Capítulo XXII - Clímax.
NOTAS INICIAIS
Olá pessoal! Finalmente, consegui trazer mais atualizações. Espero que gostem! Nos vemos lá em baixo!
CAPÍTULO XXII — Clímax.
"Não devemos ter medo dos confrontos... até os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas."
Condado de Oxford, Inglaterra.
Município de Pinewood.
04/07 - Sábado.
09:35 P.M.
—Clímax... Que nome engraçado para um hotel. — Alevi comentou, encarando a janela embaçada do carro. Pela primeira vez desde o início do verão, estava gelado.
—Esse não é o nome original... Costumava ser Clifford Hall, sobrenome dos antigos donos. Mas desde que faliu, e se tornou farol pra todo tipo de maluco e jovem desocupado, as pessoas começaram a chamar de Clímax. — Jacob respondeu, atualizando as mensagens no celular em busca de algum recado de Madison. Mas nada... E ele só estava ali por causa dela. Nem mesmo seus melhores amigos, Allyanne e Nickolas, se fariam presentes.
A repercussão do tal jogo no hotel abandonado foi massiva. Apenas aqueles com ocupações realmente importantes (ou algum senso de juízo) não compareceriam.
Desde que a direção do Instituto aumentou a segurança e acabou com as festas no lago, os adolescentes estavam sedentos por oportunidades de diversão. A maioria não teve dificuldade em conseguir ou falsificar autorizações para sair, e foram buscados por parentes ou funcionários, como foi o caso de Alevi e Jacob.
O carro luxuoso dos White parou defronte para uma residência magnífica. Ali morava um conhecido de Jacob, formado no Instituto Ólympus. Claro que este rapaz, Oliver, não fazia ideia da presença da dupla. Na verdade, os irmãos fingiram um encontro com ele para sair do internato, alegando que o chofer do colega seria quem os levaria de volta ao colégio posteriormente.
Alevi e Jacob se despediram do homem idoso ao volante, que não duvidou das suas intenções por nem um instante. Ele era seu motorista oficial dentro de Pinewood, e os conhecia faziam anos. Bons garotos os dois, nunca viu razões para desconfiar deles.
A sós nas ruas úmidas de orvalho, depois de esperar o funcionário virar a esquina, Jacob guiou o caminho.
Alevi muito ouviu falar a respeito do Clímax. As histórias sobre o lugar eram apavorantes e tentadoras, mas jamais se atreveu a aventurar-se nele. Isso só aconteceria agora, pois Mackenzie os convenceu a participarem do evento. A garota tinha suas razões para não querê-los por perto naquela noite em especial, e não poupou esforços para os persuadir a saírem do internato.
Jacob pensou bastante na proposta da irmã antes de levá-la para frente. Como presidente do Grêmio Estudantil, seria outro momento de péssimo exemplo para os alunos que se espelhavam nele (embora estes provavelmente não estivessem lá). A própria Madison alegou não gostar mais daquele tipo de coisa, visto que seu último ato de rebeldia culminou em consequências tenebrosas. Mas algo em um dos argumentos de Mackenzie o chamou atenção: talvez, realmente, um ambiente menos vigiado, mais caótico e parecido com o que costumavam frequentar no passado, quando iam em incontáveis festas juntos, pudesse aproximá-lo da sua antiga amada de uma vez por todas.
Quando encorajado, perguntou à ruiva o que ela achava da ideia, e foi surpreendido pelo fato de que esta teve o mesmo pensamento, e estava prestes a convidá-lo para acompanhá-la. Contou sem detalhes, como fazia muito atualmente, estar dando uma nova chance para sua vida social, se sentido demasiadamente presa nas tarefas como capitã de xadrez e tenista, e disse para Jacob encontrá-la no Clímax. Surpreso, o rapaz ofereceu uma carona junto dele e do irmão, mas ela recusou, dizendo que já tinha com quem ir. Jacob não gostava muito da sensação de estar constantemente disputando a atenção da jovem com alguém, mas seu lado racional o conscientizou de que ela iria ao jogo para se encontrar com ele, então pouco importava com quem chegaria ao evento.
Agora, caminhando pelas avenidas enevoadas de Pinewood, Jacob segurava o celular em mãos, atento para qualquer tentativa de comunicação da parte dela. O Clímax era grande, e teria dificuldade de encontrá-la dependendo da quantidade de pessoas em seu interior.
