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Volume 1 - Capítulo 11.2

                                                                 II

A casa ficava em uma ruela de Cheawuld Garden, não era pequena, mas também não era exatamente grande. Localizava-se mais abaixo do que as casas vizinhas. Na realidade parecia que cavaram um fosso e construíram a casa lá depois. Não sei como ela não se alagava com a chuva. Para se ter uma ideia, tiveram que fazer uma rampa de cimento para que o carro pudesse entrar na garagem.

Arthur B Cooper, o Cooper errado estava lá. O que é bom. Seria ruim ir até a cena do crime e perder a história do dono da casa, visto que só tínhamos a informação que a polícia convencional escreveu no relato que nos passaram.

Era um velho com barba grisalha e ruiva ao mesmo tempo, com uma camiseta mais larga que seu tamanho, manchada e fedendo a pinga.

- Vocês são a nova polícia? A polícia especializada?

- Isso. Somos da "polícia especializada" – De onde ele ouviu aquele nome idiota? – Viemos fazer a análise dos fatos.

- Finalmente! Não acredito que me proibiram de mexer nas minhas coisas. Nas minhas coisas! Foi apenas um roubo! Um roubo! Os bandidos vieram e levaram meu micro-ondas, minha televisão, o meu dinheiro que estava em cima da mesa. E também minhas reservas que eu tinha na gaveta do quarto. Eles estragaram tudo na cozinha. E no final levaram só isso. Alguém tem que pegar os desgraçados.

Entrei na casa. Joey ficou um pouco ali fora antes de me seguir.

- Se importa que eu fume aqui?

- Se me importo se você fume aqui? Dentro da minha casa? É claro que me importo! E digo mais: melhor vocês pararem de ficar vindo aqui e colocando essas faixas e ir atrás dos ladrões de uma vez.

- Não estamos lidando com ladrões comuns, senhor. Isso e um caso sério. Precisamos da cena do crime intacta.

- Como não? Foi um roubo apenas. Não há dúvida! Quando se tem um roubo se vai atrás do carro e pega os desgraçados. Eu tenho a placa do carro deles. O vizinho anotou. Eles viram o movimento e...

- Os envolvidos são suspeitos de um assassinato, senhor.

O velho se calou em surpresa. Depois disso começou a ficar um pouco mais prestativo e menos barulhento.

A polícia convencional tinha colocado as faixas de delimitação nos lugares de importância. No rack da sala, de onde havia sido retirada a tv, havia uma delas. Havia uma no quarto, que estava jogada no chão e uma na cozinha. Eles a tinham colocado ali para que nada fosse mexido até nossa chegada. Entretanto aquele velho não parecia do tipo que ia se interessar em seguir as instruções corretamente. Parecia do tipo que podia se dizer que ele corria perigo de assassinato e instruí-lo a deixar as pistas intactas e ele mesmo assim iria interferir na cena toda, esquecendo-se do conselho no minuto seguinte. O que faria do trabalho todo mais maçante e difícil.

- Eu tive que mexer em algumas coisas, sabe... Para fazer o café e dormir. Mas o que pude, deixei como estava.

Dito.

Fui até o quarto primeiro. Tudo estava esparramado no chão. Digo... Não "tudo" no sentido de como estava o apartamento do Sprohic quando o investigamos na semana passada, era um "tudo" mais localizado, mais para "tudo de dentro da escrivaninha", apenas. Os armários ainda estavam intactos. Quem quer que foi que fez aquilo, sabia exatamente o que estava procurando.

- Você... Er... O senhor me disse que eles são suspeitos de assassinato? Eles estavam procurando dinheiro, não? Tudo está jogado desta maneira... Meus trezentos e cinquenta sumiram da gaveta... Eu fui dormir e deixei tudo no chão, mesmo. Só desarrumei a cama. E coloquei meu laptop para carregar.

Confirmei com a cabeça.

- O senhor trouxe seu laptop do trabalho? Estava trabalhando quando o roubo aconteceu, certo?

