#05- Nascimento de Afrodite
Subitamente, o mar agitou-se em um espetáculo que parecia envolver todo o cosmos. Ali, onde haviam mergulhado os testículos de Urano, próximo à ilha de Cipros, o oceano deu sinais de uma inquieta criação. Durante toda a noite, as águas revolviam-se violentamente, em um movimento incessante, como se as profundezas fossem tomadas por uma força primordial. Grandes ondas subiam ao alto, lançando espumas brancas e cintilantes aos ventos, enquanto a Noite recolhia seu vasto manto estrelado. Foi apenas com a chegada de Éos, a Aurora, tingindo o céu com seus dedos cor-de-rosa, que a verdadeira magnitude da transformação se revelou.
As águas, antes tumultuadas, assumiram uma serenidade mística, mas ainda carregavam a promessa de algo grandioso. Das margens de Cipros, Ninfas se reuniam, apontando para o trecho mais agitado do mar com um misto de temor e fascínio. "Tálassa está prestes a parir", sussurravam entre si.
Quando Hélios, o Sol, lançou seus primeiros raios dourados sobre a superfície azulada, o borbulhar das espumas cessou abruptamente, e um silêncio sobrenatural tomou conta do ambiente. Era como se o mundo contivesse a respiração diante do milagre que estava por surgir. Uma fragrância única, como jamais fora sentida, invadiu o ar. Era doce, mas não enjoativa; discreta, mas inesquecivelmente marcante. A brisa que vinha do alto-mar carregava consigo a promessa de algo divino.
De repente, das águas agora tranquilas, que mais pareciam um espelho celestial, ergueu-se uma figura singular. Primeiramente, revelou-se um rosto de perfeição incomparável. Seus traços combinavam suavidade e força, com curvas delicadas onde a beleza exigia suavidade, e linhas afiadas onde a audácia pedia imponência. Era o rosto de uma deusa, uma criação que transcendia qualquer compreensão terrena. Seu olhar, mesmo ainda fechado, irradiava uma força que parecia conter o segredo do amor e do desejo.
À medida que emergia, as Ninfas, nas margens, não conseguiam conter a admiração. Ombros lisos e perfeitamente simétricos surgiram, seguidos pelos seios, de uma harmonia que apenas os deuses poderiam conceber. Sua cintura sinuosa parecia moldada pelas próprias mãos de Gaia, e o umbigo, um pequeno ponto de perfeição em seu ventre, carregava a graça de um delicado pingente. Mais abaixo, um véu triangular dourado, formado por fios etéreos, agitava-se com a brisa matinal, realçando sua figura divina.
Quando seu corpo completou a ascensão, aves marinhas, como se obedecessem a um chamado ancestral, aproximaram-se, trazendo uma concha imensa. Ela a depositou suavemente ao lado da deusa, criando um trono aquático para que ela se assentasse. O mar se encheu de vida; peixes saltavam em um bailado festivo, e golfinhos, em um ato de reverência, puxaram o carro da deusa em direção às areias de Cipros. Era como se toda a fauna marinha estivesse celebrando o nascimento daquela que traria beleza e amor ao mundo.
Quando seus pés tocaram a areia da ilha, uma metamorfose instantânea ocorreu. Cipros, antes apenas uma ilha entre tantas, tornou-se um jardim dos deuses. Campos inteiros verdejaram, e flores de todas as cores e aromas brotaram sob os passos da deusa. Aves cantaram melodias nunca ouvidas, e os animais selvagens aproximaram-se para receber seu toque gentil. A própria Natureza parecia rejubilar-se com a presença daquela figura divina.
As Ninfas, que haviam observado tudo em profundo silêncio, finalmente ousaram aproximar-se. "Quem és tu?", perguntaram, extasiadas pela beleza inumana da recém-chegada. Foi então que uma voz poderosa ecoou dos céus. Era Urano, cuja dor havia dado origem àquela deusa incomparável. "Ela é Afrodite", proclamou. "Minha filha, nascida do sofrimento, mas destinada a converter o pranto em luz e o caos em amor. Ela é a deusa do Amor e da Beleza, o dom supremo aos mortais e imortais."
Afrodite, com seu olhar agora aberto, deixou transparecer o brilho de sua essência divina. Sua presença trouxe à Terra um dom que nenhum outro ser poderia oferecer: a capacidade de amar, de encontrar beleza na criação e de transformar dor em algo sublime. Assim, nascia a deusa que mudaria para sempre o destino do mundo, unindo corações e entrelaçando vidas na eterna busca pelo amor.
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