
- Está certo! Posso te ver hoje?
- Não! Eu vou pra faculdade.
- Nem depois de que você voltar?
- Não dá. Eu vou demorar!
Depois de alguns segundos ele respondeu:
- Poxa, entendo. Tudo bem!
Fiquei por vários segundos tentada a voltar atrás. Mas meu orgulho falou mais alto. Mais tarde já na faculdade, Vanessa estava determinada a mudar meu humor.
- O que a minha amiga mais linda tem?
- Nada!
- Como nada? E essa cara de bunda?
- Não é da sua conta!
- Aaai que ofensa! Só estou preocupada. Ela respondeu fazendo bico.
- Só quero ficar quieta e que essa aula chata acabe logo.
- E esse mal humor se deve a que?
- Aos seus conselhos doidos...
- Como assim Sarah?
Suspirei e afundei mais ainda na cadeira.
- Me conte o que aconteceu! Ela insistiu.
- Acho que estou criando expectativas furadas. Mas eu não quero entrar em detalhes sobre isso agora.
Ela se chegou até mim e eu me deixei ser abraçada encostando minha cabeça em seu ombro.
- Sabe acho que tô doente.
- O que tá sentindo? Ela pareceu preocupada.
- Sei lá! Sinto moleza, sensibilidade, e parece que por dentro meu corpo queima em febre...
Ela passou a mão em minha testa e pensou um pouco:
- Seria TPM?
- Tenho certeza que não!
- Então amiga, isso é falta de
- Vanessa! lhe interrompi.
- Amiga... Você está carente! Ela respondeu divertindo-se e abraçando outra vez. - E o remédio é Túlio!!! Ela completou decisiva.
Bufei.
As horas se arrastaram na faculdade. Quando cheguei em casa joguei minhas coisas no sofá, tomei banho, vesti um pijama quase infantil e me joguei outra vez na cama pensando em tudo o que havia acontecido, as palavras de Vanessa vinham em minha mente: Você está carente e o remédio é Túlio. É... Ela tinha razão, o meu corpo todo pedia por ele, mas a essa altura, ele já devia estar nos braços de outra mulher. Como se meus pensamentos os chamassem ele mandou uma mensagem:
-Oi... Você está aí!
- Oi. Sim. Tô indo dormir. Boa noite!
- Sarah espere. Preciso te perguntar algo.
- Pergunte.
- Está chateada comigo não é mesmo?
Suspirei ante a pergunta. E agora?
- Não estou.
- Ora é óbvio que está! Souu seu melhor amigo, não sou? Eu conheço você e sei que está brava.
Pensei por alguns segundos, e digitei:
- Sim. Você é meu melhor amigo! E eu estou chateada. Mas não se trata apenas de você. Ontem eu encontrei Henrique e tive que ouvir um discurso barato no meio da rua.
- O que? Encontrou Henrique?
- Sim, acho que ele me seguiu, falou um monte de abobrinhas e disse que hoje iria embora do país. Mas isso não foi o pior.
- Ah não? E o que foi pior?
Tremi na base, mas segui adiante.
- O pior foi que eu me apaixonei pelo meu melhor amigo e me iludi achando que ele estava correspondendo isso. Mas vi que viajei feio na maionese, pois ontem ao invés de vir me ver ele foi ver uma outra amiga dele, e cá estou me prestando ao ridículo papel de expor tudo através dessa mensagem para acabar de vez com os farelos da minha dignidade. Agora fique a vontade para rir de mim.
Enviei a mensagem e fechei os olhos jogando o celular para o lado.
- O que fiz Já está feito! Agora é só morrer de vergonha dele daqui até a eternidade. Pensei com o coração aos pulos e os olhos fechados.
O celular vibrou e eu estendi as mãos para apanha-lo, destravei a tela e só então abri os olhos.
- Sim! Eu estou rindo muito. Meu coração gelou e em seguida ele completou:
- Por dois motivos: Estou todo bobo porque a moça por quem sou apaixonado acabou de se declarar para mim e segundo porque a amiga a quem me referi ontem se trata da minha vizinha idosa de 70 anos que sofreu um acidente doméstico. E se a moça tiver alguma dúvida quanto a minha palavra lhe convido a visita- la junto comigo. A essa altura meu coração já estava derretido e as lágrimas já desciam pelo meu rosto.
- Abre essa porta pra mim Sarah. Eu estou em frente ao seu prédio e estou subindo.
Fiquei ali paralisada lendo e relendo aquela última mensagem.
- Ele está aqui! Ele já estava aqui enquanto trocávamos mensagens. Eu preciso trocar essa roupa e... Enquanto pensava alto, a campainha tocou, respirei fundo e fui atender do jeito que estava.
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