Trabalho em dupla
⋆
Sexta-feira, que dia mais brilhante e abençoado! Ontem recebi uma ligação e hoje, depois da aula, terei uma entrevista de emprego, oficialmente. Nunca reclamei de nada nessa vida — principalmente se a vaga for minha no final.
Estou ansiosa, o tempo parece se arrastar e ainda é a segunda aula, eu juro que vou ter um ataque! É aula de filosofia, tem como não amar essa matéria? Eu assisto enquanto penso que o professor sem dúvida usou alguma droga antes de entrar aqui. Infelizmente, como eu e minha sósia entramos na escola na metade do primeiro semestre, não podemos nos dar o luxo de divagar sobre coisas que não tem a ver com a escola, então, para acompanharmos, a gente só se fode. É, talvez eu esteja mesmo precisando de uns amigos... ou melhor, dos cadernos deles.
Encontro-me terrivelmente dividida entre me obrigar a prestar atenção na aula e me preparar emocionalmente para a entrevista de emprego.
Do jeito que esse lugar é clichê, tenho certeza de que me perguntarão três qualidades minhas e três defeitos. Quais são as qualidades mesmo?
— Eu quero um trabalho para a próxima sexta, meus pombinhos— disse o senhor Michael Goodwin, um homem chupado de magro, amarelo, calvo e grisalho, o estilo de roupa dele parou na década passada, suéter e suspensórios, cheiro de ervas. Ele tem sempre um sorriso amigável no rosto, os olhos semi cerrados, quase pretos— Será em dupla e eu criei um pequeno sorteio— ele disse pegando uma caixinha colorida de dentro da gaveta da sua mesa para o gemido frustrado de todos os alunos. Ótimo, vou ter que socializar mesmo, minhas chances de ficar com a Bella são mínimas. Eu e minha gêmea trocamos olhares, sofrendo. Droga.
O professor sacode a caixinha empolgado como uma criança verificando o presente em dia de natal. Ele começa por ordem de chamada, alguns alunos tem sorte, aparentemente, pois sorrirem para suas duplas com cumplicidade. Outras não demonstram nada. Olho para o outro lado da sala, perto da porta está sentado Mason Crowley com seu irmão, ele sorri para mim e eu retribuo, acho que dessa sala, ele é o único que eu gostaria de fazer par. O professor chama numa calma que me estressa. Gosto dele, mas gente tranquila demais me deixa com raiva.
Eu definitivamente não vou falar disso na entrevista de emprego.
— Procura fazer o trabalho lá em casa, viu— cutuco minha gêmea e me inclino para ela.
— Está nervosa.— ela acusa, os cabelos castanho-escuros presos em um rabo de cavalo que eu estou me segurando para não puxar.
— Não gosto de socializar, mas fazer o que?— sorrio para ela, arregalando os olhos— eu estava pensando da gente ir fazer umas compras esse final de semana, estamos adiando e eu preciso mesmo de umas calças novas...
— ...E... Caterine Swan— disse o professor cativando minha atenção de novo. De quem eu serei dupla?
Ergo a mão chamando a atenção do professor antes que ele continue o sorteio.
— Perdão, eu não ouvi, de quem eu sou dupla, senhor?
— Caterine Swan, correto?
— Sim— sorrio como uma boa garota.
— Você e o senhor...— ele volta a olhar para a lista na mesa, olho de soslaio para Mason, mas ele só faz careta— Jasper Hale.
— Obrigada, professor— assinto e volto a olhar pra Bella— Ele acabou de me colocar com o garoto que só falta?— resmungo para ela.
— Ele veio hoje— disse ela tranquilamente, olhando para trás, acompanhei seu olhar e vi o loiro no fundo da sala, já me encarando na mesma carranca que eu me lembrava de semanas atrás. Fiz careta e voltei-me para frente desconfortável.
— Ele está com raiva ou eu estou imaginando coisas?— perguntei baixinho para minha gêmea, ela mordeu o lábio e deu de ombros.
— Mason Crowley e... Isabella Swan— diz o professor. Ah, fala sério! Eu olho para Mason e ele sorri para nós. Isso vai ser no mínimo um porre. Bella afundou na cadeira.
— Relaxa, se ele te encher o saco, eu dou uma no saco dele— toco o ombro dela tentando apaziguar. Bella e um engraçadinho fazendo trabalho juntos, tenho certeza de como ela ficará desconfortável perto dele e suas piadinhas de quinta série. Bella não sabe lidar com garotos tanto quanto eu.
— Muito tranquilizante— murmurou ela. O professor terminou o sorteio e bateu palmas para aquietar os alunos que já se programavam para passar o final de semana juntos e já entregarem o trabalho do qual nem recebemos o tema ainda.
— Sosseguem pombinhos, sosseguem— ele pediu, alguns riram e aos poucos foram se calando— O tema do trabalho será sorteado e eu vou mais uma vez, através da chamada, chamá-los para virem pegar seu tema.
Mais uma vez eu e Bella nos fodemos, por sermos transferidas, nossos nomes estão no fim da chamada, ou seja, dependemos de nossas duplas e suas mãos sortudas. Iupe!
Olho para Jasper mais uma vez, mas o loiro observa a janela, está nevando lá fora. Bufo e espero não ter que fazer tudo sozinha. Se ele for mais avoado que eu, estaremos fritos, eu sou a rainha da procrastinação. A aula está quase acabando quando o professor chama Jasper, o loiro se levanta calmamente e os alunos nos corredores abrem espaço para que ele passe sem ter que desviar de nada. Por que ele bota tanto medo nas pessoas? Bato o pé, acompanhando-o com o olhar. Ele pega um papelzinho e vai se sentar sem nem se dignar a olhar na minha direção. Qual a droga do problema dele? Fico emburrada rapidamente e assim que o sinal toca, pego minhas coisas, atropelo várias cadeiras e vou até o loiro, barrando-o. Ele move o maxilar tenso de um lado para o outro, me encarando. Não me lembrava que ele era alto assim. Seus olhos também parecem ainda mais claros do que da última vez que os vi, isso é...
— Bom dia para você, dupla— cumprimento com uma pitada de ironia. Ele recua um passo, estamos numa distância de um braço. Parece que ele vai ultrapassar a parede— E então? Qual vai ser?
— Está querendo dizer na minha casa ou na sua?— ele franze a testa, parece passar mal, tentando se afastar de mim.
— Olha, você fala— levanto as sobrancelhas, fazendo-me de surpresa. Eu só me faço de boazinha com figuras de autoridade, de resto, eu sou um lobo vestindo pele de cordeiro.
— Infelizmente— diz ele deslizando para o lado, abrindo espaço entre as carteiras que eu atropelei.
— Você está bem?— pergunto, confusa e meio preocupada com toda a tensão que ele exala.
— Eu... preciso sair— ele diz entre dentes e acelera o passo, não consigo seguí-lo porque entrou na minha cabeça que estava sendo vergonhoso e eu congelei no lugar.
— Hale!— eu chamo sendo completamente ignorada, ele escapa da sala sem olhar para trás. Isso não vai ficar assim mesmo! Eu nem sei qual é a porra do trabalho.
Olho ao redor, envergonhada, fuzilo com o olhar todos que estão me encarando. Vão se foder também.
⋆
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro