Uma péssima influência
⋆⋆
Meu amor. Que piada seria essa? Encarei minha pulseira pela milésima vez desde que Embry me falou de seu significado. Eu era o amor dele. Mas mesmo que eu tenha implorado, ele não ficou. Ah, fico com dor de cabeça só de pensar nisso. Passo os dedos pelas curvas daquela palavra em outro idioma e espero até que elas se transmutem para o meu. O que eu era para ele.
Por mais que eu tente, nunca consigo me adaptar ou ver sentido na sua partida.
Eu sinto saudades demais do Jasper. Mais do que deveria. As vezes me pego olhando para o fundo da sala na aula de filosofia ou para a mesa que ele se sentava com seus irmãos. Um tique estranho, como se, de repente, ele fosse estar ali de novo. Como se esse tempo que passamos afastados fosse só um sonho do qual eu em breve despertaria.
— Caterine!— Angela subitamente estala os dedos diante dos meus olhos e eu desperto, saindo de meu mundinho contra minha vontade, desviando os olhos da mesa deles, agora perpetuamente vazia.
— O que dizia?
— Você vai ir na festa na casa dos Newton?— ela pergunta, seu tom é como se estivesse repetindo a pergunta, mas Angela nunca demonstra estresse com minha falta de atenção.
— Por que eu faria isso?— franzo a testa, Angela sorri e balança a cabeça como que dizendo: ah, menininha tola!
— Acho que seria bom para ficar de olho na Bella. Ela confirmou presença— ela sussurrou, se inclinando na minha direção. Passei os olhos para o outro lado da nossa mesa, focando-me no rosto de minha gêmea. Ah, as mudanças dela depois do coração partido foram épicas.
Bella parece outra pessoa, pra ser franca. Depois que os Cullen foram embora, ela ficou um tanto mais amarga e sem gosto pela vida, mas eu meio que a obriguei a engolir o choro e nós criamos um pacto de não chorar por causa deles nunca mais. Eles se resume a todos homens da face da terra pelo resto de nossas vidas.
Foram dias fodidos, aqueles de setembro. Nossos amores nos abandonaram da mesma forma, mas ao invés de se recolher como eu, Bella tentou seguir Edward, acabando por se perder no bosque, sendo encontrada apenas por uma equipe de busca de uns rapazes quileutes no meio da madrugada fria.
Hoje, cinco meses depois, minha irmã recatada e tranquila, tornou-se... como dizer? Uma atirada ou uma piranha?
Eu estaria mentindo se dissesse que não gosto nada dessa versão da Bella que ajudei a moldar. Uma que pinta o cabelo de loiro e que não vive sem lápis de olho, usa roupas justas e flerta com os rapazes sem medo de beijá-los. Mas eu também criei um monstrinho audacioso que por muito pouco não está completamente fora de si.
Sim, eu que deveria ser a irmã cruel e vagabunda porque eu sei que Bella não aguenta esse ritmo frenético e isso a machuca pra caralho no fundo, mas não sei bem o que fazer para a ajudar. Apenas a mantenho na coleira e a impeço de fazer uma burrada maior. Pintar o cabelo, usar maquiagem e roupas justas não é problema, agora ir para a cama com o garoto errado vai deixá-la marcada pra sempre, então tenho que ficar de olho.
O que eu mudei? Não acho que muita coisa, não como ela. Já não gostava de ficar com qualquer pessoa antes, imagine agora. Flertar é divertido, mas não tenho a mínima intenção de beijar aquele garoto do basquete ou o que tem uma banda de garagem quando os olho nos olhos com um jeitinho de quem pede pra ser fodido no chão da sala.
Minha aparência é a mesma merda, meu estilo também. Posso dizer que sou a melhor no espanhol agora, que não fumei em nenhuma das vezes que vi brecha e que o resto virou uma bagunça. Porque eu virei babá da minha irmã que costumava ser mais responsável, melhor amiga de um pré-adolescente, parceira de pesca do meu pai, e agora trabalho em um restaurante, minhas mãos vivem fedendo a alho.
