Minha princesa
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Seth rouba o meu pedaço de pizza e por um momento eu me pergunto como seria enfiar uma estaca no coração de alguém. Ele oferece um sorriso cínico para mim, lendo meus pensamentos, come a fatia como se fosse a coisa mais prazerosa da sua vida.
Ele está melhorando, pouco a pouco. Ainda está mais quieto do que costuma ser, mas eu ainda tenho o meu pirralho comigo. Seth se sente bem graças a sua nova família e eu fico grata que a matilha tenha trazido alguma alegria para ele em tempos assim.
Hoje ele dorme aqui em casa de novo, gosto de ver que ele se sente mais protegido do meu lado do que em sua casa. Nossos laços se fortalecem cada vez mais. Papai pediu pizza e a TV está desligada, priorizando a interação em família. Nós mantemos uma conversa leve e constante, mas eu reparo que Charlie as vezes dá uma espiada em seu jornal aberto na mesa de centro, ele parou de ler quando Seth chegou, mas certamente tinha algo ali que chamara sua atenção.
— O que foi?— eu perguntei em um sussurro quando ele pegou o jornal de volta logo após Seth ter se oferecido para ajudar Bella com a louça suja e os dois deixaram o cômodo.
— O que?— ele me olhou muito brevemente, não queria desviar sua atenção.
— Que cisma é essa com o jornal?— pergunto, irritada por ele não olhar enquanto eu falo.
— Os desaparecimentos em Seattle estão aumentando cada vez mais, estou preocupado que isso chegue até aqui— ele resmungou.
— Desaparecimentos?— repeti, confusa. Charlie parou e me olhou como se eu não visse algo muito evidente, como um cubo vermelho em um cômodo branco.
— Caterine, está em todos os jornais, o que você anda lendo? Ou assistindo?
— Primeiro que eu só pego os jornais para ver os quadrinhos do Garfield e segundo que eu nem assisto televisão.— rebato, como se isso fosse mais óbvio ainda. Charlie bufou e balançou a cabeça.
— Eles estão acontecendo desde o ano passado, depois do seu acidente— papai começa— As pessoas estão sumindo aleatoriamente, não há ligação entre elas, não há digitais nem nenhuma pista nas possíveis cenas de crime. Estão cogitando um assassino em série, mas nenhum corpo foi encontrado também.
— Ainda— pontuo, ele dá de ombros, assentindo— Quem está sumindo?— fico interessada no assunto.
— Estranhamente, pessoas que alguém daria falta. Parece até que esse possível assassino em série está querendo atenção. Seattle está um caos.
— Logo aqui do lado— murmurei, pensando alto. Não sei o que exatamente, mas é uma situação estranha.
— Exatamente— meu pai balança a cabeça coçando a barba por fazer no queixo.— Se se deteriorar demais, eu vou ficar paranoico.
— Você já parece paranoico— sorrio de lado e Charlie me dá um tapa na nuca, nada sutil, me arrancando uma risada.
— Clifford me disse a mesma coisa— papai resmunga, torcendo o nariz. Uma lâmpada se acende sobre a minha cabeça. Kol. Jasper. Eu não posso confirmar nada, mas talvez Jasper possa ver se minha teoria sobre sua família está certa. Se os Cullen podem mudar de identidade a cada dez anos, sem serem investigados pela polícia nem algo do tipo, eles podem ver a arvore genealógica da família Clifford— Você e Bella estão completamente proibidas de irem para Seattle, entendido?— papai continua, me tirando de meu transe de segundos.
— Sim, senhor xerife— faço careta e balanço a cabeça. Um nervosismo súbito cresce em mim e eu fico agitada, mas tenho que esperar. Preciso falar com Jasper.
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As horas se passam de maneira preguiçosa e, antes que eu perceba, estou bocejando. No mesmo processo de antes, Seth vai se deitar no colchão no chão do meu quarto e enquanto ele se acomoda, eu tomo um banho quente e troco de roupa no banheiro mesmo. Penteei os cabelos com calma, uma preguiça gostosa dominava meu corpo e eu sabia que não ia demorar a dormir. Voltei para o quarto que o pirralho me esperava arrastando os pés. A porta estava aberta e eu meio que demorei para processar porque Seth estava abrindo minha janela até um loiro cauteloso entrar pela mesma. Entrei no quarto rapidamente e fechei a porta atrás de mim.
— Eu ouvi umas pedrinhas no vidro e fui abrir.— Seth se justificou, rapidamente.
— Ei, o que está fazendo aqui?— perguntei em um sussurro alto, voltando-me para Jasper. Seth deu uns sete passos para trás, indo para a quina da minha cama, querendo manter a maior distância possível do vampiro.
— Precisava falar com você. Quem é esse?— Jasper pergunta, franzindo a testa e medindo meu amigo de cima a baixo. Seth recolhe os lábios e ambos olham para mim. Eu reviro os olhos.
— Ah, que preguiça vocês me dão. Whitlock, esse é Clearwater, meu melhor amigo e um dos lobos mais novos da alcateia de Sam. Clearwater, esse vampiro é... alguma coisa do meu passado.— gesticulo. A gente não chegou a namorar então não acho que posso dizer que ele é meu ex.
— Pode me chamar de Jasper— o loiro assentiu, não é muito de contato físico com estranhos, como eu.
— Pode me chamar só de Seth. Hã, vocês querem ficar a sós?— perguntou o garoto, tímido.
— Não, o que eu vim falar pode servir para sua matilha também— Jasper respondeu antes que eu o fizesse, eu fui me sentar na minha cama, colocando um travesseiro no meu colo. Os olhos do loiro acompanhavam meus movimentos como se Seth simplesmente não estivesse mais no cômodo— Como o resto de minha família nunca entrou em combate antes, por mais que eles não vão estar sozinhos, eu achei melhor treiná-los para que ninguém ficasse despreparado para situações inesperadas.
— Você vai ensina-los a lutar?— eu levantei as sobrancelhas. Pode ser um pouco demais considerando que só temos que exterminar Victoria, mas se eles querem...
— Sim, eu sempre quis fazer isso então meio que essa situação é um bom jeito de começar a prepará-los.— Jasper balançou a cabeça e olhou para cima, pensando alto.— Me irrita o tanto que eles ignoram isso, somos o segundo maior clã existente e Carlisle nunca pensa nas ameaças, ter todos treinados vai ser ótimo.— ele me olhou como se pedisse minha opinião e eu concordei com a cabeça.
— Vocês tiveram muita paz, mas é bom estar preparado para guerra também— disse. Jasper deu um sorriso discreto, me encarou de um jeito que eu me senti obrigada a abaixar a cabeça.
— E o que a matilha poderia ajudar?— Seth pergunta, rompendo o breve silêncio que se formara. Jasper finalmente o olha.
— Vocês poderiam ver como nós operamos.... Pode ser útil para vocês também, caso um dia venha uma ameaça maior— ele deu de ombros, cruzando os braços.— Eu normalmente não os deixaria saber disso nunca, mas vocês cuidaram bem de Caterine e essa pode ser minha forma de agradecimento.— ele admitiu e voltou a olhar nos meus olhos a quase dois metros de distância de mim. Ah, eu odeio que ele seja tão lindo.
— Vai nos treinar?— Seth se anima e eu sorrio os observando com atenção.
— Claro.— Jasper assentiu.
— Ah, cara! Que maneiro, vai ser bom, pra variar.— Seth se voltou para mim— A gente não tem nenhum treinamento na matilha, ninguém sabe muito bem o que está fazendo. Espera aí...— ele pareceu confuso por um segundo— Está nos agradecendo por protegermos Caterine?
Jasper apenas assentiu, passando os olhos do mais novo para mim e vice-versa.
— Ah, nem precisa, a Cat é uma de nós. Nós cuidamos da nossa família.— disse ele, orgulhoso.
— Agradeço mesmo assim.— Jasper continua e volta toda sua atenção para Seth— Quantos anos você tem, garoto?
— Vou fazer quinze— Seth sorriu.
— Qual sua relação com minha ex-namorada?— ele quis saber, na lata. Arregalei os olhos e me levantei atraindo o olhar dos rapazes bem brevemente.
— Ela é tipo minha irmã, por que?— Seth pareceu não ter entendido pra valer a intenção de Jasper ali.
— Ah, nada— o loiro sorriu, subitamente muito mais gentil.
— A gente não namorou!— eu reclamei, jogando o travesseiro no seu peito. Jasper sequer reagiu e o travesseiro caiu no chão sem fazer barulho.
— Devo dizer futura namorada então?— debochou o loiro, me aproximei dele com raiva e coloquei as mãos na cintura. Jasper deu um sorriso divertido. Desgraçado, ele sabe que tem um sorriso lindo, por mais contido que seja.
— Eu... vou tomar água agora— Seth disse envergonhado nas minhas costas e nenhum de nós o olhou até ele sair do cômodo fechando a porta atrás de si.
— Está passando tempo demais com Sabine e Emmett?— perguntei, levantando a sobrancelha.
— É que você fica tão linda zangada— ele sussurrou e passou as pontas dos dedos suavemente pela linha do meu maxilar. Poderia ter queimado minha pele com fogo, a sensação é a mesma.
— Não seja ridículo— eu agarro seu pulso e Jasper dá mais um passo na minha direção, me intimidando com seu tamanho.
— Sai comigo, senhorita Swan— ele pede, eu arregalo os olhos mais uma vez.
— E-eu... espera, o que?
— Sai comigo.— Jasper repetiu no tom manso que tanto me desestrutura— Por favor?— acrescentou.
— Agora?
— Agora eu tenho uma reunião em família. Que tal domingo?
Eu fiquei atônita por uns instantes, totalmente sem palavras e minha mente travou de um jeito sem igual.
— Eu... acho que está cedo— admito, Jasper faz um beicinho meigo e eu tenho que me controlar para não encarar demais sua boca.
— Não custava tentar— ele sorri e volta para a janela, saindo pela mesma com agilidade. Sair. Ele e eu. Isso me lembra alguma coisa?
— Ah! Ei, espera— eu chamo antes que ele se solte e coloco minhas mãos entre as dele, inclinando-me para fora. Jasper sorri de canto e olha no fundo dos meus olhos de um jeito que revira minhas entranhas— Eu... meio que tenho uma coisa para te mostrar depois— eu coço o rosto ao sentir um formigamento vergonhoso subindo pelo meu peito— E não é para um encontro!— destaco. Ele revira os olhos.
— O que seria?— ele franze a testa, curioso, realmente não parece nada incomodado de estar pendurado na minha janela, com os pés na parede servindo de apoio.
— É uma ideia minha, preciso que você veja e confirme.
— Tem a ver com Victoria?
— Não, tem a ver com você, só com você.— por que eu me sinto terrivelmente tímida? Olho para Jasper com desconfiança e seu sorriso aumenta— Está me deixando constrangida de propósito?!— eu reclamo, lhe dando um tapa no ombro. Jasper deu uma risada baixa e gostosa que me contagiou como uma corrente elétrica percorrendo cada parte do meu corpo.
— Quando veremos essa coisa? Sem ser em um encontro— ele resmungou.
— Amanhã cedo, pode ser?
— Eu venho te buscar, Vanellope.
— Ainda não permito que me chame assim— alerto, séria. Jasper ergue a mão esquerda sem tremer em seu equilíbrio e gesticula como se eu estivesse falando baboseira. Reviro os olhos e balança a cabeça— Vai embora, Whitlock.
— Por você eu volto logo, senhorita Swan!— e então ele faz algo que eu não esperava. Seu braço envolve minha cintura e ele me puxa para si. Antes que eu reaja, Jasper beija minha bochecha e eu sinto o mais louco dos arrepios por todo meu corpo, agarrando a gola de seu casaco preto por reflexo. Um terremoto interno e intenso.— Boa noite, minha princesa— sussurrou contra minha pele. Fico boquiaberta e sem reação, antes que eu tenha qualquer resposta, ele me solta e desaparece na noite, escapando por entre meus dedos.
— E-eu... Seu idiota!— eu gritei logo dando um tapa na minha boca, me censurando por tal imprudência. Bati a janela e fechei as cortinas sentindo meu coração acelerado e meu rosto quente. Se ele tivesse ido só mais um pouco para o lado...
Fecho os olhos e esfrego o rosto, irritada. Garoto ridículo! Que ódio. Agora estou sem um pingo de sono. Que maravilha, mais uma noite pensando no idiota do Jasper Whitlock. Eu o odeio tanto.
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