Volume 2 - Capítulo 4
- Floss?
- Isso, meu bebê. O nome dele é "Floss". Referenciando passar fio dental nos dentes. Poderia ser um lobisomem? Um vampiro? E por isso precisa "floss" seus dentes após suas refeições? Que aprazível, não? Seja como for... É o que vamos ficar sabendo. Por favor, meu bebê: me alcance meu one piece verde.
Abro o armário alheado, sem saber ao certo onde procurar.
- Na parte debaixo, bebê.
- Este?
- Não. Aquele. – Minha senhora aponta para o local correto. Tomo-o em minhas mãos.
- Estou tão excitada hoje. Curioso, não? Nunca pensei que o simples fato de me encontrar com o império de Verde fosse o suficiente para me fazer sentir assim!! Talvez porque esteja me expondo desafiadamente para o líder mafioso o qual mais infortunamos no último mês? Pobre Verde... Deixando-se enganar desse jeito. Primeiro por nós depois por Wilkinson.
- Também fomos enganados por Wilkinson, minha senhora.
- Detalhes... Detalhes... – Minha senhora gesticula desdenhadamente sua mão direita.
- E depois pelo DCAE.
- Não me lembre disso! O que acha? Fica bem em mim?
Minha senhora segura a peça contra o corpo em frente ao espelho, de maneira a ter apenas uma ideia.
- Todas as peças lhe caem celebremente, minha senhora! Apenas temo por esta peça deixar transparecer parte de suas asas evidentes para o público geral.
- Muito pequeno nas costas, hm? Sendo assim... Me alcance aquele outro.
Minha senhora novamente aponta para o local designado no armário, que se encontra ainda aberto, deixando a veste que segura ceder sobre a cama.
- Preferia que minha senhora me desse a oport-
- Minha senhora não, Jarbas. A partir de agora me chame de Kelly! Kelly Apple! É o nome que estou usando. Cayme já não é mais. Agora é Kelly!
- Minha senh..
Lança-me o mais incisivo dos olhares.
- K... Kelly... Atesto que prefiro que deixe o trabalho com minha pessoa. Não há necessidade de uma líder encontrar-se pessoalmente com subordinados.
- Recuso! – Ela toma a peça de minhas mãos de maneira episódica – É imprescindível que seja eu. Não se trata apenas do encontro com Floss mas também os acontecimentos do domingo em si. O mesmo que for hoje deverá ir no domingo. Se eu tivesse deixado esse trabalho com você era você quem teria que se encontrar e fazer as honras a Wilkinson no domingo, entende?
- Este senhor é tão perigoso quanto antecipa?
Minha senhora simula sorriso jocoso.
- É certamente perigoso para aqueles que saem perdendo lutas diretas contra qualquer tenente bigodudo do DCAE por aí.
Apesar de ser verdade aquela brincadeira era usada de forma descomedida nos últimos dias. Minha senhora adenda:
- ...No mais... Eu quero ver o velho Wilkinson com meus próprios olhos novamente. Já faz tanto tempo... – Cayme está a trocar-se virada para o espelho. Pela imagem consigo vê-la lamber os vermelhos lábios brevemente.
- Wilkinson irá pessoalmente? Estás certa que não enviará inferiores?
- Walter Gunman... É uma figura importante, Shinobi. Acha que o pouco que fazemos aqui em Sproustown é grande coisa? Esse homem tem conexões com facções de tráfico em escala nacional. É claro que Wilkinson se encontrará pessoalmente. O que acha agora? – Ela pergunta sobre sua nova peça.
- Impecável, minha senhora.
- Ah? Mesmo? Quanta gentileza! Ter você para opinar sobre as roupas é o sonho de toda mulher, Shinobi. Seja como for... Você tem razão parcial nesta questão: Wilkinson enviará sim inferiores. Exceto que adicionalmente irá pessoalmente. Haverá Wilkison e Wilkinsonlings. Por isso estou cuidando do trabalho. Afinal seria uma desfeita não ir pessoalmente em encontro de dimensão tão exacerbada, não acha?
Minha senhora está indo neste encontro com primária intenção de sabotá-lo, entretanto. Ainda penso que tal conduta não impende a um líder. Contudo considerando sua motivação pessoal é de se inferir que nada a fará permutar de ideia. Resolvo não levar a discussão adiante.
- E além do mais... Haverá mais caráteres ilustres presenteando-nos com sua presença no domingo.
- Caráteres ilustres? Quem seriam?
- Estou esperando pelo menos o DCAE. Mas pode ser que o DEA também apareça.
- A polícia!? Minha senhora, isso não é perigoso?
- Claro que é perigoso, Shinobi! Por que acha que estou tão entusiasmada para ir?