- Sim. Eu estava na firma. Quando voltei estava tudo assim. E não... Eu guardo o laptop no armário... – Ele terminou a frase de maneira reticente e curiosa. Até mesmo ele percebeu um traço de contradição. Se aquilo fosse realmente apenas um roubo eles teriam levado aquele laptop. Tentei apagar aquela contradição de sua mente com um comentário:

- Que sorte que eles não vasculharam o armário, certo?

- Er... É. Que sorte.

Joey finalmente entrou pela porta da sala e veio até nós.

- Que sorte nada! – Terminou por decidir o velho - Eles ainda levaram minhas outras coisas! O que voc... O senhor acha? Podem pegar os culpados?

Olhei para Joey interrogativamente. Ele balançou a cabeça de modo negativo. Queríamos descobrir se havia algumas marcas características deixadas no barro em frente à casa, mas ele analisou e não obteve sucesso.

- Iremos pegar os culpados... Não sei quanto às suas coisas de volta, entretanto... Já devem ter sido desmontadas.

- Desmontadas? Mas como...? – Ele ia dizer alguma coisa, mas parou para pensar e viu que fazia sentido – E a polícia não tem uma política de ressarcimento nesses casos?

- Infelizmente não, senhor. Deve conversar com o seu seguro.

Eu e Joey fomos até a cozinha, onde tinham levado o micro-ondas. Realmente, havia bastante coisa jogada no chão. Pratos, copos, talheres... Utensílios de cozinha em geral. Entretanto tudo havia sido arrastado para um canto só, provavelmente pelo próprio dono da casa. Ainda havia café e pão sobre a mesa. E um copo plástico sujo. Olhei para os armários e apenas algumas das portas estavam abertas.

Fui até uma delas aleatoriamente e a abri. Havia panelas e bacias lá dentro. Estavam organizadas.

Olhei para Joey. Ele me confirmou com a cabeça.

Avistei o lugar onde deveria estar o micro-ondas, sobre um dos armários. A geladeira estava logo ao lado. Havia também um liquidificador no chão. Provavelmente tinha sido arrastado para o chão quando levaram o aparelho.

Abri a geladeira. Não estava exatamente cheia, mas também não estava vazia. Tudo parecia estar no seu devido lugar.

- O senhor disse que o carro e a placa foram anotados? Qual era o tipo do carro?

- Era uma van. Uma daquelas Blend 1.8. Branca... Hartmann que viu eles entrando e ligou para a polícia primeiro. O vizinho do lado do da frente.

- Ele viu quantas pessoas eram?

- Ele disse que chegou a ver dois homens... Cerca de vinte a trinta anos. Ele deu a placa e a descrição deles à polícia. Os senhores têm essa informação certo? Já passamos ela antes.

- Sim... Sim... Já possuímos a informação.

Olhando para trás, perguntei para o Joey:

- Quer passar o scanner aqui? Nas paredes... E ali – Apontei para o exato lugar onde faltava o micro-ondas. Joey foi pegar o scanner no carro.

O scanner servia para detectar fluidos corporais que eram deixados conforme o manuseio de objetos. Era uma peça que a perícia da polícia convencional não tinha... Quer dizer, até tinha, mas não como a nossa. A nossa servia mais para detectar se foi deixado fluido de alienígenas, homens-lagarto ou coisas assim, por isso que só o DCAE tinha posse de uma dessas. Minha intuição me dizia que encontraríamos alguma coisa dessas por ali.

Voltando com o aparelho, Joey começou a trabalhar na cozinha. Enquanto isso eu fui checar mais uma vez a sala e o quarto. O dono da casa veio me acompanhando, creio que para encher meu saco. Uma vez na sala, passei a analisar o rack onde faltava o televisor.

- Sua tv era de quantas polegadas, senhor?

- Era uma smart led de 49 polegadas com alta definição. Era muito boa. Não sabe o quanto trabalhei para pagar aquele negócio. É bom vocês se mexerem para... Digo... Seria bom que os senhores a recuperassem se possível.

Confirmei com a cabeça.

- Eu já tinha passado também essa informação para os outros policiais que vieram aqui... – Ele acrescentou.

- Sim, sim...

