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Capítulo XVI - Entre Nós.


NOTAS INICIAIS

Feliz Halloween, minha gente! Vim aqui pra assustar vocês com um capítulo de 8000 palavras. É muito, eu sei. Mas tem coisas que prefiro avançar de uma vez em um capítulo , do que ficar picotando. Vão lendo aos poucos, que será sucesso! Esse capítulo não foi tão bem revisado, porque a autora que está me ajudando esteve muito ocupada no último mês. Então, se virem algo errado, por favor avisem nós comentários! Enfim, boa leitura! Nos vemos em baixo!


CAPÍTULO XVI — Entre Nós.

"Estou muito mais perto de ti, agora, mas entre nós ainda existe uma centena de paredes, uma dezena de dúvidas e uma só saudade."

Lucas Silveira.


Condado de Oxford, Inglaterra.

Município de Pinewood.

15/06 - Segunda-feira.

09:05 P.M.


A segunda-feira foi quase fria, com brisa gelada e um tempo mais chuvoso pelos ares. Na noite anterior, os colégios rivais disputaram a modalidade Karatê. Tanto o campeão masculino, quanto a campeã feminina, foram estudantes do Instituto Ólympus.

O tempo de Mackenzie se fazia tão escasso, que mal era capaz de organizar os próprios pensamentos. Ocupada com treinos, apartando brigas entre Vanessa e os estudantes do Pinewood High School, e por vezes ajudando Jacob a administrar os Jogos, raras tornaram-se suas oportunidades de acalmar a mente. No entanto, naquela noite, conseguiu escapar das obrigações mais cedo, e felizmente encontrou a melhor amiga já adormecida quando chegou ao dormitório de ambas. Então, pôde tomar um longo banho e se deitar. Na cama, distraindo-se com o celular, ainda sem sono, foi visitada pelo tédio, que logo abriu a brecha perfeita para que recordasse do último encontro com Blake Torrance, na sala de música.

Refez a busca online sobre as condições financeiras do colégio rival. Não encontrou nada novo. Lembrou do rapaz desdenhando das suas falas a respeito da economia local e, pensando nisso, procurou informações acerca do tema. Mais uma vez, sem sucesso. Intrigada, imaginou se Pinewood possuía algum perfil em redes sociais, algo bastante comum na atualidade. Dessa vez, teve sorte. Se deparou com uma página no Instagram, nomeada "Prefeitura de Pinewood". Mas, o azar veio logo em seguida: A última foto publicada ali era datada de dois anos atrás. Provavelmente, não seria muito útil.

Bufou, frustrada. Largou o celular nos lençóis que a cobriam, e cruzou os braços, encarando o teto. Odiava sentir-se no escuro. A ignorância, por mais segura que fosse, não lhe caia bem. Se deitou de lado, com o corpo tenso. Tomou o aparelho em mãos novamente, e inspecionou a tela com cuidado.

Vasculhando o perfil da prefeitura de Pinewood, algo lhe chamou atenção: os comentários. Acessando-os, se viu em um um mar de depoimentos revoltados. As reclamações, feitas em diversas datas (muitas delas naquele mês), eram várias. Algumas pessoas diziam estar desempregadas e procurando por empregos desesperadamente, outras relatavam a situação precária na qual eram obrigadas a criar os filhos. Muitas, contavam ter sido levadas à falência total.

Chocada, Mackenzie lia tudo com os lábios separados, e uma pontada de angústia se apossando do corpo, saindo do coração e fazendo formigar os dedos das mãos.

As aulas de economia do Instituto sempre fizeram questão de mencionar a quantidade de empregos que a construção do campus gerou. Também falava-se sobre os novos moradores, donos de negócios, que vieram para a cidade, "cheios de oportunidades para distribuir". Até mesmo era citada uma alta de estabelecimentos se abrindo, e famílias vivendo longe da miséria. Estariam os professores... Mentindo? A coordenação, os fazendo dizer tais coisas? Athena, sua fonte de inspiração, permitindo tamanha lavagem cerebral dentro das dependências do próprio colégio?!

Descendo pela aba de comentários, a certeza de que vinham sendo, por algum motivo, ludibriados, se tornava mais concreta. Impossível seria duvidar de tanta gente, reféns da situação de tal forma, que a única maneira de protesto foi tecer depoimentos imortais em uma página há muito tempo abandonada pela prefeitura do município.

Pais, mães, tios e avós, criando gerações, sem o mínimo para prover uma vida digna a estes. Passando necessidades, e sendo simultaneamente obrigados a assistir um colégio de luxo nadar em rios de recurso e dinheiro nos limites da cidade. Odiando a escola, odiando as extravagâncias, as superficialidades, a injustiça. E secretamente desejando, sonhando, que um dia seus jovens pudessem ser educados em um local como aquele. Que pudessem ter um futuro tão bom quanto os que aguardavam os Olimpianos, herdeiros de fortunas incalculáveis. 

Os olhos escuros de Mackenzie foram fisgados por um comentário em especial. Mais especificamente, pela foto de perfil do usuário.

Não era Blake, mas a semelhança não podia ser ignorada.

"Ela se foi. E vocês pagarão por isso." — Foram as únicas palavras deixadas ali, há mais de um ano.

Com medo do que encontraria, acessou o perfil do rapaz negro. Seu nome parecia ser William Torrance, embora a biografia indicasse o apelido "Will". Provavelmente, vivia seus vinte e poucos anos, como indicavam o rosto e corpo muito joviais. Percorrendo as fotografias publicadas por ele, confirmou suas suspeitas ao vislumbrar uma foto de família, postada à mais de dois meses. Diversas pessoas sorridentes e parecidas posavam diante de um comércio, cuja fachada dizia "Mercearia da Jô". Ao centro, existia uma mulher negra de bonitos cabelos crespos, enfeitados com flores. Usava roupas coloridas, e pulseiras elegantes. A loja ao fundo não vivia seus melhores dias: a pintura descascada em alguns pontos, a porta de metal erguida demonstrando traços de ferrugem, e algumas janelas com vidros quebrados, confirmavam isso. Ao mesmo tempo, percebia-se existir um cuidado quase artístico depositado no lugar, com quadros nas paredes, flores, e adereços de todos os tipos enfeitando-o.

Mackenzie identificou Blake no grupo, um pouco mais novo. Enquanto a fotografia se mostrava alegre, sua legenda trazia um melancólico oposto.