- E como sabes? Por que a polícia apareceria num encontro entre um parlamentar e um homem de negócios?
Minha senhora sorri-se, levando as unhas rosas aos lábios de maneira leviana.
- Ora se não somos desinformados. Por acaso não sabe quem apareceu hoje de manhã no prédio do DCAE?
- Quem?
- Patrick Gray!
Permaneço inquietantemente quieto. Patrick Gray é ser paranormal condenado. Agora minha senhora afirma que ele estava no prédio do DCAE? O que houve? Foi solto? Fugiu-se? Atacou os agentes como que da outra vez? Não... Teria aparecido nos jornais. O fato de eu nada ter ficado sabendo indica que a visita ocorreu de forma mansa. Ou seja: ou ele terminou de cumprir a pena de seus crimes ou está a negociar delação. Considerando a gravidade de seus crimes desacredito na primeira, portanto há de ser a segunda.
- Entendeu...? – Pergunta minha senhora, encarando-me cismadamente.
- Mas... O que tem Gray a delatar? Por acaso não está preso por mais de dez anos!? Obteria tal pessoa informações sigilosas estando preso?
- Vejo que você olha baixo para Gray. Ele pode ser um paranormal fraco. Tão fraco que se deixou capturar... Mas sua malícia não é de ser subestimada. É só um palpite, mas eu acho que... Ele tem informações relevantes sobre Silverbay. Ele conhece as laranjas podres daquele lugar. Se me lembro bem srta Harmon, a comandante atual, estava à procura de informações nesse sentido.
- Silverbay? – Levo meu corpo a sentar ao pé da cama – O que acontece em Silverbay?
- Shinobi... Não acha muito esquisito que Walter Gunman... O político renomado que irá se encontrar conosco contra a vontade no domingo... Seja do mesmo partido que concedeu ao departamento de causas especiais de Silverbay cinco novas vagas de agentes? Que coincidência feliz, não?
- Acha que eles fazem vista grossa aos casos paranormais correlatos à mafia de Deluxes?
Minha senhora dá de ombros.
- Quem sabe... Casos de zumbis que roubam joalherias... De atentados de latrocínio em residências... De monstros isolados que atacam pessoas... Todos esses são resolvidos num instante. Mas quando a pequena cápsula luxuosa está envolvida de repente tudo fica nebuloso, não é mesmo?
Entendo...
- Gostaria de saber como minha senhora faz para obter tais informações de maneira tão lépida.
- Ora, já não te disse? São os contatos! Cada qual tem seu modo de obter informações. Wilkinson, Verde e Dragão têm. Por que eu não haveria de ter? Se eu ficar para trás nunca conseguirei atingir meu objetivo de monopolizar as vendas. Falando em ficar para trás... Temos que tomar cuidado com Verde. Os meios com que ele intercepta informações podem ser um tanto problemáticos.
- Mas a agente que namorava Richard Galloway já não terminou com o mesmo? Em meu modesto saber era este que carregava um dispositivo pelo qual Verde espionava as intenções do departamento...?
- Isto está certo, mas Verde não tem só um meio de espionagem. No submundo é preciso ter todo tipo de espionagem. Quanto mais melhor.
- Custo a entender. O prédio do DCAE está cheio de paranormais. Eles detectariam qualquer aparelho que fosse instalado com sua peripécia. E não há mais ser de reputação duvidosa frequentando o local. A menos que houvesse algum outro meio de intercepção pelo qual o galeroso poderia prosseguir com a monitoração, mas qual?
- Não me diga... Está brincando né, Shinobi? Existem infinitos meios com que um paranormal poderia monitorar o prédio do DCAE! Vou citar alguns exemplos: para começar alguém poderia se infiltrar facilmente no prédio do DCAE se fosse por meio de um inseto ou algo do tipo. Imagine uma escuta dentro de um inseto. Normalmente esse tipo de escuta seria capturada se controlada por humanos normais. Os agentes do DCAE têm um ridículo senso de percepção e não se deixariam enganar tão facilmente. Mas que tal alguém que controla um mosquito via finesse, conseguindo ilusionar até mesmo os olhares de um ser paranormal? Adicionalmente um hacker habilidoso seria capaz de feito similar. Claro que não há espaço para hackers humanos no quesito de espionagem de um local deste porte, visto que por mais habilidosos que sejam na sua área humanos só são capazes de se concentrar em uma tarefa de cada vez. Mas alguém que ficasse atrás de um computador o dia inteiro e tivesse uma finesse que o permitisse analisar dados paralelamente, conseguindo fazer o trabalho de 50 hackers ao mesmo tempo... Isso seria outra história. E poderia haver também alguém com finesse igual àquela sua... Ah, Shinobi... Existem diversas maneiras. Eu digo: nunca se pode confiar nos insetos e nem na tecnologia.