Mais uma análise no estado da bagunça do quarto. Retirei umas fotos e então dei permissão para a retirada das faixas e me preparei para irmos embora. Agora faltava só esperar o Joey. Informação dos detalhes como digitais e fluidos corporais viria junto com a análise da perícia da polícia convencional no dia seguinte, então estávamos ali apenas para captar informações que passaram despercebidas pela área de expertise deles.

Isto é, informações que apenas alguém com conhecimento de seres paranormais podem captar.

Fui até a cozinha e Joey ainda estava passando o scanner. Perguntei:

- E aí? Alguma coisa?

- Muita coisa, tenente... Você nem imagina.

Arthur Cooper tinha me seguido de novo. Não foi para zombar dele, mas apenas instintivamente que retirei um cigarro da minha carteira que estava no bolso da camisa. Ele me encarou incredulamente. Assim que percebi meu ato, caminhei até a entrada, fora da casa, para acender o cigarro.

Uma vez lá na frente chequei meu celular. Tinha uma mensagem de Sarah. Enquanto a lia recebi uma ligação.

- Tenente Dotson? – Atendi.

- Oi Henry. Fiquei sabendo da Emma... O que aconteceu? Já ficaram sabendo dos detalhes?

- Oi Ewalyn. Tudo bem por aí? Seguinte... Ainda não temos informação... Certamente foi veneno e certamente foi enviado por alguém, mas...

Não ia insistir no telefone que foi o namorado da Crane. Mas foi.

- Coitada. E ela estava se recuperando tão bem... – Ouvia bastante barulho no fundo da ligação. Ela ainda devia estar lidando com o assassinato de Jim Sanford.

- E como estão as coisas por aí?

- Aqui... Bem... Aqui vai demorar ainda um pouco. Não vou conseguir descobrir nada hoje infelizmente. A equipe da perícia está fazendo a parte dela e eu vou até o prédio do DEA agora para ver uma coisa, mas sabe como vai ser lá... Todo mundo vai querer fazer meu trabalho por mim, porque Sanford fazia parte da equipe deles então... Sabe como é.

- Que saco... Eu vou visitar a Emma depois. Quer ir junto?

- Eu adoraria, mas... Eu vou demorar. Não me vejo terminando antes das sete.

- Tudo bem. Eu e Joey temos que levar a Sarah até o aeroporto... Então só vou visitá-la mais depois. Creio que é melhor. Ela vai estar melhor até lá.

- Então ok. Eu vou junto, sim. – Ouvi outra voz do outro lado da linha. Reconheci um dos homens da equipe de suporte – Escute... Eu tenho que desligar. Vou até o DEA agora senão isso não vai acabar nunca.

- Ok. Até mais então. Boa sorte com o caso do Jim.

- É né – disse ela em um tom engraçado – Estamos precisando de sorte nesses últimos dias.

- Nem me fale. Bem... Se bem que tivemos uma baita sorte aqui na casa do falso Arthur Cooper.

- Ah é mesmo? Por que diz isso?

- É... Depois eu te conto os detalhes.

- Então está bem...

- Até mais então...

- Até mais. Tchau.

Ela desligou.

- Que história é essa de falso Arthur Cooper? Eu sou sim Arthur Bernard Cooper. – O velho e Joey estavam atrás de mim, perto da entrada da sala.

- Isso? É hã... Uma terminologia da central. Não dê atenção... Joey... Alguma coisa por lá?

- Terminei, tenente. – Ele deu a entender a resposta de minha pergunta apenas com um gesto de cabeça.

Sendo assim, saímos dali. Ao invés de voltar à central nos dirigimos até o aeroporto. Sarah havia me pedido para ir até lá por mensagem mais cedo. No segundo andar do aeroporto tem um Boutique Lily's, onde supostamente deveríamos encontrar a capitã antes de ela partir definitivamente para Silverbay e deixar esses casos dos últimos dias completamente em nossas mãos. Dentro do carro, no caminho até o aeroporto, eu e meu parceiro comentamos sobre a investigação:

- Quer dizer que havia resquícios de aliens na cozinha? Bem que imaginei.

- Tirando nosso amigo de cabelos longos de fora, a Emma disse que lutou com um Eufórbio, não? Um alienígena roxo com furúnculos pretos espalhados por sua pele viscosa.

- Viscosa... – Exalei fumaça de meu cigarro. Agora estávamos dentro do carro, a caminho do aeroporto. Eu dirigia e Joey estava do meu lado – Se for para pegar alguém quero pegar esses desgraçados do ataque de ontem. O alien que saltou os telhados e matou os Johnsons pode ficar para depois.

- Concordo.

- Me diga uma coisa, Joey... Aqueles documentos esparramados no chão do quarto do velho... Aquilo foi feito tirando-se os documentos aos poucos ou foi feito tudo de uma vez?

- Está querendo testar minha capacidade de detetive? Você sabe a resposta, tenente.

- Então você percebeu que tudo foi jogado lá de uma vez só. Não é um teste, mas eu perguntei por que é uma coisa que eu apenas considero estranho... Qual a utilidade de jogar tudo no chão de uma vez e deixar lá em um monte só? Normalmente eles teriam revirado o monte aos poucos para procurar o envelope após atirá-lo no chão.

- É... É estranho... Parece que tudo foi feito para simular um roubo. Eles queriam apenas pegar o dinheiro do fundo da gaveta, talvez? E por isso não se importaram com os papéis?

- É bom que a perícia pegue todas as digitais daquela porcaria de gaveta.

Joey soltou um riso abafado.

- Que é isso tenente? Nenhum ser paranormal que se preza deixa pistas óbvias como digitais. Nunca tivemos essa sorte até agora.

- Por isso mesmo que quero os relatos. Para vê-lo vazio e ter certeza que é um ser paranormal.

- O scanner não mente, tenente. É sim mais um caso.

Virei para a janela e exalei mais de meu cigarro. Joey anexou:

- Mesmo com tudo isso... É bom vê-lo concentrado no caso. O tenente estava tão nervoso quando saiu da central. Achei que eu ia acabar fazendo o trabalho sozinho e você ia ficar discutindo com o...

- E eu ainda estou puto, Joey! Apenas estava me segurando para fazer um trabalho profissional. Chegando no aeroporto vou ligar de novo para aquele judas do Chapman e pedir para ele me passar o contato do Galloway.

Joey ergueu ambas sobrancelhas simultaneamente de um modo provocativo e irritante, mas eu não cheguei a dizer nada. Ele ficou uns instantes sem saber o que dizer e então desconversou:

- Você sabe, tenente... Esse falso Arthur Cooper... Eu e Lowe não achamos o nome dele no dia em que ficamos de pesquisar sobre o paradeiro do dono do convite. Achamos só o do ex-vereador. Esquisito não? Talvez devêssemos ter pesquisado além dos cadastros principais.

- ...

- Talvez se tivéssemos feito alguma coisa a respeito poderíamos ter evitado esse ataque?

Dei de ombros.

- Não pense muito nisso. Não tinha como adivinhar mesmo.

Como íamos saber que alguém ia tentar atacar o Cooper errado? Por acaso esses caras do tráfico não sabem reunir informação?

III

Chegando ao aeroporto tentei contatar Chapman novamente, como planejei, mas claro que sem sucesso. Aquele desgraçado...

Guardei o telefone no bolso e então eu e Joey subimos até o segundo andar, que ficava de frente para os portões de embarque, e avistamos Sarah sozinha em uma mesa do local combinado.

Vou ser sincero: não sou muito fã do Boutique Lily's. Acho o menu deles muito limitado, e o pouco que tem é basicamente comida para criança. Os pratos são mal servidos e demoram muito para chegar. Não vejo o que Sarah gosta nesse tipo de lugar. Se bem que, como eu disse, Sarah aparenta ser uma criança por fora, então aquele local combina com sua feição.

Sentamos os três na mesma mesa redonda e baixa. O ambiente estava do tipo barulhento do lado de fora, mas silencioso do lado de dentro. Uma garçonete simpática anotou nossos pedidos e nos deixou. Após conversa frívola sobre horários de aviões e tudo o mais, começamos a trocar ideias a respeito dos casos.

- Escutem... – Começou Sarah – vocês têm algo a dizer da casa do Cooper?

- Um alienígena detectado... Pelo scanner.

- Então pelo menos sabemos com que raça estamos lidando... Não é surpresa nenhuma que seres paranormais estão envolvidos. O fato de ter sido justamente um ataque a Arthur Cooper já deixava isso claro desde o princípio. O objetivo deles é claro.

- O objetivo deles é claro? – Interrompeu Joey – Capitã... Eles queriam o envelope ou pegar o Arthur?

- Quando se leva em conta as possibilidades de finesses com corpos de seres paranormais como aliens, homens-lagarto ou afins... O que menos importa é capturar o dono da assinatura com vida. O papel do convite é de material único e dotado de seriais e senhas espalhadas por toda a parte. As assinaturas são impossíveis de falsificar devidamente. A tinta e o papel só podem ser produzidos em Arena. Entretanto é muito fácil falsificar uma carteira de identidade. Ou pior: a própria cara de Cooper.

- Hum. - Fez Joey. – Então, como eu imaginava: esse ataque foi dirigido ao verdadeiro Arthur Cooper, o político, mas foi realizado por alguém que não sabia exatamente nada além de seu nome completo, e por isso teve como alvo a pessoa errada.

- É o mais provável. – Admitiu Sarah.

Que sorte que aquele velho não estava lá na ocasião.

- Falando em Cooper... – Perguntei, dirigindo-me à Joey – Por que você e a Ewalyn não encontraram esse outro Cooper da primeira vez? Quando procuramos nos arquivos sobre a existência do destinatário do convite aqui em Sproustown? Por que só depois que a identidade foi achada e lá em Rothershore?

- Esse é um ponto... – Concordou Sarah.

A garçonete trouxe primeiro o pedido de Sarah e nossas bebidas. Nada alcoólico porque eu tinha que dirigir até a central. Pegamos apenas um suco cada um. Sarah pegou um combo barato que mais parecia comida para formigas. Vinha um sanduichínho miserável e a porção de batatas era ínfima.

Joey respondeu:

- Er... Eu não sei... Por que ele é autônomo e assim não estava nos registros? Os órgãos registram só os dados das pessoas importantes. Quer dizer... Importantes para eles.

- Pode ser... Que coincidência... – Comentou Sarah – Se eu tivesse encontrado o Arthur Cooper B antes talvez estivesse na pista errada? Ou talvez estivesse já na certa e teria prevenido esse último ataque? De qualquer forma não se pode negar que foi uma grande coincidência... Sim... Grande coincidência...

Queria acender um cigarro, mas vi a plaqueta proibindo pendurada na parede. Sarah mudou de assunto:

- Vocês chegaram a ter uma impressão de quantos foram os assaltantes? O relato afirmava que eram dois e que assim que entraram na casa a polícia foi avisada, tendo chegado ao local do crime o mais rápido possível. Foi um tempo competente. Treze minutos.

- Eram dois assaltantes. E sim, isso foi escrito no relato. – Respondi.

- Eu sei o que foi escrito no relato. Eu quero saber se "vocês" concordam, analisando as pistas, se realmente foram dois. Não teriam sido três? Assim, como em três assaltantes que pegaram o envelope da central há um dia atrás?

- Não. Definitivamente só dois. Dois tipos de bagunças diferentes dentro da casa, dois locais vasculhados simultaneamente e separadamente.

Joey acrescentou:

- Teve também muito pouco tempo para eles vasculharem o local. Tanto que só pegaram os objetos de valor que estavam mais à vista. Com tão pouco tempo, se estivessem em mais gente, assim como o tenente falou, nós teríamos visto mais que duas peças onde tudo se encontrava espalhado.

Sarah empurrou sua bandeja para o centro da mesa e começou a levantar. Ouvimos a voz eletrônica anunciar a hora de seu vôo.