"E hoje, terminaram de nos quebrar em pedaços. Muito obrigado a todos que tentaram ajudar, mas infelizmente não teremos como manter nosso negócio em funcionamento. Queridos amigos e clientes, por favor, se lembrem da nossa amada Mercearia da forma como está na foto: iluminada pelo sorriso da mulher mais linda do mundo. Minha mãe de coração. É difícil dizer adeus a um local que exala o seu espírito em cada canto... Mas Jô era uma alma livre, e estará sempre conosco, independente do lugar. Como sabem, meu documentário ainda está em produção. E esse momento não será esquecido. Vamos eternizar nossa luta. Não se preocupem conosco, ficaremos bem. Mais uma vez, obrigado por tentarem."

Mackenzie sentiu o coração batendo forte, subindo a garganta. Inspecionando outras publicações (a maioria, fotos de lugares públicos da cidade abandonados ou mal cuidados, com legendas sobre a frustração por vê-los em tal estado), encontrou outra vez a imagem de Joana. Agora, sua fotografia tinha um filtro preto e branco.

"Jô não resistiu. Pela primeira vez em muitos anos, me faltam palavras. O velório será amanhã, 16h, no Cemitério Municipal."

Mackenzie foi abalada pelo baque de toda a situação. Não compreendia ao certo como a morte de Joana poderia ter algo a ver com as condições do município, mas claramente parecia conectada a isso de alguma forma.

Não só Blake e sua família eram vítimas do que quer que estivesse ocorrendo na cidade, mas sim todos os estudantes do Pinewood High School. Logo, o ódio que sentiam perante Ólympus, e até mesmo por si, fez sentido.

Se o Instituto apenas não mencionasse a calamidade em que a cidade se encontrava, seu envolvimento com o caso, embora revoltante, não levantaria muitos questionamentos. Por mais que omitir os estragos fosse sujo, seria "justificável" em termos de marketing. Mas o fato da administração do internato fazer questão de pregar mentiras sobre o quanto tudo ia bem, principalmente "as maravilhas decorrentes da existência do campus", além de repugnante, soava extremamente suspeito.

Existia algo por trás disso.

Algum motivo, que arruinava vidas diariamente.

Que Mackenzie não conseguiria ignorar. Que afundou seu coração dentro do peito, secou sua garganta, e umedeceu seus olhos.

Que testou seu senso de justiça.

E que a faria descer até o inferno para descobrir do que se tratava.

[...]


A sexta-feira chegou menos gélida, alegrando Alevi, que preferia dias quentes. Bastante entretido com o início dos novos projetos artísticos no galpão, a semana passou voando. Mal teve tempo de notar a ausência de Thomas, que parecia sempre ocupado com treinos (fossem de xadrez, ou vôlei). Também esqueceu parcialmente dos arranhões nas costas, que, após a dolorosa desinfecção, pararam de sangrar aleatoriamente. Ainda ardiam um pouco quando em contato com a água, ou se permanecia muito tempo deitado de barriga para cima, mas, fora isso, o incômodo já passava imperceptível.

Focado em suas pinturas e desenhos, desfrutava de todos os materiais que conseguiu encontrar. Dentro do salão de cimento queimado, no galpão, organizou um espaço para trabalhar, próximo às janelas. A visão das árvores por detrás das vidraças azuis tornava o cenário mais confortável, visto que não apreciava a ideia de passar tantas horas sozinho, como acabava fazendo. Tinha um cavalete, no qual pintava suas telas, e usufruía de um dos tambores pretos para sentar-se. Quando surgia a necessidade de uma mesa para desenho, apoiava a prancheta no largo batente da janela central. Aos seus olhos, mesmo não sendo tudo exatamente apropriado para a produção de arte, o local era perfeito. Dia após dia, criava um grande apego pelo cômodo.

Algumas vezes, sentia culpa por estar agindo pelas costas dos irmãos e Thomas. No entanto, acreditava que caminhar para algum tipo de convivência pacífica com Kenai soava bem mais efetivo do que passar uma vida escondendo-se dele. A dupla combinou uma rotina de horários, e muitas vezes sequer chegavam a se encontrar. Naquele dia em especial, Alevi esperou até os últimos minutos para se preparar para sair.

Quando estava no corredor, fechando a porta atrás de si, deparou-se com a aproximação do loiro. Como sempre fazia quando cruzavam-se, sorriu, tanto para cumprimentá-lo, quanto para demonstrar sua gratidão imensa por este ter-lhe cedido o espaço. Kenai respondeu com um aceno de cabeça muito discreto, e a carranca de sempre na face. Para o outro, bastava. Ele não querer quebrar seus ossos quando o via já era um avanço e tanto.

Então, Alevi foi embora, ainda que inegável fosse a existência de uma forte vontade de ficar e trabalhar mais em suas artes, além de observar Kenai ao mesmo tempo, tentando desvendar ao menos um dos milhares mistérios que criou acerca dele.

[...]


Jacob e seus melhores amigos, Allyanne e Nickolas, se encontravam na sala de reuniões do Grêmio Estudantil. Com eles, estavam a vice-presidente, Samantha, e o Diretor de Eventos, Jackson. Sendo uma terça-feira quente, o grupo vestia seus uniformes de verão, como de costume, com os ventiladores ligados a todo vapor.

Ali, discutiam sobre um evento que se aproximava: a coordenação do Instituto decidiu disponibilizar verba para que os gremistas organizassem uma confraternização entre Olimpianos e convidados. Aparentemente, o ocorrido na floresta deixou um receio no ar de que os jovens quebrassem regras para se divertir, colocando a própria segurança em risco. Então, tanto a direção do PHS quanto a do internato, concordaram em viabilizar uma festa um pouco menos "rígida", dentro dos limites do campus.

Álcool e drogas, obviamente, não seriam tolerados, mas também não existiriam adultos supervisionando o grupo. A ideia era de que a área dos chalés, onde o colégio rival se hospedava, fosse decorada, e música, drinks não alcoólicos e petiscos fossem disponibilizados aos estudantes. Tendo isso em mente, os integrantes do Grêmio buscavam alinhar detalhes, para tirar o evento do papel dali algumas semanas. De vez em quando, se perdiam do foco principal, comentando, por exemplo, sobre o resultado das partidas de Polo Aquático, disputadas no domingo anterior. Ólympus venceu a feminina e masculina, não deixando surpresas no ar.

Repentinamente, batidas fortes soaram na porta. Todos se entreolharam, intrigados com a falta de delicadeza de quem quer que fosse. Jacob levantou-se da retangular mesa comprida em que se dispunham. Ao forçar a maçaneta, quase foi atropelado por um conjunto de adolescentes do Pinewood High School, que adentraram o recinto imediatamente, falando alto. O conteúdo dos dizeres era indistinguível, visto que as palavras se embolavam na confusão. Allyanne, Nickolas, Samantha e Jackson também levantaram, tentando compreender o que se passava, com posturas defensivas diante do que parecia ser algum tipo de protesto, ou ataque.

—Não está sendo nada justo! — Falou uma voz feminina.

—Definitivamente não! — Outra concordou.

—Eu devia ter afogado aquele idiota quando tive a chance!

—É um puta roubo!!!

—Estamos perdendo tempo, esse Grêmio de merda também deve estar por trás dessa palhaçada!

Então, os Gremistas, com exceção de Jacob, entraram no bate-boca. O presidente não conseguia escutar nem os próprios pensamentos, e percebendo que tudo aquilo não levaria à lugar algum, bradou:

—EI! Prestem atenção! — Seus amigos pararam de discutir. Os convidados relutaram de início, lançando no ar mais ofensas e provocações, mas logo se calaram também, observando-o como se esperassem por um deslize seu para atacá-lo. —Vai ser impossível resolver qualquer coisa desse jeito. Ainda nem entendi o que está acontecendo, e...

—O que está acontecendo, é que vocês roubaram da gente em todas as últimas partidas! — Adele disse, liderando a comoção.

A fala da jovem foi suficiente para que a briga recomeçasse. Jacob achou irônico, pensando no fato de que, muito pelo contrário, foi ele quem assistiu Jesse sabotar um dos jogos, e ainda confessar o "crime". Ainda sim, por mais revoltante que fosse, tinha ciência de que trazer isso à tona culminaria em um cenário mais caótico.

—SILÊNCIO! — Pediu outra vez, firme, tentando não perder a paciência. Sabia que aquele tipo de crise uma hora ou outra aconteceria, e esperava estar preparado para tanto. —Eu não consigo ouvir nenhum de vocês desse jeito! — Continuavam debatendo, ignorando-o. —Olha, se vieram aqui só pra gritar e fazer barulho, ótimo, conseguiram, já podem sair. Agora, se querem realmente resolver alguma coisa, sugiro que se sentem e fiquem quietos. Caso contrário, vou precisar pedir que se retirem, porque temos assuntos importantes pra resolver. — O tom de voz foi mais alto, e ríspido. Dessa vez, não demorou para todos concordarem em cooperar.

Os gremistas se sentaram em seus lugares anteriores na comprida mesa de madeira retangular, enquanto os rivais também o fizeram, com um misto de timidez e irritação estampados no rosto. Um único rapaz do Pinewood High School não quis se sentar. Jacob o reconheceu: tratava-se do mal encarado que viu com Madison outro dia. Seu nome era Zyan, e este ficou em pé, de braços cruzados, fuzilando o presidente com o olhar. Ninguém tentou convencê-lo a se juntar aos demais. Na verdade, pareciam com medo até de olhar em sua direção.

Jacob tomou seu lugar na ponta da mesa, enquanto Adele se acomodou na outra extremidade.

—Se concordarem em conversar civilizadamente, todos serão ouvidos. Sam, pode tomar notas sobre essa conversa, por favor? — Pediu à sua vice-presidente. Queria demonstrar o quanto levava aquele encontro à sério, para que os demais sentissem seu interesse no que tinham a dizer. A atitude deixou-os satisfeitos.

Samantha, que era uma garota de traços indianos belíssima, se apressou em buscar um dos notebooks guardados no armário de equipamentos. Enquanto o fazia, Jacob correu os olhos pelos demais, mexendo em suas pulseiras inseparáveis atadas ao punho esquerdo. 

Reconheceu entre o grupo Kendall, irmã mais velha de Madison. O rosto da jovem estava quase tão vermelho quanto seus cabelos acobreados. Vê-la inesperadamente desconcertou-o, amargando sua boca. Cerrou os punhos, contendo antigas revoltas. Por fora, demonstrou indiferença. Por dentro, torcia para conseguir sustentar a pose.

Assim que a vice-presidente retornou, e se pôs de prontidão à anotar, Jacob deu início ao diálogo:

—Por favor, um de cada vez, expliquem o que está acontecendo.

Quase que o atropelamento de vozes recomeçou. No entanto, dessa vez, Adele se pôs à frente do próprio grupo, dizendo:

—Se acalmem, gente. Eu explico. — Assim como Jacob tinha grande influência no comportamento dos Olimpianos, Adele parecia exercer algo parecido sobre seus colegas. Foi obedecida. —Nas últimas modalidades que competimos, Karatê e Polo Aquático, não tínhamos a menor chance de vencer. Topamos participar dessa palhaçada porquê disseram que teríamos tempo pra treinar, não que usaríamos a piscina e o tablado por duas horas, e só. Fora que todos os juízes foram escolhidos por vocês, quem garante que não vão roubar?! Se trouxeram a gente aqui pra humilhar nossas equipes, acabamos com essa merda já, e vocês ficam com essa porra de troféu. — Juntou as mãos em cima da mesa, se inclinando na direção dos Olimpianos de forma intimidadora. —Tentamos falar com a coordenação, treinadores, professores, e todos mandaram virmos aqui, que vocês resolveriam. Então, resolvam.

Jacob precisou de alguns segundos para processar o caso. Um espaço na sua mente ficou reservado para certa frustração pelos supervisores adultos do evento terem jogado aquela bomba em suas mãos. Ainda assim, manteve a calma. Respirou fundo, respondendo:

—Sobre as preocupações a respeito dos juízes, creio que não os conheçam, mas muitos na verdade foram indicados pelos próprios treinadores de vocês. A banca está bastante balanceada nesse sentido.

—Alguns dos professores que treinam a gente são uns imbecis, não dá pra confiar que trouxeram pessoas competentes! — Um loiro protestou, sendo seguido por murmúrios de concordância dos demais.

—Quanto a esse quesito, acredito que não há muito o que fazer. Mas agora que trouxeram isso à nossa atenção, vamos observá-los mais de perto, para ter certeza de que estão trabalhando corretamente. — Samantha pontuou, mesmo anotando.

—E se vocês só virem o que quiserem ver?! — Questionaram. —Como podemos confiar nisso?!

—Tem razão. — Jacob pensou rápido. —Será importante que vocês cooperem nessa parte também. Estaremos disponíveis para toda reclamação ou questionamento que tiverem a fazer em relação ao julgamento das partidas. Mas, como se queixar de um profissional é algo bastante grave, o boca a boca não vai bastar. Precisaremos de reclamações formais, escritas. Em nossas bibliotecas, temos vários computadores disponíveis, que podem ser usados a qualquer hora pra escrever e imprimir os textos. Ficaremos muito gratos pela ajuda. — O rapaz sabia que formalizar as queixas seria a única forma de não acabar atolado em uma infinidade delas. Assim, apenas aquelas com real fundamento chegariam à sua atenção.

A ideia pareceu agradar à maioria, exceto por alguns, que permaneceram com aparência frustrada.

—Justo. — Adele declarou. —E quanto aos Jogos que já aconteceram, e vão acontecer? Seremos só saco de pancadas mesmo?!

Jacob ponderou, respondendo:

—O que vocês sugerem que seja feito em relação a isso? — Deixar que lhes dessem ideias os acalmaria.

—Posso falar? — Kendall pediu. Mesmo irritada, percebeu que ali a civilidade era o caminho. Tanto Adele quanto o presidente (quase enjoado ao escutar sua voz) assentiram. —As partidas que aconteceram deviam ser todas anuladas.

—Até mesmo a de Rugby masculino, que vocês venceram? — Allyanne questionou, arqueando uma sobrancelha. Não simpatizava com ninguém, mas aprendeu com o melhor amigo uma coisa ou outra sobre engolir as verdadeiras emoções e posar como líder estudantil modelo (por mais que, particularmente, isso lhe soasse sufocante e tóxico à longo prazo).

—Sim, se for necessário. — A ruiva rebateu, à contragosto. —Olha, semana passada eu levei uma surra no karatê, principalmente porque não estava acostumada com o piso e mal conseguia parar em pé. Não tínhamos onde treinar nem dentro, nem fora do nosso colégio. Simplesmente não é justo.

Nickolas, mais tímido, não costumava se envolver naquele tipo de diálogo (que, em geral, irritava-o bastante). Porém quis apresentar um ponto:

—Se anularmos as partidas, o atraso no calendário da competição será enorme. Para conseguir repor os jogos na correria, vocês ficariam sem treinar do mesmo jeito. — Os demais gremistas concordaram.

Em tom menos altivo, o bate boca recomeçou. A diferença dessa vez, pelo menos, era de que as vozes se faziam mais controladas, sem sobrepor umas às outras tão abruptamente. Jacob calou-se, pensativo, tentando bolar um argumento que convencesse o colégio rival a não insistir naquela ideia. Quando o encontrou, ergueu a mão, atraindo olhares para si.

—Mesmo considerando que a hipótese de refazer as partidas seja viável...

—O que não é... — Samantha comentou, baixinho, fazendo as anotações.

—...Acredito que essa não seja a fonte do problema. — O presidente prosseguiu. —A questão principal, é que não estão tendo tanto tempo para treinar por aqui, certo? Quero dizer, se marcássemos os jogos para semana que vem, com vocês podendo praticar, sei lá, mais duas horas para cada um deles, o resultado provavelmente terminaria igual. Não é? — Ele esperou que os demais concordassem consigo, certificando-se de que seguiam sua linha de raciocínio. —Então, acredito que o que de fato pode ajudar, seria solicitar uma agenda de treinos mais cheia. Suas equipes têm capitães?

—Claro. — Adele respondeu por todos, revirando os olhos.

—Ótimo. O que posso fazer: Vou levar o caso para a direção, que com certeza entenderá, e marcarei uma reunião com a coordenadoria de esportes, para a qual todos os líderes dos seus times serão convocados. Junto com eles, seguindo os horários de funcionamento de cada espaço de treino, vocês elaboram uma rotina que possam seguir diariamente, praticando as modalidades todos os dias. Parece bom?

Havia um olhar desconfiado na maior parte dos rostos à sua frente. Porém, aos poucos, as expressões foram se transformando em traços de contentamento.

—Eu garanto que posso conseguir essa reconfiguração nos treinos. — Afirmou, pensando no quanto Athena ficaria satisfeita por ele ter encontrado uma forma de manter os convidados ocupados o dia todo. Quando entediados, costumavam causar problemas, e se meter em confusões. —Quanto à anulação das partidas anteriores, já não tenho certeza. De qualquer forma, ambas as coisas não seriam possíveis juntas. Então precisam escolher uma ou outra. Acho que cabe a vocês decidirem. Se estiverem representando a vontade dos demais membros do seu colégio, podemos fazer uma rápida votação agora. O que acham?

—Vamos acabar logo com isso. — Kendall disse. Parecia menos irritada, mas ainda assim o humor não estava dos melhores. Seus colegas demonstraram desejar o mesmo que a ruiva.

Era curioso para Jacob assistir como Kendall se mostrava entrosada com o grupo, quase como se fizesse parte dele desde sempre. Se perguntou se os colegas dela sabiam que, no passado, esta foi estudante do Instituto Ólympus.

—Certo... — Forçou um meio sorriso para a garota. —Quem ainda é a favor da anulação das partidas? — Apenas duas pessoas ergueram o braço. —E quem prefere reconfigurar a rotina de treinos? — A maioria se mostrou favorável à segunda opção. Zyan se absteve, sem demonstrar opinião, apenas permanecendo ali, em pé, encarando Jacob com os braços cruzados. —Está decidido, então. — Ignorou o olhar violento depositado sobre si. —Vou falar com a direção ainda hoje.

Estando o assunto parcialmente resolvido, os adolescentes, com exceção dos gremistas, se levantaram e caminharam em direção à saída, comentando alto sobre o que acabou de acontecer. Pareciam não mais tão revoltados. Para Jacob, o caso foi uma crise evitada.

—Depois dessa, preciso de um intervalo. — Nickolas comentou, com a bateria social esgotada.

—Todos nós. — Concordou Jacob. —Podem ir. Conseguem voltar daqui uma hora?

Aceitando o tempo estimado para o descanso, Allyanne, Nickolas e Jackson esperaram Samantha guardar o notebook usado anteriormente. Feito isso, dirigiram-se até a saída do cômodo. Percebendo que Jacob não os acompanhou, o questionaram a respeito, obtendo deste a resposta de que ficaria ali por mais um tempo, para organizar as ideias sobre como falar com Athena sobre a readequação dos treinos. Sabendo que aquela era uma atitude típica do rapaz, que costumava se centrar muito bem antes de fazer um movimento importante, ninguém se opôs, deixando-o só.

Quando sozinho, Jacob esvaziou os pulmões em uma bufada tensa. Desabotoou alguns botões da camisa, e passou as mãos pelo topete bem alinhado, sem desarrumá-lo.

Enquanto lidava com uma situação difícil, conseguia manter a calma com algum esforço. Mas logo depois, inevitavelmente, toda a ansiedade o atingia de uma vez, como um caminhão em alta velocidade. Andou até uma poltrona roxa, posicionada em um dos cantos do recinto, e se jogou, afundando o corpo nela até a nuca estar posicionada no encosto atrás de si. Com a cabeça voltada para o teto, pendendo para trás, fechou os olhos. Sentia o coração acelerado, e tentava resistir contra uma possível crise mais grave. Geralmente, distrair-se o acalmava.

—Que volta você deu pra manter a galera no cabresto, em... — Desde que se conheceram, aquele timbre debochado se tornou inconfundível.

Definitivamente, esse não era o tipo de distração de que precisava.

A voz o fez abrir os olhos no mesmo instante, e se endireitar no assento acolchoado. Mirando a direção de onde ela vinha, encontrou Jesse com as mãos nos bolsos, encostado na parede mais próxima à porta.

—Tinha que ter se visto, deixou eles pianinho... — Evans continuou. Então, lançou um olhar extremamente descarado em direção ao peitoral exposto pela camisa aberta, arqueando a sobrancelha de forma maliciosa com a visão. Imediatamente, Jacob abotoou o uniforme, fazendo uma careta de reprovação, sem entender, como sempre, onde aquele cara queria chegar. —Athena vai ficar orgulhosa. 

—Você pode por favor me dar licença. — Tentou ser educado.

—Por que? Até onde eu sei, esse ambiente é público. — O cinismo em sua fala era palpável. —Aposto que vocês guardam bastante coisa interessante por aqui... — Mirou o armário onde se encontravam os notebooks utilizados pelos Olimpianos. Só podia sonhar (por enquanto) com o tanto de informações privilegiadas que estes continham.

—Está sabendo errado. — Levantou. —O espaço é reservado pro Grêmio, e na última vez que chequei, você não faz parte dele.

—Verdade, mas o parágrafo cinco do vigésimo quinto tópico do estatuto do Grêmio Estudantil, garante que todo e qualquer estudante, ou, no meu caso, convidado, tem a liberdade de importunar vocês a hora que bem entender. — Sorriu largo.

—Como você sabe disso?! — Franziu o cenho.

—Não é óbvio? — Sua atenção se dirigiu para as grandes janelas, como se as estudasse. —Você precisa conhecer todas as regras, para saber exatamente quando elas estão do seu lado... — Caminhou até as cortinas, puxando-as e olhando atentamente para uma das travas no vidro. Jacob notou que existia um pequeno caderno preto no bolso traseiro da sua calça. —...Quais são as brechas... — Soltou o tecido, observando-o retornar lentamente à sua posição inicial. —E como quebrá-las. — Se voltou para o presidente, encontrando-o a encará-lo com uma feição irritadiça.

Ao mesmo tempo que Jesse aparentava ser impulsivo e irresponsável, suas atitudes soavam extremamente calculadas. Uma combinação muito perigosa.

—Certo. — Murmurou baixo, quase rangendo os dentes de tão tensa que tornou-se a face. —E o que exatamente você quer aqui?

—Ah, nada específico... — Fingiu desinteresse, voltando a caminhar olhando tudo em volta.

—Então, se não tem nenhum assunto para tratar comigo, é melhor ir embora. — O seguiu, temendo que este aprontasse algo. Percebeu que o caderno em seu bolso parecia velho, e muito usado.

—Sério? Mas estou gostando tanto de conhece...

—Sai! — Interrompeu, cada vez mais próximo de perder completamente a paciência.

—Caramba! — Girou nos calcanhares abruptamente, parando à apenas alguns centímetros do presidente. —Até poucos minutos atrás você estava todo miss simpatia diplomático, agora comigo age desse jeito? — Forçou uma expressão magoada, com direito à um biquinho charmoso. —Poxa, assim você me magoa, Jake.

Jacob cerrou os punhos. Sua vontade era de ir embora, e simplesmente largá-lo falando sozinho. No entanto, não confiava em Jesse. De forma alguma o deixaria sem supervisão.

Infelizmente, suas convicções foram testadas quando, do lado de fora, ouviu vozes femininas altas, e muito familiares. Seu olhar vacilou entre a porta e Evans por um instante, enquanto decidia como checar o que estava acontecendo, sem desviar sua atenção do garoto atentado. Então, resolveu puxá-lo pelo antebraço, guiando-o consigo até a saída.

—Ei, mais gentil, Jake... — Jesse tentou provocá-lo, reclamando da brutalidade com a qual foi obrigado a acompanhá-lo.

—Não me chame assim. — Repreendeu-o, ríspido e sem mirá-lo. —Não somos amigos. — Por não vê-lo, sequer notou a expressão de satisfação brotando no rosto de Evans, que encontrou sua caixa de pandora ao descobrir que a forma mais simples de referir-se ao presidentezinho, usando um apelido tão óbvio, poderia ser a melhor opção para incomodá-lo.

Chegando na porta, Jacob espiou o lado de fora a tempo de encontrar uma cena bastante inesperada. Allyanne sustentava um dedo agressivamente apontado na face de Madison, enquanto dizia a ela palavras que, pela distância, embora fossem altas, ele não conseguia decifrar. Nickolas, posicionado ao lado da melhor amiga, também demonstrava uma postura descontente.

Fosse qual fosse o motivo da discussão entre as garotas, a cena bastou para que, sem pensar, Jacob soltasse Jesse, e simplesmente se dirigisse até elas, esquecendo-se das possíveis consequências da atitude irracional que era largá-lo sozinho ali.

—O que está acontecendo aqui?! — Se aproximou.

—Está acontecendo, que essa idiota não sabe qual é a porra do lugar dela! — Allyanne respondeu. Tanto ela quanto Nickolas não conheciam Madison, muito menos seu passado com o melhor amigo.

—Eu só estava tentando ajudar! — A ruiva se defendeu.

—Ajudar quem, garota?! — Soava realmente irritada. —Leva essa tua ajuda pro seu lixão, sem noção! Cacete, com escórias como você fica impossível colaborar com a merda do teu colégio!

—Quer parar com isso?! — Jacob interferiu, reprovando o comportamento da amiga.

—Não, ela está certa. — Madison falou. —É melhor mesmo eu voltar pro meu "lixão".

Dito isso, a ruiva deu as costas para a situação, e saiu andando, magoada.

Jacob precisava ir atrás dela. A última vez que se viram, foi quando esta entrou em contato consigo pelo celular, e marcaram um encontro no pomar. Lá, conversaram bastante, e aproveitaram a companhia um do outro. Madison ainda esteve levemente distante, mas muito mais presente do que em suas interações anteriores, algo considerado um grande avanço no restabelecimento de alguma relação entre eles. Avanço o qual Jacob não estava disposto a perder, por motivo algum.

Assim, antes de sair, lançou um olhar nitidamente descontente aos amigos, e, se lembrando de Jesse, correu de volta para o Grêmio Estudantil. Preocupado ao não vê-lo na porta, onde o deixou, adentrou o cômodo, apressado, fiscalizando todos os cantos, sem encontrá-lo.

Por mais que se preocupasse, tudo parecia no mesmo lugar. Então, fechou a porta, e saiu com urgência pelo corredor, visando alcançar Madison. Ao passar por Allyanne e Nickolas, ambos notavelmente confusos, disse, ainda um tanto revoltado com o comportamento anterior deles:

—Por favor, tranquem a sala. Conversamos depois.

Felizmente, após virar algumas esquinas dentro do labirinto que era o Instuto Ólympus, avistou sua antiga amada. Se aproximou dela, que o ouviu chegar, mas continuou movendo-se.

—Ei... — Jacob desacelerou, tocando de leve em seu ombro, fazendo-a parar, e relutantemente virar-se para si. —Você está bem? O que foi aquilo?!

—Estou. Não foi nada. Eu esqueço que não pertenço mais a esse colégio, só isso. Fui idiota, tentei puxar conversa, mas parece que as coisas mudaram por aqui, e os assuntos são outros. No fim, a garota tem razão. Preciso me colocar no meu lugar. — Suspirou, cabisbaixa.

—Você não tem que "ter um lugar", Maddie. — Tentou confortá-la. —Caramba, estudou aqui por tanto tempo, era amiga de todo mundo... Não faz sentido anular isso por causa de uma rivalidade tão infantil. A Allyanne provavelmente só te tratou daquela forma porquê está com a cabeça enfiada demais nessa competição idiota... Você não merecia ouvir aquele tipo de coisa.

—Como você mesmo disse, eu já fui bem-vinda aqui. É passado. Muito tempo se passou desde então. Quase todo mundo que eu conhecia foi embora.

—Eu não fui. — Lembrou. —Faça o que quiser, mas... — Suspirou. —Não deixe essa coisa toda afetar o que nós... Temos. Ou sei lá, podemos ter. Ainda me importo muito com você. Estávamos tão bem, lá no pomar... Você não gostou?

Nesse momento, Allyanne e Nickolas surgiram no final do corredor, procurando pelo melhor amigo.

—Jake? — Nickolas perguntou.

A voz veio detrás do castanho, fazendo com que este, mesmo reconhecendo-a, virasse para ver do que se tratava.

—Gostei. Mas não depende só de mim deixar algo ficar ou não entre a gente. — Ouviu Madison dizer, indo embora.

[...]

—O que foi que aconteceu?! — Jacob questionou. O trio, em pé, se reunia na sala do Grêmio Estudantil novamente.

—Aquela idiota meteu o nariz onde não foi chamada, isso aconteceu! — Respondeu Nickolas.

—Idiota é pouco. A nojenta teve a coragem de... — Allyanne começou.

—Querem parar com isso?! — Jacob interrompeu-a. —Ela não é nada dessas coisas! Que droga, falando assim de alguém que não conhecem!

—E você conhece?! — Nickolas arqueou uma sobrancelha.

Jacob ficou em silêncio.


—O nome dela é Madison. Já foi aluna do Instituto antes... — Contou.

—Isso não quer dizer nada! — Protestou a garota. —Tem muita gente merda nesse colégio também!

—Não a Madison. Ela não. — A firmeza da frase fez com que a dupla diante de si trocasse olhares confusos. —Eu a conheço bem. — Suspirou. —Nós namoramos. Antes de vocês dois estudarem aqui.

O choque da frase percorreu as faces de ambos, culminando em lábios separados por queixos caídos.

—Namoraram?! — Allyanne inquiriu. —Desde quando você já teve namorada?!

—Ela foi a única. — Confessou. —Mas não durou muito, só pouco mais de ano.

—Só?! Isso é tempo pra cacete! E nunca contou nada pra gente?! — Nickolas não escondia a perplexidade. —Caramba, você sabe mais sobre a minha vida do que eu mesmo, e simplesmente deixou de fora o fato de que teve um relacionamento, um relacionamento de verdade, com alguém?!

—Eu não deixei de fora! — Se defendeu. —Já falei dela antes... Só que nunca dei nomes, ou descrevi a aparência.

—Espera aí... Ela não é a garota que você se declarou naquele baile, é?! — Allyanne quis confirmar.

—Sim...

—E a que fez você odiar o Kenai mais ainda, por aquele rolo que você insiste em manter em segredo?! — Continuou.

—Também...

—Ah não. Então foi com ela que você perdeu o cabaço?!

Jacob bufou antes de responder, desconfortável com o interrogatório.

—Foi. Pronto, acabaram as perguntas? — Se jogou no encosto de uma cadeira, impaciente.

—Absolutamente não! — Nickolas interviu. —Estão só começando!

[...]


—Eu não entendo... — Allyanne dizia, agora deitada em um dos sofás roxos. —Como você pode ter tido algo tão sério com alguém como... Ela?!

—Alguém como ela?! — Jacob se prontificou a defendê-la. —O que quer dizer com isso?! Porque a Maddie é definitivamente a pessoa mais incrível que eu já conheci!

—Valeu pela parte que nos toca... — Nickolas resmungou.

—Não me entendam mal. Vocês também são maravilhosos, mas ela foi a única por quem eu verdadeiramente me apaixonei. A pessoa que eu mais amei desse jeito. Talvez eu até... Ainda sinta algo...

—Não é possível. — A garota balançou a cabeça. —Não faz o menor sentido.

—Pra começo de conversa, como ela foi parar no PHS, se estudava aqui?! — Nickolas inquiriu.

Jacob respirou fundo. Nunca contou a história toda para os amigos. O assunto era delicado, e despertava-lhe uma revolta de tirar o sono (algo fácil, por ser tão ansioso). Foi incapaz de encontrar o momento certo, ou palavras adequadas, para descrever o ocorrido. Porém, agora, não enxergava meios de permanecer omitindo os fatos.

—Como falei, nos envolvemos antes de vocês chegarem aqui... — Se ajeitou na poltrona. —Eu não tinha muitos amigos. Maddie era tudo pra mim. Minha companheira, ficava ao meu lado em todos os momentos, sempre alegre, sorridente, simpática e extremamente gentil. — Allyanne e Nickolas se entreolharam, franzindo o cenho. —Mas tinha... Tem, uma irmã mais velha. Kendall. Estava aqui mais cedo na reunião, elas são muito parecidas. E Kendall sempre foi... Problema. — Continuou. —Um dia atrás do outro, se metia em mais confusões do que a gente era capaz de contar. Fugia da escola, brigava, desafiava professores... Sem folga. Mas conseguimos lidar com isso, até que ela resolveu se meter com o Bullet. — Seu semblante pesou. —Os pais delas deram um ultimato de que, caso ela aprontasse de novo, seriam colocadas, juntas, em um colégio militar, e...

—As duas? — Allyanne arqueou uma sobrancelha. —Se sua Madison é tão perfeita quanto você descreve, por que motivo ela seria punida pelas cagadas da outra?!

—Os pais esperavam que para não ser prejudicada, também tomasse conta das ações da irmã. Uma merda na minha opinião, mas enfim... — Bufou. —Kendall saiu com Bullet, no meio da semana. Provavelmente beberam, se drogaram, o pacote completo, e pra terminar resolveram pichar muros de algumas partes do colégio. Só que ambos não tiveram cérebro suficiente, provavelmente por estarem completamente drogados, pra lembrar de que existem câmeras aqui. Então, logicamente, foram descobertos.

—E aí elas foram parar no colégio militar? Isso ainda não explica o que estão fazendo no PHS! — Nickolas comentou.

—Teriam ido, se Kendall tivesse levado a culpa. — Cerrou os punhos. —A questão é que, nas imagens, ela estava de costas o tempo todo. Não deu pra ver os vídeos com meus próprios olhos, mas Maddie me contou. Eu tentei dizer que talvez os pais estivessem só blefando sobre arrastar as duas juntas por conta de um erro da irmã, mas ela não me escutou. Disse que a única chance de não receber uma punição tão severa, seria se responsabilizando no lugar da outra. Falava um monte sobre como "por nunca ter se metido em problemas, talvez aliviassem sua barra". Então, confessou a culpa. — Bufou. —Mesmo assim, foi expulsa daqui. Eu sabia que sua mãe tinha uma propriedade na cidade, mas não imaginei que ela seria mantida por perto. Talvez fosse um ponto extra pra machucá-la... Ser forçada a frequentar um lugar que claramente não tem nada a ver consigo, enquanto tem lembretes diários da vida anterior que perdeu.

—E o Kenai? — Allyanne

—O que você acha? — Passou as mãos pelos cabelos alinhados, frustrado, como sempre acontecia quando recordava o acontecido. —Com ele não deu nada, lógico. Foi suspenso, e só. Ainda teve a coragem de, quando ficou fora daqui, se meter em uma briga na rua. Ou seja: mesmo que tenha voltado todo estourado, pra ele as consequências foram absolutamente nulas. Enquanto eu a perdi, Kenai levou no máximo um sermão, e seguiu a vida. E tenho certeza de que mesmo a Kendall não sendo flor que se cheire, foi ele quem a convenceu de fazer aquela merda. Pra piorar, aparentemente, ela e o Bullet apareciam ficando na gravação. Quando Maddie assumiu a culpa, começou a rodar por aí boatos sobre o quanto eu era um "idiota" por ter sido traído, e ela, uma "vadia". Demorei muito, muito tempo pra conseguir sequer pensar nesse assunto sem surtar. Sempre que o via, lembrava dela, e queria socar sua cara. Foi uma merda muito grande. — Suspirou, por fim. —Não fui capaz de manter contato com ela... Simplesmente não deu. Ler todos os dias suas mensagens arrasadas, sobre o quanto os pais estavam sendo duros consigo, sobre o bullying horrível que sofria na internet diariamente, sobre a irmã se vangloriando de ter se safado... Acabava comigo. Fora que, depois de algum tempo, sua vida começou a andar... Sem mim. Maddie me contou da sua nova escola, mas não mencionou que era o PHS. Imaginei que estava em outro internato, grande e bonito como esse. Sabendo agora que acabou parando em um lugar onde muito provavelmente sofreu demais para se encaixar, torna tudo ainda mais doloroso... E quando... Quando eu a vi, aqui, foi... Indescritível. Essa é a palavra. Seu rosto, seu sorriso, seus cabelos, ela não mudou nada. Por um instante, foi como se nunca tivéssemos nos separado. Como se meu sentimentos ainda fossem exatamente os mesmos. — Encarou o teto. —Conversamos, e sei que ela está diferente. Parece mais séria. Levou boas pancadas da vida nos últimos dois anos, com certeza... Me arrependo demais de não ter estado com ela quando precisou de mim...

A sala ficou em silêncio por um momento. 

—Olha Jake, eu sinto muito... — Allyanne colocou uma mão em cima da dele, que estava apoiada no encosto da poltrona em que este se afundava. —Eu entendo que, o que quer que role entre vocês, é intenso. Mas não justifica a forma que ela agiu comigo.

—Tenho certeza de que ela só estava tentando se entrosar... — Defendeu-a. —Fazem anos que não pisa nesse colégio, está presa em um lugar esquisito, que não tem nada a ver com ela, cheio de gente com maneiras estranhas, é lógico que não vai conseguir se expressar tão bem quanto gostaria. — E ele, que antes via a rivalidade entre os lugares como desnecessária, também começava a alimentar certa antipatia pelos convidados.

—Não foi o que pareceu. — Nickolas alegou.

—Prefiro não saber o que houve exatamente. Porque sei que, o que quer que tenha sido, não passou de um mal entendido. E não estou pronto para, mais uma vez, ouvir pessoas a ofendendo perto de mim. Quando a merda com Bullet aconteceu, esses corredores não tiravam o nome dela da boca. Foi insuportável escutar falarem de maneira tão suja sobre alguém que amei tanto. — Cerrou os punhos, concentrando-se para não reviver uma mágoa à tempos suprimida. —Não quero passar por isso de novo. Não com vocês. — Suspirou. —Podem tentar dar outra chance à ela? Por mim.

—Jake, eu não sei... — Allyanne olhou para baixo.

—Por favor. — Insistiu. —Se algo for ficar entre eu e ela, não queria que fossem vocês...

Seus melhores amigos se entreolharam. Não teriam como simplesmente apagar as impressões ruins já rubricadas em suas memórias, mas também levaram em conta que Jacob nunca lhes pediu algo parecido. Que sempre esteve ao lado deles incondicionalmente, que os defendeu, apoiou e ajudou em todas as dificuldades. Se não se apegar à antipatia semeada pela ruiva era algo tão importante assim à ele, talvez conseguissem fazer tal sacrifício.

—Tudo bem, vou tentar. — Allyanne prometeu.

—Eu também. — Nickolas disse.

[...]


Era um sábado extremamente ensolarado. Nos dias mais quentes, Thomas e o restante do time de vôlei praticavam nas quadras de areia do campus. Alevi, portanto, por mais que amasse aproveitar a luz do dia, se encontrava enfurnado no galpão. Sentado no tambor preto (em que antes Kenai fez seus curativos), trabalhava em uma tela apoiada em um cavalete. A tinta já se espalhava em respingos por suas mãos, roupas (que, felizmente, não eram o uniforme, e sim camiseta azul clara e bermuda amarela pastel) e tênis (tipicamente usados para pintura). Entretido com as pinceladas, perdeu a noção do tempo, esquecendo de se atentar ao relógio para preparar-se e ir embora antes da chegada de Kenai. Estava tão perto de finalizar seu quadro, que a imersão no trabalho artístico superou os limites impostos pela realidade. Só percebeu o que acontecia quando escutou a porta do salão abrir-se às suas costas, anunciando a chegada daquele com quem dividia o recinto.

—Droga... — Murmurou, ainda sentado. A ideia de estar no mesmo ambiente que Kenai não o assustava mais, mas sabia que precisaria ir embora. —Me desculpa, perdi a hora. — Colocou de lado os pincéis e a paleta de tintas.

Kenai não respondeu. Na verdade, se aproximou. Por ser sábado, já usava a roupa para treino, sem necessidade de vestir o uniforme primeiro. Com uma das mãos, segurava a mochila nas costas (na qual carregava água, fones de ouvido, entre outras coisas), enquanto a outra brincava com a chave do próprio dormitório localizada em seu bolso.

—É a floresta? — Indicou a tela com o queixo.

Alevi demorou um pouco para responder. Não imaginava que este lhe faria esse tipo de pergunta, sem pensar que pudesse interessar-se minimamente pelo seu trabalho.

—É sim. — Contou, finalmente.

—Não parece. — Cruzou os braços. —Lembra um pouco, mas já fui lá um milhão de vezes e nunca vi nada assim.

Na imagem, existia uma porção do lago, cercada por plantas, flores e pinheiros. À luz do dia, as águas pálidas refletiam um céu azul de poucas nuvens, e todas as cores vivas que as cercavam. Também foram incorporados alguns animais, como pássaros, e pequenas lebres. A obra remetia a um lugar calmo, belo, quase mágico. Alevi, que não esperava pelo comentário, respondeu:

—Não duvido... — Sorriu de canto. —É que só fui lá de noite. Nunca tive a oportunidade de ver ela durante o dia... Então, quando fui à festa, tentei imaginar como aquele espaço ficaria iluminado pelo sol. Provavelmente me enganei.

—Sim.

—Pode descrever pra mim? Você com certeza já viu mais que eu. Talvez ainda dê pra fazer algumas mudanças. — Se virou para a própria arte inacabada.

Kenai não demorou para pontuar:

—Existe muito mais marrom do que verde em volta do lago. Não tem tantas flores, e a água é escura na maior parte do tempo. Tem galhos secos caídos no chão pra todo lado, e garrafa de bebida também. — Pensou um pouco mais. —No geral, tudo é menos colorido.

—Ah. — Alevi piscou algumas vezes. Mesmo não sendo a forma com a qual visualizava a floresta, se esforçou, e ainda sim conseguiu enxergar beleza no que lhe foi descrito. —Entendo. Muito obrigado.

Quando começava a juntar seus pertences, escutou outro questionamento:

—Por que pintar um monte de árvore, de qualquer forma? É só mato. — Preparava o espaço para começar a treinar.

—Bem... — Ponderou. —Eu adoro florestas. Gosto da natureza, e Vitae é ainda mais especial.

—Vi-o-que? — Franziu o cenho.

—Vitae. — Soltou uma risada breve, que soou muito doce e agradável. —É o nome dela. Da floresta.

—E desde quando floresta tem nome?

—É bem comum, na verdade. — Deu de ombros. —Humanos gostam de nomear coisas, e eu particularmente acho isso o máximo. Dizem que nomear algo, ou um lugar, é sinal de que temos apego por ele. — Explicou, se permitindo viajar um pouco enquanto limpava os pincéis em um tecido.

Enquanto cumpria essa tarefa, espiou Kenai de canto, percebendo-o a encarar-lhe com curiosidade. Assim, sentiu-se confortável para perguntar:

—Conhece a história de Vitae?

O outro negou com a cabeça. Se não sabia sequer o nome do local, jamais imaginaria qual seria sua origem.

—Antes de Pinewood existir... — Alevi começou a contar, entretido com seus afazeres. —A floresta era a única coisa que tinha aqui. Os pinheiros tomavam conta de tudo. Então, uma companhia madeireira enviou sua equipe pra cá. Extraíam a madeira, e depois levavam os troncos pra ferrovia, aquela abandonada, que na época funcionava bem e transportava tudo pro litoral. Dá pra imaginar isso? — Comentou, visualizando em sua própria imaginação o triste processo de degradação da natureza. —As centenas de trabalhadores formaram um vilarejo, junto com as suas famílias, que foi crescendo até se tornar a nossa cidade. Antes disso, o contrato com a madeireira parou. Dizem que Vitae chegou ao limite. Até hoje, existem muitos lugares dentro dela que estão degradados... Como aquela clareira em que estivemos... — Lembrou. —Mas contam que ainda sim a floresta lutou a cada segundo pra continuar viva. Os animais nunca foram embora, as flores nunca deixaram de se abrir na primavera... As pinhas sempre cresciam, e quanto mais áreas eram desmatadas, parecia que mais rápido amadureciam, para forrar o solo com a esperança de um reflorestamento. Vitae significa vida, em latim. Nomearam a floresta com uma língua morta, mas significado vívido, representando o quanto, mesmo em seus limites de sobrevivência, não se rendeu. Felizmente, quando acabou a exploração, Vitae descansou. — Respirou fundo. —Sempre que olho para lá, por cima dos muros ou quando saímos daqui do colégio, cada flor aberta, cada passarinho cantando ou inseto voando, soa como uma vitória. Soa como... Esperança. Já fazia um bom tempo que queria poder homenagear a floresta da única forma que consigo, no caso, pintando.

Kenai absorveu o novo conhecimento adquirido a respeito da floresta, e também de Alevi. Ele falava com tanta paixão, que conseguia comover até mesmo os mais frígidos ouvintes.

—Esquece o que eu disse antes. — Pediu. —As cores estão muito mais bonitas no seu quadro do são de verdade, de qualquer forma. Isso é bom. A realidade costuma ser uma merda. — Dito isso, colocou os fones de ouvido, e dirigiu-se para a máquina de supino, iniciando suas séries de levantamento de peso.


Alevi ficou ali estático, por alguns segundos. Definitivamente, aquela foi uma conversa muito inesperada. Para melhor dizer, um marco: pela primeira vez, Kenai conversou consigo sem irritar-se. A carranca e tom de voz sérios se fizeram presentes a todo momento, como sempre, mas, para qualquer caminho que a dupla estivesse percorrendo, aquele momento soou como um grande avanço. Sem mais delongas, pegou seus pertences, e foi embora. 



NOTAS FINAIS

Espero que tenham gostado!!! Desculpem por qualquer erro de ortografia, repetição, ou mal entendimento. Beijos!

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