- Por isso és tão rígida com a empregada?
- Pim pom! Quanto mais lustrado, arrumado e de cores claras o cenário... Menos chances de haver intercepção de dados. E tem dado certo. Unindo sua finesse maravilhosa com minha obstinação em insistir que fiquemos longe da tecnologia... Até agora não fomos descobertos nem pela polícia e nem pelos nossos três alvos de interesse. Ou pelo menos até agora eles não manifestaram nenhuma vontade concreta de fazer algo a respeito de nós. Tudo isso porque nos encontramos sempre pessoalmente e nos falamos sumariamente um com o outro e mais ninguém.
E imagino que ainda assim minha senhora de mim esconde informações. Se existe muitas informações que só fico sabendo quando Cayme resolve trazê-las à tona me pergunto qual demais assunto há que ela resolve não tocar...
Ela traz braço ao ar de forma indagativa:
- Ora... Por acaso não despistamos o Verde desta maneira? Eu tenho certeza que ele não nos está monitorando. Afinal nós que matamos McMiller e Sanford e iniciamos todo aquele motim. Se ele soubesse disso por algum aparato espião já teria feito algo a respeito. Teria comprado alho e estacas e iniciado sua caça aos vampiros.
- E se o encontro com Floss for a caça aos vampiros? Não poderia a mente luzidia do galeroso estar um passo à nossa frente?
- Hmm? Um assassinato premeditado à minha pessoa? – Ela desdenhadamente descarta minha possibilidade com acenos negativos com sua mão direita – Nem pensar. Soa perigoso demais para eles. Na visão deles poderíamos ter algum modo de antecipar a desgraça e que resolvêssemos descontar em Walter Gunman e decidíssemos matá-lo antes da sexta. Envolver Walter Gunman nisso? Está fora de cogitação! Verde teria levado isso em conta.
- E qual o motivo de se encontrar com Floss hoje, se me permite o intrometimento?
- Floss é um mercenário novo que vai me passar os detalhes da missão. Verde ficará de fora dessa porque eles preferem não arriscar seu novo pessoal que conseguiram contratar a tão alto custo. Imagino que ele apenas irá me dar um celular e dirá hora e local para encontro posterior. Também deverá acertar os detalhes do pagamento. Não penso que ele tenha nenhuma estratégia ou recomendação adicional quanto à missão em si. Já estou sabendo bastante da missão. "Missão..." – Minha senhora leva a mão levianamente ao queixo e sorri – Me faz lembrar de meus tempos que eu era mercenária na Tchecoslováquia quando ela ainda existia. Bons tempos. Deve ser assim que você se sente quando vai à Dalilah sabotar transações de Deluxes, não, Shinobi?
- Assim..?
- Se sente assim... "À bout de nerfs".
- Não sinto nada parecido, minha senhora. Apenas cumpro a missão designada devotamente da maneira mais eficaz.
Minha senhora me lança olhar desacreditado e complacente. Devo admitir que aquela expressão condescendente me fere um pouco.
- Bem... – Minha senhora finaliza terminando de vestir-se – Hora de ir enganar Wilkinson e depois Floss. Claro que tentaremos pegar o convite para nós, certo? - Pisca um olho para mim.
Permaneço estático e sem resposta.
- Ué? Cadê a saída? Ah sim... Ali! Esqueci que não estamos mais no Pinnacle Hotel.
Minha senhora alcança a cabeceira da cama e aperta o botão. A entrada abre-se lenta e silenciosamente na parede lateral.
Agora em Cheawuld Garden (do sul) realizamos os encontros em pequeno casebre na rua 86. A casa é pequena por fora mas há entrada ábdita pelo subsolo. Para sair e para entrar deve-se acionar a condição, assim como minha senhora o fazia no momento.
Paro a observar sua harmoniosa silhueta ao sair. Suas lindas asas estão encobertas, mas o loiro surreal de seus cabelos ainda deixam sua aura anômala esbanjar-se à vista.
Floss. Wilkinson. Walter Gunman. O DCAE.
Desta vez não sou eu, mas ela a sair daquela maneira para cumprir um afazer. Insiste em arriscar sua própria pele ditando motivos pessoais. Seria isso? Ou minha senhora não encontra em mim a firmeza necessária? Afinal Cayme confia ou não em seu mais devoto subalterno?
Ou talvez esse encontro realmente seja demais para mim e seja necessário um vampiro tomar parte do ato?
Serão estes figurões tão perigosos assim?
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