- Outro ponto a considerar seria... Tudo isso não passa de uma fachada para mascarar o ataque fazendo tanto Cooper quanto o jornal acreditarem que não passa de uma tentativa de roubo. Na verdade isso é quase certo. Aquilo ou foi uma tentativa de assassinato ou de sequestro. O objetivo era obter o próprio falso Cooper e não meros eletrodomésticos.

Levantou-se e balançou os farelos da roupa.

- Por que a capitã tem tanta certeza e tanta informação sobre este lance do tipo de papel e coisa e tal? – Perguntou Joey à Sarah – Foi experiência prévia? De quando trabalhava na Arena?

– Pode-se dizer que sim. Não importa. Continuaremos investigando. Qualquer coisa nova, entrem em contato.

- Você não vai nem levar o resto para a viagem? – Apontei com a cabeça para o resto do lanche dela.

- Não estou com muita fome.

Acompanhamos Sarah até a entrada e nos despedimos. Por hora o departamento dependia apenas de mim.

- O que você vai fazer agora? – Dirigi-me à Joey – Eu e Ewalyn vamos nos encontrar para visitar Crane... Quer vir junto?

- Você e Lowe? Não... Eu passo. – Joey apanhou o celular do bolso – Acho que "eu" vou me encontrar com a "minha" garota no lugar.

- Sua garota? Como era o nome dela mesmo? Brigitt? Brigitte?

- Você ainda está nessa? Não, tenente. O nome agora é Vanessa.

- Creio que não vou chegar a aprender mais que o nome dela, mesmo... Bem... Boa sorte, boa noite ou bom do que seja lá que for.

Foi ali, antes de se despedir, que Joey recitou o ditado de modo curioso, aquele mesmo ditado de mais de doze anos atrás:

- Eles são pequenos. Eles comem pouco. Eles não falam muito sobre o passado. Hum...

Foi aquela frase que ficou na minha cabeça durante o resto do dia até o momento que resolvi compartilhar esses acontecimentos. Por isso escolhi as baratas parasitas para apresentar desta vez. Aquela frase foi intrigante. Foi colocada assim, sem mais nem menos. Deslocada. Fora de contexto.

- ...Mas acima de tudo, comem seres humanos. – Completei. Esse era o ditado. – Por que está dizendo isso? Suspeita que um dos assaltantes seja uma barata parasita? Os resquícios encontrados foram de aliens, e não teve quase nenhuma informação do comparsa.

- Não... Estava pensando em outra coisa. Esquece...

- Então ok. Mas o desgraçado é certamente um alien. E digo para você: tomara que seja o mesmo que fez aquilo com a Crane. Quero pegar os dois. O que fez aquilo com a Crane e o que enviou o veneno depois. Esses não me escapam.

- Você é um policial exemplar, tenente. – Disse em tom de brincadeira. – Não me diga que você ainda está com a ideia do namorado dela na cabeça?

- E quem mais poderia ter sido se não aquele Galloway? Alguém mais teria enviado chocolates? Ele era o namorado dela.

E além de tudo era amigo do Chapman.

- Muita gente poderia ter enviado chocolates. Bastava saber o endereço e o nome do namorado para se fingir de remetente... Bem. Apenas tente não tocar no assunto mais tarde quando vocês dois estiverem na frente da Emma, por favor. Deixe ela descansar. O que eu vou fazer é pegar um ônibus e voltar para casa. Boa sorte com a Lowe.

- Boa sorte? Por que diz isso?

Ele me lançou um olhar gracejoso.

- Esquece, tenente... E se quiser, pode fumar aqui, sabe? Agora já saímos da loja.

- Então que seja. Vou aceitar sua sugestão. Até amanhã. Se Deus quiser teremos mais notícias.

- Se Deus quiser. Até amanhã, tenente.

Aquele dia foi uma merda. Mas pelo menos tinha acabado.

Depois eu só me encontrei com Ewalyn e fomos visitar Crane na casa dela.

Naquele dia eu estava estressado por causa do episódio com Crane, então minha cabeça não estava funcionando corretamente. Mal eu sabia que muito daquilo que Joey disse teve sim algum significado. E esse significado... Eu iria compreender apenas depois.

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