Nossas vidas ficaram mais agitadas, mas eu gosto de pensar que vai melhorar com o tempo. Que Bella vai voltar a ser ela mesma quando seu ódio por Edward passar, e que eu continuarei evoluindo tentando esquecer mais e mais de Jasper a cada dia. Quando respiro fundo, estou pensando como não tenho mesmo nada melhor para fazer nesse final de semana.
— Tá— digo para Angela, finalmente— Eu vou.— sorrio ao ver Bella jogando os cabelos platinados para o lado e olhando para Mike Newton como se gostasse dele. Safada.
Ah, eu sou uma péssima influência.
⋆⋆
— Se eu te ver chapada, eu juro que vou quebrar sua cara— seguro com força o braço de Bella antes de passar o dedo na campainha da casa de Mike Newton, a qual já está agitada e as cortinas claras das janelas tornam as luzes coloridas piscando mais fracas. Posso apenas enxergar o rosto de Bella quando as luzes piscam mais rápido.
Essa noite de sábado está escura. Há trovões ecoando pelos céus que fazem a terra tremer. Estamos atrasadas, mas foi proposital, pelo menos por mim. Bella balança a cabeça para mim.
— Não exagera, sabe que eu não gosto dessas coisas— diz ela com uma careta desconfortável enquanto cruza os braços, dando-me um vislumbre da antiga Bella se remoendo no corpo dominado por essa invasora provisória. Gosto quando ela faz isso, mostra que ainda está ali, embora esteja vestido uma blusa rosa choque bem apertada que dá um destaque mágico nos seus peitos que escondem entre si o pingente de sol do colar que Charlie nos deu de aniversário. A antiga Bella odiaria essa roupa. Ela odeia essa roupa.
— A gente poderia estar fazendo qualquer outra coisa agora, quer dar meia volta?— sugiro analisando seu rosto com atenção. Quero fazer com que ela desista.
— Já estamos aqui, não tem porquê dar pra trás— ela franziu a testa e olhou para o chão. Fingi tocar a campainha uma segunda vez, olhando-a fixamente.
Não costumo desmotivar minha sósia em sair para beijar outras bocas então o que estou fazendo acaba sendo novo para mim também. Tem algo errado com ela, sinto isso nas minhas entranhas, vai saber se não é conexão de gêmeas. Bella costuma se manter firme nas suas escolhas, mas algo aconteceu. Eu só ainda não sei o quê.
— Acho que eles nem estão nos ouvindo— suspiro, levemente cínica.
— E se a campainha não estiver funcionando?— Bella sugere, mas entro na frente para que ela não veja o que estou fazendo.
— Acho que eles teriam nos avisado— fico com o dedo contra o botão da campainha sem apertá-lo nenhum momento. A respiração de Bella começa a se agitar, mas eu finjo não notar em primeiro momento.
— Está frio— ela reclamou, sabia que eu a encarava, mas evitava me olhar a todo custo.
Na verdade, está incrivelmente abafado. A chuva que está pra cair vai ser um verdadeiro alívio.
— Quer me contar alguma coisa? Parece meio assustada— digo fingindo indiferença no tom.
— Eu... vou dormir aqui hoje— ela responde, por fim. Viro-me para ficar na sua frente, Bella junta as mãos diante do corpo e baixa a cabeça.
— O que isso quer dizer?— levanto a sobrancelha, ficando mais séria.
— Mike me convidou para passar a noite e... eu aceitei— ela resmungou e mordeu o lábio inferior. Não precisei de muito para juntar um mais um.
— Você não vai transar com o Newton— falo, enojada— você repugna ele.
— Eu já aceitei.— ela me olha com certa raiva. Eu a ignoro.
— Por isso você está tão estranha— concluo, balançando a cabeça— Você não vai perder sua virgindade com o Newton, Bella.
— Eu não estou pedindo sua permissão, Caterine— ela diz, forçando uma firmeza que ela não possui contra mim— Eu só quero sentir alguma coisa.
Busco evitar o peso que tem nessa sua última frase.
— Não estou proibindo, estou dizendo que você mesma não vai até o fim.— sorrio, debochada e descrente. Eu duvido muito.
— Por que tem tanta certeza?— ela sussurra, deixando a insegurança escapar de sua mascara.
— Porque Mike Newton é um nada e você só está agindo assim porque está com raiva do mundo. Mais especificamente do Edward.
