Princesinha Hale
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Na segunda-feira vi que Jasper faltou, então minhas chances de matar a saudade de olhar para sua carinha de anjo caído se anularam e eu fiquei meio cabisbaixa.
Bella e Edward ficaram mais ligados um no outro do que nunca. Ela me disse pouco como foi seu sábado havia sido magico e como Edward havia sido um cavalheiro. Ela disse que o beijou e que foi uma sensação muito boa mesmo que, no fim das contas, ele a tenha beijado para que ela parasse de gaguejar.
Minha irmã está namorando com um vampiro. Uau.
Quando chegamos de carona no volvo do Cullen, todos nos acompanharam com os olhares abobalhados e eu tive vontade de rir. Não há coisa mais ridícula que pagar pau para o relacionamento alheio. Francamente, eu tenho mais o que fazer. Por estar sobrando fiquei com Angela o dia inteiro, a única companhia que eu tolero e realmente gosto. A garota é um doce e eu sinto que ela me traz um bem verdadeiro. Dá para dizer que será uma amizade que eu levarei para o resto da vida. Ao menos, posso tentar.
Correu tudo bem fora as espiadas que eu dava na mesa dos Cullen para me certificar que Jasper havia mesmo faltado. A resposta era sempre um sinal de desapontamento para mim.
— Você ouviu?— Jéssica se meteu do nada na conversa que eu estava tendo com Angela sobre a próxima matéria que ela escreveria dos rapazes da natação e eu fui obrigada a parar de falar para encarar a ruiva afobada já que era a mim que ela se referia.
— O que?
— Na escola toda estão chamando você e a Bella de princesa Hale e princesa Cullen— ela riu.
Nossa, que informação inutil.
— Bacana— respondi e me voltei para Angela— Então como eu estava falando, talvez a diretoria não vá aceitar você falar do preenchimento na cueca dos rapazes, isso é...— eu me interrompi cerrando os dentes quando Jéssica teve a cara de pau de segurar no meu ombro e me virar para si.
— Você não vai falar nada sobre isso?— ela quis saber. Franzi a testa e olhei ao redor, algumas cabeças se viraram rapidamente e eu soube que ela queria colher desesperadamente alguma informação para a fofoca alheia. Que estranho, não sabia que ela era jornalista e eu, alguma celebridade.
— Por que falaria?
— Tipo, daqui a pouco você e o Hale aparecem namorando também, né?— ela age como se eu sequer tivesse falado— Vocês dois andam soltando umas faíscas por onde passam.
— Tá, e isso é problema de quem?— desisto rapidamente de fazer o papel de garota paciente e a encaro com severidade, o sorriso de Jéssica desmancha e ela me olha com surpresa, como se eu tivesse acabado de dizer algo ultrajante.
— Caterine...— ela pisca, confusa, pronta para tomar o papel de vítima. Ela é rápida.
— O-o que eu acho que Caterine quis dizer— Angela se meteu como se eu precisasse de socorro e eu dei um sorrisinho apreciando a cena— é que não tem nada entre ela e o Hale, e mesmo se tivesse é pessoal demais para ficar espalhando por aí. Não é, Caterine?— ela me olhou de soslaio e eu dei de ombros.
— É, isso mesmo, amiga— lhe dei uns tapinhas no ombro e a ajudei a sossegar. Em pouco tempo, Angelina foi capaz de ver o quanto eu sou paciente e se tornara uma espécie de escudeira fiel. Me protegendo da minha grosseria. Uma fofa.
— Oh, sim, mas eu jamais ficaria espalhando nada— Jéssica sorriu. Suspirei e olhei para o teto para saciar um tantinho minha vontade de revirar os olhos.
— E eu sou o Papa.— resmungo.
— O que?
— Eu estou brincando— esclareci e me levantei— Já volto— despedi-me de minha única amiga e ela sorriu apertando os lábios. Jéssica tomou meu lugar conforme me afastei, pronta para abstrair qualquer informação que fosse de Angela. Mas a garota tampouco sabia o que tinha entre Jasper e eu. Nem eu mesma sei. Talvez porque não tenha nada e estou querendo ver muito.
Não tem como me sentir mais patética.
Saí do refeitório e puxei um cigarro do bolso. Preciso de nicotina para lidar com idiotas. Estando no meu lugarzinho de sempre, me encostei na parede e prendi o cigarro com os dentes.
— Hum— soprei ao atiçar o isqueiro— Princesa Hale, que bando de imbecis— resmunguei e pude dar uma boa tragada. Olhei para a floresta ao longe e imaginei a que distância Jasper estaria de mim nesse momento. Se estaria caçando ou fazendo qualquer outra coisa. Não perguntei a Edward sobre ele, por mais que quisesse. Gostaria de falar com ele. Não tenho nenhum assunto específico em mente, só quero falar com ele.
Talvez eu pudesse lhe falar sobre as questões filosóficas que andei pensando desde a conversa com meu pai. Ou então falaria que meu sábado teria sido ótimo se não fosse a notícia no final do dia. Um amigo de meu pai morreu, dá pra acreditar? Ataque de animal, deve ter sido selvagem, mas eu não perguntei demais para não o deixar magoado.
Queria saber como foi o final de semana dele também. Se ele está bem ou se... sei lá, se pensou em mim tantas vezes quanto eu pensei nele. Eu estou ficando louca? Eu mal o conheço. Não deveria nem pensar em admitir que estava pensando nele. Porra, Caterine, não fode.
Cacete, eu tenho que falar com ele.
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Jasper falta na terça feira também. Eu já estava ficando paranóica.
Edward foi nos buscar em casa como no dia anterior, e os acontecimentos se repetiram. Fiquei entediada, mas para suprir isso, tentei me obrigar a mostrar algum interesse no que acontecia nas aulas. De maneira incrivelmente surpreendente, deu certo. Fui uma boa aluna o resto do dia. Cara, isso é tão entediante. Não nasci mesmo para ser uma aluna nota A.
Restou-me o trabalho com fraco movimento e o luto dentro de casa. Meu pai não é de ficar lamentando em voz alta, então estava ainda mais quieto do que de costume, isso me deixa triste porque eu não sei mesmo como ajudá-lo. Só queria tirar sua dor desse baque repentino. Enquanto nós pescávamos, seu amigo morria a poucos quilômetros de onde estávamos. Qualquer que tenha sido o animal que o atacou, poluiu as lembranças boas daquele dia. Eu fiquei com raiva, mas não havia o que ser feito se não lamentar e esperar o pior passar.
Na quarta-feira nem tentei procurar por qualquer vestígio de Jasper Hale. Apenas fui para minha sala enquanto minha sósia se engraçava para o lado de Edward Cullen e eu sentia uma forte vontade de vomitar.
— Pois é, fiquem felizes, mas longe de mim— eu gesticulei agitada para que eles se afastassem e o casal riu balançando a cabeça em sincronia. Estremeci— Credo, vocês parecem tão perfeitinhos juntos.
— Obrigado, Caterine, isso foi muito meigo da sua parte, na verdade— Edward fez um aceno com a cabeça, debochado, e eu lhe mostrei a língua como uma criança.
Caminhávamos juntos ocupando metade do corredor e eu ficava desconfortável com tanta atenção. Tentava desmontar a formação, mas o casal rapidamente me alcançava. Bella não queria que eu me afastasse, ela ficava mais tranquila se eu estivesse junto. As pessoas abriam caminho e era grotesco a forma como ficavam boquiabertos ao nos ver passar. Não virei nenhuma porra de miss. Pensei em apenas sair por aí mostrando o dedo supostamente grosseiro para todo mundo mas nem para isso me sentia a vontade.
A situação toda era realmente incômoda e eu só julgava todos em meus pensamentos, com a testa franzida e o olhar de desgostoso, quando, ao longe, foquei minha visão em um rosto se aproximando em meio ao mar de cabeças e um sorriso partiu minha carranca quando seus olhos se focaram nos meus. Ele sorriu de volta e eu tive certeza que jamais me acostumaria com tal beleza. Acenamos um para o outro, mas não compartilhamos quse nenhuma aula então tive que deixar qualquer conversa que quisesse iniciar para o intervalo. Mudei completamente de um instante para o outro só porque Jasper Hale deu as caras.
— Credo, vocês parecem tão perfeitinhos juntos— zombou Edward, afinando a voz como se estivesse imitanto uma garotinha, porque definitivamente minha voz não é assim.
— Cala a boca, Edward!— eu revirei os olhos, constrangida.
— Olha só, vocês até falam ao mesmo tempo— continuou ele.
— Tá falando sério?— levantei as sobrancelhas, surpresa. Jasper já havia saído de nossa vista a essa altura e nós entramos na sala de geografia— Não, espera, eu não quero saber.— me repreendo num resmungo.
— Estou falando sério, sim.— ele me respondeu do mesmo jeito. Comprimi os lábios para conter meu sorriso a força. Edward me lançou uma piscadela de cumplicidade e eu vi que até poderia ter uma amizade com meu cunhado. Bem, acho que um vampiro nunca deixaria as coisas entediantes. Imagine oito.
Acho que é a partir daqui que ficamos mais próximas da família Cullen.
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Eu amo o anonimato. Gosto que ninguém me veja, que ninguém me note nem me dê atenção, mas também gosto quando ele me vê. Quando Jasper me nota, eu sinto uma vontade ridícula de sorrir e fico boba. Ele baixa meus escudos e isso me irrita, mas não é como se eu conseguisse demonstrar na hora. Quando ele me chama para que eu me sente com ele na hora do intervalo, mantenho a postura para não transbordar mais de satisfação do que ele já pode sentir. Sentamos na mesma formação de sempre, um de frente para o outro. Jasper colocou a maçã vermelha que segurava entre as minhas mãos apoiadas na mesa, eu que não recusaria, era a maçã mais vermelha que eu já vi na vida. Franzi a testa e o questionei com o olhar.
— Ela cheira bem, deve estar boa— foi sua justificativa. Abri meio sorriso e mordi a oferenda.
Nossa.
Arregalei os olhos e Jasper sorriu docemente. Só não era mais doce do que a maçã.
— Olá, Vanellope— disse, cordialmente. Apressei-me em mastigar a melhor maçã que já comi na vida e limpei os cantos da boca.
— Oi, pequeno Drácula— ele revirou os olhos e eu ri, debrucei-me na mesa, inclinando-me em sua direção— Olha, eu posso te fazer uma pergunta hipotética?— passei a língua nos lábios e não resisti, tive que dar mais uma mordida na maçã.
— Já começamos assim?— ele levanta as sobrancelhas, cruza as mãos sobre a mesa. Seus olhos estão incrivelmente claros, o que confirma minha teoria de que ele tinha ido caçar.
— Você está sabendo que eu gosto de ir direto ao ponto.— sorrio maliciosa, sinto algo estranho se remexer dentro de mim quando me perco no seu olhar. Um estranho bom.
— O que?
— E se eu te dissesse que, hipoteticamente, você fez falta esses dias?— não tive muito coragem de olhar em seus olhos ao sugerir isso, no entanto, logo voltei a olhar.
— Só em hipótese?— fiquei feliz porque ele entrou na brincadeira. Fazia uma careta séria, como se fosse algo a ser levado a sério.
— Uma mera sugestão!— afirmo, um pouco tímida.
— Hipoteticamente, eu poderia dizer que você também fez— ele sorriu. Balanço a cabeça e apoio o rosto na minha mão direita, a esquerda leva a maçã para a frente dos meus lábios, como se eu quisesse me esconder. Até certo ponto, eu quero— Em tese.
— Claro, só em tese— nós rimos. O silêncio que se segue não incomoda. Gosto de ficar assim com ele.
— Como você está, Vanellope?— ele perguntou e me refletiu, apoiando o rosto na mão do mesmo jeito que eu.
— Estou bem, e você, senhor Hale?
— Ah, estou muito bem— seus olhos pareciam atravessar minha alma, isso sim— Ficou sabendo que seu nome agora é princesinha Hale?— ele disse em tom provocativo. Estremeci. Uma coisa é um bando de idiotas falarem assim de mim, outra é o Jasper.
— Ah, não, você também não.
— O que? Não gostou tanto assim?— ele me desafia com seu olhar. Sabe exatamente como eu me sinto sobre isso.
— Não...
— Por que não? É meu sobrenome. É bonito.
— Não parece ser seu sobrenome de verdade.
— Porque não é— ele ri e dá de ombros. Olho para seu sorriso e faço bico. Tento distrair o nervosismo mastigando a maçã mágica.
— Claro que não, você é velho demais para manter o mesmo nome pra sempre.— ele faz uma careta engraçada para mim— Qual é seu verdadeiro nome, Jasper?
O loiro hesita uns momentos, perco-me na paisagem. O quadro que é seu rosto. Lindo pra caralho. Sinto-me cada vez mais calma, domada de dopamina.
— Jasper Whitlock— ele admitiu. Ficou sério por uns instantes como se não quisesse ter me revelado isso— Meu sobrenome verdadeiro é Whitlock.
— Pois então, muito prazer, senhor Whitlock.
Algo comoveu ele, Jasper fica agitado sem sair do lugar.
— Faz tempo que não me chamam assim— admite, perdendo o foco do olhar.
— Você gosta que eu te chame assim?
— Gosto que você me chame de qualquer forma.— o ouro de seu olhar foca em meu rosto e eu baixo a cabeça para omitir o sorriso. Missão falha, ele já viu.
Não me incomoda tanto assim, sabe? Também gosto de poder chamá-lo de qualquer forma.
Seria interessante se eu pudesse chamá-lo de meu. Mas isso deixaremos para outra hora.
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