#02- O Senhor do Universo
Depois que o Caos iniciou a formação do mundo, surgiu Gaia, a Mãe-Terra, como a primeira entidade sólida e tangível da criação. Gaia, repleta de poder e criatividade, decidiu criar algo grandioso e belo, que pudesse protegê-la e servir como elo entre as divindades, garantindo a continuidade das gerações futuras. Assim, enquanto dormia, ela gerou Urano, o Céu Estrelado, a mais magnífica de suas criações.
Quando Urano nasceu, ele contemplou Gaia carinhosamente de cima e, em um gesto de união, derramou uma chuva fértil sobre as fendas da terra. Dessa união simbólica, surgiram a relva, as flores e as árvores que adornaram o mundo. Ao abrir os olhos, Gaia viu que, acima dela, o Firmamento se expandia pela eternidade. Era Urano, o Céu, sua criação, sua contraparte e irmão natural.
Não satisfeita com a criação de Urano, Gaia também deu origem a Ponto, o deus primordial do Mar, e às Óreas, as majestosas Montanhas. Dentre todos os filhos gerados a partir do Ovo Primordial, Urano destacou-se como o deus maior, o mais poderoso e o primeiro soberano do Cosmos. Seu domínio era absoluto sobre tudo que existia, mas, mesmo no auge de seu poder, havia algo que todos temiam: o sombrio Móros, o Destino Adverso, nascido de Nix, a Noite.
Móros não tinha forma definida nem gênero e simbolizava a inescapável força do destino que pairava sobre todos, deuses e mortais. Chamado também de Aisa, era visto como a grande reguladora da vida, distribuindo a cada ser o seu quinhão, independente de mérito ou desejo. Por ser indefinível e imutável, Móros jamais foi personificado, habitando nas profundezas do Orco, a morada subterrânea dos mortos, na mais absoluta escuridão.
Nix, a Noite Primordial, também deu origem a uma vasta descendência, conhecida como os Filhos da Noite, que representavam conceitos abstratos e forças indomáveis. Entre eles estavam Tânatos a morte, Hypnos o sono, Aerumna a aflição, os Oneiros legião de sonhos, Momos o escárnio, Oizus a miséria, Nêmesis a vingança, justiça e equilíbrio, Apáte o engano e a fraude, Filotes a amizade, Geras a velhice, Lissa a loucura, Dolor a malícia, Ftono a inveja, Éris a discórdia, Epífron o que reflete sobre acontecimentos, Hipocrisia o fingimento, Ácis a desgraça, Hybris a arrogância, Leza a fúria, Epífrone a prudência, Autos o egoísmo, Sigê o silêncio, Caronte o barqueiro do mundo dos mortos, e as Queres, divindades terríveis associadas à morte violenta. As Queres eram tão temidas que seus nomes raramente eram pronunciados, pois invocá-las significava trazer destruição.
Além disso, Nix gerou as Hespérides, ninfas do poente, que iluminavam ao entardecer e viviam em um jardim além do Oceano. Chamavam-se Egle, Erítia e Héspere, mais tarde substituídas por sete belas deusas, igualmente chamadas de Hespérides, filhas do gigante Átlas. As deusas Hespérides passeavam pelos céus encarregadas de iluminar todo o mundo com a luz da tarde. Juntas, as forças de Hemera (o Dia), as Hespérides (o Entardecer) e Nix (a Noite) completavam o ciclo diário, mantendo a harmonia no Cosmos.
Os filhos de Nix eram a hierarquia em poder para os deuses, e sua maioria eram divindades que habitavam o mundo subterrâneo e representava forças indomáveis e que nenhum outro deus poderia conter. Tudo quanto havia de doloroso na vida dizia-se ser obra de Nix. A maior parte dos outros descendentes de Nix que são apenas conceitos e abstração personificados e sua importância nos mitos é muito variável.
Com seus filhos, Nix formou a sua Corte Noturna, no Orco, mas construiu seu palácio na Esméria, no Extremo Oeste do mundo. Os demônios, seus filhos, se ocultavam durante o dia, mas quando o Sol se punha, saíam para dominar a superfície da Terra. Quanto às Queres, deusas ou demônios terríveis, que saíam para rasgar as carnes dos cadáveres, seus nomes passariam a não ser pronunciados para jamais serem invocadas; eram Anaplekte (a Morte dolorosa), Akhlys (a Ânsia de morte), Nosos (a Doença), Ker (a Destruição) e Stygere (o Ódio).
Por sua vez, Éter e Hemera, os filhos da Escuridão e da Noite, uniram-se e geraram Ergo, o Trabalho, Aletéa, a Verdade, Crísis, a Credulidade e a Inocência.
Urano, percebendo a magnificência do Cosmo em expansão, envolveu Gaia com seu manto estrelado, cobrindo-a de uma extremidade à outra. Ele criou para si um trono de ouro, sustentado por nuvens multicoloridas, de onde governava o universo. Seu domínio era soberano, e sua presença inspirava respeito e temor em todas as divindades.
Enquanto isso, Tártaro, a personificação do abismo profundo, ressentia-se da hegemonia de Urano. Pressionado pelo crescente poder do Céu, Tártaro foi relegado ao Orco, onde se tornou parte integrante desse domínio subterrâneo. O Orco, então, foi dividido em duas regiões: Érebo, o lugar das trevas que envolvem o mundo, e o próprio Tártaro, destinado a abrigar os criminosos e desarmoniosos do Cosmos.
No Tártaro, Gaia deu origem à terrível Campê, uma figura monstruosa encarregada de vigiar os prisioneiros divinos. Com seu poder, Gaia também se uniu a Ponto e trouxe ao mundo várias divindades marinhas, incluindo Nereu, o Velho do Mar, conhecido por sua sabedoria e habilidade em profecias. Além dele, Ponto e Gaia também tiveram Fórcis, Ceto, Taumante e Euríbia, todas divindades marinhas.
Nereu tem o seu reino que é o Mediterrâneo, e mais particularmente o Egeu. É conhecido por suas virtudes e sua sabedoria. Tem o dom da profecia e, como outras divindades, pode mudar de aparência. Nereu é representado em obras de arte, assim como outros deuses dos mares, com um tridente e algas, que representam o seu cabelo e a sua barba.
Urano, no auge de sua soberania, consolidou sua posição como Senhor do Universo. Porém, seu reinado também marcou o início de tensões e conflitos entre as divindades primordiais, que culminariam em eventos decisivos para a formação da mitologia grega e do próprio destino dos deuses. Assim, a história de Urano não é apenas sobre a criação, mas também sobre o poder, os desafios da eternidade e o equilíbrio instável do Cosmos.
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