Seu irmão caçula, por outro lado, não pretendia reunir-se com ninguém em específico, embora soubesse que Thomas estaria lá. Conversaram pouco durante o almoço daquele dia, quando Alevi finalmente saiu do próprio quarto para comer. Incapaz de organizar meios de comunicar as aflições que se apossavam do seu coração, Alevi preferia esquivar-se dele emocionalmente, até que fosse capaz de falar a respeito. Se Green estivesse realmente se escondendo de si com o tal Castiel, talvez este até gostasse do seu distanciamento, de qualquer forma. O cacheado logo notou sua postura, e o convidou para ir ao hotel, buscando quebrar o gelo. Mas não conseguiu uma resposta concreta sobre irem juntos. Somente momentos depois, sem a presença do melhor amigo, Mackenzie e sua língua afiada o convenceram a ir, com muito esforço.
Não existia outra razão para ter topado participar, além de realmente desejar dispersar a mente. Quando ficava muito ansioso, triste, ou estressado, vinham os pesadelos, e a experiência da madrugada anterior fora suficiente para aterrorizá-lo por meses. Distraindo-se, talvez seu cérebro encontrasse novas coisas para sonhar. Além disso, não teve forças para contrariar a irmã mais velha por muito tempo, cansado demais física e psicologicamente para não ceder à sua súbita, e curiosa, vontade de que ele "vivesse novas experiências". Se pensasse melhor a respeito, Alevi teria provavelmente recusado a oferta. Enfiar-se em um hotel abandonado, escuro, e perigoso, cercado de bêbados e provavelmente sozinho (já que escutou também a conversa entre Mackenzie e Jacob, e sabia do interesse do irmão em aproximar-se de Madison), não poderia ter menos a ver consigo. Mas estava transtornado demais, como sempre acontecia após uma noite de terror, para se dar conta disso.
O Clímax adentrou o campo de visão dos irmãos, embaçado pela neblina fria. Seu tamanho, por si só, era assustador. O ambiente tenebroso se concretizava por janelas quebradas tapadas com tábuas, pintura escurecida e repleta de mofo, pichações, iluminação quase nula e plantas tomando conta anarquicamente de todo o entorno. Só poderiam imaginar o que encontrariam dentro dos maltratados muros alaranjados, que "guardavam" a abandonada hospedagem de luxo.
Avistaram um grupo de jovens em uma calçada mais a frente. Antes de se aproximarem, Jacob parou Alevi com uma mão em seu ombro, dizendo:
—Você está com o seu celular? — Virou-o para si.
—Estou, por que?
—Não o perca. Vou te ligar quando precisar te encontrar. E você também me liga se acontecer qualquer coisa, qualquer coisa mesmo. — Existiam limites para o que seus instintos protetores o permitiriam fazer, mesmo sabendo que por forças maiores Alevi precisaria de espaço naquela noite.
"Aceitou" que o caçula viesse pois também percebeu seu comportamento estranho ao longo do dia, e o conhecia o suficiente para saber que ele teve um terror noturno na noite anterior. Alevi parou de contar aos irmãos quando os episódios aconteciam, temendo preocupá-los, e até passou a chamá-los de "pesadelos" ao longo do tempo. Entre um simples "pesadelo" e um verdadeiro terror noturno, havia grande diferença. Muito mais pânico, pavor, alucinações e até reações fisiológicas, como os vômitos e choro inconsolável, se apossavam do garoto toda vez que a parassonia dava as caras. Mas Alevi era fácil de se ler, felizmente. Suas mágoas ou temores nunca passavam despercebidos, principalmente aos olhos atentos do irmão mais velho.
Jacob não demorou para se tocar do que aconteceu na madrugada anterior, e entendeu que precisava ajudá-lo. As orientações médicas incluíam a distração como meio de desviar a mente dos traumas que desencadeavam os terrores. Sabendo disso, se esforçaria ao máximo para suprimir suas preocupações, e permitir que o caçula o acompanhasse. Sabia que Thomas estaria por lá e, sem imaginar existir alguma tensão entre os dois, deixaria que se divertissem juntos.
—Sabe que precisa tomar muito cuidado, não é? — Continuou.
—Sim, Jake.
—Tem gente viciada que dorme lá dentro. Não costumam ser violentos... Mas nunca se sabe. Então se cuide, e não invente de andar por aí sozinho. O Thomas virá, não é?
—Sim... — Desviou o olhar, meio sem graça.
—Menos mal. Vamos.
Se aproximaram do grupo defronte ao hotel, e perceberam que eles recepcionavam todos que chegavam para o evento clandestino.
—Mas não é possível! — Um rapaz negro reconheceu Jacob, e veio cumprimentá-lo entusiasmado. —Jacob White?! Pensei que depois do segundo ano na presidência você largaria essa vida!
—Eai, Lucas. — Sorriu, cumprimentando-o. —Até parece que você já viu alguém largar essa vida... — Riu.
—Não com os meus próprios olhos, é verdade, mas eu ouvi histórias! — Deu risada também. —É o teu irmão? Caramba, quanto tempo! — Alevi acenou timidamente para ele e o restante dos poucos rapazes e garotas ali presentes. Alguns pareciam ser do Instituto, outros do PHS, sem se misturar. —Já está levando ele pro mal caminho? Logo você?! Pensei que isso era coisa da Mackenzie. Depois que ela te enfiou completamente bêbado num avião pra Austrália no ano retrasado, achei que era dela a vocação de converter as pessoas pro mal caminho.
Alevi franziu o cenho. Jacob bêbado enquanto viajavam de volta para o país deles?! Dessa ele não sabia.
Lucas era um veterano do Instituto Ólympus. Mesmo depois de formado no colégio, voltava para o município visitar os tios por algumas semanas no verão, aproveitando as férias da faculdade.
—Não vou negar que é por causa dela que estamos aqui... — Jacob confessou, rindo.
—Só podia ser! — Lucas alargou o sorriso. —Estamos controlando o pessoal que entra, mas não a vi ainda. Vai chegar depois?
—Hoje ela não vem, só meteu a gente nessa mesmo. — Contou, vendo o colega achar graça.
—É a cara dela!
Jacob e Alevi perceberam um pedaço demolido do muro a alguns metros. Ali era a entrada. Antes que pudessem se dirigir até lá, Lucas os interrompeu:
—Quase esqueci! Onde pensam que vão antes de pagar entrada?!
—Entrada? — Alevi pendeu a cabeça para a direita.
O rapaz pegou uma duvidosa garrafa de destilado das mãos de uma garota, e a balançou na frente dos irmãos.
—Boom de passagem. Vamos lá Jake, sabe como funciona. Não é negociável.
Jacob revirou os olhos, e abriu a boca. Lucas virou o líquido direto na garganta dele, que engoliu à contragosto pela ardência. Então, o veterano se dirigiu para Alevi.
—Pera aí, ele também? — Jacob não gostou da ideia.
—Confia em mim, você não vai querer ficar lá dentro sóbrio... — Lucas deu um sorrisinho malicioso, falando diretamente para o curioso Alevi, que o encarava com um misto de fascínio e receio.
Alevi mirou Jacob, procurando por aprovação. O irmão parecia aflito, mas soltou um suspiro e deu de ombros. Um shot de bebida não mataria o caçula, afinal.
Então, Alevi abriu a boca, e cometeu o erro de segurar o líquido viscoso na língua antes de engolir. Seu único contato prévio com bebida alcoólica fora provando vinhos caros em raras ocasiões com a mãe, e tomando uns poucos goles das cervejas de Thomas. Quando o amargor da bebida se apossou do seu paladar, fez uma careta imediatamente, que arrancou risadinhas das pessoas em volta. Os olhos lacrimejaram, e ele piscou algumas vezes.
—Batizados! Agora sim, podem entrar. — Lucas os liberou.
Ainda transtornado pelo gosto horrível, Alevi questionou, enquanto pulavam os destroços da parede demolida:
—Como alguém consegue gostar disso?!
—Acho que ninguém gosta do sabor, Levi. É do efeito que vem depois.
—Que efeito?
—Você vai descobrir em algum momento... Mas nada de exagerar hoje, ok?
—Eu não tenho a menor intenção de tomar mais dessa coisa.
Jacob riu de leve, se lembrando dele mesmo aos dezesseis anos e das investidas constantes de Mackenzie tentando embebedá-lo.
Muros adentro, o hotel era ainda mais bizarro. Havia uma trilha a ser atravessada por entre as plantas e mato mal cuidados, e viam-se ao longe quadras esportivas e imundas piscinas (vazias, para o alívio de Alevi). Muito lixo, principalmente garrafas de bebida, latas, preservativos, seringas e bitucas de cigarro, estava espalhado por onde pisavam. Uma fonte redonda, vazia, imunda e com a estátua fúnebre de um anjo ao centro captou os olhos de Alevi, assustando-o.
Conforme se aproximavam do prédio, subindo por uma pequena escadaria, escutavam música baixa e muitas vozes. Atravessado o sinistro jardim de entrada, uma imensa porta entreaberta, que um dia fora sofisticada mas agora causava arrepios, se ergueu diante dos irmãos, iluminada por brinquedos de festa brilhantes.
—É por ali. — Jacob indicou-a com a cabeça, questionando seu senso de autopreservação por ter colocado a si e o caçula naquele lugar.
[...]
—EI, ATENÇÃO AQUI! — Uma garota morena, muito alta, subiu em uma mesa de sinuca arrastada para o centro do que um dia fora o saguão de entrada do luxuoso Clímax. Várias pessoas assoviaram alto, atraindo a atenção para o que ela tinha a dizer. Aos poucos, o ambiente foi se silenciando, restando no ar apenas murmúrios entusiasmados por todos os lados.
Da cintura para cima, a jovem usava um top esportivo preto, e tinha seu abdômen, braços e parte do rosto coloridos com tinta vermelha. Um rapaz e outra menina, igualmente sujos de vermelho, se uniram a ela. Em frente à mesa, três garotos sem camisa, pintados de azul, também se colocaram em evidência.
—EAÍ PHS, CADÊ VOCÊS?! — Ela puxou a plateia que, já agitada e incapaz de ficar quieta por muito mais tempo, explodiu em gritaria, tanto em favor quanto contra o grupo.
—OLIMPIANOS, ESTÃO AÍ?! — Um dos rapazes de azul urrou, e o hotel mais uma vez tremeu.
O ambiente era caótico. O salão ficou pequeno para a quantidade de jovens presentes, e para a voracidade da sua energia.
—Vamos explicar uma vez só! — A morena falava maliciosa e entusiasmada. —Somos seus veteranos, do PHS... — Vários jovens ergueram os braços, evidenciando pulseiras neon avermelhadas, e foram aplaudidos e vaiados ao mesmo tempo. —...E do Instituto. — A fala saiu à contragosto, enquanto os veteranos do internato também se identificavam, mostrando acessórios incandescentes azuis atados ao pulso. —Não recomendo que precisem de nós, mas se precisarem, procurem pelas pulseiras. — Sorriu travessa. —Não temos bola de cristal, então vamos pintar vocês pra identificar os times.
Enquanto ela explicava como funcionaria a bagunça, veteranos e veteranas com potes de tinta passavam por entre a multidão tingindo as equipes, vermelho para o Pinewood High School, e azul para o Instituto Ólympus. Eventualmente, alcançaram Jacob e Alevi.
Jacob tirou a camisa, prendendo-a ao cós da bermuda. Deixou que pintassem seu corpo com os dedos, mas não permitiu que o fizessem com seu rosto. Odiava a sensação da tinta seca na face. Alevi, por outro lado, preferiu continuar vestido, e a veterana que o pintava fez traços em seus braços, e um coração em sua bochecha direita, porque achou o garoto, em suas palavras, "uma gracinha".
O jogo era muito simples, e funcionaria quase como uma mistura de caça ao tesouro e rouba bandeira. Os veteranos de cada escola esconderam uma lista de objetos azuis ou vermelhos pelo enorme hotel, sem fornecer aos times dicas ou qualquer indicativo de onde pudessem estar, e vencia a equipe que encontrasse todos os itens da sua cor primeiro. Como já predisseram no convite para o "evento", não existiam regras. Qualquer trapaça ou sabotagem era válida. Em um desafio orquestrado para que os ágeis de pensamento se sobressaíssem, o propósito era colocar à prova capacidades em que os Olimpianos não tivessem vantagens por serem ricos; Afinal, dinheiro não pode te fazer mais esperto.
—É só isso? — Alevi perguntou, após o término da explicação.
—Eles não dão a mínima pro jogo em si. Só querem um pretexto pra ver o circo pegar fogo. — Jacob comentou de braços cruzados, com um pouco de frio.
Os veteranos, então, deram um tempo para os times se reunirem e organizarem-se antes de decretar iniciada a competição. Adele Jones logo se colocou como líder da própria equipe, guiando o PHS para uma extremidade do salão escuro.
Quando os Olimpianos se reuniram, Alevi foi reconhecido por Thomas, que se aproximou sorridente, e um pouco confuso:
—Oi! — Cumprimentou-o, também fazendo um toque de mãos com Jacob. —Resolveu vir, afinal?
—Minha irmã me deu um empurrãozinho... — Respondeu, sem jeito.
—Por que não me avisou? Podíamos ter saído juntos. Aconteceu alguma coisa?
—Eu...
—Está tudo bem. — Disse, percebendo o desconforto do amigo, mesmo sem entendê-lo. —Já estamos aqui, e eu fico muito feliz de ter te encontrado antes dessa maluquice começar. — Sorriu, tentando confortá-lo.
Jacob não prestou muita atenção no diálogo. Na verdade, estava mais interessado no paradeiro de Madison. Era difícil enxergar por entre a multidão, ainda mais dada a iluminação precária, composta majoritariamente por lanternas e luzes de festa, mas tentava mesmo assim. Foi interrompido por sua equipe, que demonstrava dificuldade em se organizar, discutindo a respeito de quais trapaças usar e como exatamente poderiam sabotar o outro time. Escutando o bate-boca, mesmo sem se importar de fato com quem ganharia ou perderia, precisou dizer:
—Se ficarmos nos preocupando com sabotagens, não vamos conseguir chegar no objetivo principal, que é encontrar as coisas da lista.
—Mas eles vão sabotar a gente! — Alguém protestou.
—Exatamente, eles já vão perder tempo com isso. Se não fizermos o mesmo, teremos uma vantagem. — Insistiu.
A discussão continuou, e Jacob percebeu que para os demais o cenário não parecia tão claro. Então, tirou um tempo para organizar os pensamentos em uma estratégia, e sugeriu:
—Escutem. Para fazer uma sabotagem significativa, eles precisam atingir vários de nós. Não adiantaria ferrarem com uma pessoa só, certo? Não faria diferença nenhuma, já que nosso time é muito grande. — Houve um murmúrio de concordância. A maioria ali conhecia o popular presidente, gostava dele, e estavam dispostos a seguir seus conselhos. —Se estivermos juntos, facilitamos para eles, porque podem atingir um grupo todo de uma vez. Mas se nos espalharmos, e tentarmos cada um encontrar pelo menos um item da lista sozinhos, ou no máximo em dupla, eles vão ter que se esforçar muito pra causar um grande impacto. Terão que se dividir, e diferente de nós, estariam divididos pensando em como trapacear, não em encontrar a lista.
—Mais preocupados em prejudicar a gente, do que em ir atrás do verdadeiro objetivo. — Alguém comentou, entendendo.
—Mas e se eles perceberem isso, e resolverem fazer igual, sem sabotar? Aí não vamos ter vantagem alguma! — Outra pessoa da equipe contestou.
—Eles vão trapacear. Acredite em mim, tem uma pessoa ali que não vai dormir a noite se não pelo menos tentar passar a perna na gente. — Jacob respondeu amargamente. —E os outros vão na cola dele.
Com um pouco de relutância de alguns, todos eventualmente concordaram. Então, cada um ficou responsável por achar pelo menos algum objeto para a equipe, e trazê-lo de volta para o saguão quando o fizesse.
Antes de iniciar a partida, os veteranos distribuíram outro daquilo que chamavam de "boom" alcóolico, despejando destilados nas gargantas dos estudantes. Fariam aquilo de tempos em tempos, garantindo seu próprio entretenimento com a embriaguez alheia. Jacob não quis beber, cansado de brincar com o perigo, e precisando estar em sua melhor consciência se quisesse encontrar Madison naquele caos. Alevi também se recusou, e Thomas fez o mesmo.
—PREPARADOS?! — O saguão enlouqueceu de animação. Os organizadores do evento aumentaram a música indecente que ensurdecia os jovens, instigando ainda mais seus espíritos selvagens. —VALENDO!
A multidão se dispersou, saindo correndo para todos os lados, gargalhando de excitação.
—Vocês vão ficar juntos? — Jacob perguntou para Alevi e Thomas, não muito preocupado com a velocidade com a qual encontraria seu item.
—Sim. — Green respondeu por ambos. Percebeu certa demora para o amigo concordar, mas independente do que estivesse causando seu comportamento estranho, não poderia deixá-lo sozinho naquele lugar.
—Ok, preciso procurar alguém. Não perca o seu celular. — Reforçou ao irmão. —Mais tarde encontro vocês.
[...]
O Clímax não tinha eletricidade faziam anos. Além de escuro, era preciso passar por escadas e rampas macabras para transitar por entre seus andares, já que os elevadores não funcionavam.
Enquanto procuravam juntos por algum objeto azul, Alevi e Thomas trocavam poucas palavras. Eles caminhavam cautelosamente, mesmo que precisassem ser rápidos. O risco de pisarem em algo desagradável era alto, e então preferiam tomar cuidado. Green tinha o celular em mãos, usando-o como lanterna, e verificando a lista de itens que poderiam encontrar. Alevi, por outro lado, preferiu salvar a bateria do seu, e fazer uso da iluminação do amigo para se orientar.
Mesmo lado a lado, a dupla experienciava sensações completamente diferentes. Ambos sentiam-se curiosos em relação ao Clímax, e suas impressões do local destoavam: Thomas achava graça das frases ridículas pichadas nas paredes, da quantidade de preservativos espalhados, da decoração cafona e esquecida em todo o canto, e principalmente do absurdo que era poderem simplesmente invadir uma propriedade daquelas sem mais nem menos, já que não possuía segurança alguma; Alevi, por outro lado, não achava nada engraçado. A cada minuto, na verdade, experimentava calafrios dos mais diversos tipos. Além da temperatura baixa, que por si só causava desconforto, os detalhes do sombrio cenário arrepiavam-lhe a pele.
Era estranho estar ao lado de Thomas e sentir-se tão desconfortável e vulnerável, quando normalmente sua presença lhe trazia segurança. Até mesmo o fato de Green estar ali acentuava suas dúvidas: se o melhor amigo não sabia com certeza que Alevi viria, porque fora ao jogo? Não era do seu feitio sair sozinho, principalmente para um local como aquele. Teria planos com outra pessoa?
Alevi pensava nisso enquanto a dupla caminhava por um corredor extenso, com portas de todos os lados. Hora ou outra adolescentes saíam dos cômodos gargalhando, ou gritando aterrorizados. A lanterna de Thomas não era rápida o suficiente para captá-los na escuridão, e portanto na maior parte das vezes não passavam de sombras e vultos agitados, seguidos de um forte cheiro de álcool e cigarro. Um veterano passou por eles oferecendo bebida, e Green aceitou dessa vez, apenas um gole. Talvez ajudasse a se soltar o suficiente para perguntar o que havia de errado com Alevi.
Espiaram o interior de um quarto, mas não encontraram nada. Alevi odiou estar lá dentro, que era ainda mais escuro e com odor forte. Então, saiu rapidamente, enquanto Thomas dava uma última olhada. Enquanto aguardava sua companhia, focou a visão no final do corredor acarpetado. Lá, havia uma porta para a escada de incêndio, que levava aos andares acima e abaixo. Podia ser acessada por outros dois corredores além do que ele estava, um que vinha da direita, e outro da esquerda. Ao pé da passagem, estava jogada uma lanterna, a única fonte de iluminação de todo o local. Alevi encarou a luz fixamente, para não presenciar a escuridão apavorante que o contornava. Então, surgiu uma figura, diferente das demais que viu naquela noite.
Ao contrário do restante dos adolescentes, que estavam sem camisa ou com poucas roupas e cobertos de tinta, essa pessoa alta vestia um moletom preto, com o capuz cobrindo as laterais do rosto. Ele surgiu do corredor mais à esquerda, e pretendia atravessar a porta para subir ou descer para outro andar. Tentou abri-la, mas a passagem emperrou por um momento, forçando-o pressionar seu corpo contra ela de lado para a atravessar. Enquanto o fazia, seu capuz caiu para trás.
—Kenai? — Alevi sussurrou inaudível.
Não tinha como saber. O fato foi que a lanterna no chão iluminou cabelos curtos e dourados como os de Kenai, mas também criou sombras em ângulos que tornaram o rosto irreconhecível. Qual a probabilidade de realmente ser Kenai quem estava ali, afinal? Ele odiava aquele tipo de baboseira. Mas não dava para negar que, por um momento, a altura, o grande físico e os fios loiros pareceram muito familiares aos olhos de Alevi. Talvez, ele só desejasse muito ver outro rosto conhecido. De qualquer forma, a porta logo desemperrou, e o estranho desapareceu escada acima.
—Tom? — Chamou. Ficou distraído com o desconhecido, porém agora a longa ausência de Thomas começava a causar desconforto.
Subitamente, um trio de jovens pintados de vermelho passou por ele correndo e falando muito alto, assustando-o. Um tanto exasperado, Alevi colocou a cabeça para dentro do quarto que vasculharam anteriormente.
—Tom? Acho melhor a gente procurar em outro lugar...
Nada. Thomas não estava mais ali.
Olhou em volta, procurando por todos os lados algum sinal do melhor amigo, mas não o encontrou.
Estava sozinho.
[...]
—Onze, o que você está fazendo?! — Thomas exclamou quando Castiel finalmente tirou a mão que tapava sua boca.
Thomas mal teve tempo de reagir: quando saiu do quarto em que vasculhava, foi abruptamente agarrado pelas costas. Tentou se libertar, mas foi puxado para outro cômodo, que também parecia um dormitório. Tinha uma lanterna lá dentro, jogada em cima da cama, e seu celular também providenciava alguma iluminação.
Assim que o soltou, Castiel se esticou e deu um beijo carinhoso em sua bochecha. A feição confusa de Green o fez dar uma risada gostosa, dizendo:
—Mal podia esperar para eles pararem de falar e a gente finalmente poder fazer algo interessante! Olha esse lugar! — Olhou em volta. —É tudo muito bizarro, não é?!
—Você não pode fazer isso! — Thomas falou, ainda perplexo.
—O que? Por que não?! Já estamos aqui, podemos pelo menos explorar um pouco! — Fez uma careta irritadiça.
—Não, não estava falando disso, eu...
—Estava falando do que, então?! Porque a única coisa que eu falei foi disso, e se você está falando de outra coisa então estamos conversando de coisas totalmente diferentes, o que faria pouco sentido, a não ser que você não estivesse prestando atenção em mim, então faria mais sentido você falar de outra coisa e... — Castiel emendava as palavras aceleradamente.
Thomas esperou que ele parasse, enquanto também se acalmava.
—Onze, você não pode me assustar desse jeito. Eu podia ter machucado você. Não dá para simplesmente aparecer por trás e me arrastar contigo assim, achei que fosse um estranho! — Explicou, paciente.
—Desculpa, achei que seria engraçado... — Pensou por um momento. —Mas eu sou bem forte, não teria a menor chance de você me machucar! — Sorriu.
Castiel demonstrou ter alguma força, era verdade, mas Green continuava sendo maior e mais atlético que ele.
—Olha, eu tenho que ir. Não posso ficar aqui, tudo bem? — Thomas se voltou para a maçaneta.
—Não! O que, você vai mesmo jogar esse jogo besta?! Foi super difícil sair da cola do meu irmão pra poder te encontrar! Não vai embora assim! — Castiel segurou em seu braço com as duas mãos.
Ainda voltado para a porta, Thomas respirou fundo e apertou os olhos. Os odores do cômodo eram fortes, mas o de álcool ficou mais intenso quando Castiel se aproximou.
—Você tomou os remédios hoje? — Perguntou, se virando para encará-lo.
Castiel soltou seu braço, e deu dois passos para trás.
—Que pergunta! A essa hora, é nisso que você está pensando em conversar? Podemos falar de tantas outras coisas! Sabia que os donos desse lugar eram irmãos? Tem gente que acha que faziam drogas aqui dentro, que tem tipo um laboratório no subsolo... Isso sim é interessante! Por que não vamos procurar?
Thomas soltou um suspiro preocupado. Quando Castiel esquivava da pergunta, a resposta nunca era sim.
—Onde está o Herói?
—Ocupado. Ele tem outras coisas pra se preocupar por aqui. — Começou a caminhar pelo dormitório, não muito mais interessado em laboratórios de drogas secretos.
Repentinamente, observando a janela tapada por tábuas, Castiel parou de andar.
—Ele veio, não é? — Perguntou, com a voz meio distante.
—O que? — Não entendeu, distraído com as próprias preocupações, tentando desvendar como tomaria conta de duas pessoas ao mesmo tempo.
—Aquele outro menino. Ele está aqui. — Constatou.
Thomas ficou em silêncio. Castiel sabia sobre Alevi, embora nunca tivessem entrado em muitos detalhes a respeito da relação deles desde que se tornou próximo de Green.
—Pode ir, não me toquei que vocês estavam juntos hoje. — Dito isso, se jogou de barriga para cima no colchão velho em cima da cama, que estava surpreendentemente inteiro, embora tenha levantado muita poeira, fazendo Thomas espirrar. A lanterna apoiada no estofado caiu no chão. —Sei que está preocupado por causa dos meus remédios, mas eu vou ficar bem, daqui a pouco meu irmão aparece. Ele só tem umas coisas pra fazer primeiro.
Aquilo não confortava Green de forma alguma. Além de não medicado, Castiel demonstrava também sinais de embriaguez. Como poderia deixá-lo ali, daquela forma?
—Vem comigo, vamos achar meu amigo juntos. Assim vocês podem se conhecer. — Sugeriu.
—"Amigo"... — Castiel deu uma risada, mas triste dessa vez. —Estar com você é bom, sabia? Sei que você também gosta de ficar comigo. Mas pode ir, sério. — Sorriu.
—Onze...
—Você tem sido minha segunda pessoa preferida desde que eu te conheci. O meu irmão é a primeira... Mas porque eu conheço ele há mais tempo. — Brincou. —E você deve ser a pessoa preferida de muita gente.
—Eu não tenho uma pessoa preferida, não penso assim dos meus amigos.
—Acho que deve ser mais fácil quando se tem muitos... — Castiel ponderou. —De qualquer forma, não quero te atrapalhar, nem vou, tá bom? Todo mundo tem segredos, até o seu "amigo", com certeza. E eu não me importo de ser o seu. Nem um pouco. Já é bem mais do que eu poderia querer ser para você.
Thomas se sentou ao lado dele, levantando um pouco mais do pó atado ao tecido.
—Não gosto quando você fala desse jeito.
—Mas é verdade, o que mais eu poderia conseguir contigo? Ou estou totalmente doido, ou uma ameba drogada de remédios. — Riu, em um desabafo inconsciente.
—Você estava medicado ontem, quando a gente estudou aquelas jogadas?
—Sim... — Revirou os olhos.
—E não foi uma "ameba". Nem ontem, nem no dia antes daquele, nem no outro, nem em nenhum. Parecia o mesmo garoto inteligente de sempre.
Sem jeito, Castiel virou-se na cama, rolando para outra direção. O peito desnudo e manchado de tinta vermelha agora também foi marcado pela poeira. Thomas, desligando seu senso de autopreservação, se deitou ao seu lado, sujando a camisa preta que vestia.
—Você não está medicado agora. — Fez uma pausa, virando-o de volta para si, de forma que estivessem deitados frente à frente. —E não tem nenhum "doido" por perto. Pelo menos, não nesse quarto. Lá fora, são outros quinhentos... Principalmente em um tal laboratório subterrâneo, que eu ouvi falar. — Brincou, fazendo-o sorrir. —Mas aqui, só vejo alguém com a coragem de colocar pra fora alguns dos pensamentos mais interessantes e inusitados que eu já ouvi. E na minha opinião, a única coisa "maluca" nisso, é o quanto me fascina.
Castiel sorriu de orelha a orelha, e do seu jeito dissimulado puxou Thomas pelo maxilar, lhe roubando um beijo. Então, afastou-se rápido, sentindo ter feito algo proibido, estudando temerosamente a reação de Green, que piscou algumas vezes.
Existia um curioso desejo um pelo outro, que insistiam em reprimir. A chama que se acendeu quando se conheceram no fatídico banheiro do ginásio desabrochou em uma química que ia além da vontade sexual: descobriram que adoravam a companhia um do outro, e tinham muito mais em comum do que imaginavam. Porém, ambos eram limitados por suas correntes, sendo as de Castiel o receio de se envolver com alguém após traumas passados, e as de Thomas o relacionamento ambíguo com Alevi.
Agora, juntos naquele cenário duvidoso, em um impulso de coragem, desejo e desligamento da realidade, suas preocupações ficaram em segundo plano. Thomas não conseguiu hesitar muito mais. Depois de alguns segundos de surpresa pelo selinho roubado de Castiel, sorriu para ele, e também o beijou.
O toque começou carinhoso, e não ganhou grandes proporções além disso. Não houve tempo. Porque logo em seguida, alguém abriu a porta.
—Thomas? — A cabeça de Alevi pendeu para a direita, espremendo os olhos na baixa luminosidade, tentando compreender o que exatamente estava acontecendo ali.
NOTAS FINAIS
É, a coisa vai ficando cada vez mais feia. Espero que tenham gostado! Desculpem qualquer erro de ortografia, repetição, ou mal entendimento. Beijos!
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