Bella fica furiosa, ela odeia que eu fale o nome de seu ex. Ela tenta tocar a campainha, mas eu agarro seu pulso antes.
— Isso.. não tem nada a ver com ele!— ela sibila. Age como se a raiva tornasse sua fala mais difícil de sair.
— Tem tudo a ver com ele, Bella. Aceita logo isso. Você quer deixar Edward com ciúmes, de onde quer que ele esteja. Você não vai transar com Mike.
— Você nunca se importou de me ver com outros caras, por que isso agora!?— ela puxa bruscamente sua mão de volta. Respiro fundo para me manter o mais calma possível.
— Entre um beijo e uma foda há um abismo, Bella.— gesticulo como se fosse uma profissional no assunto.— Você não está pronta para isso, não é esse tipo de garota.
Ela hesita, em silêncio. Eu amo estar certa.
— E você é esse tipo de garota?— ela cruza os braços, desafiados. Eu deixo escapar um sorriso.
— Dependendo do caso— dou de ombros e suspiro— Isso está indo longe demais. Eu não devia deixar você ficar com o papel de vadia por tanto tempo. Ok, corta!— bato as mãos como se estivéssemos encerrando uma cena— Hora de trocar de papeis.
— Caterine, eu ainda quero entrar.
— Vai dar para o Newton?— a desafio, zombeteira. Ela volta a se calar. Mais um trovão rompe no céu e eu começo a sentir umas gotas gordas no meu couro cabeludo e no meu rosto— Anda, vamos logo pra casa, eu nem queria ter vindo nessa porra mesmo— seguro o braço desnudo dela e a puxo para a rua em passos apressados.
— Mas... eu...— Bella não oferece resistência ao me seguir, ela anda tão perdida ultimamente.
Eu deveria começar a cobrar a cada vez que a salvo de cada obstáculo que aparece em nossas vidas, por que francamente! Se não fosse por mim, não sei o que seria dessa garota. Ela tem sorte que eu a amo.
Como pensamos que ficaríamos muito mais tempo, nem viemos de picape tampouco trouxemos guarda-chuvas e quando as núvens começaram a chorar, nós estávamos completamente desprotegidas. A corrida estabanada com as botas de coturno foi muito engraçada – ou seria, no futuro, se eu não estivesse molhada até os ossos em questão de segundos.
A chuva intensa nos encharcou em pouquíssimo tempo. Nossas roupas ficaram coladas em nossos corpos e mal poderíamos enxergar a estrada se não fossem os postes de luz espaçados se destacando no meio da noite.
— Isso foi uma péssima ideia!— Bella gritou para mim, por cima da chuva. O chão estava perigosamente escorregadio e eu estou profundamente incomodada com as minhas meias molhadas.
— Não diga!— ironizei. É meio tarde demais para dar meia volta, mas também estávamos longe de chegar em casa.
Uma buzina aguda soou logo atrás de nós e um farol alto chamou nossa atenção. Se eu já não estivesse arrepiada como um gato molhado, com certeza ficaria nesse momento. Um carro prateado e de vidros escuros veio lentamente do nosso lado. O motorista abaixou o vidro do passageiro e eu o ignorei, fingindo plenitude e cerrando os dentes para não batê-los de frio.
— Oi!— disse a voz masculina em alto e bom tom— Querem uma carona?
— Sim, por favor— Bella concordou e eu a lancei um olhar em censura. Ela me ignorou e parou ao mesmo tempo que o carro. A impedi de abrir a maçaneta.
— Você está louca! E se ele for um assassino em série?!— sibilo entre dentes, alto para que só ela escute.
— Eu já o vi com o papai, ele é policial também!
— Você é burra? Estar na igreja não faz de ninguém um santo!— a belisco com força para fazê-la acordar para vida. Bella bufou e revirou os olhos, ela abriu a porta de trás e praticamente me socou para dentro do veículo. A esmurrei e olhei para o motorista congelando no mesmo instante. Foi como se minha alma tivesse saído do corpo ao ver um homem de cabelos loiros e cacheados vestido de preto a menos de um metro de mim.
Você só pode estar de sacanagem com minha cara.
⋆⋆
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro