Gamado em mim
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Papai me levou para casa no terceiro dia. Aposto que ele pensou que eu virei Jesus Cristo para ficar totalmente curada após meros três dias, mas não contestei. Precisava da minha cama mesmo que ela não fosse nem de perto tão boa quanto a de Jasper, era minha.
Bem, por isso e porque eu não aguentaria ficar nem mais um segundo afundada em uma torta de climão com Jasper. Nós somos muito instáveis, ou eu o irrito ou ele me irrita, isso vai me deixar louca e eu ainda posso contar nos dedos as vezes que conversamos. A cada dez coisas que eu pensava, onze eram sobre ele.
Não precisei ir para a escola nem para o trabalho por longas semanas de atestado, fiquei preguiçosa e dolorida. Fiz drama e meu pai me mimou como nunca antes. Bella também, ela realmente se culpava pelo me aconteceu e eu não a contrariei como uma forma de lhe dar uma lição. Meu silêncio foi mais severo do que qualquer outra coisa que eu fosse falar. Eu avisei. Não posso dizer que queria que ela se sentisse mal por tais merdas, mas eu estava certa desde o inicio.
Foram dias de merda. Tive que me drogar muito, mas nem sempre dava certo. Parece que eu tenho alguma resistência maior aos remédios ou sei lá o que. Por muitas vezes quis meter minha cabeça na parede com toda força só para apagar, mas óbvio que não fiz isso. Bem, meu pai não deixou.
Edward e Alice se tornaram presenças constantes em nossa casa. Queriam sempre ver como eu estava e como Bella estava. Sabine também dá o ar da graça de vez em quando, sempre com alguma provocação com o nome de Jasper na ponta da língua.
— Ele ainda está teimando consigo mesmo de que não quer vir te ver— dizia ela numa quarta a tarde, andava de um lado para o outro no meio da sala e eu sorria me divertindo com a forma que a loira se soltava. Depois da escola, Bella fazia minha lição de casa junto de Edward que sorria a ajudava com a matemática. Alice e Charlie entrosavam do lado de fora, a vidente usava da sua carinha meiga para amaciar meu pai como poderia, mas duvido que meu pai vá passar a gostar de Edward de qualquer forma. Ele culpa o rapaz embora o mesmo não tenha feito nada— mas também não para de perguntar sobre como você está, tipo, cara? Liga, corre atrás, mas não! Ele tem que ir caçar... outra coisa. Ah, homens complicam tanto as coisas! Jasper não cansa de ser teimoso.
— Sabine, cala a boca, a está envergonhando— Edward disse sem levantar os olhos de meu caderno, tentando copiar minha letra pequena e nem de perto tão caprichada quanto a dele. Jurei que poderia dar-lhe um beijo na bochecha nessa hora.
— Mas essa é a intenção!— rebateu a loira, rindo. Veio se sentar do meu lado de maneira graciosa, as pernas cruzadas e as mãos pousadas nos joelhos, ela me fitou com um olhar maroto— Estou ansiosa para o dia que você fizer o Jasper admitir que está gamadinho por você.
Franzi a testa e senti meu rosto se aquecer, ela deu um sorriso ladino, maliciosa.
— De onde você tirou que ele está gamado por mim?— balancei a cabeça e dei um sorriso torto.
— Não podem esconder a verdade de mim, lembra-se?— ela levantou as sobrancelhas de maneira amigável e convidativa.
É o dom dela. Acho que, apesar de ser implicante, Sabine não diria esse tipo de coisa para me iludir e tampouco seu irmão ficaria sem dar uma palavra que fosse.
Eu fiquei fodida de paranoias. Reúno todas as informações que tenho. Eles sabem que eu tenho uma queda por seu irmão, e se Edward não contestasse as falas de Sabine por pena de me magoar?
Jasper não me ligou nem tentou qualquer aproximação nos dias que faltei na escola. Ele é teimoso ou simplesmente não quer falar comigo mesmo? Na última vez que acordei em seu quarto, ele não estava mais lá. O que é que eu não estou vendo? Por que eu tenho tantas perguntas para fazer mas nunca nenhuma delas sai? Jasper ofusca meus sentidos sem ter que usar seu dom. É extremamente irritante. Eu pensava em seus sorrisos e nas suas falas. Nos seus cabelos e nos teus olhos. Inferno, eu meio que senti falta dele todos esses dias, mas que porra nós somos? Se ele me chamar de amiga qualquer momento eu juro que me jogo do quinto andar do primeiro prédio que eu encontrar.
Não tem como sermos amigos, ele, melhor do que ninguém, sabe como eu me sinto toda vez que o vejo. Ele sabe, e eu não posso nem sonhar com o que ele fará sobre isso. Esses sentimentos são tão confusos que eu não sei o que fazer e, pra piorar, estou sem nicotina. Bella se recusou firmemente a me comprar uma carteira de cigarros novos e eu não podia pedir para os Cullen nem para Angela que fora me ver vez ou outra.
Hoje é domingo a noite e não há nenhuma nuvem no céu. A lua cheia ilumina o bosque ao redor de minha casa e eu tento ler o mesmo parágrafo do livro de sociologia pela milésima vez. Estou sentada em minha cama e penso sem ânimo algum que na manhã seguinte voltarei para o colégio. Que saco, terei que fazer minhas lições de novo, ninguém merece. Me irrita mais ainda saber que haverá um baile no próximo final de semana, todo mundo estará afobado. Sua alegria vai me irritar exatamente porque não serei capaz de desfrutar dela. Não poderia dançar ou usar um vestido apertado que realçasse meus peitos. Só porque não posso ir é que eu sinto mais vontade ainda.
Respiro fundo, é uma maravilha pensar o quanto isso está ficando mais fácil. Nos primeiros dias eu queria morrer sempre enchia os pulmões, mas no momento está consideravelmente menos pior.
Decido largar o livro e me levanto de minha cama pensando em fazer algum lanche ou coisa do tipo, encontro-me terrivelmente entediada e na calada da noite é um tanto mais complicado evitar pensar em Jasper. Se eu ao menos tivesse o número dele... eu deveria ser mais orgulhosa? Nós não tivemos nenhuma briga, eu posso chamá-lo, mas se ele mesmo está resistindo por quê eu deveria insistir?
Decisões, decisões. Urgh, eu odeio ter que decidir qualquer merda. Estou prestes a sair do quarto quando um estalo baixo rompe o silêncio da noite. Franzo a testa e olho para minha janela pensando ter ouvido coisas, mas algo pequeno atinge o vidro novamente e eu torno a fechar a porta, trancando-a dessa vez. Aproximei-me da janela e a abri, debruçando-me na mesma. Olhei para baixo e vi o motivo de todas minhas duvidas logo ali. A luz fraca da lua cheia o dava uma aparência mais pálida do que de costume. Senti meu coração se acelerar e dei um sorrisinho.
— Oi— cumprimentei baixinho, surpresa. Ele apenas gesticulou para que eu me afastasse da janela e assim eu fiz. Num segundo, Jasper estava entrando pela minha janela, nas suas roupas normais. Sempre preto. Ele mal olhou ao redor antes de me encarar.
— Olá, Caterine.
Cruzo os braços e me balanço para frente para trás.
— Á que devo a honra, senhor Whitlock?— quis saber, considerando que eu o veria no dia seguinte, foi algo inesperado, com certeza.
— Nada demais, eu só estava passando pela rua... quando reconheci seu cheiro e decidi vir te ver— ele dá de ombros, parece indeciso.
— Acredito que isso não é o tipo de coisa que falam normalmente, mas ok— sorri e apontei a cama para que ele se sentasse.
— Não, obrigado— ele deu uma segunda checada no meu quarto e deu um sorrisinho para as barbies que eu mantinha na minha cômoda.— Ainda brinca com elas?— aponta.
— Quando dá na telha— volto a me sentar na minha cama e Jasper segue meus movimentos.
— Parece melhor.
— Ainda estou roxa, mas posso me movimentar mais agora— balancei a cabeça. Talvez eu esteja um pouco na defensiva. Só respondendo o necessário, mas estou curiosa.— O que estava fazendo por esses lados?
Jasper umedeceu os lábios e passou a mão nos cabelos, sacudindo-os. Vi algo escuro entre seus fios loiros e tornei a me levantar, me aproximando dele lentamente.
— Caminhando. Pensando.— seus olhos desceram pelo meu corpo e ele foi recuando para a janela. Sorri achando um pouco fofo da sua parte, como se fosse apenas um movimento tímido e não um movimento cauteloso de não-dê-mais-um-passo-ou-eu-vou-cravar-meus-dentes-na-sua-garganta.
— Segura o fôlego, Whitlock— recomendei e ele me obedeceu, tenso. Aproximei a mão direita de seus cabelos e puxei de lá uma pequena folha morta. Apesar de estar curiosa sobre a textura do seus fios, recuei o mais rápido possível, jogando a folha pela janela atrás dele. Dei dois passos para trás e mordi o lábio juntando as mãos nas costas.— Pronto.
— Hã, obrigado— ele franziu a testa e baixou a cabeça por um tempo. Limpei a garganta e sinto frio com a brisa que vem da janela. Meu pijama não é dos mais recomendados para tal clima, mas eu não durmo de janela aberta. Short e regata só são usados dentro de casa e debaixo das cobertas.
— E no que pensava?— puxo assunto pensando seriamente em mandá-lo fechar a janela e em dúvida se ele vai conseguir ficar em um cômodo onde meu cheiro está por toda parte. Jasper bufou e fechou a janela atrás de si logo que eu me abracei. Não me olhou e eu queria saber se ele estava lendo meus pensamentos ou algo assim.
— Várias coisas— ele balançou a cabeça— Várias coisas sobre... você.— não me olhou ao admitir. Arregalei os olhos e abri a boca sem dizer nada. O que eu diria, afinal?
— Ah, é... isso é ruim?
— Pode ser que seja péssimo, pra você— ele deu de ombros e de repente se sentou no chão. As pernas dobradas diante do peito e os braços cruzados sobre os joelhos.
— Por que?— ajoelhei-me onde estava e me sentei nos meus calcanhares. Pouco mais que um metro de distância entre nós. O de sempre.
— Ainda não sei— resmungou— Eu me sinto completamente perdido, entende?— Jasper me olhou com alguma expectativa de ser compreendido. Eu assenti— Isso é estranho.
— Queria poder te ajudar com isso— encolhi os ombros— Mas não tenho nenhuma dica do que fazer.
— Você já ajuda— ele sussurrou. Esperei, mas Jasper não completou sua fala com mais nada.
— O que exatamente estava pensando sobre mim?— tombo a cabeça de lado e vejo que Jasper começa a bater o pé.
— Nada em específico. Só em você.
— Foi só hoje que pensou em mim?— consegui provocar um pouco, um sorriso fraco nos lábios. Jasper me mediu de cima a baixo e eu cerrei os punhos em meu colo.
— Não.— respondeu com simplicidade.
— Então por que não veio me ver antes?
— Estava me ocupando com outras coisas. Mas não adiantou muito, ao que parece— ele deu meio sorriso e balançou a cabeça.
Eu poderia dizer que estava prestes a entrar em combustão, mas tentei me controlar ao máximo. É uma situação nova, tenho que averiguar com cuidado.
— Fiquei sabendo o que Sabine te falou na última vez que esteve aqui. Sobre mim.— comentou. Sorri e balancei a cabeça.
— Não se preocupe, eu não levei para o lado pessoal, sei que ela estava só brincando.— resmunguei.
— Você acha que ela estava brincando?
— Costumo levar em consideração os sentimentos da pessoa se ela mesma os compartilha comigo, não um terceiro envolvido. Se quiser me falar algo, então fale você mesmo.— o olhei, séria. Ele selou os lábios e virou o rosto. Bufei, zangando-me.
— Não posso dizer— ele sussurra.
— Por que não?
— Porque não quero me importar com você. Não quero assumir isso.
— Sei. Fraquezas.— soltei uma risada de escárnio e me levantei o encarando de cima.
Pensei em falar muitas coisas. Pensei em mandá-lo á merda e pra puta que o pariu. Poderia xinga-lo por horas por fazer tantas confusões. Mas tudo o que falei foi:
— Por que, Jasper?
Por que eu? Por que ele estava me falando que pensou em mim esses dias se não tinha intenção alguma de levar qualquer merda para frente?
— Que porra você quer que eu faça com isso, Jasper?— indago e ele se levanta também. Elevo o tom de um jeito perigoso, mas considerando que meu pai dorme com a TV ligada e ronca muito alto, seria difícil despertá-lo.
— Eu não sei!— admitiu irritadiço, segurei-me para não revirar os olhos— Eu só quero conversar com você sobre qualquer coisa na hora do intervalo. Quero que você me faça rir com alguma de suas gracinhas e quero que me encha de perguntas, me fale de todas as suas dúvidas, Caterine. Quero matar o tempo com você mesmo que eu fique sedento toda vez que eu abro a boca do seu lado. Mesmo que ao mesmo tempo que eu queira me alimentar com cada gota do seu sangue, eu ainda possa te fazer sorrir e possa te ver colocar os cabelos atrás das orelhas sempre que você fica tímida. Quero saber de outros músicos que você gosta. Quero não ter que me preocupar se você comeu alguma coisa ou se você parou de fumar! Quero que você saia da minha cabeça, porra!
Eu estremeci e fiquei boquiaberta durante todo o seu discurso. Olhando em seus olhos, eu via raiva e confusão. Talvez o meu reflexo. Minha respiração ficou um tanto mais ofegante pelo nervosismo que me preencheu, acelerando também meu coração. Jasper bufou e esfregou o rosto com força, exalava frustração.
— Eu senti sua falta esses dias— admiti atraindo seu olhar de volta para meu rosto. Mexi as mãos e as esfreguei ansiosamente diante do peito. Dei um passo em sua direção sem pensar muito— Não sei por que, mas senti.
— Não deveria.
— Me diz como para isso.
— Eu não sei— ele balançou a cabeça e abriu a janela.
— Jasper, não vá— cegamente, agarro seu pulso. O loiro me olha com um semblante indecifrável.
— Não tem como você gostar de mim, Caterine. Você não faz ideia do que eu sou.— seu tom de voz era cortante.
— Você pode mudar isso— disse, o soltando— Quando quiser me falar, estarei pronta para ouvir.
— Esse é o problema. Não quero que você ouça— ele resmungou e pulou pela minha janela. Cruzei os braços com o misto de sentimentos em meu peito. Foi sufocante olhar para fora e não ver nada, mas por mais que eu queira, não farei nada. Porque ele foi embora porque quis. Então ele voltará pelo mesmo motivo.
Ou não. Eu não sei. Fecho a janela e fico parada com a mão no vidro. Fico péssima, de uma hora para a outra. Espero mesmo que ele volte e me fale tudo o que tem para falar.
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E aí vadia, tá achando o que?
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